terça-feira, 29 de julho de 2008

Olhai os lírios do campo

Olhai os lírios do campo
Erico Verissimo (Companhia das Letras, 2005)

É reconfortante ler os primeiros romances de Erico Verissimo depois de ter passado por sua obra-prima, O tempo e o vento - no mínimo, é bom saber que talento e boa escrita podem, sim, melhorar com o tempo. Lançado no final da década de 30, Olhai os lírios do campo tem um quê da ingenuidade inerente à época em que foi escrito. Não na trama, até avançadinha, e sim na narrativa, na escolha do vocabulário, talvez até na atitude dos personagens principais. Sei lá, é tudo impressão. Não sou nem nunca fui crítica literária.

Nos anos 70, a história de amor entre os médicos Eugênio e Olívia foi adaptada para uma novela da TV Globo (não tenho nada contra Nívea Maria, até simpatizo com ela, mas foi gratificante ler o romance sem pensar nela como Olívia. Olívia, para mim, é mais suave, ainda que forte e irritantemente abnegada). De origem simples, Eugênio se casa com uma ricaça mesmo apaixonado pela colega. Ela se muda de cidade e os dois voltam a se encontrar algum tempo depois. E aí...

domingo, 27 de julho de 2008

O pedante na cozinha

O pedante na cozinha
Julian Barnes (Rocco, 2008)

Hoje, enquanto eu preparava o almoço, fiquei pensando nesse livrinho recém-lido de Julian Barnes, um escritor que me encantou na primeira Flip. Assim como ele, sou uma pedante na cozinha: não sei me virar muito bem sem ter a receita ao lado, desconfio de qualquer autor que mande medir o peso das gemas e simplesmente me recuso a fazer certas coisas, como desossar uma ave.

Na condição de cozinheiro amador, Barnes presta um enorme serviço a quem gosta de cozinhar e, muitas vezes, se sente intimidado pelos livros do gênero. "Jamais acredite nas fotos", diz, enquanto conta sobre umas costeletas de cordeiro com chicória que, quando prontas, não lembravam em nada a imagem estampada em papel cuchê. Para minha alegria, ele também desce a lenha em receitas mal escritas ("deviam ter um cuidado literário", diz; e eu completo que quem aprende a ler receitas sabe se elas funcionam só de bater o olho). A propósito, o que será que mr. Barnes pensaria da tradução de seu livro, que transformou pudding em pudim? E da revisão, que deixou passar restauranteur e cenouras à Vichy com crase seguida por cenouras a Vichy sem crase no parágrafo seguinte? Creio que desaprovaria.

A casa dos budas ditosos

A casa dos budas ditosos
João Ubaldo Ribeiro (Objetiva, 1999)

João Ubaldo Ribeiro ganhou ontem o Prêmio Camões, principal honraria da literatura em língua portuguesa, instituído pelos governos de Portugal e Brasil. Não tenho conhecimento pra achar se é merecido ou não - nem sei se havia outros concorrentes. Mas certamente os 100 mil euros que vão engordar a conta bancária de João Ubaldo não se devem a obras como A casa dos budas ditosos e O feitiço da Ilha do Pavão, as únicas dele que li, e que achei fraquíssimas. (Minto: li um outro livrinho, bem-humorado, em que ele conta do período em que morou na Alemanha, graças a uma bolsa. Divertido.)

A casa dos budas ditosos foi, se não me engano, o primeiro volume de uma coleção criada pela Objetiva sobre os pecados capitais - luxúria, no caso. A série fez um sucesso enorme, com livros de Luís Fernando Verissimo e Zuenir Ventura, entre outros, e a moda pegou: contratava-se um escritor para criar uma história sobre um tema específico, a divulgação era uma beleza e a caixa registradora não parava de funcionar. Eu bem que tentei, mas não consegui encontrar nenhum livro dessas coleções que fosse realmente bom. Esse, então, sobre luxúria, só reforça a tese de que uma das tarefas mais difíceis para todo escritor é falar de sexo.

sábado, 26 de julho de 2008

Antologia poética

Antologia poética
Vinicius de Moraes (Companhia das Letras, 1992)

Toda adolescente que se preza sabe recitar de cor e salteado - ou pelo menos sabia, na minha época - o Soneto de fidelidade, de Vinicius de Moraes. E acho que foi por causa dos sonetos, que hoje acho adocicados demais, que me interessei por esse livro (ok: não faz tanto tempo assim eu escrevi uma dedicatória com o Soneto do amigo; achei que podia impressionar).

Minha edição, comprada do finado Círculo do Livro, tem mais de vinte anos. E sempre que volto a ela volto a meu poema preferido de Vinicius, se não meu poema preferido em língua portuguesa: Ausência. Como é que pode algo tão conhecido emocionar sempre, a cada vez que se retorna a ele? Até hoje só consegui decorar o começo, acho que os dois primeiros versos. E, por alguma ironia, tenho na cabeça poemas inteiros de autores menores, aprendidos ainda durante a adolescência. Vai ver me recuso a decorar Ausência para ter sempre o prazer de voltar a ele. E continuar me emocionando.

Stasilândia

Stasilândia
Anna Funder (Companhia das Letras, 2008)

No começo, eu me incomodei um pouco com a narrativa em primeira pessoa: como esse livro faz parte da coleção Jornalismo literário, imaginei que se tratasse de uma reportagem formal. Mas aos poucos fui gostando da maneira como Anna Funder conta sua história - ou melhor, a história de sua pesquisa sobre o funcionamento da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental, responsável não só pela construção do muro de Berlim como por milhares de mortes, desaparecimentos, torturas e vidas destruídas.

O livro começa com o encontro de Anna e Miriam, uma jovem senhora de Leipzig que, aos 16 anos, tentou fugir para o Ocidente - por pouco não conseguiu - e agora luta para entender por quê, anos depois, seu marido apareceu morto depois de preso pela Alemanha Oriental. A partir daí vão surgindo novos personagens e relatos, alguns deles chocantes, como a prisão que Frau Paul mostra a Anna com salas de tortura que deixariam o delegado Fleury envergonhado pelo amadorismo.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

The Dean & Deluca cookbook

The Dean & Deluca cookbook
David Rosengarten

Quem já foi a Nova York conhece, ou já deve ter ouvido falar na Dean & Deluca - pra quem gosta de comer bem, é uma perdição. Misto de empório gourmet, rotisserie, padaria e café, a D&D tem uma loja grandinha no Soho e, agora, um quiosquinho dentro da livraria do shopping de Columbus Circle. Já fui viciada no sanduíche de legumes e queijo de cabra que ele faziam. Em minha última visita, em janeiro, aumentei muito meu estoque calórico com uns deliciosos scones de cranberry e laranja.

Mas a D&D não é só loja e nem é só café. Sua rotisserie deixa qualquer um com vontade de largar os livros de receita e passar a comer só os franguinhos grelhados, saladas e massas que eles inventam. Boa parte das criações D&D foi reunida nesse livro, que está longe de ser uma mera compilação culinária: fala também (e principalmente) dos ingredientes, das diferenças culturais em relação a eles, dá sugestões de preparo e, por fim, lá vêm a receita. Eu já fiz várias, sempre com sucesso. Se é que o livro tem algum defeito, é deixar de fora a parte das sobremesas. Ou melhor, de confeitaria - eu adoraria saber preparar aquele scone de cranberry e laranja.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O livro no Brasil

O livro no Brasil
Lawrence Hallewell (Edusp, 2005)

Estávamos na Livraria Cultura quando eu vi essa nova edição - belíssima, caríssima e atualizadíssima - de um livro que eu procurava há tempos e que serviu de bibliografia para várias obras da história literária do país. Ele me incentivou a comprar, mas mesmo com o preço então um pouco menos extorsivo, resolvi deixar para outra hora. Meses depois, ele herdou a biblioteca da avó. E um dos livros que vieram foi esse, ainda na primeira edição, bem mais simplezinha, e que ele me deu de presente junto com mais dois ou três títulos.

Meu interesse pela história do livro no Brasil é focado principalmente nas obras que fizeram sucesso em determinadas épocas e depois caíram no esquecimento - seja porque não eram mesmo tão boas, seja porque o gosto do público mudou. Li, talvez no Brito Broca, que A esfinge, de Afrânio Peixoto, foi um dos grandes sucessos literários das primeiras décadas do século 20. E quem hoje sabe quem foi Afrânio Peixoto, quem já leu A esfinge? Gosto de saber quais foram esses modismos. E de saber quem começou a aventura literária no país - um deles, estrangeiro, foi o tataravô do homem que me deu de presente O livro no Brasil.

Atualização (13/11/08) - Demorou, mas aconteceu. Escrevi dois posts sobre o mesmo livro - e com apenas três meses de diferença entre um e outro. Pelo menos não fui incoerente: minha opinião sobre a obra e a historinha de como eu cheguei até ele estão contadas da mesma maneira nos dois textos...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

A vida até parece uma festa

A vida até parece uma festa
Hérica Marmo e Luiz André Alzer (Record, 2002)

Em 1984, Sonífera ilha foi a trilha sonora das minhas férias de julho no Guarujá. Pouco depois, vi com minha prima um show dos Titãs no auditório do Anhembi, em São Paulo, e morri de aflição das caras feias de Arnaldo e Branco, que se jogavam no chão do palco e ficavam fazendo micagens a um palmo da nossa cara. E a gente lá, pulando e cantando, como foi em tantos outros shows da banda que vi ao longo dos anos.

Mesmo chapa-branca (Nando Reis, que havia acabado de se desligar dos Titãs, é meio que tratado como um pária no fim do livro), essa biografia me agradou pelo simples fato de contar a história de uma banda onipresente em minha vida. Eu fui adolescente com os Paralamas e os Titãs. Em uma fase de incrível auto-afirmação, no comecinho dos anos 90, Medo e O pulso foram meus hinos de resistência (bem, até certo ponto ainda são). Num show belíssimo para um estádio do Pacaembu vazio, em 1992, vi os Titãs e os Paralamas juntos, no palco, e entendi que eu podia gostar das duas bandas ao mesmo tempo. Senti a saída de Arnaldo Antunes. A morte de Marcelo Fromer. A saída de Nando Reis. E aí parei de ouvir os Titãs, porque do jeito que eles ficaram eu prefiro os discos solo tanto do Arnaldo quanto do Nando.

O senhor Brecht

O senhor Brecht
Gonçalo M. Tavares (Casa da Palavra, 2005)

Eu não sou muito boa com livros formados por narrativas curtas - a não ser que elas se encaixem numa história coesa, como os minitextos de Histórias de cronópios e de famas, de Julio Cortázar. Caso contrário, se são apenas textos esparsos, com começo-meio-e-fim em si próprios, a tendência do meu cérebro é não registrar quase nada, como acontece com aforismos e citações. Quando comprei o livro de Gonçalo M. Tavares, português nascido em Angola, tinha lido algumas resenhas positivas e sabia que se tratava de minificções, mas nunca imaginei que fossem tão mini.

Do livro, portanto, não guardo nada a não ser a lembrança de uma edição caprichada e elegante, como costumam ser as edições da Casa da Palavra. Mas há ali, aparecendo por sobre as páginas, o topo de um post-it verde que indica algo que eu gostei.

HESITAÇÃO
O homem no meio da escada hesitava há vários dias entre subir e descer. Os anos passavam e o homem continuava a hesitar: subo ou desço?
Até que certo dia a escada caiu.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Os livros e os dias

Os livros e os dias
Alberto Manguel (Companhia das Letras, 2005)

Entre junho de 2002 e maio de 2003, Alberto Manguel resolveu reler um livro marcante por mês e comentá-los entre os acontecimentos de sua vida numa espécie de diário literário, mais ou menos como a idéia inicial desse blog. Começa com A invenção de Morel, passa por Dom Quixote e Sherlock Holmes, termina com Memórias Póstumas de Brás Cubas. Quando eu li Os livros e os dias, no segundo semestre de 2005, já conhecia os diários e o dicionário inacabado de Lutécio Jordão - sem dúvida é por isso que meu volume está cheio de anotações nos trechos em que Manguel fala da origem de algumas palavras.

Mas mais do que referência recorrente, O livro e os dias é, a exemplo de Auto-engano e outros livros de Eduardo Giannetti, uma pequena mina de epígrafes - de Manguel e de outros. Como essa, que ele cita do Kim, de Rudyard Kipling: "Desencadeaste um Feito sobre o mundo e, como uma pedra atirada numa poça, as conseqüências assim espalhadas não és capaz de medir." Ou essa, na voz de Sherlock Holmes: "Quando você elimina o impossível, aquilo que sobra, mesmo que improvável, deve ser a verdade." Meu volume está todo anotado, com marcações de "epígrafe", "idéia", "por quê?" e outros comentários. É assim que um livro deve ser.

... Or not to be

... Or not to be
Marc Etkind (Riverhead Books, 1997)

Ok, isso vai parecer doente: eu me interesso muito por suicídios. Gosto de saber - se é que dá verdadeiramente pra saber - o que levou fulano ou beltrano a se matar. E gosto também da idéia do suicídio como opção de vida e de morte. De vida em sua negação ("isso não serve para mim"), de morte pela escolha ("prefiro morrer dormindo com um monte de comprimidos a sentir a dor da doença até o fim").

Como diz a capa, esse livro é um compêndio de notas suicidas. Bilhetes deixados por gente que se matou por amor, por ódio, por altruísmo, por eutanásia. O homem que me deu esse livro de presente foi um dos poucos que entendeu - eu acho - o fascínio do tema sobre mim. E dele só vou registrar a dedicatória bem humorada para um tema tão difícil:

"..., ..., me salva! O ... nunca me escolhe pra ler, ele sempre pega outro livro. Não agüento mais essa solidão! Se você não me levar contigo, vou me jogar do alto da estante! Adeus mundo cruel................."

segunda-feira, 21 de julho de 2008

501 must-read books

501 must-read books
(Bounty Books, 2006)

Eu evidentemente não tenho a conta de quantos livros já li - bem mais que 501, eu suponho. E mesmo com pilhas e pilhas de livros não lidos se acumulando ao lado da cama, numa cadeira da sala, em prateleiras do armário, não consigo resistir a esse tipo de obra que traz os imperdíveis, os você-tem-que-ler, os meus-títulos-preferidos, seja lá de quem for.

Essa obra coletiva lançada por uma editora britânica está dividida em oito capítulos: literatura infantil, ficção clássica, história, memórias, ficção moderna, ficção científica, thrillers e viagens. E o mais divertido é contar quantos eu já li. Sempre dá vontade de roubar um pouquinho - ter visto Alice no país das maravilhas, o desenho de Disney, equivale a ter lido a obra de Lewis Carroll? E as histórias que a gente começa e larga pela metade? Ou as que a gente leu e não lembra? Ok, eis a minha conta, sem contar as versões pro cinema e incluindo as esquecidas: 16 infantis, 8 clássicos, 1 (!!!) de história, 1 (!!!) de memórias, 14 de ficção moderna, 1 de ficção científica (A invenção de Morel, que eu classificaria de outra forma), 4 thrillers e nenhum (!!!) de viagens. Bom, mas só há dois brasileiros na lista: Dona Flor..., de Jorge Amado, e Memórias Póstumas..., de Machado de Assis.

sábado, 19 de julho de 2008

Fifty great escapes

Fifty great escapes
Jonathan Lee (Prestel, 2006)

Todo mundo tem o sonho secreto de um dia largar tudo, ir pra algum lugar mágico e lá, somente lá, dedicar-se à verdadeira vocação de sua vida: pintar, cozinhar, apenas ler, meditar, abrir um antiquário, qualquer coisa. Eu adoraria me retirar pra escrever, em Ilhabela, em Diamantina, numa casa em meio a um bosque perto de Maldonado, no Uruguai. Jonathan Lee reuniu 50 histórias parecidas com esse desejo de cada um. A diferença é que nem sempre ele mostra o lugar para onde um artista - pintor, escultor, fotógrafo, escritor, músico - fugiu. Mostra também os lugares onde eles se inspiraram.

Estão lá a Inglaterra de sir Arthur Conan Doyle, a África de Joseph Conrad, a Itália de Da Vinci, a França de Robert Capa, os Estados Unidos de Pollock, o Nepal de Aleister Crowley, um picareta ligado ao ocultismo e muito admirado por Paulo Coelho. A mim, o que encanta são os lugares de epifania, o ambiente que despertou neste ou naquele artista a habilidade de criar. Mas sem talento, ainda que para a picaretagem, nem uma casinha no meio do bosque de Maldonado pode ajudar.

Viagem gastronômica através do Brasil

Viagem gastronômica através do Brasil
Caloca Fernandes (Senac São Paulo, 2005)

Eu já devo ter escrito aqui em algum lugar que leio receitas culinárias como se fossem literatura. Gosto do muito do estilo e da história de alguns autores - Patricia Wells em primeiro lugar, Paula Wolfert, Jamie Oliver, Nigella Lawson, Marcella Hazan (engraçado, a única brasileira que me veio à mente foi Heloisa Bacellar, do ótimo Cozinhando para amigos, que fica para uma outra ocasião). Portanto, não tenho como não gostar de um livro que combina tradições locais do Brasil, receitas, personagens e belas fotos.

Caloca Fernandes saiu pelo país procurando pratos típicos, gente que ajuda a manter tradições locais, ingredientes às vezes desconhecidos nas grandes cidades. É bacana abrir o livro e encontrar lá o Faustino, do Cantinho do Faustino, em Fortaleza (um dos melhores lugares em que já comi; jantar e almoço inesquecíveis com dois amigos, em 2002), e Beto Pimentel, do Paraíso Tropical, em Salvador (ele é bem chato, do tipo que senta pra conversar com os clientes e não levanta nunca mais, mas seu dandá de camarão impõe respeito). E tem receita de efó, que eu adoro, mas que não consigo fazer porque não sei onde encontrar taioba, e do super-engordativo bolo Souza Leão, e de queijo minas, feijoada, pastel de feira. Antes de tudo, a história com H maiúsculo da cozinha no Brasil, mas essa também rende outro post, e mais específico.

Seis propostas para o próximo milênio

Seis propostas para o próximo milênio
Italo Calvino (Companhia das Letras, 1990)

Minha edição desse livro de Calvino é também da Companhia das Letras, mas de uma coleção bem mais antiga, e que tinha capas bem mais feias. O livro que eu tenho nem é tão velho assim - comprei em junho de 1991, como anotei com marca-texto azul numa das páginas iniciais - mas já está esfarelando. Nem meus dez volumes da Inspetora, bem mais antigos, estão tão acabados. Nem meu Ernani Silva Bruno, de 1954. E o que eu sinto quando vejo o Seis propostas... esfacelado não é dó, não é tristeza: é orgulho. Isso é que dá ler demais, e eu definitivamente sou do tipo que deixa o livro aberto pra marcar a página, ou marca com a orelha, que anota a lápis, volta a anotar com caneta, e depois com canetas de outras cores de acordo com as releituras, e que comenta as anotações. Só não entendo por que nunca consegui dobrar as pontas das páginas para me lembrar onde parei a leitura; como a camareira do Ex-libris de Anne Fadiman, vai ver eu acho que o livro podia sofrer.

Seis propostas... reúne cinco textos que Italo Calvino preparou para uma série de conferências em Harvard. Morreu antes de completar o sexto, mas o trabalho que deixou vale por toda a sua obra. Segundo o escritor, a literatura deve se basear em leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. Não preciso nem pegar o livro na estante para me lembrar de um exemplo de leveza, o trecho de um poema de Leopardi que falava sobre a lua (...luna, cara luna, che fai tu in ciel? dimme, che fai?...). Um não, dois trechos de dois poemas - em 1991, eu ainda estudava italiano e gostava de declamá-los como se fossem um só. É esquisito pensar agora, ao escrever esse post, que meu livro preferido de Calvino pregue virtudes que eu não sei se consigo aplicar na escrita ou na vida. O novo milênio já chegou e anda correndo. Mas onde a leveza, onde a exatidão?

terça-feira, 15 de julho de 2008

Pós-escrito a O nome da rosa

Pós-escrito a O nome da rosa
Umberto Eco (Nova Fronteira, 1993)

Quando eu li esse Pós-escrito... pela primeira vez, pensei em Monteiro Lobato no capítulo em que Umberto Eco escreve sobre os mundos imaginários - na verdade sobre qualquer mundo ficcional, ainda que ele tenha existido mesmo, como a Itália medieval em que ambienta seu O nome da rosa. Não tenho dúvida de que Eco resume, ali, a regra mais básica de qualquer romance bem-sucedido: entender o universo do qual se fala, ainda que boa parte desse conhecimento nem chegue perto das páginas finais. (J.K. Rowling mostrou-se uma aluna nota 10 em sua saga de Harry Potter.)

Portanto, muito mais do que servir como um complemento ao thriller medieval, o Pós-escrito... é o making-of de O nome da rosa. Nele Umberto Eco explica, por exemplo, por que as 100 páginas iniciais do livro são tão chatas. E, com sua narrativa envolvente, ele nos deixa com vontade de voltar ao thriller mais uma vez.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Histórias de cronópios e de famas

Histórias de cronópios e de famas
Julio Cortázar (Civilização Brasileira, 1998)

Passei os últimos 15 anos da minha vida tentando descobrir se eu sou mais cronópio ou mais fama. É claro que somos todos um pouco de cada - mas eu me lembro de que o homem que me falou desse livro pela primeira vez achava que eu podia tentar ser um pouco mais cronópio. E não é raro acontecer de eu tomar uma decisão, ou uma atitude, e ficar me questionando se isso é coisa dos destrambelhados cronópios ou dos famas chatos e organizados, que não têm qualquer imaginação.

Aí eu sempre me lembro que a resposta mais próxima para a pergunta "quem sou eu?" está mesmo no livro. Julio Cortázar, o escritor com cara de gato, evidentemente não me conheceu. Mas ninguém poderia ter me descrito de maneira melhor do que ele, no textinho A foto saiu fora de foco. É a história de um cronópio.

domingo, 13 de julho de 2008

Enxaqueca

Enxaqueca
Oliver Sacks (Companhia das Letras, 1996)

Uma vez eu fui à oftalmologista porque estava vendo umas bolinhas pretas que começavam no canto inferior esquerdo do meu raio de visão e iam subindo numa diagonal meio circular até desaparecerem um pouco acima do meu nariz. A médica olhou, olhou, fez mil exames e não descobriu nada de errado com os meus olhos (ainda bem; tenho pânico de que aconteça alguma coisa com os meus olhos).

Ano passado, ao ler esse Oliver Sacks, descobri que eu não estava ficando louca, apesar do olhar desconfiado da médica: quem sofre de enxaqueca, como eu, realmente pode detectar alguns objetos não identificados em seu campo de visão - e não é preciso estar com a cabeça estourando de dor para isso. De uma maneira meio mórbida, é reconfortante ler sobre o mal que me aflige. Sei que não sou a única. E, como disse Oliver Sacks, para meu espanto e desânimo, o bom da enxaqueca é que ela não mata. O ruim é que não tem cura.

Plastic surgery without the surgery

Plastic surgery without the surgery
Eve Pearl (Warner Books, 2004)

Basta encontrar um/a ator/atriz ou modelo ao vivo para sacar, cara a cara, o que a maquiagem é capaz de fazer - eles nunca têm aquele rosto perfeito que aparece nas telas da TV ou nos anúncios das revistas. Munido dos pincéis certos, cremes, pós e quetais, os maquiadores profissionais conseguem fazer sumir olheiras, diminuem o tamanho dos narizes, aliviam papadas e rejuvenescem a pele.

Eu sempre fui uma tapada com sombras, blushes, bases e corretivos. Aí encontrei esse livro numa Barnes & Noble de Nova York. Comprei porque tem várias fotos e séries de passo-a-passo que ensinam - ou tentam ensinar - gente como eu a corrigir imperfeições da pele, valorizar os olhos, aumentar os lábios e até disfarçar tatuagens. Não, eu não quero apagar a minha tatuagem. Mas foi bacana descobrir que, com os pincéis certos e as sombras nos tons que me favorecem, eu me olho no espelho de manhã com muito mais alegria.

sábado, 12 de julho de 2008

O homem que comeu de tudo

O homem que comeu de tudo
Jeffrey Steingarten (Companhia das Letras, 2000)

Quando Jeffrey Steingarten decidiu trocar a profissão de advogado pela de crítico gastronômico da revista Vogue, impôs a si mesmo um teste rigoroso: ele devia fazer um esforço e passar um tempo comendo várias das coisas de que não gostava. Ou, como ele mesmo diz, teria que enfrentar suas fobias alimentares. E passou no teste, salvo algumas exceções - ele continua sem comer sobremesas em restaurantes indianos, que para ele têm gosto e textura de cremes faciais (e fala mal do rasmalay, um delicioso creminho de leite com cardamomo! Ele podia tentar o do Govinda, em São Paulo).

Ou seja: Steingarten se propõe a comer de tudo mesmo. Pode ser o caríssimo bife de gado wagyu japonês, tratado com cerveja e massagem. Podem ser trufas que ele viu serem rastreadas pelos cães farejadores do Piemonte, na Itália. Mas também podem ser pombos recheados, miúdos e vísceras, um porco inteiro - adoro esse capítulo, sobre um concurso de porco assado em Memphis (ando com mania de costelinhas suínas). O principal é que Steingarten é muito mais bem humorado que vários de seus colegas escritores (como Anthony Bourdain, que depois de desvendar os bastidores dos restaurantes saiu pelo mundo escrevendo sobre viagens gastronômicas). O homem que comeu de tudo só tem um problema: não dá pra ler quando a gente está com fome.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Livro do desassossego

Livro do desassossego
Bernardo Soares (Companhia das Letras, 2006)

Faço questão de registrar o nome correto do autor: Bernardo Soares. Um dos vários heterônimos de Fernando Pessoa. Se o sujeito escreveu e assinou como Bernardo Soares, é assim que o nome deveria aparecer na capa - mas Fernando Pessoa, da mesma forma que Borges e Bioy Casares, vende mais... Que raiva, e que falta de respeito. Meu nome verdadeiro não é Isabel Pinheiro. Mas é como Isabel que eu escrevo. Eu me sinto à vontade na pele de Isabel. Odiaria morrer e saber que alguém publicou o que escrevi porque meu outro nome, o que está no RG, conta mais que o pseudônimo. Ainda bem que morre-se, pronto.

Não conheço tanto de Fernando Pessoa e de seus heterônimos quanto poderia conhecer; nunca sei se o homem do interior é Álvaro de Campos ou Alberto Caeiro. É que comecei Pessoa aos 16 anos, com o Livro do desassossego. E Bernardo Soares assusta. Pela vida medíocre, pela desilusão constante, pela visão acanhada, pelas frases anavalhadas. O Livro do desassossego é cruel: se você está bem e o pega pra ler, fica mal; se você está mal e o pega pra ler, tem vontade de cortar os pulsos - daí vem meu medo respeitoso por Pessoa. Mas Bernardo Soares conseguiu ser genial. É dele uma frase que serve de epígrafe não apenas para o que quer que eu possa escrever, mas para a minha vida: "Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir."

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Cozinha confidencial

Cozinha confidencial
Anthony Bourdain (Companhia das Letras, 2001)

O mundo da gastronomia perdeu muito de seu glamour quando o chef americano Anthony Bourdain resolveu contar, de verdade, como é que funciona um restaurante - no caso, o Les Halles, em Nova York, o bistrô onde ele trabalha (ou pelo menos trabalhava antes de virar chef-celebridade e começar a rodar o mundo atrás de receitas e ingredientes inusitados, matéria-prima para novos livros e para um programa de televisão). Cozinha confidencial, portanto, não tem nenhuma receita apetitosa. E pode até fazer os estômagos muito sensíveis perderem a vontade de sair para jantar.

É que na cozinha de Bourdain - e de boa parte dos restaurantes, segundo ele - não faltam junkies, ferimentos, imigrantes ilegais, erros, uma sujeira aqui e ali, trapaceiros, palavras do mais baixo calão. Parece, e é, assustador. Bourdain conta sua história sem esconder que não é um grande chef. E entrega vários truques que nem a clientela mais fiel consegue identificar. Pedir um bife bem passado, por exemplo, é a deixa para receber a pior parte da carne. E peixes, às segundas-feiras, nem pensar: nesse dia o mercado profissional não abre e vão te servir um produto da véspera, ou congelado. A regra vale também para São Paulo. E principalmente para peixe cru.

A vaca voadora

A vaca voadora
Edy Lima (Global, 2007)

Era tão bom quando as histórias infantis podiam ser o que bem quisessem, sem se preocupar com lições de moral ou com o politicamente correto, quando existiam em mundos que não precisavam seguir a lógica e a coerência - Harry Potter não vale, porque trata de um universo mágico, sim, mas totalmente lógico e coerente. Edy Lima, com sua série de aventuras da Vaca Voadora, foi uma das mestras desse gênero que eu nunca mais vi.

As histórias da Vaca eram narradas por Lalau, um garoto de 6 anos que vivia com as tias Maricotinha, cozinheira incansável, e Quiquinha, uma séria alquimista. Um dia aparece o primo Gumercindo, trazendo uma vaca de presente para as tias. A Vaca (agora com maiúscula, que já virou parte da família) bebe o elixir de levitar de tia Quiquinha. E Lalau sai voando em cima dela. A série teve outros livros - A vaca na selva, A vaca deslumbrada -, mas foi o primeiro que abriu, para mim, o delicioso mundo do surrealismo infantil.

Alfabeto literário

Alfabeto literário
Loredano (Capivara, 2002)

Tem livro de ver que é quase tão excitante quanto livro de ler - principalmente ao tratar da própria literatura, como este. A idéia, simples - escritores relevantes de todas as épocas, brasileiros e estrangeiros, retratados nas caricaturas de Loredano - ganhou uma execução primorosa, na linha dos melhores coffee table books.

O título se justifica pela maneira como é organizado: vai de A (Almeida Prado, Décio) a Z (Zweig, Stefan). Como é de praxe em caricaturas, cada desenho, acompanhado por uma pequena informação biográfica, explora os traços físicos mais marcantes dos retratados. É assim com as olheiras de Paul Auster, o nariz de Dante, a cara de gato de Cortázar. Já tentei brincar de adivinhar quem era quem só de olhar para o desenho. E cheguei à conclusão de que sou muito melhor para guardar nomes do que fisionomias...

domingo, 6 de julho de 2008

Almanaque dos anos 80

Almanaque dos anos 80
Luiz André Alzer e Mariana Claudino (Ediouro, 2004)

Uma garota que trabalha comigo define a adolescência como "a fase trevas" de qualquer ser humano. Então dá pra imaginar o que foi ter sido adolescente nos anos 80. Eu estive em uma festa "new wave" vestida com roupas fosforescentes. O figurino básico era calça OP e tênis quadriculado. Nas festinhas, a gente dançava de rosto colado ao som do Lionel Richie. Simon Le Bon era o homem mais bonito do mundo e toda menina queria ter o cabelo da Malu Mader na novela Tititi.

Pois os autores desse manual - um sucesso que deu origem a uma série de outros livros do gênero, alguns tão bizarros quanto O manual do Fusca - não fizeram outra coisa senão compilar todas essas referências e juntá-las num almanaque divertidíssimo, capaz de fazer voltar no tempo a mais desmemoriada das criaturas. Melhor ler sobre os anos 80 do que rever coisas dos anos 80. Infelizmente, TV Pirata e Armação ilimitada já não têm a menor graça.

El origen de los nombres de los países del mundo

El origen de los nombres de los países del mundo (y de muchas de las islas que éstos poseen)
Edgardo Otero (De los cuatro vientos editorial, 2003)

Quando estive em Buenos Aires pela última vez, em dezembro de 2004, fiquei revoltadíssima: primeiro com o preço dos livros, lá tão acessíveis e aqui tão altos, e depois por até hoje não ter tido coragem de estudar espanhol. Não adianta, não consigo ler romances no idioma, por mais semelhanças que ele tenha com o português - da mesma maneira, morro de vergonha de falar portunhol e geralmente não abro a boca nos países latinos que visito.

Mas, em Buenos Aires, a fome de comprar falou mais alto, então resolvi trazer esse livro de referência que encontrei numa pequena livraria de esquina, em Palermo Viejo. Romance eu não encaro, mas textos curtos e explicativos dá pra ler sem (quase) nenhum problema. E assim aprendi que o nome Áustria - Oesterreich, em alemão - data do ano 996 e quer dizer "terras do leste". E que a ilha de Mindanao, nas Filipinas, foi batizada em função de seus lagos: "min" quer dizer "país" e "danao", "lagoas". Cultura inútil? Curiosidades. Não é à toa que o livro, no Brasil, foi lançado pela editora Panda, que detém toda a coleção do Guia dos Curiosos.

Alta fidelidade

Alta fidelidade
Nick Hornby (Rocco, 1998)

Assim como O diário de Bridget Jones é um livro de menina - menino não entende e não acha graça -, Alta fidelidade é um livro de menino. Aliás, Nick Hornby é um autor de menino, e por isso eu costumo gostar mais dos filmes baseados em suas histórias do que da escrita em si. Foi assim, pelo menos, com Alta fidelidade e Um grande garoto. (Mas admito uma certa vontade de ler Uma longa queda, lançado aqui em 2006, que reúne quatro suicidas no terraço de um prédio londrino na noite de ano novo.)

Então o melhor de Alta fidelidade são as listas, mas elas funcionam bem melhor na voz de John Cusack, o ator que dá voz a Rob Fleming, o narrador. Os cinco maiores foras que eu levei. As cinco melhores músicas para ouvir depois de levar um fora. As cinco melhores bandas dos anos 60. Sei lá - com exceção da primeira, estou inventando as listas, porque não me lembro de todas elas. Como Rob Fleming é dono de uma loja de LPs antigos e tem um excelente gosto musical, a trilha sonora do filme também é ótima. Veja o filme, ouça o disco; no meu caso, ambos agradaram mais do que o livro.

Seis problemas para dom Isidro Parodi / Duas fantasias memoráveis

Seis problemas para dom Isidro Parodi / Duas fantasias memoráveis
H. Bustos Domecq (Globo, 2008)

A capa do livro revela seus verdadeiros autores: Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares, que nos anos 40 escreveram, a quatro mãos, algumas histórias assinadas com o pseudônimo de H. Bustos Domecq. E já que Domecq resultou em algo muito diferente das escritas de Borges e de Bioy Casares, nada mais justo que conceder ao livro sua real autoria - claro que, por razões mercadológicas, não é Domecq que aparece na capa...

Preciso admitir que não li as Duas fantasias memoráveis. Os Seis problemas... já haviam me cansado muito. Borges e Bioy - ou melhor, H.B.D. - não economizaram na verborragia de seus personagens, em discursos capazes de entediar até dom Isidro Parodi, feito presidiário por engano e alçado ao posto de detetive; que dirá o leitor. O melhor do livro, portanto, não está nele, e sim na idéia dele. Na possibilidade de dois amigos escreverem juntos da maneira que melhor lhes aprouvesse, sem qualquer compromisso estilístico, com a crítica, com ninguém. Eu quase consigo imaginar os dois sentados à mesa da fazenda de Bioy, rindo às gargalhadas com as private jokes que inseriram nas histórias. E quase consegui fazer isso uma vez, porque escrever em dupla algo um tanto nonsense e cheio de referências pessoais é um dos grandes sonhos que ainda mantenho. Encontrei meu Borges - porque eu sou muito mais Bioy -, mas assim como seu herói argentino, ele ficou cego antes do tempo.

Flicts

Flicts
Ziraldo (Melhoramentos, 2003)

Eu não esqueço a emoção de ter chegado ao fim de Flicts pela primeira vez, e sou capaz de sentir o mesmo arrepio de grand finale sempre que o leio de novo - pra completar, me lembro da frase final cantada apoteoticamente num musical gravado em disco acho que nos anos 80, mais um motivo para eu me emocionar. Sempre gostei de finais apoteóticos.

Esse talvez seja o melhor livro infantil de Ziraldo, junto com O menino maluquinho. Conta a história de uma cor, Flicts, que não existia em lugar nenhum do mundo, nem na natureza, nem nas caixas de lápis coloridos. Flicts então era esnobado, botado pra escanteio pelas outras cores, e tinha uma auto-estima no pé. Até que... A tentação de reproduzir aqui a frase final do livro é grande, mas prefiro guardá-la do meu jeito emocionado.

Em alguma Bienal do Livro dos anos 90, Ziraldo causou polêmica ao criar um botton que dizia "Ler é mais importante que estudar". Concordei inteiramente. Por essas e outras, eu o tinha como uma espécie de modelo das coisas sensatas da vida. Até que, no começo dos anos 2000, eu esperava pacientemente numa fila de embarque enorme no aeroporto Santos Dumont, no Rio, até fazer o check-in para São Paulo. De longe, lá vem ele: cabelos brancos bem cuidados, o colete inseparável. E Ziraldo, então... fura a fila, alegando um compromisso, e embarca antes de todo mundo. Flicts teria se envergonhado.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

As crônicas de Nárnia

As crônicas de Nárnia - O leão, a feiticeira e o guarda-roupa
C.S. Lewis (Martins Fontes, 2006)

Quando soube que eu gostava de literatura infantil, um ex-chefe recomendou: "Você precisa ler O leão, a feiticeira e o guarda-roupa". Eu devia saber: foi o pior chefe que eu já tive, e nenhuma indicação vinda dele poderia ser boa. Detestei o livro. Por mais badaladas que sejam as crônicas de Nárnia, não consigo ver a menor graça. É tudo tão empolado e tão frio, não sinto a menor empatia pelos personagens e pela trama.

Não ajuda em nada sacar que, com a história dos quatro garotos que se perdem no reino gelado de Nárnia, lutam contra uma feiticeira e esperam pela volta de um leão salvador do mundo, C.S. Lewis não cria nada além de uma óbvia metáfora do cristianismo. Seu caminho seguiu o de dois colegas eruditos de Oxford, J.R.R. Tolkien e T.S. Eliot, dedicados à fé cristã. Para mim, no fim de tudo isso, segue apenas uma pergunta sem resposta: por que raios os três amigos resolveram assinar suas obras com os primeiros nomes abreviados?