domingo, 18 de outubro de 2009

Secret ingredients

Secret ingredients
Organizado por David Remnick (Random House, 2007)

Taí um livro que eu queria ter feito, taí o tipo de livro que eu queria passar o resto da minha vida fazendo: uma seleção de excelentes textos sobre comida publicados na revista New Yorker. E não são apenas resenhas de restaurantes ou perfis de gente que marcou época na cozinha, mas histórias - histórias como a de quando Julia Child, afônica, foi a um restaurante chinês e se comunicou com a dona apenas trocando bilhetinhos, ou o conto escrito por Louise Erdrich sobre a amizade entre duas corajosas mulheres, uma delas casada com um açougueiro.

Para mim, o melhor talvez esteja nos textos que abrem o capítulo "Eating in", escritos por M.F.K. Fisher. Eu já tinha lido dois livros de Ms. Fisher: Um alfabeto para gourmets, que me agradou muito, e Como cozinhar um lobo, que, na época, achei meio mais-ou-menos (hoje eu fico pensando, ainda mais depois de ler os textos dela em Secret ingredients, se não seria bom retomar essas leituras com uma predisposição maior para entender a voz de M.F.K. Fisher - uma voz que, como a de Elizabeth David, soa mal-humorada a princípio, mas vai revelando uma ironia inteligente e um conhecimento enorme à medida em que a gente se acostuma ao discurso).

O primeiro texto de "Eating in" é o Secret ingredients que dá nome ao livro. Assim como eu, a autora tem uma birra enorme de gente que escreve receitas sem contar o "pulo do gato": aquela pitada de um temperinho que faz toda a diferença, a técnica de assar de um jeito perfeito, as quantidades todas em "punhado", "mãozada", "um tanto". Em outro artigo, Ms. Fisher fala das casseroles, receita que toda dona de casa americana preparava, nos anos 60, achando que estava economizando tempo ao assar (numa caçarola, ahá) sobras de comida com arroz ou macarrão. (Ela escreveu isso em 1968 e, já naquela época, pregava o uso de pelo menos legumes frescos para deixar o prato mais apetitoso.) Ms. Fisher é elegante e engraçada até para falar de tripa - e dar uma receita completa do ingrediente, com direito a descrições e detalhes que fazem a gente agradecer por livro de cozinha não vir com o cheiro da própria.

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