Sala dos homicídios
P.D. James (Companhia das Letras, 2004)
O nome em português não ajuda muito - "Murder Room", o título original, não só é mais sonoro como direciona toda a trama para um lugar crucial, a sala dedicada a vários crimes famosos do período entre-guerras, instalada num museu próximo a Londres. Bem, o Museu Dupayne não existe de verdade, como explica P.D. James no prefácio. Mas todos os assassinatos explorados no "murder room" aconteceram realmente e estão registrados na Scotland Yard. É para lá, desta vez, que se dirige a investigação de Adam Dalgliesh, o detetive-poeta que, como eu já disse, só não roubou meu coração porque já sou apaixonada por Jean-Baptiste Adamsberg.
Gostei bem mais deste livro do que de Paciente particular, o mais recente título de P.D. James e minha estreia na obra da escritora. Primeiro porque Dalgliesh parece mais humano e simpático. Depois, a trama de mistério me agradou mais: começa com um incêndio criminoso, segue com uma série de interrogatórios que coloca todos os suspeitos sob a luz negativa da antipatia, não dá uma palhinha de quem pode ter cometido os assassinatos (ou melhor, até dá; mas esse é o tipo de leitura rápida em que a gente não presta muita atenção quando lê, mesmo) e traz aquele tipo de suspense que me faz prender a respiração e pensar coisas como "não, P.D. James, você não seria capaz de matar meu personagem favorito, seria?" - e como você sabe que sim, ela seria, fica na maior torcida pra alguma coisa acontecer na última hora e salvar seu personagem favorito de um triste fim.
Mas realmente não é uma boa ideia começar a ler as aventuras de Adam Dalgliesh de trás para frente. Paciente particular, o mais recente, é o 14º da série; Sala dos homicídios é o 12º. Só que agora resolvi ler policiais no Kindle, porque fica muito mais barato e não ocupa espaço aqui em casa, e nem tudo está disponível para o formato. Bem, A certain justice, o 10º, está. Vai ver é assim que eu preciso ler P.D. James, de dois em dois livros, do fim para o começo.
domingo, 6 de dezembro de 2009
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Invisible
Invisible
Paul Auster (Henry Holt, 2009)
James Wood, o crítico da revista New Yorker, desceu a lenha não só neste livro, mas em quase toda a obra de Paul Auster, dizendo que ele é um tipo peculiar de escritor pós-moderno. Bem, meu conhecimento literário não deve atingir nem 1% do conhecimento de James Wood - afinal, ele é crítico da New Yorker e eu não sou. Escrevo apenas sobre o que gostei ou não de ler, e quase nunca existe uma teoria, muito menos acadêmica, por trás dos meus gostos. Eu nunca havia pensado em Paul Auster como escritor pós-moderno. Eu nem sei o que é um escritor pós-moderno.
E gostei, muito, de Invisible, recém-lançado nos Estados Unidos. Como quase sempre, em Paul Auster, gostei menos pela história e muito mais pela narrativa, pela maneira como ele escreve - o segundo capítulo do livro de Adam Walker, um dos personagens-narradores, é um exemplo de como tratar um tema dificílimo com rara delicadeza e elegância (até o James Wood admitiu isso: "quite touching"). Mas admito que os leitores habituais de Auster vão reconhecer, em Invisible, diversos artifícios usados em livros anteriores, como o duplo e o livro-dentro-do-livro (dois temas que me atraem demais), e que tantos outros podem ficar irritados com as ambiguidades e incertezas da trama.
Na primavera de 1967, em Nova York, o jovem estudante Adam Walker conhece o professor francês Rudolf Born e sua namorada, Margot, numa festa. Born quer fundar, com Walker, uma revista literária. Margot quer levá-lo para a cama. Aí acontece uma briga. E um crime. E, de repente, a coisa toda muda de figura - porque nem tudo, nos romances de Paul Auster, é o que parece ser.
Paul Auster (Henry Holt, 2009)
James Wood, o crítico da revista New Yorker, desceu a lenha não só neste livro, mas em quase toda a obra de Paul Auster, dizendo que ele é um tipo peculiar de escritor pós-moderno. Bem, meu conhecimento literário não deve atingir nem 1% do conhecimento de James Wood - afinal, ele é crítico da New Yorker e eu não sou. Escrevo apenas sobre o que gostei ou não de ler, e quase nunca existe uma teoria, muito menos acadêmica, por trás dos meus gostos. Eu nunca havia pensado em Paul Auster como escritor pós-moderno. Eu nem sei o que é um escritor pós-moderno.
E gostei, muito, de Invisible, recém-lançado nos Estados Unidos. Como quase sempre, em Paul Auster, gostei menos pela história e muito mais pela narrativa, pela maneira como ele escreve - o segundo capítulo do livro de Adam Walker, um dos personagens-narradores, é um exemplo de como tratar um tema dificílimo com rara delicadeza e elegância (até o James Wood admitiu isso: "quite touching"). Mas admito que os leitores habituais de Auster vão reconhecer, em Invisible, diversos artifícios usados em livros anteriores, como o duplo e o livro-dentro-do-livro (dois temas que me atraem demais), e que tantos outros podem ficar irritados com as ambiguidades e incertezas da trama.
Na primavera de 1967, em Nova York, o jovem estudante Adam Walker conhece o professor francês Rudolf Born e sua namorada, Margot, numa festa. Born quer fundar, com Walker, uma revista literária. Margot quer levá-lo para a cama. Aí acontece uma briga. E um crime. E, de repente, a coisa toda muda de figura - porque nem tudo, nos romances de Paul Auster, é o que parece ser.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Coelho corre
Coelho corre
John Updike (Companhia das Letras, 1992)
Foi minha estreia no Kindle - porque eu queria começar Updike pelo primeiro volume da série Coelho, porque a edição em português está esgotada e porque, quando posso, prefiro ler no original, em inglês. Gostei muito, muitíssimo - e, mais de uma semana depois de terminada a leitura, ainda me pego pensando em várias cenas da história, na maneira elegante como John Updike escreveu esse livro, no meu sentimento, às vezes contraditório, em relação aos personagens.
Eu gosto de Harry "Rabbit" Angstrom? Sem dúvida, e, com o tempo, pretendo continuar a seguir suas andanças pelos três outros livros da série. Torci por ele o tempo todo, senti dó de sua ingenuidade alegre e fiquei com muita, muita raiva no momento em que sua infantilidade atingiu um grau que eu não imaginava poder alcançar. Depois de apenas dois daiquiris, Harry foi imaturo, cruel, egoísta. Senti vergonha por ele - e não é disso que são feitos os grandes personagens?
Também gosto muito de Jack Eccles, de suas conversas com Rabbit, sua dedicação ao trabalho na igreja (embora um pouco intrusiva demais para o meu gosto, mas sabe-se lá como eram as coisas em fins dos anos 50 numa cidadezinha dos Estados Unidos; sabe-se lá como são, hoje, em outras cidadezinhas provincianas espalhadas pelo mundo). Foram as mulheres, em Coelho corre, que me deixaram com os dois pés atrás. Não dá pra respeitar Janice, muito menos sua mãe. Mrs. Angstrom tem mais pulso. Ruth talvez seja quem eu entenda melhor, pelo medo de se dedicar a um relacionamento de verdade, pela tentativa de mostrar independência para, no fim das contas, se deixar submeter. E Lucy Eccles, a única mulher da história que eu gostaria, mesmo, de conhecer mais nos três livros restantes sobre Rabbit.
O início da trama, em resumo: Harry Angstrom um dia volta para casa e encontra o cenário desolador de sempre - mulher bêbada vendo TV, o apartamento desarrumado pela bagunça do filho pequeno, o cansaço depois de um dia num trabalho desanimador. Ele sai para buscar o carro, estacionado em frente à casa da sogra. E, num estalo, decide passar a noite dirigindo rumo ao Sul.
John Updike (Companhia das Letras, 1992)
Foi minha estreia no Kindle - porque eu queria começar Updike pelo primeiro volume da série Coelho, porque a edição em português está esgotada e porque, quando posso, prefiro ler no original, em inglês. Gostei muito, muitíssimo - e, mais de uma semana depois de terminada a leitura, ainda me pego pensando em várias cenas da história, na maneira elegante como John Updike escreveu esse livro, no meu sentimento, às vezes contraditório, em relação aos personagens.
Eu gosto de Harry "Rabbit" Angstrom? Sem dúvida, e, com o tempo, pretendo continuar a seguir suas andanças pelos três outros livros da série. Torci por ele o tempo todo, senti dó de sua ingenuidade alegre e fiquei com muita, muita raiva no momento em que sua infantilidade atingiu um grau que eu não imaginava poder alcançar. Depois de apenas dois daiquiris, Harry foi imaturo, cruel, egoísta. Senti vergonha por ele - e não é disso que são feitos os grandes personagens?
Também gosto muito de Jack Eccles, de suas conversas com Rabbit, sua dedicação ao trabalho na igreja (embora um pouco intrusiva demais para o meu gosto, mas sabe-se lá como eram as coisas em fins dos anos 50 numa cidadezinha dos Estados Unidos; sabe-se lá como são, hoje, em outras cidadezinhas provincianas espalhadas pelo mundo). Foram as mulheres, em Coelho corre, que me deixaram com os dois pés atrás. Não dá pra respeitar Janice, muito menos sua mãe. Mrs. Angstrom tem mais pulso. Ruth talvez seja quem eu entenda melhor, pelo medo de se dedicar a um relacionamento de verdade, pela tentativa de mostrar independência para, no fim das contas, se deixar submeter. E Lucy Eccles, a única mulher da história que eu gostaria, mesmo, de conhecer mais nos três livros restantes sobre Rabbit.
O início da trama, em resumo: Harry Angstrom um dia volta para casa e encontra o cenário desolador de sempre - mulher bêbada vendo TV, o apartamento desarrumado pela bagunça do filho pequeno, o cansaço depois de um dia num trabalho desanimador. Ele sai para buscar o carro, estacionado em frente à casa da sogra. E, num estalo, decide passar a noite dirigindo rumo ao Sul.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Poemas, sonetos e baladas
Poemas, sonetos e baladas
Apesar disso, o verso final - e talvez o mais banalizado do soneto - não me sai da cabeça desde que me despedi, há pouco (e pela milionésima vez nas mesmas circunstâncias) de um homem que não sei quando vou voltar a ver. Porque ele mora em outro país, porque levamos vidas muito diferentes, porque só funcionamos assim, de vez em quando. Nos vemos pouco e sempre por períodos de tempo muito curtos, e alguns anos precisaram se passar pra eu entender que isso não tem importância, que o amor é maior do que a angústia de não saber quando nos veremos de novo, que o amor é maior do que as diferenças entre nossas vidas, que o amor se transforma para continuar sendo amor, e que é infinito enquanto dura.
Vinicius de Moraes (Companhia das Letras, 2008)
Nunca fui muito fã do "Soneto de fidelidade". Em minha pós-adolescência ("pré-juventude"? Como se chama a época que vai dos 18 aos 20 anos?), no final da década de 80, declamar os versos de Vinicius virou meio que lugar-comum, e eu acho que o poema se banalizou - quase como usar as frases do Pequeno príncipe em cartões de amor com dobraduras, se é que me faço entender.
Apesar disso, o verso final - e talvez o mais banalizado do soneto - não me sai da cabeça desde que me despedi, há pouco (e pela milionésima vez nas mesmas circunstâncias) de um homem que não sei quando vou voltar a ver. Porque ele mora em outro país, porque levamos vidas muito diferentes, porque só funcionamos assim, de vez em quando. Nos vemos pouco e sempre por períodos de tempo muito curtos, e alguns anos precisaram se passar pra eu entender que isso não tem importância, que o amor é maior do que a angústia de não saber quando nos veremos de novo, que o amor é maior do que as diferenças entre nossas vidas, que o amor se transforma para continuar sendo amor, e que é infinito enquanto dura.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Kindle
Kindle
Pra completar, a média de preços dos livros para Kindle, vendidos apenas pela Amazon.com, é muito menor que a dos livros em papel, tanto faz se comprados aqui, por livrarias importadoras, ou pela própria Amazon, e infinitamente mais baixo que as versões em português, quando são editadas no Brasil. Um exemplo disso é Invisible, o último Paul Auster, que custa R$ 54,74 na Livraria Cultura, com entrega em até seis semanas. Comprei o mesmo livro por US$ 9,99 e, 1 minuto depois - sim, 1 minuto depois - ele já estava no meu Kindle. Outra vantagem: encontrar títulos originais em inglês que já estão fora de catálogo no Brasil - foi o caso de Rabbit, Run (Coelho corre), de John Updike, o primeiro livro que li no aparelhinho.
Ler no Kindle não é desconfortável: a tela tem um tamanho adequado, não reflete muita luz e, ao contrário do computador, se parece, mesmo, com papel - além disso, ele é muito leve e fácil de manusear. Nem aquela sensação de saber o quanto já se leu ou o quanto ainda falta para o fim do livro ele deixou de fora: uma barra, no pé da tela, mostra a porcentagem do que já foi lido até então. Quando o modo wireless está desligado, a bateria dura uma eternidade - mesmo que você deixe o troço ligado o dia inteiro, no modo de espera (e tanto as fotos de escritores quanto as ilustrações que servem como protetor de tela são maravilhosas). Até agora, descobri apenas dois "defeitos": 1) a impossibilidade de folhear as páginas para trás, para encontrar de novo um trecho recém-lido, mas sobre o qual ficou alguma dúvida (nesse caso, é preciso usar a tecla "back page" até chegar ao lugar em questão, e depois voltar tudo com o botão "next page"; 2) no livro de Paul Auster, algumas palavras estão com, digamos, "erro de digitação": aparecem com letras separadas, como em "plea su re", ou "pur pose" (são exemplos inventados; até fiz algumas anotações sobre isso, mas estou com preguiça de procurar agora).
Resolver o primeiro problema é fácil: preciso terminar de ler o User's guide que vem com o Kindle pra saber como usar o marcador de páginas (por enquanto, uso apenas a função que me permite retomar a leitura do último ponto onde parei antes de desligar o aparelho). O segundo, espero, resulta da pressa de lançar uma versão eletrônica do livro ao mesmo tempo em que ele foi editado em papel; um erro que poderia acontecer em qualquer veículo de leitura.
Então eu resolvi me dar de presente um Kindle, o leitor eletrônico da Amazon. Já faz umas duas semanas que ele chegou e eu ainda não me canso de usar, exibir, mostrar pra todo mundo as funções maravilhosas do aparelho, contar quais foram os livros que comprei - e já li dois deles! (Sim, é meio bizarro, mas parece que eu consigo ler mais rápido no Kindle.)
Entre outras coisas, o bichinho aí em cima permite que eu faça uma busca de palavras ou expressões no texto que estou lendo - uma bênção quando se trata de obras de referência -, que eu mova o cursor sobre uma palavra para saber o significado dela no New Oxford American Dictionary (que já vem com o aparelho), que eu "sublinhe" determinados trechos do livro, que eu faça as anotações que quiser num pequeno teclado (elas aparecem automaticamente num arquivo chamado "My clippings") e que eu aumente ou diminua o tamanho da letra da forma mais confortável. Tem mais: se eu tivesse preguiça de ler e quisesse ouvir o texto, daria pra ligar o áudio e, de quebra, escolher se eu quero a leitura em uma voz feminina ou masculina.
Pra completar, a média de preços dos livros para Kindle, vendidos apenas pela Amazon.com, é muito menor que a dos livros em papel, tanto faz se comprados aqui, por livrarias importadoras, ou pela própria Amazon, e infinitamente mais baixo que as versões em português, quando são editadas no Brasil. Um exemplo disso é Invisible, o último Paul Auster, que custa R$ 54,74 na Livraria Cultura, com entrega em até seis semanas. Comprei o mesmo livro por US$ 9,99 e, 1 minuto depois - sim, 1 minuto depois - ele já estava no meu Kindle. Outra vantagem: encontrar títulos originais em inglês que já estão fora de catálogo no Brasil - foi o caso de Rabbit, Run (Coelho corre), de John Updike, o primeiro livro que li no aparelhinho.
Ler no Kindle não é desconfortável: a tela tem um tamanho adequado, não reflete muita luz e, ao contrário do computador, se parece, mesmo, com papel - além disso, ele é muito leve e fácil de manusear. Nem aquela sensação de saber o quanto já se leu ou o quanto ainda falta para o fim do livro ele deixou de fora: uma barra, no pé da tela, mostra a porcentagem do que já foi lido até então. Quando o modo wireless está desligado, a bateria dura uma eternidade - mesmo que você deixe o troço ligado o dia inteiro, no modo de espera (e tanto as fotos de escritores quanto as ilustrações que servem como protetor de tela são maravilhosas). Até agora, descobri apenas dois "defeitos": 1) a impossibilidade de folhear as páginas para trás, para encontrar de novo um trecho recém-lido, mas sobre o qual ficou alguma dúvida (nesse caso, é preciso usar a tecla "back page" até chegar ao lugar em questão, e depois voltar tudo com o botão "next page"; 2) no livro de Paul Auster, algumas palavras estão com, digamos, "erro de digitação": aparecem com letras separadas, como em "plea su re", ou "pur pose" (são exemplos inventados; até fiz algumas anotações sobre isso, mas estou com preguiça de procurar agora).
Resolver o primeiro problema é fácil: preciso terminar de ler o User's guide que vem com o Kindle pra saber como usar o marcador de páginas (por enquanto, uso apenas a função que me permite retomar a leitura do último ponto onde parei antes de desligar o aparelho). O segundo, espero, resulta da pressa de lançar uma versão eletrônica do livro ao mesmo tempo em que ele foi editado em papel; um erro que poderia acontecer em qualquer veículo de leitura.
sábado, 14 de novembro de 2009
Recettes insolites
Recettes insolites
O primeiro capítulo trata de "café, chá, chocolate e álcool" em pratos como filé de saint-pierre com chá verde, frango com chocolate, geleia de vinho. Depois, vêm as especiarias e temperos (quero fazer a salada de queijo de cabra com mel), legumes e frutas (sopa de beterraba com laranja e nozes), ervas e flores (conserva de dália, blinis de algas, sopa de urtiga). O mais bacana é que nada disso é bizarro, a não ser na aparência - tudo tem jeito de dar certo e ficar muito, muito saboroso, porque a combinação de ingredientes tem equilíbrio e faz sentido. E as ilustrações, coloridas e delicadas, ajudam a dar vontade de ir correndo pra cozinha.
(Hachette, 2002)
Meu querido amigo B., antigo companheiro de sábados culinários temáticos, me deu este livro de presente quando eu resolvi que ia aprender francês. Não passei do primeiro semestre de estudos e mal-e-mal ainda sei conjugar o verbo être, mas por um desses mistérios da vida eu tenho uma certa facilidade para ler receitas em francês (principalmente com a ajuda do Dicionário tradutor de gastronomia em 6 línguas). Pelo menos é o que acontece com essas Recettes insolites, que são insolites porque usam combinações bem curiosas de ingredientes em receitas salgadas e doces.
O primeiro capítulo trata de "café, chá, chocolate e álcool" em pratos como filé de saint-pierre com chá verde, frango com chocolate, geleia de vinho. Depois, vêm as especiarias e temperos (quero fazer a salada de queijo de cabra com mel), legumes e frutas (sopa de beterraba com laranja e nozes), ervas e flores (conserva de dália, blinis de algas, sopa de urtiga). O mais bacana é que nada disso é bizarro, a não ser na aparência - tudo tem jeito de dar certo e ficar muito, muito saboroso, porque a combinação de ingredientes tem equilíbrio e faz sentido. E as ilustrações, coloridas e delicadas, ajudam a dar vontade de ir correndo pra cozinha.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Confidencial
Confidencial - Segredos de Moda, Estilo e Bem-Viver
Costanza Pascolato (Jaboticaba, 2009)
Já fazia tempo que eu estava de olho neste livro - mas, ao mesmo tempo, eu tinha feito o propósito de tentar não comprar nada até o fim do ano, pra ver se dava conta de ler pelo menos alguns dos títulos empilhados em minha casa. Acho que bati meu recorde: fiquei 139 dias sem gastar dinheiro com livros pra mim (comprei alguns pra dar de presente, li uns quatro ou cinco dos antigos). Mas entrei em férias na semana passada e esse foi o melhor pretexto que encontrei para ir à Livraria Cultura e sair de lá com a Costanza debaixo do braço.
Só que eu achei - talvez tenha lido em algum lugar, quando o volume foi lançado, ou foi só wishful thinking - que a porção autobiográfica da obra seria maior que a parte de, vá lá, e com as devidas aspas, "autoajuda fashion". Ok, estou exagerando: não se trata de um manual de estilo como, por exemplo, o ótimo The little black book of stile (autoajuda fashion de primeira). E, que pena, tampouco fala da vida de Costanza como eu gostaria de saber, como biografia, mesmo.
Eu queria ler mais sobre a vida de Costanza Pascolato porque essa mulher é, para mim, o maior exemplo brasileiro de elegância e postura - fora que usa um perfume delicioso, que não diz a ninguém qual é (eu, pelo menos, nunca soube que tenha dito). Mas se faltam detalhes sobre sua trajetória (ela diz, en passant, que nasceu na Itália, veio pro Brasil ainda criança, trabalhou como editora de moda na Abril, hoje cuida da tecelagem da família, viaja muito a trabalho, nada do que eu já não soubesse), ela capricha em alguns conselhos para o, como diz, bem-viver. Alimentar-se corretamente, fazer exercícios (o dela é o pilates), fotografar-se em vários ângulos para descobrir que tipo de roupa fica melhor em seu corpo, manter uma disciplina ferrenha para conseguir o que deseja. Também lista modelos clássicos (a camisa branca, o terno bem-cortado, as pérolas, coisas que o também ótimo The one hundred explora melhor), fala da importância da maquiagem, de espiritualidade e do que talvez seja seu principal "segredo": tratar bem as pessoas, não importa quem sejam elas.
Dá pra ler em dois dias, uma leitura leve, que pode ser enquadrada na categoria "autoajuda" deste blog: livros que, com informações úteis e conselhos factíveis, ajudam a gente a se sentir melhor na própria pele.
Costanza Pascolato (Jaboticaba, 2009)
Já fazia tempo que eu estava de olho neste livro - mas, ao mesmo tempo, eu tinha feito o propósito de tentar não comprar nada até o fim do ano, pra ver se dava conta de ler pelo menos alguns dos títulos empilhados em minha casa. Acho que bati meu recorde: fiquei 139 dias sem gastar dinheiro com livros pra mim (comprei alguns pra dar de presente, li uns quatro ou cinco dos antigos). Mas entrei em férias na semana passada e esse foi o melhor pretexto que encontrei para ir à Livraria Cultura e sair de lá com a Costanza debaixo do braço.
Só que eu achei - talvez tenha lido em algum lugar, quando o volume foi lançado, ou foi só wishful thinking - que a porção autobiográfica da obra seria maior que a parte de, vá lá, e com as devidas aspas, "autoajuda fashion". Ok, estou exagerando: não se trata de um manual de estilo como, por exemplo, o ótimo The little black book of stile (autoajuda fashion de primeira). E, que pena, tampouco fala da vida de Costanza como eu gostaria de saber, como biografia, mesmo.
Eu queria ler mais sobre a vida de Costanza Pascolato porque essa mulher é, para mim, o maior exemplo brasileiro de elegância e postura - fora que usa um perfume delicioso, que não diz a ninguém qual é (eu, pelo menos, nunca soube que tenha dito). Mas se faltam detalhes sobre sua trajetória (ela diz, en passant, que nasceu na Itália, veio pro Brasil ainda criança, trabalhou como editora de moda na Abril, hoje cuida da tecelagem da família, viaja muito a trabalho, nada do que eu já não soubesse), ela capricha em alguns conselhos para o, como diz, bem-viver. Alimentar-se corretamente, fazer exercícios (o dela é o pilates), fotografar-se em vários ângulos para descobrir que tipo de roupa fica melhor em seu corpo, manter uma disciplina ferrenha para conseguir o que deseja. Também lista modelos clássicos (a camisa branca, o terno bem-cortado, as pérolas, coisas que o também ótimo The one hundred explora melhor), fala da importância da maquiagem, de espiritualidade e do que talvez seja seu principal "segredo": tratar bem as pessoas, não importa quem sejam elas.
Dá pra ler em dois dias, uma leitura leve, que pode ser enquadrada na categoria "autoajuda" deste blog: livros que, com informações úteis e conselhos factíveis, ajudam a gente a se sentir melhor na própria pele.
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autoajuda,
estilo,
não-ficção,
relato pessoal
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Enchantment - The life of Audrey Hepburn
Enchantment - The life of Audrey Hepburn
Donald Spoto (Harmony Books/Random House, 2006)
Nem sei quando foi que eu comecei a amar Audrey Hepburn - sei que Bonequinha de luxo efetivamente mudou a minha vida e que, se eu pudesse escolher, teria exatamente o shape e os Givenchy de Holly Golightly. Já adulta, fui vendo um filme de Audrey atrás do outro: Cinderela em Paris, Sabrina, o ótimo Um clarão nas trevas, Paris quando alucina, My fair lady, Como roubar 1 milhão de dólares, Charada, A princesa e o plebeu.
Sabendo da minha admiração pela atriz, minha cunhada me deu esta biografia de presente, há uns dois anos. Mas só agora consegui pegar pra ler direito: gostei de muitas coisas e não gostei de várias outras. Foi bacana, por exemplo, conhecer detalhes do começo da vida de Audrey Hepburn - saber que ela passou a Segunda Guerra, ainda criança, fingindo ser holandesa, e não britânica, pra não correr o risco de ser pega pelos alemães; saber que ela testemunhou o fuzilamento do tio e de dois primos, também durante a guerra; saber que ela carregou pelo resto da vida o trauma de ter sido abandonada pelo pai. E são bacanas as histórias dos bastidores de diversos filmes da jovem atriz: o caso dela com William Holden e o mau-humor de Humphrey Bogart em Sabrina, a traição do estúdio ao dublá-la sem aviso prévio em My fair lady, o estrelismo de Fred Astaire em Cinderela em Paris, a recusa de Gary Grant em trabalhar com Audrey até Charada.
O lado ruim do livro resume-se - e isso não é pouco - à idolatria de Donald Spoto em relação a seu personagem. O autor trata Audrey Hepburn como uma mulher sem defeitos: amada por todos, estudiosa, simples, modesta em relação ao próprio talento, devotada aos maridos, à mãe, ao pai e aos filhos, elegante sem ser fashion victim, ciosa da própria privacidade, generosa, dedicada a causas nobres. Mas santos não existem, certo? Eu acho impossível que Audrey Hepburn - que qualquer ser humano - não tenha dado uma escorregadinha sequer. Ainda assim, até para falar de pelo menos duas vezes em que ela traiu seu primeiro marido, Mel Ferrer (com o roteirista Robert Anderson e com o ator Albert Finney), Spoto escreve como se ela fosse apenas a vítima de um casamento infeliz, e logo muda de assunto para não ter que entrar no mérito da coisa. Quem sabe, um dia, eu encontre uma biografia mais pé no chão sobre ela.
Donald Spoto (Harmony Books/Random House, 2006)
Nem sei quando foi que eu comecei a amar Audrey Hepburn - sei que Bonequinha de luxo efetivamente mudou a minha vida e que, se eu pudesse escolher, teria exatamente o shape e os Givenchy de Holly Golightly. Já adulta, fui vendo um filme de Audrey atrás do outro: Cinderela em Paris, Sabrina, o ótimo Um clarão nas trevas, Paris quando alucina, My fair lady, Como roubar 1 milhão de dólares, Charada, A princesa e o plebeu.
Sabendo da minha admiração pela atriz, minha cunhada me deu esta biografia de presente, há uns dois anos. Mas só agora consegui pegar pra ler direito: gostei de muitas coisas e não gostei de várias outras. Foi bacana, por exemplo, conhecer detalhes do começo da vida de Audrey Hepburn - saber que ela passou a Segunda Guerra, ainda criança, fingindo ser holandesa, e não britânica, pra não correr o risco de ser pega pelos alemães; saber que ela testemunhou o fuzilamento do tio e de dois primos, também durante a guerra; saber que ela carregou pelo resto da vida o trauma de ter sido abandonada pelo pai. E são bacanas as histórias dos bastidores de diversos filmes da jovem atriz: o caso dela com William Holden e o mau-humor de Humphrey Bogart em Sabrina, a traição do estúdio ao dublá-la sem aviso prévio em My fair lady, o estrelismo de Fred Astaire em Cinderela em Paris, a recusa de Gary Grant em trabalhar com Audrey até Charada.
O lado ruim do livro resume-se - e isso não é pouco - à idolatria de Donald Spoto em relação a seu personagem. O autor trata Audrey Hepburn como uma mulher sem defeitos: amada por todos, estudiosa, simples, modesta em relação ao próprio talento, devotada aos maridos, à mãe, ao pai e aos filhos, elegante sem ser fashion victim, ciosa da própria privacidade, generosa, dedicada a causas nobres. Mas santos não existem, certo? Eu acho impossível que Audrey Hepburn - que qualquer ser humano - não tenha dado uma escorregadinha sequer. Ainda assim, até para falar de pelo menos duas vezes em que ela traiu seu primeiro marido, Mel Ferrer (com o roteirista Robert Anderson e com o ator Albert Finney), Spoto escreve como se ela fosse apenas a vítima de um casamento infeliz, e logo muda de assunto para não ter que entrar no mérito da coisa. Quem sabe, um dia, eu encontre uma biografia mais pé no chão sobre ela.
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Eloise
Eloise
Kay Thompson (Cia. das Letrinhas, 2002)
Li hoje, no Daily Beast, uma matéria sobre Hilary Knight, o ilustrador de Eloise - e descobri, com a maior surpresa, que a Kay Thompson que escreveu a história é a mesma Kay Thompson que viveu o papel da editora de moda em um dos meus filmes preferidos com Audrey Hepburn, Cinderela em Paris (sincronicidade, diria o Jung: estou, nos últimos dias, lendo uma biografia de AH). Eu nunca teria imaginado. E se, como diz Anne Fadiman em At large and at small, a vida dos autores pode servir para aumentar nossa compreensão da obra, agora eu gosto ainda mais de Eloise.
Não que a menina seja uma criança adorável, no sentido Pollyanna-boazinha da coisa. Eloise é espoleta e traquinas. Tem 6 anos e mora no hotel Plaza, em Nova York, com a babá, um cachorrinho e uma tartaruga chamada Skipperdee. Nenhum lugar, nem ninguém, são obstáculos para a garota fazer o que mais gosta: descobrir o mundo, ainda que apenas dentro do hotel. Ela vai a casamentos para os quais não foi convidada. Sobe e desce pelas escadas ou pelo elevador o dia inteiro. Bate altos papos com o garçom e outros funcionários do Plaza. E brinca de faz de conta, e irrita o professor de francês, e conta que sabe mascar chiclete e soletrar. Acho que Eloise é uma criança feliz.
Kay Thompson (Cia. das Letrinhas, 2002)
Li hoje, no Daily Beast, uma matéria sobre Hilary Knight, o ilustrador de Eloise - e descobri, com a maior surpresa, que a Kay Thompson que escreveu a história é a mesma Kay Thompson que viveu o papel da editora de moda em um dos meus filmes preferidos com Audrey Hepburn, Cinderela em Paris (sincronicidade, diria o Jung: estou, nos últimos dias, lendo uma biografia de AH). Eu nunca teria imaginado. E se, como diz Anne Fadiman em At large and at small, a vida dos autores pode servir para aumentar nossa compreensão da obra, agora eu gosto ainda mais de Eloise.
Não que a menina seja uma criança adorável, no sentido Pollyanna-boazinha da coisa. Eloise é espoleta e traquinas. Tem 6 anos e mora no hotel Plaza, em Nova York, com a babá, um cachorrinho e uma tartaruga chamada Skipperdee. Nenhum lugar, nem ninguém, são obstáculos para a garota fazer o que mais gosta: descobrir o mundo, ainda que apenas dentro do hotel. Ela vai a casamentos para os quais não foi convidada. Sobe e desce pelas escadas ou pelo elevador o dia inteiro. Bate altos papos com o garçom e outros funcionários do Plaza. E brinca de faz de conta, e irrita o professor de francês, e conta que sabe mascar chiclete e soletrar. Acho que Eloise é uma criança feliz.
The lost symbol
The lost symbol
Dan Brown (Doubleday, 2009)
A meu favor, conta o fato de eu nunca ter me considerado "intelectual" - porque dá uma certa vergonha gastar meu tempo lendo uma bobagem de Dan Brown quando eu poderia tirar o atraso de tanto livro bom que comprei e acabou guardado na estante sem sequer ter sido aberto. Bem, não sou perfeita. E sei que a) qualquer Dan Brown, por mais que tenha 500 páginas, pode ser lido em um fim de semana; b) não é preciso prestar atenção nas qualidades literárias do autor, já que elas não existem; c) por mais inverossímeis que sejam, suas tramas rocambolescas conseguem me deixar extremamente curiosa pra saber como é que tudo será resolvido no final.
(Meu único comentário sobre a escrita de Dan Brown - como disse, não existem qualidades literárias, e ninguém precisa ser crítico pra ver isso - diz respeito à maneira irritante como ele usa frases em itálico sem a menor coerência e muito menos parcimônia, como bem notou o blog de livros do Guardian. "The Cube. Katherine Solomon's lab." Que raios é isso? O pensamento do sujeito ou apenas uma forma de enfatizar o lugar aonde ele chegou? É irritante. E acontece o tempo inteiro.)
A essa altura - o livro será lançado no Brasil ainda este mês -, muita gente já deve saber do que trata a nova empreitada do professor Robert Langdon, de Anjos e demônios e O código Da Vinci: a busca frenética por um de seus grandes amigos, sequestrado por um maluco em Washington, e a tentativa de solucionar um antigo mistério ligado à Maçonaria. Como nas aventuras anteriores de Langdon, tudo acontece muito, muito rápido (dessa vez, em apenas uma noite). Como nas aventuras anteriores, não dá pra saber em quem confiar (seria a diretora da CIA mocinha ou bandida? E o administrador do Congresso? E o padre cego? E o próprio amigo sequestrado?). E, como nas aventuras anteriores, não faltam perigos e reviravoltas (mas quem, em sã consciência, pode acreditar que Dan Brown mataria seu principal e mais lucrativo personagem?).
Sei lá se é porque já estou familiarizada com a fórmula do escritor, ou porque conheço os principais monumentos de Washington D.C., ou porque é tudo mesmo muito óbvio - neste livro, consegui "descobrir" os dois principais mistérios da história bem antes da metade. Vantagem? Nenhuma. Apenas a constatação de que, por pior escrito que seja, O código Da Vinci ainda é mais divertido.
Dan Brown (Doubleday, 2009)
A meu favor, conta o fato de eu nunca ter me considerado "intelectual" - porque dá uma certa vergonha gastar meu tempo lendo uma bobagem de Dan Brown quando eu poderia tirar o atraso de tanto livro bom que comprei e acabou guardado na estante sem sequer ter sido aberto. Bem, não sou perfeita. E sei que a) qualquer Dan Brown, por mais que tenha 500 páginas, pode ser lido em um fim de semana; b) não é preciso prestar atenção nas qualidades literárias do autor, já que elas não existem; c) por mais inverossímeis que sejam, suas tramas rocambolescas conseguem me deixar extremamente curiosa pra saber como é que tudo será resolvido no final.
(Meu único comentário sobre a escrita de Dan Brown - como disse, não existem qualidades literárias, e ninguém precisa ser crítico pra ver isso - diz respeito à maneira irritante como ele usa frases em itálico sem a menor coerência e muito menos parcimônia, como bem notou o blog de livros do Guardian. "The Cube. Katherine Solomon's lab." Que raios é isso? O pensamento do sujeito ou apenas uma forma de enfatizar o lugar aonde ele chegou? É irritante. E acontece o tempo inteiro.)
A essa altura - o livro será lançado no Brasil ainda este mês -, muita gente já deve saber do que trata a nova empreitada do professor Robert Langdon, de Anjos e demônios e O código Da Vinci: a busca frenética por um de seus grandes amigos, sequestrado por um maluco em Washington, e a tentativa de solucionar um antigo mistério ligado à Maçonaria. Como nas aventuras anteriores de Langdon, tudo acontece muito, muito rápido (dessa vez, em apenas uma noite). Como nas aventuras anteriores, não dá pra saber em quem confiar (seria a diretora da CIA mocinha ou bandida? E o administrador do Congresso? E o padre cego? E o próprio amigo sequestrado?). E, como nas aventuras anteriores, não faltam perigos e reviravoltas (mas quem, em sã consciência, pode acreditar que Dan Brown mataria seu principal e mais lucrativo personagem?).
Sei lá se é porque já estou familiarizada com a fórmula do escritor, ou porque conheço os principais monumentos de Washington D.C., ou porque é tudo mesmo muito óbvio - neste livro, consegui "descobrir" os dois principais mistérios da história bem antes da metade. Vantagem? Nenhuma. Apenas a constatação de que, por pior escrito que seja, O código Da Vinci ainda é mais divertido.
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domingo, 18 de outubro de 2009
Secret ingredients
Secret ingredients
Organizado por David Remnick (Random House, 2007)
Taí um livro que eu queria ter feito, taí o tipo de livro que eu queria passar o resto da minha vida fazendo: uma seleção de excelentes textos sobre comida publicados na revista New Yorker. E não são apenas resenhas de restaurantes ou perfis de gente que marcou época na cozinha, mas histórias - histórias como a de quando Julia Child, afônica, foi a um restaurante chinês e se comunicou com a dona apenas trocando bilhetinhos, ou o conto escrito por Louise Erdrich sobre a amizade entre duas corajosas mulheres, uma delas casada com um açougueiro.
Para mim, o melhor talvez esteja nos textos que abrem o capítulo "Eating in", escritos por M.F.K. Fisher. Eu já tinha lido dois livros de Ms. Fisher: Um alfabeto para gourmets, que me agradou muito, e Como cozinhar um lobo, que, na época, achei meio mais-ou-menos (hoje eu fico pensando, ainda mais depois de ler os textos dela em Secret ingredients, se não seria bom retomar essas leituras com uma predisposição maior para entender a voz de M.F.K. Fisher - uma voz que, como a de Elizabeth David, soa mal-humorada a princípio, mas vai revelando uma ironia inteligente e um conhecimento enorme à medida em que a gente se acostuma ao discurso).
O primeiro texto de "Eating in" é o Secret ingredients que dá nome ao livro. Assim como eu, a autora tem uma birra enorme de gente que escreve receitas sem contar o "pulo do gato": aquela pitada de um temperinho que faz toda a diferença, a técnica de assar de um jeito perfeito, as quantidades todas em "punhado", "mãozada", "um tanto". Em outro artigo, Ms. Fisher fala das casseroles, receita que toda dona de casa americana preparava, nos anos 60, achando que estava economizando tempo ao assar (numa caçarola, ahá) sobras de comida com arroz ou macarrão. (Ela escreveu isso em 1968 e, já naquela época, pregava o uso de pelo menos legumes frescos para deixar o prato mais apetitoso.) Ms. Fisher é elegante e engraçada até para falar de tripa - e dar uma receita completa do ingrediente, com direito a descrições e detalhes que fazem a gente agradecer por livro de cozinha não vir com o cheiro da própria.
Organizado por David Remnick (Random House, 2007)
Taí um livro que eu queria ter feito, taí o tipo de livro que eu queria passar o resto da minha vida fazendo: uma seleção de excelentes textos sobre comida publicados na revista New Yorker. E não são apenas resenhas de restaurantes ou perfis de gente que marcou época na cozinha, mas histórias - histórias como a de quando Julia Child, afônica, foi a um restaurante chinês e se comunicou com a dona apenas trocando bilhetinhos, ou o conto escrito por Louise Erdrich sobre a amizade entre duas corajosas mulheres, uma delas casada com um açougueiro.
Para mim, o melhor talvez esteja nos textos que abrem o capítulo "Eating in", escritos por M.F.K. Fisher. Eu já tinha lido dois livros de Ms. Fisher: Um alfabeto para gourmets, que me agradou muito, e Como cozinhar um lobo, que, na época, achei meio mais-ou-menos (hoje eu fico pensando, ainda mais depois de ler os textos dela em Secret ingredients, se não seria bom retomar essas leituras com uma predisposição maior para entender a voz de M.F.K. Fisher - uma voz que, como a de Elizabeth David, soa mal-humorada a princípio, mas vai revelando uma ironia inteligente e um conhecimento enorme à medida em que a gente se acostuma ao discurso).
O primeiro texto de "Eating in" é o Secret ingredients que dá nome ao livro. Assim como eu, a autora tem uma birra enorme de gente que escreve receitas sem contar o "pulo do gato": aquela pitada de um temperinho que faz toda a diferença, a técnica de assar de um jeito perfeito, as quantidades todas em "punhado", "mãozada", "um tanto". Em outro artigo, Ms. Fisher fala das casseroles, receita que toda dona de casa americana preparava, nos anos 60, achando que estava economizando tempo ao assar (numa caçarola, ahá) sobras de comida com arroz ou macarrão. (Ela escreveu isso em 1968 e, já naquela época, pregava o uso de pelo menos legumes frescos para deixar o prato mais apetitoso.) Ms. Fisher é elegante e engraçada até para falar de tripa - e dar uma receita completa do ingrediente, com direito a descrições e detalhes que fazem a gente agradecer por livro de cozinha não vir com o cheiro da própria.
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Dicionário de mitologia
Dicionário de mitologia
Eu só não entendo por que o principal texto a respeito de, por exemplo, um deus antigo, aparece no verbete de seu nome romano, e não do muito mais conhecido nome grego (bem, eu fui criada na mitologia de Monteiro Lobato, pra quem havia Zeus, Palas-Atena, Hera e Ares, e não Júpiter, Minerva, Juno e Marte) - embora haja remissões de um termo para o outro. De qualquer forma, não é um livro para aprender, com prazer, sobre as lendas da Grécia e de Roma Antigas, já que os verbetes são redigidos de uma maneira direta e didática; melhor usá-lo mesmo para consultas pontuais. O que me leva a tentar procurar, aqui em casa, o primeiro volume do As mais belas histórias da Antiguidade Clássica, do Gustav Schwab (o volume dois é tratado aqui). Esse, sim, fala sobre mitos com o respeito devido à literatura.
(Best Seller, 2000)
Quando precisei procurar algo a respeito de Procrustes (Procusto, em português) para escrever sobre At large and at small, da Anne Fadiman, tinha certeza de ter, aqui em casa, o Dicionário mítico-etimológico do Junito de Souza Brandão. Que nada. Tenho é essa versão chatinha - embora, acredito, correta - que trata de personagens, lugares, plantas, festas e quetais relacionados à mitologia.
Eu só não entendo por que o principal texto a respeito de, por exemplo, um deus antigo, aparece no verbete de seu nome romano, e não do muito mais conhecido nome grego (bem, eu fui criada na mitologia de Monteiro Lobato, pra quem havia Zeus, Palas-Atena, Hera e Ares, e não Júpiter, Minerva, Juno e Marte) - embora haja remissões de um termo para o outro. De qualquer forma, não é um livro para aprender, com prazer, sobre as lendas da Grécia e de Roma Antigas, já que os verbetes são redigidos de uma maneira direta e didática; melhor usá-lo mesmo para consultas pontuais. O que me leva a tentar procurar, aqui em casa, o primeiro volume do As mais belas histórias da Antiguidade Clássica, do Gustav Schwab (o volume dois é tratado aqui). Esse, sim, fala sobre mitos com o respeito devido à literatura.
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Paciente particular
Paciente particular
P.D. James (Companhia das Letras, 2009)
Eu nunca havia lido P.D. James até ganhar este livro de presente - e, ainda no início, cheguei à conclusão de que não posso me considerar uma legítima fã de policiais sem conhecer tanta coisa bacana. Só neste ano, fui apresentada a três autores, digamos, já bem rodados nas histórias de detetives: Fred Vargas, Henning Mankell e a agora querida P.D. James. E faltam tantos... Patricia Highsmith, por exemplo, de quem só li O amigo americano, e há tanto tempo que não me lembro de quase nada.
Paciente particular ganhou minha simpatia logo de cara porque o clima, o ambiente, os personagens fizeram com que eu reconhecesse, ali, um toque de Agatha Christe, de quem podem falar mal à vontade que eu vou continuar adorando anyway. Talvez tenha sido o cenário - uma mansão no interior da Inglaterra transformada em hospital particular -, ou a personalidade quase hermética das principais figuras envolvidas na história, ou o hábito tão britânico e agathachrístico do chá da tarde, ou a hierarquia um tanto ritualística seguida pelos moradores da clínica. Sei que, de repente, eu estava esperando que aparecesse ali, em Cheverell Manor, não o investigador Adam Dalgliesh (por quem só não me apaixonei porque meu coração já pertence a Jean-Baptiste Adamsberg), mas Hercule Poirot ou Miss Marple.
Rhoda Gradwin é uma jornalista especializada em descobrir o podre de pessoas poderosas. Dona de uma cicatriz que corta seu rosto, ela resolve internar-se na clínica do famoso cirurgião plástico George Chandler-Powell. A operação é um sucesso - mas Rhoda nunca chega a ver seu rosto reconstruído, já que morre assassinada logo depois da intervenção. Todo mundo é suspeito: o médico, o médico-assistente e sua irmã acadêmica, a enfermeira-chefe, a governanta da clínica, a empregada maluquete, o casal de cozinheiros, a contadora. Por causa de uma frase do final do livro que eu li sem querer e, ironia, interpretei errado, descobri o assassino bem antes de Dalgliesh. Mas nem isso tirou a graça da trama e o envolvimento que eu senti com tudo aquilo. Atrás de mais P.D. James, pois.
P.D. James (Companhia das Letras, 2009)
Eu nunca havia lido P.D. James até ganhar este livro de presente - e, ainda no início, cheguei à conclusão de que não posso me considerar uma legítima fã de policiais sem conhecer tanta coisa bacana. Só neste ano, fui apresentada a três autores, digamos, já bem rodados nas histórias de detetives: Fred Vargas, Henning Mankell e a agora querida P.D. James. E faltam tantos... Patricia Highsmith, por exemplo, de quem só li O amigo americano, e há tanto tempo que não me lembro de quase nada.
Paciente particular ganhou minha simpatia logo de cara porque o clima, o ambiente, os personagens fizeram com que eu reconhecesse, ali, um toque de Agatha Christe, de quem podem falar mal à vontade que eu vou continuar adorando anyway. Talvez tenha sido o cenário - uma mansão no interior da Inglaterra transformada em hospital particular -, ou a personalidade quase hermética das principais figuras envolvidas na história, ou o hábito tão britânico e agathachrístico do chá da tarde, ou a hierarquia um tanto ritualística seguida pelos moradores da clínica. Sei que, de repente, eu estava esperando que aparecesse ali, em Cheverell Manor, não o investigador Adam Dalgliesh (por quem só não me apaixonei porque meu coração já pertence a Jean-Baptiste Adamsberg), mas Hercule Poirot ou Miss Marple.
Rhoda Gradwin é uma jornalista especializada em descobrir o podre de pessoas poderosas. Dona de uma cicatriz que corta seu rosto, ela resolve internar-se na clínica do famoso cirurgião plástico George Chandler-Powell. A operação é um sucesso - mas Rhoda nunca chega a ver seu rosto reconstruído, já que morre assassinada logo depois da intervenção. Todo mundo é suspeito: o médico, o médico-assistente e sua irmã acadêmica, a enfermeira-chefe, a governanta da clínica, a empregada maluquete, o casal de cozinheiros, a contadora. Por causa de uma frase do final do livro que eu li sem querer e, ironia, interpretei errado, descobri o assassino bem antes de Dalgliesh. Mas nem isso tirou a graça da trama e o envolvimento que eu senti com tudo aquilo. Atrás de mais P.D. James, pois.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
At large and at small
At large and at small
Anne Fadiman (Allen Lane, 2007)
Foi, acho, em 2002, que um amigo me disse: "Você vai adorar Ex-Libris." Não adorei: amei. É esse o livro que eu dou de presente para algumas pessoas especiais que, como eu, também adoram não apenas os livros, mas as palavras, a escrita. E há muito tempo eu andava de olho em blogs, na Amazon, nos lançamentos do mercado americano, para ver se encontrava algum outro título assinado por Anne Fadiman, de quem me tornei fã. Até que encontrei. Foi uma longa (ou, pelo menos, assim pareceu) espera até a Cultura entregar minha encomenda e outros demorados meses até que eu finalmente me dedicasse à obra - que li num minuto, voltando várias vezes aos ensaios que mais gostei.
Trata-se, como diz o subtítulo, de Confessions of a literary hedonist - e não tem como eu não invejar, em Anne Fadiman, sua escrita elegante, seu conhecimento literário, sua vida passada entre os livros, a forma singular como ela transforma até assuntos distantes de mim (o amor pelo Ártico, a canoagem, a devoção por Charles Lamb, de quem eu nunca tinha nem ouvido falar) em temas de interesse imediato. Se o Gênio da Lâmpada aparecesse em minha frente, agora, para me conceder três desejos, um deles certamente seria "quero escrever como e sobre o que Anne Fadiman escreve".
Em At large and at small, o ensaio de que mais gostei parte de um personagem - Procrustes, em inglês, que eu não conhecia, mesmo adorando mitologia grega - e relaciona sua prática cruel de tortura e assassinato ao que Anne Fadiman chama de "guerras culturais", a aparente necessidade das pessoas em politizar a arte. "Coffee" é um texto ótimo não apenas sobre o hábito de beber café (que eu retomei recentemente, graças à Nespresso), mas sobre as obras produzidas sob o efeito da cafeína. Em "Night owl", Anne Fadiman fala de si e de vários outros escritores que produzem melhor à noite. E tem ensaio sobre sorvete, sobre Samuel Taylor Coleridge, correspondência, mudanças de casa, a bandeira americana... Assuntos tão diferentes, abordagens idem, que só conseguem se transformar num livro tão bacana por causa da competência da autora.
Anne Fadiman (Allen Lane, 2007)
Foi, acho, em 2002, que um amigo me disse: "Você vai adorar Ex-Libris." Não adorei: amei. É esse o livro que eu dou de presente para algumas pessoas especiais que, como eu, também adoram não apenas os livros, mas as palavras, a escrita. E há muito tempo eu andava de olho em blogs, na Amazon, nos lançamentos do mercado americano, para ver se encontrava algum outro título assinado por Anne Fadiman, de quem me tornei fã. Até que encontrei. Foi uma longa (ou, pelo menos, assim pareceu) espera até a Cultura entregar minha encomenda e outros demorados meses até que eu finalmente me dedicasse à obra - que li num minuto, voltando várias vezes aos ensaios que mais gostei.
Trata-se, como diz o subtítulo, de Confessions of a literary hedonist - e não tem como eu não invejar, em Anne Fadiman, sua escrita elegante, seu conhecimento literário, sua vida passada entre os livros, a forma singular como ela transforma até assuntos distantes de mim (o amor pelo Ártico, a canoagem, a devoção por Charles Lamb, de quem eu nunca tinha nem ouvido falar) em temas de interesse imediato. Se o Gênio da Lâmpada aparecesse em minha frente, agora, para me conceder três desejos, um deles certamente seria "quero escrever como e sobre o que Anne Fadiman escreve".
Em At large and at small, o ensaio de que mais gostei parte de um personagem - Procrustes, em inglês, que eu não conhecia, mesmo adorando mitologia grega - e relaciona sua prática cruel de tortura e assassinato ao que Anne Fadiman chama de "guerras culturais", a aparente necessidade das pessoas em politizar a arte. "Coffee" é um texto ótimo não apenas sobre o hábito de beber café (que eu retomei recentemente, graças à Nespresso), mas sobre as obras produzidas sob o efeito da cafeína. Em "Night owl", Anne Fadiman fala de si e de vários outros escritores que produzem melhor à noite. E tem ensaio sobre sorvete, sobre Samuel Taylor Coleridge, correspondência, mudanças de casa, a bandeira americana... Assuntos tão diferentes, abordagens idem, que só conseguem se transformar num livro tão bacana por causa da competência da autora.
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domingo, 20 de setembro de 2009
O muro
O muro
Jean-Paul Sartre (Nova Fronteira, 2005)
Minha amiga Tati Bernardi escreveu sobre sua peregrinação pelos sebos da avenida Pedroso de Moraes, em São Paulo, em busca do livro A náusea, do Sartre (acabou encontrando uma edição portuguesa, com mais de 50 anos, que nunca tinha sido nem manuseada: ainda tinha as páginas coladas). Nunca li A náusea - aliás, nunca li nada do Sartre além do conto que dá nome a O muro, e que li provavelmente numa época totalmente errada, quando ainda não entendia nada da vida, e por isso odiei o texto, odiei o autor e odiei, numa generalização idiota, todo o existencialismo.
Acho que chegou a hora de ler O muro outra vez. Lembro mais da sensação de injustiça que ela me causou do que da história em si: um prisioneiro condenado ao fuzilamento ganha a chance de se livrar da morte se delatar um certo amigo fugitivo. Ele decide, então, fazer uma delação de mentirinha: dizer que fulano está no lugar X, quando na verdade ele está no Y. Na hora H, porém, o amigo muda de esconderijo e acaba no mesmo lugar X onde a polícia vai procurá-lo. É triste. É cruel. Mas acho que na maioria das vezes é assim que as coisas acontecem.
Jean-Paul Sartre (Nova Fronteira, 2005)
Minha amiga Tati Bernardi escreveu sobre sua peregrinação pelos sebos da avenida Pedroso de Moraes, em São Paulo, em busca do livro A náusea, do Sartre (acabou encontrando uma edição portuguesa, com mais de 50 anos, que nunca tinha sido nem manuseada: ainda tinha as páginas coladas). Nunca li A náusea - aliás, nunca li nada do Sartre além do conto que dá nome a O muro, e que li provavelmente numa época totalmente errada, quando ainda não entendia nada da vida, e por isso odiei o texto, odiei o autor e odiei, numa generalização idiota, todo o existencialismo.
Acho que chegou a hora de ler O muro outra vez. Lembro mais da sensação de injustiça que ela me causou do que da história em si: um prisioneiro condenado ao fuzilamento ganha a chance de se livrar da morte se delatar um certo amigo fugitivo. Ele decide, então, fazer uma delação de mentirinha: dizer que fulano está no lugar X, quando na verdade ele está no Y. Na hora H, porém, o amigo muda de esconderijo e acaba no mesmo lugar X onde a polícia vai procurá-lo. É triste. É cruel. Mas acho que na maioria das vezes é assim que as coisas acontecem.
A morte tem sete herdeiros
A morte tem sete herdeiros
Stella Carr e Ganymédes José (Moderna, 2003)
Minha edição deste livro há muito perdeu a capa (que nem era igual a essa, aliás), mas conserva o autógrafo de Stella Carr na primeira página. Eu devia ter uns 12 anos, talvez? E me lembro de ter ficado felicíssima ao saber que dois dos meus autores favoritos iam se juntar pra escrever um livro: o Ganymédes José da série Inspetora e tantos outros, a Stella Carr da série Irmãos Encrenca. Melhor ainda, uma história de mistério que, no volume que eu tenho, ganhou o subtítulo de "A noite em que Agatha Christie visitou Jacuruçunga" - e eu já era fã da velhinha inglesa desde aquela época.
Os sete sobrinhos e alguns agregados de Rogério Matta Leitão (todos os nomes do livro são ótimos) encontram-se em sua casa, depois da morte do velho, para descobrir quem herdará a fortuna do falecido. Durante a noite, coisas estranhas começam a acontecer: a chegada de visitantes inesperados, um assassinato aqui, outro ali, gente que desaparece... Mesmo depois de tantos anos, eu ainda adoro o livro. E fico imaginando como deve ter sido delicioso o processo de escrita a quatro mãos entre Stella e Ganymédes, como os dois devem ter dado risada e se divertido. Só isso já vale a leitura.
Stella Carr e Ganymédes José (Moderna, 2003)
Minha edição deste livro há muito perdeu a capa (que nem era igual a essa, aliás), mas conserva o autógrafo de Stella Carr na primeira página. Eu devia ter uns 12 anos, talvez? E me lembro de ter ficado felicíssima ao saber que dois dos meus autores favoritos iam se juntar pra escrever um livro: o Ganymédes José da série Inspetora e tantos outros, a Stella Carr da série Irmãos Encrenca. Melhor ainda, uma história de mistério que, no volume que eu tenho, ganhou o subtítulo de "A noite em que Agatha Christie visitou Jacuruçunga" - e eu já era fã da velhinha inglesa desde aquela época.
Os sete sobrinhos e alguns agregados de Rogério Matta Leitão (todos os nomes do livro são ótimos) encontram-se em sua casa, depois da morte do velho, para descobrir quem herdará a fortuna do falecido. Durante a noite, coisas estranhas começam a acontecer: a chegada de visitantes inesperados, um assassinato aqui, outro ali, gente que desaparece... Mesmo depois de tantos anos, eu ainda adoro o livro. E fico imaginando como deve ter sido delicioso o processo de escrita a quatro mãos entre Stella e Ganymédes, como os dois devem ter dado risada e se divertido. Só isso já vale a leitura.
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009
How to eat
How to eat
Nigella Lawson (Wiley, 2002)
No tempo da minha mãe, a grande bíblia culinária era o livro das receitas de Dona Benta - embora, até onde eu saiba, Dona Benta nunca tenha entrado na cozinha do Sítio do Picapau Amarelo para cozinhar nada; tia Nastácia, sim, era a quituteira oficial do lugar (mas era negra, e vai saber se "pegava bem" publicar o livro de receitas de uma negra nos idos de sei lá quando). Eu li muito a edição que minha mãe ganhou como presente de noivado, em 1964, e que ainda existe, quase firme e quase forte, na casa dela.
Também eu tenho minhas bíblias culinárias, livros que procuram tratar de comida de um jeito simples, saudável e saboroso, que me ensinem maneiras diferentes de comer o que eu gosto - e jeitos gostosos de comer o que eu normalmente não comeria -, que não fiquem pregando excessos mas que também não levem tão a sério a proibição a ingredientes que, ultimamente, acabaram entrando numa espécie de índex culinário. Deles fazem parte o Dean & Deluca cookbook, o Jamie's dinners, alguns livros da Patricia Wells e esse How to eat. (Comentário fora de propósito: linda do jeito que é, Nigella Lawson tem toda razão em aparecer na capa de quase todos os seus livros.)
Mais do que as receitas, que são muitas e geralmente ótimas, o bacana deste livro de Nigella são os textos em que ela, vá lá, ensina a comer. O primeiro capítulo, "Basics, etc.", fala de ingredientes, ensina alguns preparos fundamentais (caldos, frango assado), dá ideias de como aproveitar sobras variadas, mostra o que é possível ter sempre à mão no freezer (isso eu aproveitei demais; aprendi que dá pra manter queijo ralado congelado, por exemplo). E o resto do livro segue na mesma linha, com capítulos sobre refeições para uma ou duas pessoas, comida rápida e fácil, cardápios para almoços de fim de semana... Até uma seção sobre "low fat" a rainha do creme e da manteiga escreveu. Só fico em dúvida se é o melhor livro dela porque também gosto muito do Express. De qualquer forma, ambos são excelentes na característica que, para mim, é capaz de transformar um livro de receitas em bíblia culinária: dão ótimas ideias para as minhas aventuras na cozinha.
Nigella Lawson (Wiley, 2002)
No tempo da minha mãe, a grande bíblia culinária era o livro das receitas de Dona Benta - embora, até onde eu saiba, Dona Benta nunca tenha entrado na cozinha do Sítio do Picapau Amarelo para cozinhar nada; tia Nastácia, sim, era a quituteira oficial do lugar (mas era negra, e vai saber se "pegava bem" publicar o livro de receitas de uma negra nos idos de sei lá quando). Eu li muito a edição que minha mãe ganhou como presente de noivado, em 1964, e que ainda existe, quase firme e quase forte, na casa dela.
Também eu tenho minhas bíblias culinárias, livros que procuram tratar de comida de um jeito simples, saudável e saboroso, que me ensinem maneiras diferentes de comer o que eu gosto - e jeitos gostosos de comer o que eu normalmente não comeria -, que não fiquem pregando excessos mas que também não levem tão a sério a proibição a ingredientes que, ultimamente, acabaram entrando numa espécie de índex culinário. Deles fazem parte o Dean & Deluca cookbook, o Jamie's dinners, alguns livros da Patricia Wells e esse How to eat. (Comentário fora de propósito: linda do jeito que é, Nigella Lawson tem toda razão em aparecer na capa de quase todos os seus livros.)
Mais do que as receitas, que são muitas e geralmente ótimas, o bacana deste livro de Nigella são os textos em que ela, vá lá, ensina a comer. O primeiro capítulo, "Basics, etc.", fala de ingredientes, ensina alguns preparos fundamentais (caldos, frango assado), dá ideias de como aproveitar sobras variadas, mostra o que é possível ter sempre à mão no freezer (isso eu aproveitei demais; aprendi que dá pra manter queijo ralado congelado, por exemplo). E o resto do livro segue na mesma linha, com capítulos sobre refeições para uma ou duas pessoas, comida rápida e fácil, cardápios para almoços de fim de semana... Até uma seção sobre "low fat" a rainha do creme e da manteiga escreveu. Só fico em dúvida se é o melhor livro dela porque também gosto muito do Express. De qualquer forma, ambos são excelentes na característica que, para mim, é capaz de transformar um livro de receitas em bíblia culinária: dão ótimas ideias para as minhas aventuras na cozinha.
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domingo, 13 de setembro de 2009
El Ateneo Grand Splendid
El Ateneo Grand Splendid
Buenos Aires, Argentina
Eu não leio em espanhol - até já arrisquei alguma coisa, como a biografia do Xul Solar, mas é um processo tão demorado e dolorido que prefiro nem tentar. E fico com uma raiva muito grande de mim mesma por não aprender o idioma direito, principalmente quando sei que em Buenos Aires há livrarias tão boas, como a El Ateneo, com zilhões de títulos interessantes por preços muito mais convenientes do que no Brasil.
A Grand Splendid é a filial chique e lindíssima dessa rede argentina de livrarias. Foi instalada num antigo cinema dos anos 1920 (pelo menos assim diz o blog de livros da revista New Yorker), na avenida Santa Fé, e causa o maior impacto. O lugar, restaurado, mantém a cara de teatro - mais teatro do que cinema atual, pelo menos -, com a diferença de que há livros até nos antigos camarotes. E de que, no palco, funciona um café. A última vez em que estive lá foi no final de 2004, quando quase não havia livros em inglês à venda; era a alternativa ao meu não-conhecimento do espanhol. Uma pena.
Buenos Aires, Argentina
Eu não leio em espanhol - até já arrisquei alguma coisa, como a biografia do Xul Solar, mas é um processo tão demorado e dolorido que prefiro nem tentar. E fico com uma raiva muito grande de mim mesma por não aprender o idioma direito, principalmente quando sei que em Buenos Aires há livrarias tão boas, como a El Ateneo, com zilhões de títulos interessantes por preços muito mais convenientes do que no Brasil.
A Grand Splendid é a filial chique e lindíssima dessa rede argentina de livrarias. Foi instalada num antigo cinema dos anos 1920 (pelo menos assim diz o blog de livros da revista New Yorker), na avenida Santa Fé, e causa o maior impacto. O lugar, restaurado, mantém a cara de teatro - mais teatro do que cinema atual, pelo menos -, com a diferença de que há livros até nos antigos camarotes. E de que, no palco, funciona um café. A última vez em que estive lá foi no final de 2004, quando quase não havia livros em inglês à venda; era a alternativa ao meu não-conhecimento do espanhol. Uma pena.
The corrections
The corrections
Jonathan Franzen (Harper Trade UK, 2007)
Finalmente, depois de um longo hiato provocado pelo excesso de trabalho, terminei de ler The corrections. Gostei. Mas o livro (existe também traduzido para o português) não mexeu comigo tanto quanto eu pensei que pudesse mexer - por estar passando, eu mesma, por uma fase da vida em que algumas correções intensas são necessárias. Vai ver é porque, assim espero, não sou tão disfuncional quanto a família criada por Jonathan Franzen neste livro.
Depois de uma vida inteira dedicada ao trabalho de engenharia na ferrovia local, Alfred, o pai, está começando a sofrer as consequências do mal de Parkinson. Enid, a mãe, tenta de todo modo manter as aparências do que imagina ser uma família perfeita do meio-oeste americano - mesmo que, para isso, tenha que ignorar a realidade, as necessidades e os sentimentos do marido e dos filhos. Na Filadélfia, o filho mais velho, Gary, trava uma luta de forças com a mulher, Caroline, e teme estar entrando em depressão. Denise, a filha mais nova, é uma chef de cozinha divorciada que sente muito mais afinidade com o pai do que com a mãe. Em Nova York, por fim, o filho do meio, Chip, procura se virar fazendo bicos de revisor e trabalhando no roteiro de um filme. E Enid quer juntar todos, filhos e netos, para um último Natal em St. Jude, a cidade onde nasceu, foi criada e vive até hoje.
A história vai e volta diversas vezes no tempo - o presente é um mês de outubro em que Alfred e Enid embarcam num cruzeiro até o Canadá, Gary briga com a mulher por causa do Natal em St. Jude, Denise está trabalhando num super-restaurante e Chip aceita viajar para a Lituânia -, principalmente para mostrar como cada um existe do jeito que é e que tipo de correções, na vida, eles gostariam de fazer. Mas há várias tramas paralelas e, talvez por minha leitura ter sido interrompida durante várias semanas, achei algumas delas cansativas e desnecessárias. Todo o Corecktall, por exemplo, e a história da amiga que Enid faz no navio. Outras são divertidíssimas (a visita de Enid ao médico de bordo) ou ajudam a explicar a personalidade de Alfred, para mim o grande, e injustiçado, personagem do livro. Uma das passagens finais, o "acerto de contas" entre marido mulher, é belo e muito triste.
Mas se nem a vida é sempre justa, por que a ficção haveria de ser?
Jonathan Franzen (Harper Trade UK, 2007)
Finalmente, depois de um longo hiato provocado pelo excesso de trabalho, terminei de ler The corrections. Gostei. Mas o livro (existe também traduzido para o português) não mexeu comigo tanto quanto eu pensei que pudesse mexer - por estar passando, eu mesma, por uma fase da vida em que algumas correções intensas são necessárias. Vai ver é porque, assim espero, não sou tão disfuncional quanto a família criada por Jonathan Franzen neste livro.
Depois de uma vida inteira dedicada ao trabalho de engenharia na ferrovia local, Alfred, o pai, está começando a sofrer as consequências do mal de Parkinson. Enid, a mãe, tenta de todo modo manter as aparências do que imagina ser uma família perfeita do meio-oeste americano - mesmo que, para isso, tenha que ignorar a realidade, as necessidades e os sentimentos do marido e dos filhos. Na Filadélfia, o filho mais velho, Gary, trava uma luta de forças com a mulher, Caroline, e teme estar entrando em depressão. Denise, a filha mais nova, é uma chef de cozinha divorciada que sente muito mais afinidade com o pai do que com a mãe. Em Nova York, por fim, o filho do meio, Chip, procura se virar fazendo bicos de revisor e trabalhando no roteiro de um filme. E Enid quer juntar todos, filhos e netos, para um último Natal em St. Jude, a cidade onde nasceu, foi criada e vive até hoje.
A história vai e volta diversas vezes no tempo - o presente é um mês de outubro em que Alfred e Enid embarcam num cruzeiro até o Canadá, Gary briga com a mulher por causa do Natal em St. Jude, Denise está trabalhando num super-restaurante e Chip aceita viajar para a Lituânia -, principalmente para mostrar como cada um existe do jeito que é e que tipo de correções, na vida, eles gostariam de fazer. Mas há várias tramas paralelas e, talvez por minha leitura ter sido interrompida durante várias semanas, achei algumas delas cansativas e desnecessárias. Todo o Corecktall, por exemplo, e a história da amiga que Enid faz no navio. Outras são divertidíssimas (a visita de Enid ao médico de bordo) ou ajudam a explicar a personalidade de Alfred, para mim o grande, e injustiçado, personagem do livro. Uma das passagens finais, o "acerto de contas" entre marido mulher, é belo e muito triste.
Mas se nem a vida é sempre justa, por que a ficção haveria de ser?
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Pê de pai
Pê de pai
Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho (CosacNaify, 2009)
Meu pai morreu muito cedo, quando eu tinha 4 anos, afogado num acidente estúpido enquanto pescava em Ubatuba. Por isso, não tenho nenhuma referência das funções paternas mostradas de maneira tão simples e tão belas neste livrinho. O pai casaco, que protege os filhos da chuva. O pai trator, que ajuda a atravessar as poças d'água. O pai boia, que dá uma força na piscina ou no mar quando a gente não sabe nadar.
Mas meu irmão é pai recente - minha sobrinha acabou de completar 1 ano - e eu acho lindo ver como ele se transforma, com ela, no pai avião, pai freio de mão, pai guindaste, pai sofá, pai colchão... Então comprei o livrinho para mandar de presente pra eles. Nem história tem: são só desenhos, toscamente divertidos, e a descrição dos diversos tipos de pai, criados por uma dupla portuguesa de autora e ilustrador. Espero que gostem.
Isabel Minhós Martins e Bernardo Carvalho (CosacNaify, 2009)
Meu pai morreu muito cedo, quando eu tinha 4 anos, afogado num acidente estúpido enquanto pescava em Ubatuba. Por isso, não tenho nenhuma referência das funções paternas mostradas de maneira tão simples e tão belas neste livrinho. O pai casaco, que protege os filhos da chuva. O pai trator, que ajuda a atravessar as poças d'água. O pai boia, que dá uma força na piscina ou no mar quando a gente não sabe nadar.
Mas meu irmão é pai recente - minha sobrinha acabou de completar 1 ano - e eu acho lindo ver como ele se transforma, com ela, no pai avião, pai freio de mão, pai guindaste, pai sofá, pai colchão... Então comprei o livrinho para mandar de presente pra eles. Nem história tem: são só desenhos, toscamente divertidos, e a descrição dos diversos tipos de pai, criados por uma dupla portuguesa de autora e ilustrador. Espero que gostem.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
The New York Times Book of New York
The New York Times Book of New York
Há onze capítulos - gente, transportes, arquitetura e parques, diversão e arte, negócios, política e governo, crime, desastres, comida, esportes e bairros - com outras tantas divisões internas. Jacqueline Kennedy Onassis e Eleanor Roosevelt, duas ex-primeiras-damas americanas, aparecem, por exemplo, em "Public servants" (a primeira, num trecho de seu obituário; a segunda, numa matéria sobre uma estátua no Riverside Park).
É um livro sensacional - não só porque conta a história da cidade pelos artigos do jornal, mas porque traz diversos ângulos de um mesmo assunto ou trata do mesmo tema em diferentes épocas. Sobre o Empire State Building, por exemplo, há três textos: o de 1931, quando o prédio foi inaugurado; um de 2004, quando morreu a mocinha do primeiro King Kong; e um de 2006, sobre os casais de namorados que vão passear no topo do edifício. E o Bronx ganha retratos tão distantes quanto o de 1899 (a prosperidade imobiliária do bairro), o de 1977 (uma visita do então presidente Carter à região) e o de 2007 (a revitalização da área próxima à Fordham Road), entre outros. Dá vontade de ler tudo de uma vez e pegar correndo um avião pra Nova York.
editado por James Barron (Black Dog & Leventhal, 2009)
O melhor presente do ano foi a visita-surpresa do meu irmão, há duas semanas, pra festinha brasileira do aniversário de 1 ano da minha sobrinha. Na mala, outro presente muito bacana: este The New York Times Book of New York, um catatau com quase 500 páginas e 549 excertos de textos publicados no jornal americano sobre, como diz a capa, "as pessoas, os acontecimentos e a vida" de Nova York, no passado e no presente.
Há onze capítulos - gente, transportes, arquitetura e parques, diversão e arte, negócios, política e governo, crime, desastres, comida, esportes e bairros - com outras tantas divisões internas. Jacqueline Kennedy Onassis e Eleanor Roosevelt, duas ex-primeiras-damas americanas, aparecem, por exemplo, em "Public servants" (a primeira, num trecho de seu obituário; a segunda, numa matéria sobre uma estátua no Riverside Park).
É um livro sensacional - não só porque conta a história da cidade pelos artigos do jornal, mas porque traz diversos ângulos de um mesmo assunto ou trata do mesmo tema em diferentes épocas. Sobre o Empire State Building, por exemplo, há três textos: o de 1931, quando o prédio foi inaugurado; um de 2004, quando morreu a mocinha do primeiro King Kong; e um de 2006, sobre os casais de namorados que vão passear no topo do edifício. E o Bronx ganha retratos tão distantes quanto o de 1899 (a prosperidade imobiliária do bairro), o de 1977 (uma visita do então presidente Carter à região) e o de 2007 (a revitalização da área próxima à Fordham Road), entre outros. Dá vontade de ler tudo de uma vez e pegar correndo um avião pra Nova York.
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domingo, 30 de agosto de 2009
Assassinos sem rosto
Assassinos sem rosto
Este é o romance que apresenta o inspetor Kurt Wallander, o Jean-Baptiste Adamsberg de Henning Mankell. Assim como o colega fictício francês, o sueco Wallander vive sozinho, tem problemas com as mulheres e lidera uma equipe formada por tipos bem diferentes de policiais. Mas Adamsberg é um personagem muito mais carismático e bem-construído: a gente torce por ele. Talvez lendo outros livros de Wallander eu passe a torcer por ele também, mas nessa sua estreia só o que eu conseguia pensar era em, por exemplo, "por que ele não foi conversar com as filhas do casal assassinado?" Ou na superficialidade com que aparecem figuras que deveriam ter alguma importância na vida do detetive - a filha de Wallander, Linda, é um ser meio evanescente, assim como a Camille de Adamsberg, mas muito menos interessante; e não dá pra ter qualquer simpatia por seu velho pai, cada vez mais senil, ou pelo melhor amigo que ficou no passado.
E aí tem uma outra coisa que me incomoda muito em alguns policiais, até mesmo em Fred Vargas: a solução fácil. Podem falar o que quiser de Agatha Christie, subliteratura e sei lá o quê, mas pelo menos seus finais eram quase sempre surpreendentes. Pelo menos neste livro, Henning Mankell ficou devendo um desfecho mais emocionante.
Henning Mankell (Companhia das Letras, 2001)
Fazia tempo que não acontecia de eu pegar um livro e ler tudo em dois dias, como foi com Assassinos sem rosto. Mas confesso que houve um motivo para isso: comprei o livro para dar de presente e resolvi, primeiro, conferir a história - meu presenteado, afinal, é fã de romances policiais, e, como eu nunca tinha lido Mankell antes, fui ver se a história era bacana. Gostei. Não tanto quanto de Fred Vargas, que eu diria ser um Mankell aprimorado, mas gostei.
Este é o romance que apresenta o inspetor Kurt Wallander, o Jean-Baptiste Adamsberg de Henning Mankell. Assim como o colega fictício francês, o sueco Wallander vive sozinho, tem problemas com as mulheres e lidera uma equipe formada por tipos bem diferentes de policiais. Mas Adamsberg é um personagem muito mais carismático e bem-construído: a gente torce por ele. Talvez lendo outros livros de Wallander eu passe a torcer por ele também, mas nessa sua estreia só o que eu conseguia pensar era em, por exemplo, "por que ele não foi conversar com as filhas do casal assassinado?" Ou na superficialidade com que aparecem figuras que deveriam ter alguma importância na vida do detetive - a filha de Wallander, Linda, é um ser meio evanescente, assim como a Camille de Adamsberg, mas muito menos interessante; e não dá pra ter qualquer simpatia por seu velho pai, cada vez mais senil, ou pelo melhor amigo que ficou no passado.
E aí tem uma outra coisa que me incomoda muito em alguns policiais, até mesmo em Fred Vargas: a solução fácil. Podem falar o que quiser de Agatha Christie, subliteratura e sei lá o quê, mas pelo menos seus finais eram quase sempre surpreendentes. Pelo menos neste livro, Henning Mankell ficou devendo um desfecho mais emocionante.
sábado, 29 de agosto de 2009
Café com Letras
Café com Letras
Belo Horizonte, MG
Quando fui a Belo Horizonte pela primeira vez, a trabalho, vários anos atrás, fiquei hospedada num flat da rua Antônio de Albuquerque, na Savassi. Voltei cedo de uma reunião e resolvi andar pelo bairro. Foi quando eu encontrei, na mesma rua do hotel, esse misto de café e livraria, então muito mais livraria do que café.
Há uns dias, voltei a BH e fui outra vez ao Café com Letras, dessa vez muito mais restaurante que café ou livraria. Continua bacana - em duas ou três mesas dá pra almoçar ao lado das estantes cheias de livros, como se fosse numa biblioteca. Os títulos, reduzidos devido ao espaço, me pareceram bacanas. Tinha até uma prateleira só com volumes da Taschen, vários daquela série sobre artistas de cinema (eu tenho o da Grace Kelly). Fiquei tentada a comprar o da Marilyn Monroe, mas com a diferença de preço entre os 2,49 euros que eu paguei em Paris e os mais de 40 reais cobrados na loja mineira, desisti rapidinho. Ok, eu sei que, se eu voltasse a Paris para comprar mais dessa série na loja da Taschen, ia gastar muito mais do que 40 reais, mas tem também o propósito que eu fiz de tentar não comprar mais livros até o fim do ano, pra ver se eu dou conta de ler o que se acumula aqui em casa. Estou conseguindo. Hoje é meu 70º dia de abstinência.
Belo Horizonte, MG
Quando fui a Belo Horizonte pela primeira vez, a trabalho, vários anos atrás, fiquei hospedada num flat da rua Antônio de Albuquerque, na Savassi. Voltei cedo de uma reunião e resolvi andar pelo bairro. Foi quando eu encontrei, na mesma rua do hotel, esse misto de café e livraria, então muito mais livraria do que café.
Há uns dias, voltei a BH e fui outra vez ao Café com Letras, dessa vez muito mais restaurante que café ou livraria. Continua bacana - em duas ou três mesas dá pra almoçar ao lado das estantes cheias de livros, como se fosse numa biblioteca. Os títulos, reduzidos devido ao espaço, me pareceram bacanas. Tinha até uma prateleira só com volumes da Taschen, vários daquela série sobre artistas de cinema (eu tenho o da Grace Kelly). Fiquei tentada a comprar o da Marilyn Monroe, mas com a diferença de preço entre os 2,49 euros que eu paguei em Paris e os mais de 40 reais cobrados na loja mineira, desisti rapidinho. Ok, eu sei que, se eu voltasse a Paris para comprar mais dessa série na loja da Taschen, ia gastar muito mais do que 40 reais, mas tem também o propósito que eu fiz de tentar não comprar mais livros até o fim do ano, pra ver se eu dou conta de ler o que se acumula aqui em casa. Estou conseguindo. Hoje é meu 70º dia de abstinência.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Quadrinhos Celton
Quadrinhos Celton
Na última sexta-feira, cruzei com Lacarmélio subindo e descendo a rua Sergipe, na Savassi, enquanto vendia a edição número 22 dos quadrinhos de Celton, o personagem que criou. Título: O combate da sogra com o capeta (infelizmente, estou sem scanner e não achei a imagem para colocar aqui; é o desenho de uma mulher armada com uma vassoura brigando com o demônio e seu tridente). Logo na primeira página está o crédito: "História, esboços, desenhos, arte-final, pesquisas, computação gráfica, diagramação final, vendas nas ruas e erros que são muitos: Lacarmélio A. Araújo".
A trama é fraquinha. Mesmo assim, fiquei curiosa pra ver outras de suas edições, como a que trata da construção de BH e as histórias baseadas em lendas urbanas da cidade. Porque ver Lacarmélio em ação, ler as "cartas dos leitores" que ele edita nas revistinhas e saber - a se acreditar no expediente da publicação - que o cara faz tudo sozinho, com dinheiro do próprio bolso, foi muito importante pra mim num momento em que eu não estava acreditando em quase mais nada.
Lacarmélio (edição do autor, 2009)
Eu não sou muito chegada em quadrinhos - teve uma época em que eu gostava muito do Batman, mas acho que aqui no blog abri apenas uma exceção, para as tirinhas do Calvin. Só que foi impossível resistir à obra de Lacarmélio, um sujeito que percorre as ruas de Belo Horizonte vestido num reluzente terno amarelo e carregando um imenso estandarte que apregoa sua obra. "Estou vendendo revistas em quadrinhos que eu mesmo fiz", diz a placa. No anúncio, custa R$ 3; Lacarmélio vende por R$ 2.
Na última sexta-feira, cruzei com Lacarmélio subindo e descendo a rua Sergipe, na Savassi, enquanto vendia a edição número 22 dos quadrinhos de Celton, o personagem que criou. Título: O combate da sogra com o capeta (infelizmente, estou sem scanner e não achei a imagem para colocar aqui; é o desenho de uma mulher armada com uma vassoura brigando com o demônio e seu tridente). Logo na primeira página está o crédito: "História, esboços, desenhos, arte-final, pesquisas, computação gráfica, diagramação final, vendas nas ruas e erros que são muitos: Lacarmélio A. Araújo".
A trama é fraquinha. Mesmo assim, fiquei curiosa pra ver outras de suas edições, como a que trata da construção de BH e as histórias baseadas em lendas urbanas da cidade. Porque ver Lacarmélio em ação, ler as "cartas dos leitores" que ele edita nas revistinhas e saber - a se acreditar no expediente da publicação - que o cara faz tudo sozinho, com dinheiro do próprio bolso, foi muito importante pra mim num momento em que eu não estava acreditando em quase mais nada.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
A montanha encantada e A mina de ouro
A montanha encantada e A mina de ouro
Maria José Dupré (Ática, 2002)
Minha sobrinha nem completou 1 ano e já descobriu como os livros podem ser divertidos. Semana passada, na casa da minha mãe, ela se apoiou em pé, na primeira prateleira da estante, e começou a jogar, um por um, os livros no chão. Eu deixei - sobrinhas fofas podem fazer quase qualquer coisa -, ainda que aquela fosse parte da minha biblioteca, que mantenho na casa da minha mãe por falta de espaço no meu microapartamento.
Quando Martina jogou A montanha encantada no chão, minha cabeça voltou sei lá quantos anos no tempo. Na hora eu me lembrei de uma cena do livro: as crianças - que entraram na montanha e encontraram uma cidade de anões - vestidas para o casamento de um príncipe e de uma princesa. Uma das meninas usava um vestido cor do arco-íris. Outra, um vestido de céu estrelado. Aí Martina pegou A mina de ouro, também de Maria José Dupré e da mesma coleção (que eu pensava ser, mas não é, a Vagalume), e minha cabeça viajou de novo: a cena em que, perdidas dentro da mina, as crianças sonham com suas comidas preferidas.
Eu adorava esses livros de aventura, sonhava com elas. Criava na imaginação situações difíceis, como as de Maria José Dupré (que, pensando hoje, são bem parecidas e meio repetitivas), para inventar soluções e cenas como as que ficaram pra sempre na minha memória. E agora torço para que Martina cresça logo e eu possa tentar brincar da mesma maneira com ela. Torço para que ela descubra que os livros não são divertidos apenas quando caem no chão.
Maria José Dupré (Ática, 2002)
Minha sobrinha nem completou 1 ano e já descobriu como os livros podem ser divertidos. Semana passada, na casa da minha mãe, ela se apoiou em pé, na primeira prateleira da estante, e começou a jogar, um por um, os livros no chão. Eu deixei - sobrinhas fofas podem fazer quase qualquer coisa -, ainda que aquela fosse parte da minha biblioteca, que mantenho na casa da minha mãe por falta de espaço no meu microapartamento.
Quando Martina jogou A montanha encantada no chão, minha cabeça voltou sei lá quantos anos no tempo. Na hora eu me lembrei de uma cena do livro: as crianças - que entraram na montanha e encontraram uma cidade de anões - vestidas para o casamento de um príncipe e de uma princesa. Uma das meninas usava um vestido cor do arco-íris. Outra, um vestido de céu estrelado. Aí Martina pegou A mina de ouro, também de Maria José Dupré e da mesma coleção (que eu pensava ser, mas não é, a Vagalume), e minha cabeça viajou de novo: a cena em que, perdidas dentro da mina, as crianças sonham com suas comidas preferidas.
Eu adorava esses livros de aventura, sonhava com elas. Criava na imaginação situações difíceis, como as de Maria José Dupré (que, pensando hoje, são bem parecidas e meio repetitivas), para inventar soluções e cenas como as que ficaram pra sempre na minha memória. E agora torço para que Martina cresça logo e eu possa tentar brincar da mesma maneira com ela. Torço para que ela descubra que os livros não são divertidos apenas quando caem no chão.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Novel destinations
Novel destinations
Shannon McKenna Schmidt e Joni Rendon (National Geographic, 2009)
No dia em que eu tiver dinheiro suficiente e uma companhia que curta esse tipo de coisa, quero viajar pelos Estados Unidos só para ver as casas projetadas por Frank Lloyd Wright. Acho bacana inventar viagens temáticas. Se tiverem um pé na literatura, tanto melhor. É o que faz esse Novel destinations, um guia turístico que indica a casa e os museus dedicados a alguns autores (Shakespeare, Agatha Christie, Margareth Mitchell), relaciona os cemitérios onde vários estão enterrados (Père-Lachaise, Westminster Abbey, Panthéon), fala de walking tours (a Londres de Oscar Wilde, a Paris de Hemingway, a São Petesburgo de Dostoievski) e sugere roteiros para acompanhar os passos de tantos outros (Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Edith Wharton).
Cheguei à conclusão de que o que eu mais conheço são bares e restaurantes onde alguns escritores deixaram sua marca. Estive no El Floridita e na Bodeguita del Medio, em Havana (ambos ligados a Hemingway), almocei no La Coupole e no Café de Flore, em Paris (frequentados por gente como Sartre e Camus), e acho que comi a pior lasanha da minha vida no Museum Tavern, em Londres (onde esteve Sir Arthur Conan Doyle). Depois de ler Novel destinations, fiquei com vontade de seguir os passos de Kafka em Praga. Os de Louisa May Alcott em Concord, Massachussetts. Conhecer o castelo do Drácula, na Romênia, ver a casa da mulher que inspirou a Dulcineia do Dom Quixote, visitar o Château de Monte Cristo, na França...
Shannon McKenna Schmidt e Joni Rendon (National Geographic, 2009)
No dia em que eu tiver dinheiro suficiente e uma companhia que curta esse tipo de coisa, quero viajar pelos Estados Unidos só para ver as casas projetadas por Frank Lloyd Wright. Acho bacana inventar viagens temáticas. Se tiverem um pé na literatura, tanto melhor. É o que faz esse Novel destinations, um guia turístico que indica a casa e os museus dedicados a alguns autores (Shakespeare, Agatha Christie, Margareth Mitchell), relaciona os cemitérios onde vários estão enterrados (Père-Lachaise, Westminster Abbey, Panthéon), fala de walking tours (a Londres de Oscar Wilde, a Paris de Hemingway, a São Petesburgo de Dostoievski) e sugere roteiros para acompanhar os passos de tantos outros (Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Edith Wharton).
Cheguei à conclusão de que o que eu mais conheço são bares e restaurantes onde alguns escritores deixaram sua marca. Estive no El Floridita e na Bodeguita del Medio, em Havana (ambos ligados a Hemingway), almocei no La Coupole e no Café de Flore, em Paris (frequentados por gente como Sartre e Camus), e acho que comi a pior lasanha da minha vida no Museum Tavern, em Londres (onde esteve Sir Arthur Conan Doyle). Depois de ler Novel destinations, fiquei com vontade de seguir os passos de Kafka em Praga. Os de Louisa May Alcott em Concord, Massachussetts. Conhecer o castelo do Drácula, na Romênia, ver a casa da mulher que inspirou a Dulcineia do Dom Quixote, visitar o Château de Monte Cristo, na França...
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segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Livraria Siciliano
Livraria Siciliano
Hoje, eu só compro na Siciliano e na Saraiva em caso de necessidade urgente e extrema. Não gosto de seu jeito impessoal, do amontoado de coisas à venda, da ostentação de autoajuda, da falta de conhecimento melhor da maioria dos vendedores. Prefiro comprar livros em lugares onde eu sei que eles são bem-tratados, como na Cultura e na Livraria da Vila. A Siciliano dos anos 70 e 80 ficou para trás. Ganhou a memória, que guarda também o shopping antigo e frequentável, hoje irreconhecível para quem, como eu, comeu na lanchonete Jules & Jim e comprou discos na Hi-Fi.
São Paulo, SP
Nem sei se a loja ainda existe. Nos anos 70 e 80 havia duas, no shopping Iguatemi, e eu me lembro até do cheiro delas. Minha preferida era a do piso de cima, onde os livros infantis e infanto-juvenis pareciam mais à mostra. Acho que minha edição de Pollyana, que ganhei de presente da avó paterna, foi comprada lá. Lembro da frustração que eu sentia quando perguntava de alguma coisa para os vendedores e eles não tinham ideia do que eu estava falando. E, estranhamente, se não tinha na Siciliano, não tinha em outro lugar - não era hábito da minha mãe frequentar a Cultura e eu sinceramente não me lembro de outras livrarias na minha infância e adolescência.
Hoje, eu só compro na Siciliano e na Saraiva em caso de necessidade urgente e extrema. Não gosto de seu jeito impessoal, do amontoado de coisas à venda, da ostentação de autoajuda, da falta de conhecimento melhor da maioria dos vendedores. Prefiro comprar livros em lugares onde eu sei que eles são bem-tratados, como na Cultura e na Livraria da Vila. A Siciliano dos anos 70 e 80 ficou para trás. Ganhou a memória, que guarda também o shopping antigo e frequentável, hoje irreconhecível para quem, como eu, comeu na lanchonete Jules & Jim e comprou discos na Hi-Fi.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Taschen
Taschen
Mas dei a sorte de pegar uma senhora promoção - o azar foi não ter espaço, na mala, para trazer muita coisa. As duas grandes bancadas, no centro da loja, estavam cheias de livros sobre arte, decoração, cinema, ioga, meditação e viagens, por preços inacreditáveis. Paguei 2,49 euros por um volume lindinho sobre a Grace Kelly e 0,99 no The book of fruits, que reproduz belas ilustrações pintadas em 1812 (e que não é O livro das frutas, da Jane Grigson).
Nas estantes coladas às paredes ficavam as novidades e os livros fora da promoção. Eu me apaixonei por um gigantesco guia de Nova York que tem uma ilustração da Audrey Hepburn em Bonequinha de luxo na capa. Queria trazer um livro que reúne anúncios de moda num período de 100 anos. E daria tudo pra ganhar na loteria e poder pagar o preço altíssimo do catatau de quase 600 páginas com a obra de Frank Lloyd Wright - e era apenas o primeiro volume de uma trilogia dedicada ao arquiteto.
Mas esse é o problema de toda livraria, certo? A gente sempre quer mais do que pode comprar.
Paris, França
Eu já tinha lido sobre uma loja da Taschen em Paris, mas foi por acaso que a encontrei, na rue de Buci, em Saint-Germain-des-Prés (mais ou menos por acaso, na verdade: fui parar na rue de Buci por causa do quarteirão preferido da Danuza Leão em Paris). Quando vi o letreiro, não sabia se ria ou se chorava - rir pela alegria de poder ver livros belíssimos e diferentes, chorar pela tentação de deixar ali muitos euros.
Mas dei a sorte de pegar uma senhora promoção - o azar foi não ter espaço, na mala, para trazer muita coisa. As duas grandes bancadas, no centro da loja, estavam cheias de livros sobre arte, decoração, cinema, ioga, meditação e viagens, por preços inacreditáveis. Paguei 2,49 euros por um volume lindinho sobre a Grace Kelly e 0,99 no The book of fruits, que reproduz belas ilustrações pintadas em 1812 (e que não é O livro das frutas, da Jane Grigson).
Nas estantes coladas às paredes ficavam as novidades e os livros fora da promoção. Eu me apaixonei por um gigantesco guia de Nova York que tem uma ilustração da Audrey Hepburn em Bonequinha de luxo na capa. Queria trazer um livro que reúne anúncios de moda num período de 100 anos. E daria tudo pra ganhar na loteria e poder pagar o preço altíssimo do catatau de quase 600 páginas com a obra de Frank Lloyd Wright - e era apenas o primeiro volume de uma trilogia dedicada ao arquiteto.
Mas esse é o problema de toda livraria, certo? A gente sempre quer mais do que pode comprar.
Roberto Carlos em detalhes
Roberto Carlos em detalhes
Paulo César Araújo (Planeta, 2006
Faz tempo que estou para escrever sobre esta biografia que o Rei, a meu ver injustamente, mandou recolher das livrarias. Paulo César Araújo fez um trabalho de fã, mas com uma vantagem enorme sobre grande parte dos trabalhos de fãs que já vi publicados por aí: pesquisou de verdade, entrevistou um monte de gente, documentou direitinho, escreveu bem e ainda deixou de lado certos detalhes bizarros - que amigos meus contaram ao participar da produção de um show de RC - sobre a fase pós-morte de Maria Rita e pré-tratamento contra o TOC. Ou seja, respeitou o cara.
E eu nunca tinha lido nada tão completo sobre Roberto Carlos desde a infância, em Cachoeiro do Itapemirim, desde o começo ainda criança, no rádio. Na época do lançamento do livro, chegou-se a dizer que o Rei não gostou de ver revelados os detalhes do acidente de trem que lhe arrancou um pedaço da perna (depois, houve quem dissesse que ele nem tinha lido a biografia). Mas isso, sim, é público e notório; até algumas de suas canções são alusivas ao episódio. O livro conta, também, a história de alguns casinhos (com Maysa, com Sônia Braga) que nunca tinham sido muito falados, e que, em lugar de comprometer sua imagem, só ajudam a humanizar o ídolo.
Tive a sorte de comprar o livro nos primeiros dias do lançamento. Se não tivesse, provavelmente faria o que centenas de pessoas devem estar fazendo hoje: com uma simples pesquisa no Google, é possível descobrir dezenas de sites com o conteúdo integral do livro, para download.
Paulo César Araújo (Planeta, 2006
Faz tempo que estou para escrever sobre esta biografia que o Rei, a meu ver injustamente, mandou recolher das livrarias. Paulo César Araújo fez um trabalho de fã, mas com uma vantagem enorme sobre grande parte dos trabalhos de fãs que já vi publicados por aí: pesquisou de verdade, entrevistou um monte de gente, documentou direitinho, escreveu bem e ainda deixou de lado certos detalhes bizarros - que amigos meus contaram ao participar da produção de um show de RC - sobre a fase pós-morte de Maria Rita e pré-tratamento contra o TOC. Ou seja, respeitou o cara.
E eu nunca tinha lido nada tão completo sobre Roberto Carlos desde a infância, em Cachoeiro do Itapemirim, desde o começo ainda criança, no rádio. Na época do lançamento do livro, chegou-se a dizer que o Rei não gostou de ver revelados os detalhes do acidente de trem que lhe arrancou um pedaço da perna (depois, houve quem dissesse que ele nem tinha lido a biografia). Mas isso, sim, é público e notório; até algumas de suas canções são alusivas ao episódio. O livro conta, também, a história de alguns casinhos (com Maysa, com Sônia Braga) que nunca tinham sido muito falados, e que, em lugar de comprometer sua imagem, só ajudam a humanizar o ídolo.
Tive a sorte de comprar o livro nos primeiros dias do lançamento. Se não tivesse, provavelmente faria o que centenas de pessoas devem estar fazendo hoje: com uma simples pesquisa no Google, é possível descobrir dezenas de sites com o conteúdo integral do livro, para download.
A year in high heels
A year in high heels
Camilla Morton (Harper USA, 2008)
Livro bem bobinho, para equilibrar o mês difícil e o volume denso (The corrections) que estou lendo. Eu já tinha ouvido falar da obra anterior de Camilla Morton - How to walk in high heels -, que imaginei ser mais um título interessante para quando eu quisesse incrementar minha estante excêntrica sobre estilo. Portanto, quando ganhei de aniversário um Jamie Oliver repetido, resolvi tentar a troca. Como só encontrei esse A year in high heels, arrisquei.
E ainda bem que não gastei meu rico dinheirinho no livro. Mas é que a capa está cheia de desenhos de sapatos, e um aviso diz que o prefácio é do Manolo Blahnik... Eu devia ter desconfiado pelo subtítulo: The girl's guide to everything from Jane Austen to the A-list - na pressa, não reparei que estava escrito "A-list" (achei que fosse "A-dress") e não me liguei que já passei da idade de ler qualquer "girl's guide". Em doze capítulos que correspondem aos meses do ano, Camilla Morton faz uma mistureba. Tem sugestões de livros (Perfume, Rebecca, O grande Gatsby, A revolução dos bichos...), a "cartinha" de alguns famosos sobre seus lugares preferidos no mundo (Gisele Bündchen em Los Angeles, Giorgio Armani em St. Tropez, Christian Louboutin no Egito...), a musa do mês (Ella Fitzgerald, Coco Chanel, Cleópatra, Marilyn Monroe...) e efemérides, várias efemérides, que servem de pretexto para que ela ensine a organizar uma festa, escolher um vestido de casamento, gravar um podcast.
Ótima pedida para aspirantes a Bridget Jones e Carrie Bradshaw. Não é o meu caso.
Camilla Morton (Harper USA, 2008)
Livro bem bobinho, para equilibrar o mês difícil e o volume denso (The corrections) que estou lendo. Eu já tinha ouvido falar da obra anterior de Camilla Morton - How to walk in high heels -, que imaginei ser mais um título interessante para quando eu quisesse incrementar minha estante excêntrica sobre estilo. Portanto, quando ganhei de aniversário um Jamie Oliver repetido, resolvi tentar a troca. Como só encontrei esse A year in high heels, arrisquei.
E ainda bem que não gastei meu rico dinheirinho no livro. Mas é que a capa está cheia de desenhos de sapatos, e um aviso diz que o prefácio é do Manolo Blahnik... Eu devia ter desconfiado pelo subtítulo: The girl's guide to everything from Jane Austen to the A-list - na pressa, não reparei que estava escrito "A-list" (achei que fosse "A-dress") e não me liguei que já passei da idade de ler qualquer "girl's guide". Em doze capítulos que correspondem aos meses do ano, Camilla Morton faz uma mistureba. Tem sugestões de livros (Perfume, Rebecca, O grande Gatsby, A revolução dos bichos...), a "cartinha" de alguns famosos sobre seus lugares preferidos no mundo (Gisele Bündchen em Los Angeles, Giorgio Armani em St. Tropez, Christian Louboutin no Egito...), a musa do mês (Ella Fitzgerald, Coco Chanel, Cleópatra, Marilyn Monroe...) e efemérides, várias efemérides, que servem de pretexto para que ela ensine a organizar uma festa, escolher um vestido de casamento, gravar um podcast.
Ótima pedida para aspirantes a Bridget Jones e Carrie Bradshaw. Não é o meu caso.
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quarta-feira, 15 de julho de 2009
Livraria e sebo Piazza
Livraria e sebo Piazza
São Paulo, SP
Já escrevi algumas vezes, aqui, sobre meu livreiro preferido. E se nunca mencionei seu nome foi talvez por um medo irracional e infantil de que me "roubassem" o Piazza - como se ele só pertencesse a mim. Mas aí veio a revista Piauí e escancarou o que eu na verdade sempre soube: o Piazza era o livreiro preferido, infalível, de metade das redações de São Paulo. Até hoje, ele só não conseguiu encontrar um livro que eu pedi (Os autonautas da cosmopista - thanks SK -, do Cortázar), e mesmo assim porque talvez eu não tenha insistido muito.
O Piazza tinha uma livraria que eu nunca cheguei a frequentar. Comprava quando ele ia à redação com um carrinho cheio de livros, o preço marcado a lápis na primeira página, a forma de pagamento sempre negociável com descontos ou cheques pré-datados. Dele eu comprei uma série enorme de Calvino e Rubem Fonseca, uma história da literatura erótica sobre a qual ainda preciso escrever, As mais belas histórias da Antiguidade Clássica e tantos outros volumes que não cabem num post. Há alguns anos, fechou a loja, virou rato de sebo por profissão e começou a ensinar o ofício ao filho. Agora o Piazza vai se aposentar. Vou sentir falta de sua presença imponente, o sotaque italianado, o jeito de me chamar pelo sobrenome verdadeiro nesses quase 20 anos em que ele sempre se lembrou do meu gosto literário e sempre soube indicar boas leituras. Sorte que existe a internet, e o Estante Virtual, onde seu sebo está hoje hospedado.
São Paulo, SP
Já escrevi algumas vezes, aqui, sobre meu livreiro preferido. E se nunca mencionei seu nome foi talvez por um medo irracional e infantil de que me "roubassem" o Piazza - como se ele só pertencesse a mim. Mas aí veio a revista Piauí e escancarou o que eu na verdade sempre soube: o Piazza era o livreiro preferido, infalível, de metade das redações de São Paulo. Até hoje, ele só não conseguiu encontrar um livro que eu pedi (Os autonautas da cosmopista - thanks SK -, do Cortázar), e mesmo assim porque talvez eu não tenha insistido muito.
O Piazza tinha uma livraria que eu nunca cheguei a frequentar. Comprava quando ele ia à redação com um carrinho cheio de livros, o preço marcado a lápis na primeira página, a forma de pagamento sempre negociável com descontos ou cheques pré-datados. Dele eu comprei uma série enorme de Calvino e Rubem Fonseca, uma história da literatura erótica sobre a qual ainda preciso escrever, As mais belas histórias da Antiguidade Clássica e tantos outros volumes que não cabem num post. Há alguns anos, fechou a loja, virou rato de sebo por profissão e começou a ensinar o ofício ao filho. Agora o Piazza vai se aposentar. Vou sentir falta de sua presença imponente, o sotaque italianado, o jeito de me chamar pelo sobrenome verdadeiro nesses quase 20 anos em que ele sempre se lembrou do meu gosto literário e sempre soube indicar boas leituras. Sorte que existe a internet, e o Estante Virtual, onde seu sebo está hoje hospedado.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Quando florescem os ipês
Quando florescem os ipês
Por algum motivo misterioso, eu penso em quaresmeiras, e não em ipês, quando me lembro deste livro. Vai ver é pelo roxo da capa. Vai ver é porque quaresmeiras, de certa forma, estão associadas à morte do meu pai. Na verdade, minha memória guarda pouca coisa da história. Sei que é triste, que há pobreza, que há morte no final. Sei, também, que trata do momento em que crianças deixam de ser crianças, em que jovens olham pela primeira vez, de frente, para as dificuldades de crescer. Está esquecido, mas foi um livro marcante. E muito, muito diferente das historinhas divertidas e descompromissadas que Ganymédes José escreveu e assinou com seu sobrenome, Santos de Oliveira - a série da Inspetora era a minha favorita. Leitura escapista, diante da realidade triste de Quando florescem os ipês.
Ganymédes José (Brasiliense, 1976)
Hoje eu estava indo para o trabalho e, de repente, me dei conta - como todo ano, aliás - que não aproveitei direito a temporada dos ipês. Não fui a nenhum parque para vê-los com calma, não passei por nenhuma estrada margeada pelas árvores. E várias já começam a perder as flores. Daqui a pouco, só no ano que vem. Então me veio à cabeça este livro infanto-juvenil, parte de uma coleção que, assim como a Vagalume, marcou meu início no mundo das letras: a Jovens do Mundo Todo.
Por algum motivo misterioso, eu penso em quaresmeiras, e não em ipês, quando me lembro deste livro. Vai ver é pelo roxo da capa. Vai ver é porque quaresmeiras, de certa forma, estão associadas à morte do meu pai. Na verdade, minha memória guarda pouca coisa da história. Sei que é triste, que há pobreza, que há morte no final. Sei, também, que trata do momento em que crianças deixam de ser crianças, em que jovens olham pela primeira vez, de frente, para as dificuldades de crescer. Está esquecido, mas foi um livro marcante. E muito, muito diferente das historinhas divertidas e descompromissadas que Ganymédes José escreveu e assinou com seu sobrenome, Santos de Oliveira - a série da Inspetora era a minha favorita. Leitura escapista, diante da realidade triste de Quando florescem os ipês.
Eles foram para Petrópolis
Eles foram para Petrópolis
Só não está lá a história de I'm thru with love. E acho difícil ter lido sobre isso em algum outro lugar, porque desde então fiquei obcecada em conseguir, também eu, catorze gravações da música. Como nunca li as colunas de Ivan Lessa na BBC e MSC começou a escrever no saudoso nominimo.com bem depois de minha obsessão já estar em andamento, só pode ter sido na Correspondência. Queria saber qual dos dois gravou a fita e deu de presente para o outro. Queria saber que gravações ela continha.
Porque eu, este ano, finalmente consegui completar minha coleção - graças, principalmente, a R., pra quem mandei um email raivoso, mas de quem não consigo sentir raiva. Ultrapassei Ivan Lessa e Mario Sergio Conti em três gravações. Tenho Bing Crosby, Delicatessen, Keith Jarret, Little' Jimmy Scott, Marilyn Monroe, Mark Murphy, Nat King Cole, Chuck Berry, Barney Kessel, Chet Baker, Dinah Washington, Ella Fitzgerald, Jack Lemmon, Matt Dennis, Goldie Hawn e Woody Allen. Como várias dessas versões são mais recentes que a Correspondência, porém, ainda sinto que eles tinham algumas gravações que eu não tenho.
Ivan Lessa e Mario Sergio Conti (Companhia das Letras, 2009)
Eu tinha um objetivo ao começar a ler este livro: encontrar o trecho em que Ivan Lessa ou Mario Sergio Conti, não sei qual deles, lembra ao outro de uma fita cassete com catorze gravações de I'm thru with love, que o acompanhara numa viagem de carro. Li essa história quando os dois eram titulares da coluna Correspondência, no Uol, em 2000/2001 - o livro nada mais é do que uma reunião dos emails trocados entre eles naquela época, tanto os que foram publicados na coluna quanto os particulares, em que ambos discutem assuntos familiares e reclamam que o pagamento ainda não caiu.
Sinceramente, não sei como o livro pode interessar a quem não é jornalista, não conhece um dos dois missivistas ou não quer descobrir o trecho sobre as gravações de I'm thru with love, música que eu adoro e que passei a colecionar. Eu gostei, achei divertido, leitura leve e esquecível com opiniões que se pretendiam polêmicas (pra dar audiência) a respeito de cinema, música e literatura, algumas invenções, alguns bastidores da morte da mãe de Lessa, Elsie, e da produção de uma reportagem de Mario Sergio Conti sobre uma turnê de João Gilberto na Europa.
Só não está lá a história de I'm thru with love. E acho difícil ter lido sobre isso em algum outro lugar, porque desde então fiquei obcecada em conseguir, também eu, catorze gravações da música. Como nunca li as colunas de Ivan Lessa na BBC e MSC começou a escrever no saudoso nominimo.com bem depois de minha obsessão já estar em andamento, só pode ter sido na Correspondência. Queria saber qual dos dois gravou a fita e deu de presente para o outro. Queria saber que gravações ela continha.
Porque eu, este ano, finalmente consegui completar minha coleção - graças, principalmente, a R., pra quem mandei um email raivoso, mas de quem não consigo sentir raiva. Ultrapassei Ivan Lessa e Mario Sergio Conti em três gravações. Tenho Bing Crosby, Delicatessen, Keith Jarret, Little' Jimmy Scott, Marilyn Monroe, Mark Murphy, Nat King Cole, Chuck Berry, Barney Kessel, Chet Baker, Dinah Washington, Ella Fitzgerald, Jack Lemmon, Matt Dennis, Goldie Hawn e Woody Allen. Como várias dessas versões são mais recentes que a Correspondência, porém, ainda sinto que eles tinham algumas gravações que eu não tenho.
domingo, 5 de julho de 2009
Fuja logo e demore para voltar
Não, Jean-Baptiste, não faça isso. Que coisa feia. Só dá pra perdoar - ou melhor, não dá pra perdoar, mas dá pra entender - porque sua cabeça estava longe, envolvida com o semeador. E não um semeador qualquer, um que sai por aí plantando hortas, pomares, jardins. Um semeador da peste. Doença, mesmo. A única diferença é que essa mata por estrangulamento, e não através de pulgas infectadas. Deixa os corpos pretejados por carvão de macieira. E não parece escolher suas vítimas ao acaso.
Dos quatro livros de Fred Vargas que li, esse foi o que mais gostei - embora a melhor explicação para a relação de Jean-Baptiste Adamsberg e Camille Forestier esteja em O homem do avesso; a metáfora do rio é realmente bacana. Mas Camille e Adamsberg são só um pano de fundo para as histórias de crimes que o delegado resolve depois de muito ouvir, intuir e caminhar. Mesmo assim, também como em Relíquias macabras, é preciso abstrair um pouco a crença na hora em que os crimes são explicados. Tudo bem, é ficção, e pelo menos dessa vez a autora usou de um jeito menos óbvio a fórmula que criou para esconder a identidade do assassino.
Eu me viciei em Adamsberg. Acho que o jeito é procurar pelos dois livros que faltam, em inglês, numa Amazon qualquer.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Livraria Argumento
Livraria Argumento
Rio de Janeiro, RJ
Ir ao Rio de Janeiro sem passar pela Argumento do Leblon (a foto, que eu tirei do site, mostra a fachada de Copacabana) não tem a menor graça - pelo menos para mim. Rata que sou de livraria, geralmente conheço bem os lançamentos da semana; vá lá, os do mês. Mesmo assim, sempre encontro alguma novidade nessa loja carioca. Quando ali estive pela última vez, no final de 2004, levei, entre outros, um infanto-juvenil que contava a história de Dom Pedro I e um volume pequenininho, todo ilustrado e muito bonito, sobre Darwin, nenhum dos quais eu havia visto em São Paulo.
Fora os títulos que falam do Rio de Janeiro, ou dos ícones da cidade. Acho que na Argumento consigo encontrar, a qualquer hora, o livro de receitas do Celeiro, um restaurante quase vizinho à livraria - e que, mesmo depois de reeditado, não fica tão à mostra nem nas grandes livrarias de São Paulo, como a Cultura. E ainda tem o Café Severino, nos fundos da loja, que não prima(va) pelo atendimento simpático nem pelo sabor do pão de queijo (hoje acho que mudou tudo, tem até saladas e pratos rápidos), mas mesmo assim é um lugar bacana pra marcar de encontrar algum amigo carioca e tomar um suco enquanto os assuntos são colocados em dia.
Rio de Janeiro, RJ
Ir ao Rio de Janeiro sem passar pela Argumento do Leblon (a foto, que eu tirei do site, mostra a fachada de Copacabana) não tem a menor graça - pelo menos para mim. Rata que sou de livraria, geralmente conheço bem os lançamentos da semana; vá lá, os do mês. Mesmo assim, sempre encontro alguma novidade nessa loja carioca. Quando ali estive pela última vez, no final de 2004, levei, entre outros, um infanto-juvenil que contava a história de Dom Pedro I e um volume pequenininho, todo ilustrado e muito bonito, sobre Darwin, nenhum dos quais eu havia visto em São Paulo.
Fora os títulos que falam do Rio de Janeiro, ou dos ícones da cidade. Acho que na Argumento consigo encontrar, a qualquer hora, o livro de receitas do Celeiro, um restaurante quase vizinho à livraria - e que, mesmo depois de reeditado, não fica tão à mostra nem nas grandes livrarias de São Paulo, como a Cultura. E ainda tem o Café Severino, nos fundos da loja, que não prima(va) pelo atendimento simpático nem pelo sabor do pão de queijo (hoje acho que mudou tudo, tem até saladas e pratos rápidos), mas mesmo assim é um lugar bacana pra marcar de encontrar algum amigo carioca e tomar um suco enquanto os assuntos são colocados em dia.
Dantes
Dantes
Rio de Janeiro, RJ
Pena. Escondido por trás de uma portinha, o sebo da Dias Ferreira, mesmo pequeno, convidava a horas de investigação em busca de edições antigas e outras difíceis de serem encontradas por aí. Confesso que só superei o medo da escada - daquelas com rodízios, que se apóiam nas paredes, e que me obrigaram a me agarrar às estantes, com medo de cair - quando vi que, nas prateleiras mais altas, estava a coleção do Lima Barreto. Foi ali que achei, para dar de presente a um amigo muito querido, O cemitério dos vivos, em que Lima Barreto conta sobre o tempo que passou internado num hospício. Do mesmo autor, comprei ainda dois volumes de sua correspondência. Uma edição antiga das crônicas do Machado de Assis. Um livro de Guimarães Passos, um sujeito que, por certo tempo, fez parte de uma pesquisa literária que eu empreendi com esse mesmo amigo.
Eu voltaria à Dantes tantas vezes quanto voltasse ao Rio de Janeiro.
Eu tenho medo de altura - e isso não quer dizer apenas que eu nunca subi ao alto da Torre Eiffel, ao Pão de Açúcar ou ao Empire State. Tenho vertigem em elevador panorâmico. Não gosto de subir em cadeira para trocar lâmpadas. Pois, com tudo isso, passei momentos muito felizes em cima de uma escada meio suspeita para xeretar as prateleiras mais altas do finado sebo Dantes, que ficava na rua Dias Ferreira, no Leblon. A loja, vejo hoje no site, não existe mais: deu lugar a uma editora que já lançou, entre outros, títulos de João do Rio, Ana Miranda e o Seis problemas para dom Isidro Parodi, escrito sob pseudônimo pela dupla Borges & Bioy Casares.
Pena. Escondido por trás de uma portinha, o sebo da Dias Ferreira, mesmo pequeno, convidava a horas de investigação em busca de edições antigas e outras difíceis de serem encontradas por aí. Confesso que só superei o medo da escada - daquelas com rodízios, que se apóiam nas paredes, e que me obrigaram a me agarrar às estantes, com medo de cair - quando vi que, nas prateleiras mais altas, estava a coleção do Lima Barreto. Foi ali que achei, para dar de presente a um amigo muito querido, O cemitério dos vivos, em que Lima Barreto conta sobre o tempo que passou internado num hospício. Do mesmo autor, comprei ainda dois volumes de sua correspondência. Uma edição antiga das crônicas do Machado de Assis. Um livro de Guimarães Passos, um sujeito que, por certo tempo, fez parte de uma pesquisa literária que eu empreendi com esse mesmo amigo.
Eu voltaria à Dantes tantas vezes quanto voltasse ao Rio de Janeiro.
sábado, 27 de junho de 2009
Strand
Strand
Como eu morei na cidade, e costumo visitá-la sempre que posso, não é raro que amigos peçam dicas de passeios quando vão a Nova York. Para os de espírito artístico eu indico o MoMA, museu de arte moderna que passou por uma reforma há alguns anos e está melhor do que nunca, seis andares que valem um dia inteiro lá dentro. Quem está a fim de comer bem e barato recebe o endereço do Gray's Papaya da rua 72, onde dois hot-dogs deliciosos custam menos que uma nota de 5 dólares. Mas o que eu mais gosto de fazer é falar das livrarias da cidade. Qualquer Borders ou Barnes & Noble já vale a visita, tamanha a quantidade de títulos em exposição. Pois eles são fichinha perto do acervo da Strand, um sebo genial que se gaba de ter 18 milhas - quase 29 quilômetros - de livros.
Felizmente, na última vez em que estive na Strand, em 2008, o aspecto poeirento e um tanto caótico da loja havia melhorado muito. Mas ainda é difícil encontrar, lá, qualquer coisa que já não esteja antes na sua cabeça. Eu fui querendo uma biografia do Kennedy - encontrei uma estante inteira, do chão ao teto, com biografias do Kennedy. E pra saber qual deles valia a pena? Saí de mãos vazias. Então o bom é fazer uma listinha, ou preparar-se para ficar horas vasculhando as estantes de temas específicos. Certa vez encontrei, baratíssimos, diversos livros antigos sobre enfeites de Natal (eu estava num pique decorativo). E foi lá que comprei meu It must have been something I ate, na época recém-lançado, a continuação de O homem que comeu de tudo.
E vale, principalmente, percorrer a Borders e a Barnes & Noble em busca de lançamentos, anotar o que for interessante e depois procurar os títulos na Strand. No térreo, uma parte desse sebo não-convencional reúne diversas novidades, algumas com pequenos defeitos - páginas mal-refiladas, uma mancha de tinta na capa, a lombada que saiu um pouco torta -, outras saídas do departamento de divulgação das editoras, a preços mais baixos que nas livrarias convencionais. Com a informatização do catálogo, também ficou mais fácil encontrar o que se procura, desde que você tenha paciência para aguardar na fila de gente que se forma querendo informações.
Nova York, Estados Unidos
Como eu morei na cidade, e costumo visitá-la sempre que posso, não é raro que amigos peçam dicas de passeios quando vão a Nova York. Para os de espírito artístico eu indico o MoMA, museu de arte moderna que passou por uma reforma há alguns anos e está melhor do que nunca, seis andares que valem um dia inteiro lá dentro. Quem está a fim de comer bem e barato recebe o endereço do Gray's Papaya da rua 72, onde dois hot-dogs deliciosos custam menos que uma nota de 5 dólares. Mas o que eu mais gosto de fazer é falar das livrarias da cidade. Qualquer Borders ou Barnes & Noble já vale a visita, tamanha a quantidade de títulos em exposição. Pois eles são fichinha perto do acervo da Strand, um sebo genial que se gaba de ter 18 milhas - quase 29 quilômetros - de livros.
Felizmente, na última vez em que estive na Strand, em 2008, o aspecto poeirento e um tanto caótico da loja havia melhorado muito. Mas ainda é difícil encontrar, lá, qualquer coisa que já não esteja antes na sua cabeça. Eu fui querendo uma biografia do Kennedy - encontrei uma estante inteira, do chão ao teto, com biografias do Kennedy. E pra saber qual deles valia a pena? Saí de mãos vazias. Então o bom é fazer uma listinha, ou preparar-se para ficar horas vasculhando as estantes de temas específicos. Certa vez encontrei, baratíssimos, diversos livros antigos sobre enfeites de Natal (eu estava num pique decorativo). E foi lá que comprei meu It must have been something I ate, na época recém-lançado, a continuação de O homem que comeu de tudo.
E vale, principalmente, percorrer a Borders e a Barnes & Noble em busca de lançamentos, anotar o que for interessante e depois procurar os títulos na Strand. No térreo, uma parte desse sebo não-convencional reúne diversas novidades, algumas com pequenos defeitos - páginas mal-refiladas, uma mancha de tinta na capa, a lombada que saiu um pouco torta -, outras saídas do departamento de divulgação das editoras, a preços mais baixos que nas livrarias convencionais. Com a informatização do catálogo, também ficou mais fácil encontrar o que se procura, desde que você tenha paciência para aguardar na fila de gente que se forma querendo informações.
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