sábado, 5 de agosto de 2017

Marilyn


Na madrugada de 5 de agosto de 1962, o sargento Jack Clemmons chegou ao número 12305 da Fifth Helena Drive, em Los Angeles, para atender a um caso de aparente suicídio. Eunice Murray, a governanta, e Ralph Greenson, o psiquiatra da vítima, haviam arrombado a porta do quarto principal e encontrado a dona da casa sem vida, ao lado de um frasco vazio de calmantes e outros catorze vidros de remédios variados. Cobriram o corpo com um lençol. Marilyn Monroe, estrela de 29 filmes de cinema, 36 anos completados dois meses antes e uma das mulheres mais desejadas do mundo, acabara de morrer.

Não há nada como a morte prematura para transformar alguém em mito. Foi assim com o ator James Dean (24 anos, em 1955), com a Princesa Diana (36, em 1997), com os músicos Jimi Hendrix e Janis Joplin (os dois aos 27, em 1970). Marilyn era linda, rica e, embora se confundisse com a loira apenas burra e sexy que se especializou em retratar na tela, talentosa. É lícito supor que, caso não tivesse ingerido a alta dose de sedativos que levou seu coração a parar, poderia ter feito carreira longa em Hollywood. Teria, hoje, 86 anos – a mesma idade da Rainha Elizabeth II e do cantor Tony Bennett, que não dão mostras de querer se aposentar tão cedo. Talvez chegasse ao status de Elizabeth Taylor (1932-2011), dona de dois Oscars de melhor atriz, que atuou até 2001, aos 69 anos. Ou trabalhasse até os 78, como Jane Russell (1921-2011), sua colega de elenco em Os homens preferem as loiras (1953).

Mas Marilyn morreu antes de ter tempo para se aposentar e, mais importante, antes que os paparazzi pudessem registrá-la velha e doente. Das milhares de imagens feitas a partir de 1946, quando a atriz participou de seu primeiro teste em Hollywood, não há uma só em que pareça desconfortável diante das câmeras – incluindo os nus, como o calendário de 1949, com ela ainda ruiva e de cabelos longos contra um fundo de veludo vermelho, e a sessão para Bert Stein, seis semanas antes da overdose, atrás de tecidos diáfanos que mais revelam do que escondem seu corpo. Ao contrário: ela sabia que mantinha com as lentes uma relação vantajosa. Estabeleceu vínculos fortes com fotógrafos como Eve Arnold, responsável por retratá-la nos bastidores de Os desajustados (1961), entre outras ocasiões, e Milton Greene, seu sócio na Marilyn Monroe Productions.

Consta que mais de 200 fotógrafos estavam presentes quando o diretor Billy Wilder tentou gravar, nas ruas de Nova York, a famosa cena de O pecado mora ao lado (1955) em que a personagem de Marilyn refresca-se do calor com o vento liberado pela tubulação do metrô. Por causa do barulho excessivo da plateia, a equipe teve de refazer tudo em estúdio. E a tomada que acabou entrando no corte final mostra bem menos da saia branca levantada e das pernas da atriz do que foi registrado pelas câmeras em Manhattan, numa imagem que ganhou o mundo como uma das mais emblemáticas da estrela.

Meio ingênua, meio maliciosa e dona de um sex appeal definitivo, a garota de nome desconhecido criada pelos roteiristas Wilder e George Axelrod passa o filme todo provocando pensamentos libidinosos no marido alheio, vivido por Tom Ewell. Da mesma forma que a Lorelei Lee de Os homens preferem as loiras (1953), a Pola Debevoise de Como agarrar um milionário (1953) e a Sugar Cane de Quanto mais quente melhor (1959), a modelo tontinha de O pecado mora ao lado sintetiza o tipo de mulher que a atriz mais interpretou, e que o público sempre teimou em misturar com a ideia que fazia dela na vida real – como se a Marilyn pessoa física fosse somente uma loira burra, ingênua e interesseira, que usava a beleza e o sexo para se dar bem.

Não que a atriz impedisse as pessoas de ter esse tipo de pensamento. Em My story, livro de memórias ditado para o roteirista Ben Hecht em 1954 e lançado apenas vinte anos depois, ela conta que descobriu seu poder de sedução aos 12 anos, quando, a caminho da escola, rasgou por acidente a blusa que usava e pegou emprestado, da irmã adotiva, um suéter menor que seu tamanho. “Eu já sabia há algum tempo que tinha seios bem-formados e não ligava para isso”, diz ela, no livro. “Mas os garotos da classe de matemática ficaram bem mais impressionados.” Ainda que sem intenções sexuais, tirar proveito do corpo foi a maneira que a pequena Marilyn, ainda chamada pelo nome de batismo, Norma Jeane, encontrou para ser aceita nos orfanatos e nas famílias adotivas que frequentou até o primeiro casamento, com Jim Dougherty, em 1942.

A atriz afirma, no livro, que nunca se prostituiu para ganhar dinheiro ou obter vantagens, nem mesmo nos tempos das vacas magérrimas de seu começo em Hollywood, já separada de Dougherty. Admite, no entanto, que aceitava almoços, jantares e alguns presentinhos dados por seus admiradores – da mesma forma que Holly Golightly, a garota de vida duvidosa encenada por Audrey Hepburn em Bonequinha de luxo (1961), papel que o autor da história, Truman Capote, queria porque queria que fosse da loira (acabou vencido pela vontade do estúdio Paramount).

Mas assim como algumas de suas principais personagens, que mostram grande esperteza ao conseguir fisgar um marido rico no fim dos filmes, Marilyn não era burra – ou, pelo menos, dava um duro danado para não ser. Matriculou-se em aulas de arte e literatura na UCLA (University of California at Los Angeles), estudou com Lee Strasberg pelo método de Stanislavski no Actors Studio de Nova York e não perdia a chance de ser fotografada com um livro nas mãos para mostrar o que estava lendo, de Hemingway aos clássicos russos. Mesmo assim, não era poupada em piadas e comentários sobre uma suposta lerdeza de pensamento. No musical para o cinema Pal Joey (1957), estrelado por Frank Sinatra, a personagem Vera Simpson, vivida por Rita Hayworth, altera os versos originais de uma música de Rodgers e Hart para zombar da inteligência da colega: “ela não apenas atua, dizem que também consegue pensar”.

Golpe maior, para Marilyn, foi descobrir o que o dramaturgo Arthur Miller, seu terceiro marido – o segundo casamento, com o jogador de beisebol Joe DiMaggio, acabou pela incapacidade dele em lidar com a fama dela – pensava de seu esforço para aprender. Numa temporada na Inglaterra, durante as filmagens de O príncipe encantado (1957), a atriz leu o diário deixado aberto por Miller e descobriu que ele não só tinha dúvidas a respeito da união como sentia vergonha dela diante dos amigos intelectuais. Durante o período em que ficaram juntos, até o final de 1960, Marilyn teria tentado se matar pelo menos duas vezes.

Cinquenta anos depois de sua morte, porém, e apesar do veredicto taxativo da polícia de Los Angeles, ninguém pode afirmar se ela cometeu mesmo suicídio ou se a overdose de calmantes naquela noite de agosto foi acidental. Não faltam teorias da conspiração para sugerir que ela tenha sido assassinada a mando da Máfia ou do ex-amante e presidente dos Estados Unidos, John Kennedy – para quem, em maio de 1962, num Madison Square Garden lotado, ela havia cantado o Parabéns a você mais famoso da História, usando um vestido que, de tão justo, precisou ser costurado em seu corpo. Viciada em calmantes, dependente de psicanálise e atormentada por uma sensação de desajuste que a perseguia desde a infância, quando foi obrigada a passar períodos em orfanatos e lares adotivos enquanto a mãe cumpria temporadas num sanatório para doentes mentais, a atriz tentava aliviar a tristeza escrevendo desabafos e anotando pensamentos em cadernos e papéis de carta dos hotéis onde se hospedava (a edição fac-similiar de boa parte desse material foi publicada em 2011 pela editora Tordesilhas, no livro Fragmentos). Em 1958, durante o casamento com Miller, começou a achar que estava envelhecendo.

Eu me vejo no espelho agora, sobrancelhas franzidas – se eu me encostar perto verei – o que não quero saber – tensão, tristeza, decepção, meus olhos azuis turvos, bochechas rosadas com capilares que parecem rios nos mapas – cabelo caindo como cobras. A boca me torna a mais triste, ao lado dos olhos mortos. Há uma linha escura entre os lábios no contorno de várias ondas de brisa numa tempestade turbulenta – ela diz não me beije, não me engane sou uma dançarina que não sabe dançar.

A mulher mais desejada do mundo não era feliz.





domingo, 18 de julho de 2010

O mistério do leão rampante

O mistério do leão rampante
Rodrigo Lacerda (Ateliê Editorial, 2005)

Tem uma coisa que me deixa com muita raiva: livro que termina antes de chegar ao final. Esta edição de O mistério do leão rampante tem 160 páginas - mas a história acaba na 107. É que, ao publicar um volume comemorativo pelos dez anos da obra, a editora incluiu nele um texto chamado Confissões de Fabrius Moore, continuação da trama original. Sem nenhum aviso na capa. Tá certo que sou responsável pela frustração de chegar ao fim da história sem chegar ao fim do livro: não vi, na folha de rosto nem no sumário, que o Confissões... também fazia parte da edição. Mas não costumo ler folha de rosto. Nem sumário.

Tinha vontade de ler O mistério... desde seu lançamento, em 1995, mas, por um motivo ou por outro, não li, o tempo passou e nunca mais encontrei a obra nas lojas. Então fiquei feliz em comprar (por menos da metade do preço, na feirinha da FFCLH, ano passado) esta edição elegante, capa dura, com ilustrações de Negreiros. Os livros têm, para mim, enorme apelo táctil e visual - que acaba sendo inócuo se o que vem dentro não for bacana e bem-escrito. Pois gostei, tanto da história cômica e meio nonsense quanto da narrativa irônica, que dá voz a Valfredo Margarelon. Filho adotivo do Conde de Shropshire, ele vem a público, em 1602, para defender sua prima Maria Margarelon da calúnia a ela imposta por "três elementos nocivos à ordem e aos bons costumes do reino inglês" (um deles, um tal de Guilherme Shakespeare). Mas o comportamento da prima, segundo Valfredo, teve razão de ser: sonhos constantes com o tal leão do título, que levaram a moça primeiro a um estado de apatia profunda e, depois, de amalucada obsessão.

domingo, 11 de julho de 2010

Elza, a garota

Elza, a garota
Sérgio Rodrigues (Nova Fronteira, 2009)

Narrar de forma interessante uma história quase desconhecida e tão mal-contada pelas fontes oficiais não é tarefa fácil. Pra começar, quase não há assunto: Elvira Cupello Calônio, a Elza do título, teve uma vida curta e desprovida de grandes emoções, a não ser pelo fim violento. Foi do interior de São Paulo para o Rio de Janeiro, apaixonou-se, levou uma vidinha comum e passou uns dias na prisão por causa de seu namorado, capturado pela polícia de Getúlio Vargas depois da Intentona Comunista de 1935. Solta pelas autoridades, buscou abrigo na casa de amigos. E morreu assassinada, aos 21 anos - ou seriam 16? -, tida como traidora da causa revolucionária.

Se a trama parece familiar, é porque guarda algumas semelhanças com a de outra figura histórica, essa tratada em best-seller, e fruto da mesma época: Olga Benário. Olga, mulher de Luiz Carlos Prestes, atuava no Partido Comunista soviético e, depois de presa, foi mandada para a morte, na Alemanha nazista, pelo governo brasileiro. Elza era amante de Miranda, secretário-geral do PC no Brasil, e uma série de suposições feitas por membros do partido no Rio de Janeiro - Prestes inclusive - levou a seu assassinato, cometido pelas mesmas pessoas em quem confiou quando saiu da prisão, no começo de 1936.

Sérgio Rodrigues usou de um expediente engenhoso para contar a vida de Elza: dividiu a trama em duas narrativas, uma real e outra fictícia. Na real, que aparece no começo de cada capítulo, conta de sua pesquisa em busca de informações sobre Elza, transcreve trechos do processo que condenou os assassinos, reproduz partes da correspondência de figuras-chave para o caso, como o próprio Luiz Carlos Prestes. A fictícia também trata da História, agora em maiúsculas, ao colocar em cena um velho doente que recorre a um jornalista para escrever suas memórias. Testemunha da revolução frustrada de 1935, Xerxes conta a Molina como conheceu Elza, fala de sua participação numa passeata contra os integralistas e vai alinhavando os acontecimentos da época numa fala quase sempre nítida em detalhes. Assim como Molina, eu também me encantei pelo assunto. E, com este livro, aprendi mais sobre o passado revolucionário do país do que me deixam lembrar as aulas de História.

A melhor seleção do mundo

A melhor seleção do mundo
Eugenio Goussinsky e João Carlos Assumpção (Brasiliense, 2010)

A melhor seleção do mundo é a Espanha, como se viu hoje, mas o livro trata mesmo é do time do Brasil. Com ilustrações muito simpáticas de Gustavo Rosa, os autores contam, para crianças, histórias do grupo brasileiro desde que ele surgiu oficialmente, em 1914, quando ganhou de 2 a 0 de um clube chamado Exeter City. Falam da evolução do uniforme canarinho, traçam um panorama da participação do país em Copas do Mundo e, principalmente, falam de jogadores que marcaram época, como Zizinho, Didi, Pelé, Garrincha, Taffarel, Romário e Ronaldo.

Este já é o segundo livro sobre futebol que meu amigo João Carlos Assumpção, o Janca, escreve em parceria com Eugenio Goussinsky. Em 1998, eles lançaram Deuses da Bola, pela editora DBA, também sobre a seleção brasileira. Para minha sorte, tenho os dois livros - e autografados.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Hotel stories

Hotel stories
Francisca Matteoli (Assouline, 2002)

A editora americana Assouline é quase uma prima da alemã Taschen: ambas publicam volumes artísticos, feitos do melhor papel disponível, com uma seleção de temas e um cuidado gráfico pouco vistos por aí. São livros geralmente caros - embora de vez em quando eu consiga encontrar algumas pechinchas, como essa, e já tenha ganhado de presente outras obras da Taschen- e há muitos exemplares feitos para colecionadores, com preços que passam fácil dos US$ 300 e chegam a mais de US$ 1000.

Por motivos profissionais - e um preço bem mais razoável -, comprei em Miami este Hotel stories, certa de que estava adquirindo um livro bonito para me distrair com as situações vividas por uma série de celebridades em hotéis famosos ao redor do mundo. Bem, o livro é bonito. E as histórias de gente como Truman Capote (e suas festas no Plaza de Nova York), Dorothy Parker (e a Round Table no Algonquin), Agatha Christie (e um mistério envolvendo o hotel Pera Palace, em Istambul), Marilyn Monroe e Yves Montand (e o caso que tiveram no Beverly Hills Hotel, em Los Angeles, durante as filmagens de Adorável pecadora) são mesmo deliciosas. Mas, desta vez, a tentativa artística da Assouline não deu muito certo - não, pelo menos, para mim. Talvez na intenção de deixar as páginas com cara de antigas, já que muitas têm fotos de época, a fonte tipográfica usada no livro tem umas falhas, propositais, que tornam a leitura cansativa. Também senti falta de legendas nas imagens, pra saber quem eram os retratados, que partes do hotel eram aquelas ou quando as fotos foram feitas. Vai pra conta da minha chatice.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

I love your style

I love your style
Amanda Brooks (itbooks/HarperCollins, 2009)

Pelo preço dos livros no Brasil, esta edição americana, impressa num papel bacana e cheia de boas fotos, nem está tão cara: R$ 48,58, um equivalente razoável aos US$ 19,99 originais (sem contar os impostos que se pagam por absolutamente qualquer coisa comprada nos Estados Unidos, e que variam de acordo com o estado; são 7% em Miami). Mas vale, mesmo, por ter sido um dos melhores livros sobre estilo que li nos últimos tempos: é, certamente, um título que eu recomendaria a quem está começando a se interessar pelo assunto, ao lado de The little black book of style, The one hundred e Esquadrão da Moda.

Amanda Brooks, a autora, é uma consultora de moda bem-nascida e de extremo bom gosto que não tem pudor em escrever sobre suas preferências, ainda que polêmicas ("Acho ok usar casacos de pele, mas não estou aqui para sugerir que você deva fazê-lo"), nem de incrementar o livro com várias fotos suas, mesmo que em momentos de vergonha fashion - a galeria da página 24 me fez dar boas risadas ao me lembrar de alguns desastres saídos do meu próprio armário no passado. Mas o melhor de tudo é que, como todo bom livro do gênero, ela não dita regras, e sim afirma, o tempo todo, que cada mulher tem um estilo particular e que o importante, mesmo, é descobri-lo para que seja cada vez mais valorizado.

Ainda assim, Amanda Brooks dá umas diretrizes para quem é perdido no assunto ou para quem quer relembrar alguns conceitos. Começa por dividir o livro em capítulos sobre os estilos clássico, bohemian, minimal, high fashion, street e eclético - acho que sou uma mistura do eclético com o clássico, embora aqui e ali use umas flores exageradas na lapela e capriche nos sapatos diferentes; são marcas do meu estilo. No fim, fala sobre diversos jeitos de comprar: roupas básicas, em brechós, em lojas de design e redes de marcas mais populares. Tudo isso ilustrado por centenas de fotos, preto-e-branco e coloridas, em que aparecem, além dela própria, gente como Jacqueline Kennedy, Sofia Coppola, Bianca Jagger, Chloë Sevigny, Catherine Deneuve, Audrey Hepburn, Agyness Deyn, Kate Moss, Angelina Jolie e tantas outras. Não porque elas são lindas ou magérrimas ou ricas, mas porque têm estilo, porque sabem se vestir de acordo com a própria personalidade. Tem mais: ao final de cada capítulo há uma série de indicações inspiradoras de livros e filmes.

Quando comecei a ler o livro e vi a quantidade de fotos da autora, achei que ia encontrar mais um daqueles volumes feitos só para afagar o ego de quem escreve - e, por consequência, achei que ia detestar a leitura. Ao contrário, adorei: é preciso uma autoestima enorme, o que é bem diferente de um ego inflado, para colocar-se no lugar de outras mulheres e admitir que isso pode ficar bem em você, mas não fica em mim. É o que faz Amanda Brooks, para sorte de quem sabe que vestir-se de acordo só faz aumentar o prazer da gente ser a gente mesma.

domingo, 20 de junho de 2010

Solar

Solar
Ian McEwan (Jonathan Cape, 2010)

Tenho muita raiva de mim mesma quando começo a ler qualquer coisa sobre alguma obra que está na minha fila de leituras. Eu já sabia que compraria o novo McEwan, qualquer que fosse o assunto - por que, então, conferir o que foi escrito sobre ele no lançamento britânico, no lançamento americano? Pior: até consegui passar batido sobre as críticas, mas não resisti a uma sinopse. E, por causa dela, coloquei o peso de Solar num acontecimento que até tem importância para a trama, mas que não é, nem de longe (como eu imaginava), o fio condutor da história. Paciência, azar. Quem sabe agora eu aprendo.

Comecei a ler Solar num fim de semana de trabalho em São Roque, continuei em Miami e terminei aqui em São Paulo, em meio a uma agenda de compromissos muito apertada e ao tratamento para uma infecção no dente que me faz sentir muita dor e tomar tanto analgésico que faria inveja ao Doutor House. Escrevo tudo isso pra tentar entender por que eu não me apaixonei pelo livro - desde Reparação, eu meio que me sinto obrigada a me apaixonar por qualquer McEwan -, embora reconheça nele a prosa sensacional do escritor e tenha dado muita risada em alguns momentos de ironia inteligente e intensa.

O livro vale principalmente por Michael Beard, o personagem principal, um sujeito detestável que vive das honras amealhadas por um prêmio Nobel de Física, conquistado algumas décadas atrás. No ano 2000, Beard está às voltas com o fim de seu quinto casamento, um emprego conveniente e inócuo e a ameaça do aquecimento global. Mas falar mais é fazer como a sinopse que eu li, e tirar a graça da história.