Harry Potter e as relíquias da morte
J.K. Rowling
Acho que não existe nada pior para um leitor compulsivo e ansioso do que uma história publicada em série. Quando o primeiro Harry Potter saiu em português, eu decidi: não vou morrer antes de ler o último episódio dessa saga. E pelos sete anos seguintes eu quase virei uma fanática dessas que discutem a trama em fóruns na internet e vão ao lançamento vestidas de Hermione. Li os dois primeiros volumes em português e a partir do terceiro eu só não ficava na fila da livraria, esperando as caixas serem abertas, porque já tinha encomendado o meu livro em inglês pela Amazon e lido tudo antes que ele chegasse aqui.
Eu gosto muito da boa literatura infanto-juvenil (tá, e da ruim também, desde que traga queridas lembranças da infância), mas não pensei que fosse cair tanto de amores por Harry Potter; no início, até torci o nariz pela badalação excessiva. Só que quando a curiosidade venceu e eu comprei o primeiro volume, a surpresa foi enorme: desde Monteiro Lobato, eu nunca tinha visto alguém criar um mundo de fantasia tão coerente e interessante. (Declaração: acho Tolkien muito, muito chato.) Pra completar, a história é ótima e tem uma dose certa de mistérios e revelações - você sai de cada livro com algumas dúvidas respondidas e outras ainda mais intrigantes.
A trama é manjadíssima (aos 11 anos, Harry Potter descobre que é bruxo, que seus pais morreram para salvá-lo do terrível vilão Voldemort e que ele, de alguma forma, tem seu destino ligado ao coisa-ruim do mundo mágico) e enorme (são sete livros! Tem gente que morre, que surge, segredos, aulas de magia, viagens, jogos de quadribol...). E não é porque pertence a um mundo diferente que Harry se vê livre das dores e aflições comuns a todo ser humano. Ao longo da saga, ele briga com os amigos, vira um adolescente chato, vê muita gente querida morrer e carrega nas costas um peso de culpa e confusões que o faria passar uns bons anos no divã.
Abri As relíquias da morte com um certo receio: e se J.K. Rowling resolvesse jogar fora tudo o que escrevera antes e apelar para um final meloso e maniqueísta? Não foi o que aconteceu. O sétimo volume é, certamente, o melhor de toda a série, onde tudo se encaixa e se explica. Pensando bem, até mesmo o epílogo, que de início achei dispensável, tem lá sua razão de ser. Agora eu já posso morrer - bem, pelo menos enquanto Rowling não inventar algo parecido outra vez.
PS. Apesar de eu ter lido a maior parte da saga em inglês, é preciso elogiar a excelente tradução de Lia Wyler, que conseguiu captar a essência dos neologismos latinistas de J.K. Rowling e criar termos em português à altura. Deu um show.
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Um comentário:
Finalmente alguém concorda comigo! Tolkien é um chato e Harry Potter é um livro bem escrito e desenvolvido.
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