quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Ex-libris

Ex-libris
Anne Fadiman (Jorge Zahar, 2002)

Tem gente que não entende meu gosto por releituras. Acham que, porque leram uma vez, já conhecem "o fim da história" e por isso não faz sentido reler literatura. Não dá pra discutir - eu também não entendo por que tem gente que revê 1000 vezes o filme Duro de Matar.

Tem gente que não admite uma sujeirinha em seus livros. Que só falta pegá-los com luvas cirúrgicas, não usa a orelha, cobre com papel-manteiga pra evitar da capa amarelar. Eu USO meus livros. Grifo. Escrevo nas margens. Derramo lágrimas sobre a tinta, dobro a lombada pra ficar mais confortável de ler na cama, às vezes marco a página com a lapiseira que usei pra fazer anotações.

Por essas e outras (eu também adoro ganhar livros de presente! eu também adoro escrever e receber dedicatórias! eu também "reviso" cardápios e tudo quanto é texto que cai nas minhas mãos!), desde a primeira página eu me senti a alma gêmea de Anne Fadiman, editora e escritora americana que juntou suas "confissões de uma leitora comum" no pequeno e delicioso Ex-Libris. O primeiro texto trata do casamento de duas bibliotecas: a dela e a do marido. Outro fala de plágios (e de como a mãe dela, correspondente de guerra, foi plagiada por um escritor que virou best seller). Outro, de sebos (e dos 8,5 quilos de livros usados que ela ganhou certa vez do marido, como presente de aniversário). Mas Anne Fadiman não trata apenas de histórias familiares. Seus textos sobre livros e o prazer de ler acabam sendo uma fonte de referências para quem, como eu, esconde uma obsessão (uma estante excêntrica, diria ela): o amor por livros sobre livros. O único defeito de Ex-libris é o tamanho: 162 páginas que a gente lê de uma tacada. Ando pensando em começar uma campanha para fazer Anne Fadiman escrever mais.

2 comentários:

César disse...

Confesso que morro de inveja de você e dela, capazes de fazerem tudo isso nos livros. Eu faço parte do outro grupo que ela descreve, dos que praticamente veem os livros como algo sacro. Não o vejo assim, mas não escrevo, não gosto de dobrar, etc... Mas eu bem que queria, tenho uma amiga que é assim como vocês e adoro dar uma olhada nos livros dela, são praticamentes algo novo com as anotações, os comentários... Ainda chego lá!

Isabel Pinheiro disse...

Pois é, César, eu acho que meus livros anotados contam também um pouco da minha história... Às vezes eu pego algum volume que está todo anotado e volto no tempo com ele, lembrando de tudo o que me fez fazer aqueles comentários - e, às vezes, também acontece o contrário: eu encontrar uma marcação num livro e ficar pensando "mas o que será que eu quis dizer com isso?" :-)