Os doze trabalhos de Hércules
Monteiro Lobato (Brasiliense, 1995)
Mais do que um post, esse é, na verdade, um réquiem. Foi no sábado que aconteceu: minha mãe telefonou e contou que a coleção do Monteiro Lobato que eu conheço desde criancinha, a coleção verde de capa dura com meu querido Reinações de Narizinho, estava toda infestada de bichos. Há tempos eu ensaiava para levar tudo a um restaurador; os livros tinham mais de 50 anos, havia capas caindo, folhas amareladas, costuras se desfazendo em pó. Mas não me mexi. E então autorizei minha mãe a jogar tudo fora, vai que os bichinhos se espalham pelo resto da estante que eu ainda conservo na casa dela porque na minha não há mais espaço - "vai que", não; os volumes vermelhos de O mundo da criança também foram atingidos e conseqüentemente dispensados.
É claro que fiquei triste. Sei que isso aconteceu pela minha preguiça e pelo medo de gastar uma grana enorme com a restauração dos livros. Mas não me desesperei. Como eu disse à minha mãe, a coleção infantil do Monteiro Lobato se mantém vivíssima na minha cabeça e no meu coração - e espero que viva para sempre. A marquesa de três estrelinhas, os bolinhos da tia Nastácia, o palmito com mel, a canastrinha, os vestidos de gorgorão da Dona Benta, "tô vendo uma poeirinha lááááá longe...", os meninos lagarteando ao sol, brincar de não pensar, a viagem ao país da gramática, o circo da aritmética... A lista vai longe.
Escolhi Os doze trabalhos de Hércules para ilustrar esse post porque sempre foi um dos meus preferidos. Com ele, e com O minotauro, aprendi a gostar de mitologia, conheci os deuses gregos, Péricles, Aspasia e companhia, me apaixonei pela história da ninfa Eco e soube que "o figo é uma flor que se abre pra dentro". Um dia hei de encontrar a coleção de capa verde num sebo. E, quando isso acontecer, não vou esperar pra ir ao restaurador.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
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4 comentários:
Que pena, Isabel! A coleção inteira! E O mundo da criança de encadernação vermelha! Ai, ai, ai, acho que eu não resistiria ao baque...
O mundo da criança (eu adorava os dois primeiros volumes!) tenho até hoje. De vez em quando leio para a minha sobrinha. Mas sofro, há muitos anos, por ter perdido o primeiro livro de verdade que li – O Picapau Amarelo – numa edição do final dos anos cinqüenta, de capa dura, fundo amarelo, que tinha sido da minha mãe. O Lobato foi, para muitas gerações, uma iniciação maravilhosa na leitura. Não sei se ainda funciona nestes tempos. Outro dia, lendo os resultados da pesquisa Retratos da leitura no Brasil – 2007 (publicada pelo Instituto Pró-Livro), descobri, surpresa, que Monteiro Lobato foi indicado como o escritor brasileiro mais admirado pelos leitores entrevistados, e que “O Sítio do Picapau Amarelo” (assim mesmo...) ficou em segundo lugar na categoria de livro mais importante na vida do leitor (só perdendo para a Bíblia). Acredito que, na verdade, muito poucos leiam o Lobato hoje em dia, embora ele e seus personagens ocupem, ainda, sem dúvida, espaço importantíssimo no imaginário nacional.
Se puder servir de consolo, há pouco tempo consegui recuperar, num sebo, em ótimo estado, a coleção azul do Tesouro da juventude, que eu morria de tristeza de ter perdido.
Tomara que as suas preciosidades voltem logo para você!
Um abraço,
Cláudia
Cláudia, pena mesmo. Eu já vi a coleção do Monteiro Lobato, de capa verde, num sebo aqui de São Paulo, e bem conservada. Acho que não vai ser difícil. Agora, a do Mundo da Criança... Eu nem sabia que outras pessoas conheciam! Foi bacana ver que você também se lembra dela. Sim, capa dura vermelha, cada volume dedicado a um tema... Olha, eu até hoje me lembro da foto de um garoto descascando uma batata e de uma receita de doce de leite. E do livro sobre artes, que me fez cair de amores por Van Gogh. Não sossego enquanto não encontrar a coleção!
Um abraço, Isabel
Cláudia, esqueci de comentar: depois dá uma olhada no post sobre Reinações de Narizinho. Eu disse, ali, que certa vez entrevistei a Ruth Rocha e ela me contou que, hoje em dia, criança de 12 anos muitas vezes não entende Monteiro Lobato. É muito sofisticado. Isso sim, é outra enorme pena... Abs
Adorei o post do Reinações, Isabel. Temo que a Ruth Rocha tenha razão... A sorte é que a TV fez boas adaptações da obra do Monteiro Lobato, o que serviu para manter o Sítio no imaginário de muita gente. A referência cultural permanece (os resultados da pesquisa que mencionei comprovam isso), embora a gente saiba que assistir às peripécias da Emília não terá nunca o mesmo sabor que imaginá-las a partir da prosa boa do Lobato. Por isso dá pena, mesmo, de quem vai crescer sem essa experiência...
Abraços,
Cláudia
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