sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Coelho corre

Coelho corre
John Updike (Companhia das Letras, 1992)

Foi minha estreia no Kindle - porque eu queria começar Updike pelo primeiro volume da série Coelho, porque a edição em português está esgotada e porque, quando posso, prefiro ler no original, em inglês. Gostei muito, muitíssimo - e, mais de uma semana depois de terminada a leitura, ainda me pego pensando em várias cenas da história, na maneira elegante como John Updike escreveu esse livro, no meu sentimento, às vezes contraditório, em relação aos personagens.

Eu gosto de Harry "Rabbit" Angstrom? Sem dúvida, e, com o tempo, pretendo continuar a seguir suas andanças pelos três outros livros da série. Torci por ele o tempo todo, senti dó de sua ingenuidade alegre e fiquei com muita, muita raiva no momento em que sua infantilidade atingiu um grau que eu não imaginava poder alcançar. Depois de apenas dois daiquiris, Harry foi imaturo, cruel, egoísta. Senti vergonha por ele - e não é disso que são feitos os grandes personagens?

Também gosto muito de Jack Eccles, de suas conversas com Rabbit, sua dedicação ao trabalho na igreja (embora um pouco intrusiva demais para o meu gosto, mas sabe-se lá como eram as coisas em fins dos anos 50 numa cidadezinha dos Estados Unidos; sabe-se lá como são, hoje, em outras cidadezinhas provincianas espalhadas pelo mundo). Foram as mulheres, em Coelho corre, que me deixaram com os dois pés atrás. Não dá pra respeitar Janice, muito menos sua mãe. Mrs. Angstrom tem mais pulso. Ruth talvez seja quem eu entenda melhor, pelo medo de se dedicar a um relacionamento de verdade, pela tentativa de mostrar independência para, no fim das contas, se deixar submeter. E Lucy Eccles, a única mulher da história que eu gostaria, mesmo, de conhecer mais nos três livros restantes sobre Rabbit.

O início da trama, em resumo: Harry Angstrom um dia volta para casa e encontra o cenário desolador de sempre - mulher bêbada vendo TV, o apartamento desarrumado pela bagunça do filho pequeno, o cansaço depois de um dia num trabalho desanimador. Ele sai para buscar o carro, estacionado em frente à casa da sogra. E, num estalo, decide passar a noite dirigindo rumo ao Sul.

3 comentários:

Fer Guimaraes Rosa disse...

você sabe que eu comprei esse livro há muitos anos, comecei a ler e nunca terminei? que tchonguice!

mas adorei saber sua opiniao sobre o Kindle, porque ele esta na minha wishlist, mas eu sempre preciso ter uma recomendacao de alguem confiavel pra me empurrar pra comprar algo, senao nunca sei se estou fazendo a compra certa, se vale a pena, eteceterá-eteceterá.

entao vou ganhar o Kindle de natal. e espero conseguir voltar a ler mais. e ate terminar esse do John Updike. :-)

um beijo!

Isabel Pinheiro disse...

Fer, eu estou absolutamente apaixonada pelo Kindle. Li três livros numa tacada. Engraçado que, outro dia, uma amiga americana comentou que tem a impressão de estar lendo mais no Kindle. Eu também! Presentão de Natal, viu. (Claro que pra livro de cozinha não deve dar muito certo. Mas vou tentar nele o "Chop Suey: A Cultural History of Chinese Food in the United States", que não é livro de receitas, até onde eu sei. Você conhece? Acho que saiu recentemente.)

E, se eu fosse você, tentaria o Updike de novo, sim. Autor com A maiúsculo.

Beijão!

Alexandre Kovacs disse...

Grande livro!

Sobre o Kindle, sou da mesma opinião da Inês Pedrosa, escritora portuguesa:

“O livro físico tem o seu charme particular e único: questão de cheiro, textura, portabilidade absoluta, envelhecimento, pregas, manchas."