segunda-feira, 21 de abril de 2008

Bonequinha de luxo

Bonequinha de Luxo
Truman Capote (Companhia das Letras, 2005)

Eu não tenho a menor idéia do motivo que leva um roteirista a mudar completamente o final de uma história já existente -- e, com isso, mudar todo o espírito da mesma história -- ao adaptá-la para o cinema. Se é por razões comerciais, por que não criar uma trama do zero? Pois aconteceu com Bonequinha de luxo, que acabou se tornando um dos meus filmes preferidos, mas que pouco tem a ver com a novela original. Ok, os principais elementos estão lá: Holly Golightly, uma garota acostumada a receber dinheiro de seus acompanhantes e que sonha em dar o golpe do baú, Paul Varjack, o escritor que se muda para o prédio de Holly, o ex-marido caipirão, o fotógrafo japonês, os principais fatos da história. Mas o clima, o ar, que diferença...

A novela de Capote não tem nada do jeitão conto-de-fadas do filme, reforçado pela escolha dos apolíneos Audrey Hepburn e George Peppard para os papéis principais. No livro, Holly é claramente uma garota de programa interessada em se casar com um milionário. Dá em cima de um, de outro, chega a ficar grávida de um abastado brasileiro de olho numa união conveniente. Nada dá certo, e nada parece mais distante para ela do que encontrar um lugar onde ela se sinta segura como na Tiffany. Envolvida num esquema criminoso, rejeitada pelo brasileiro, ela resolve sumir no mundo: pega um avião e nunca mais é vista por ninguém conhecido. É esse sumiço, na verdade, que dá origem à narrativa, quando uma suposta fotografia dela na África faz Paul Varjack começar a escrever a história. "Sempre volto aos lugares em que vivi, às casas e à vizinhança.", diz a primeira frase. Excelente começo.

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