domingo, 7 de dezembro de 2008

As mais belas histórias da Antigüidade Clássica - volume II

As mais belas histórias da Antigüidade Clássica - volume II
Gustav Schwab (Paz e Terra, 1995)

Eu acho que perdi a capacidade de me apaixonar - ou melhor, acho que há algum tempo venho mantendo essa capacidade escondida na gaveta mais profunda do meu espírito, com medo de que ela resolva se manifestar novamente e que tudo termine novamente em sofrimento. Porque paixão termina ou em dor ou em tédio, uma desgraça. Agora há pouco eu estava em um show e resolvi flertar com um homem que conheço há pelo menos quinze anos, e que nunca me deu a menor bola. Pra que brincar com a sorte? Ou, pior, com a tranqüilidade?

(Esclarecimento pra quando eu ler esse post outra vez, daqui a algum tempo: sim, bebi mais do que eu devia.)

De um jeito tortuoso, mas ainda saudável, me apaixonei perdidamente por três personagens da ficção: o Carlos Eduardo de Os Maias, o doutor Rodrigo Cambará de O tempo e o vento e o Aquiles da Ilíada, recontada em prosa por Gustav Schwab. Eu já tinha lido o primeiro volume dessa trilogia, que trata de mitos e heróis da Grécia Antiga (o terceiro volume traz a Eneida e a Odisséia, também em prosa). E caí de amores pela história da Guerra de Tróia, pela masculinidade - ainda que gay - de Aquiles, sua devoção por Pátroclo e sua ira fenomenal quando o amante é morto por Heitor. Sofri com Aquiles e sofri por ele, quando Febo o atingiu no calcanhar, mas também senti a dor de Príamo ao tentar resgatar o cadáver do filho, morto pelo herói. Assim como acontece com Os Maias, não consigo deixar de ler a Ilíada sem torcer para que o final, dessa vez, seja diferente. Será que não podia dar empate? Não, os deuses gregos eram implacáveis. A vida também é.

6 comentários:

Kátia disse...

A Ilíada para mim foi uma obrigação que se tornou um prazer. Da dificuldade de acompanhar o primeiro canto (Canta-me a cólera oh deusa, funesta de Aquiles, Pelida) até a emoção de acompanhar o confronto entre Heitor e Aquiles tenho que discordar de você: me apaixonei por Heitor.

Isabel Pinheiro disse...

Concordo, Kátia, o Heitor também era um homão. Mas paixão a gente não escolhe... :-) Um abraço

Leitor disse...

Olá Isabel

Cheguei ao teu blog através do Enrique Vila-Matas. Acabei de comprar uns livros dele e queria saber o que o pessoal acha .... O Dr. Rodrigo Cambará também é (foi ?!) um dos meus personagens prediletos; além de traços caudilhescos era intelectual e conquistador. Engravida a alemãzinha (Toni Weber ??); "je suis enceinte", diz ela ....senti muito tesão pela alemãzinha.

Curto muito a Ilíada, li várias. Sou encanado com o filho do Heitor, jogado do alto das muralhas de Troia. Li o primeiro volume da tradução do Haroldo de Campos .... vou pegar o segundo ...

Abraço

Clovis

Isabel Pinheiro disse...

Oi Clovis, que Vila-Matas você comprou? Abs, Isabel

Leitor disse...

Olá Isabel

Encomendei LA ASESINA ILUSTRADA, EXTRAÑA FORMA DE VIDA e EL MAL DE MONTANO e comprei A Viagem Vertical na Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br), numa edição da Cosac Naify .... são bonitas as edições da Cosac. Acho que sou meio serial reader, ou será que estou mais para serial buyer ??? Realmente, compro mais livros do que consigo ler ....

Não sou um grande admirador da obra Saramago, gosto mais dele do que da obra. Ele deu uma entrevista bastante divertida na Folha (http://diversao.uol.com.br/ultnot/2008/11/28/ult4326u1186.jhtm). Num certo ponto ele comenta que nas décadas de 50 e 60, vários escritores brasileiros (Graciliano, Jorge Amado, Manuel Bandeira, João Cabral ...) eram lidos com paixão em Portugal, mas que atualmente não há nenhum que o seja. Eu complementaria dizendo nem no Brasil........ Realmente, onde está o nosso Vargas Llosa, Garcia Marquez, Philip Roth, Coetzee, McEwan ...? Você tem lido algum escritor brasileiro contemporâneo com paixão ? Ops ... esqueci que no teu post você disse que perdeu a capacidade de se apaixonar eheheheheheheheh

Abraço

Isabel Pinheiro disse...

Estou com inveja. Eu não consigo ler em espanhol e fico na dependência da Cosac lançar o Vila-Matas aqui; li os quatro.

Agora, essa sua pergunta sobre autores brasileiros contemporâneos... Já senti uma certa paixão pelos escritos de Bernardo Carvalho, que acabou quando eu percebi que "Mongólia" era o "Nove Noites", sem tirar nem pôr, em ambientes diferentes. Acho o cara bom e (também sou serial buyer) comprei seu último livro, mas ele continua fechado lá na estante.

Puxa, ninguém.

Abs