Reinações de Narizinho
Monteiro Lobato
Lembro de ter 6 anos de idade e olhar ansiosa a estante lá de casa, querendo aprender a ler direito para mergulhar naquela coleção de capa verde cheia de desenhos. Reinações de Narizinho foi meu primeiro livro sério (sério, sim; Lobato é seriíssimo, mesmo em seus clássicos infantis). Minha vida teria sido muito diferente se eu nunca tivesse aberto esse livro: considero que foi ele o responsável por minha paixão pela leitura - e pela graça da imaginação. Eu lia as aventuras do Sítio e sonhava com uma jabuticabeira só pra mim, com uma boneca com quem pudesse trocar idéias, com a visita de personagens dos contos de fadas, com um noivo encantador como o Príncipe Escamado.
Durante uma entrevista, em 1994, a escritora Ruth Rocha me disse que crianças modernas não entendem mais Lobato, mesmo lendo seus livros aos 12, 13 anos. Acho uma pena. Que infância triste deve ter quem não conhece Narizinho, Pedrinho, dona Benta, tia Nastácia, a Emília e o Visconde! Como será que é crescer sem ter vontade de provar os bolinhos da tia Nastácia? Sem torcer para que ela não cozinhe o Príncipe e o Marquês? A coleção infantil de Lobato fica cravada no fundo da nossa alma literária e faz parte do nosso repertório de memórias mais longínquas. É, ainda hoje, uma das maiores referências da cultura brasileira. E, principalmente, faz a imaginação voar.
Outros favoritos: Os Doze Trabalhos de Hércules e O Minotauro (de onde o gosto pela mitologia), Histórias de tia Nastácia (e que delícia, depois de adulta, reencontrar várias narrativas nas Fábulas Italianas do Calvino), Emília no País da Gramática e Aritmética da Emília (eu adorava o desenho das pessoas-palavras), A chave do tamanho (medo!).
(O livro que ilustra este post não é o mesmo que li aos 6 anos. O meu faz parte de uma coleção completa das obras infantis de Lobato, publicada na década de 1940 em 17 volumes pela Companhia Editora Nacional.)
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
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