Hiroshima
John Hersey (Companhia das Letras, 2002)
Ter ouvido falar de Hiroshima já é horrível o suficiente (aos 9 anos, eu descobri a existência da bomba atômica e fui tomada por um medo terrível de que o mundo pudesse acabar a qualquer momento; só fui sentir medo tão grande outra vez nos atentados de 11 de setembro). Ler sobre Hiroshima, então, provoca na gente um horror asqueroso - mas essa grande reportagem de John Hersey, escrita um ano depois da bomba, é fundamental para saber a real dimensão do que foi tudo aquilo, ainda que detalhes de corpos carbonizados e gente morrendo não seja exatamente agradável.
Hersey conta a história da bomba sobre Hiroshima a partir do relato de seis sobreviventes: uma arquivista, uma dona de casa, dois médicos e dois religiosos, um deles alemão. Suas lembranças, aliadas a uma boa pesquisa histórica, revivem o dia 6 de agosto de 1945 pelo cotidiano de pessoas comuns - a guerra, com suas invasões européias, ataques aos Estados Unidos e campos de extermínio, acontecia longe daquela gente. Hersey publicou seu trabalho numa edição especial da revista The New Yorker e, quarenta anos depois da bomba, voltou ao Japão para saber o que havia acontecido com seus seis entrevistados. É essa a horrível história de Hiroshima, leitura fundamental pra entendermos do que nós próprios somos capazes.
PS: Minha amiga K., de espantosa memória, lembrou-se que John Hersey foi o mesmo sujeito que Anne Fadiman (autora do ótimo Ex-libris) acusou de ter plagiado uma reportagem escrita por sua mãe durante a Segunda Guerra e lançada por ele em 1942, num livro chamado Men on Bataan. Em 1988, outra denúncia: Hersey plagiou trechos inteiros de uma biografia (a do escritor James Agee, escrita por Laurence Bergreen) para um artigo na New Yorker. Putz, em 1980 o cara escreveu um artigo dizendo que a regra sagrada do jornalismo é não inventar. Depois, admitiu ter usado material de outros autores em seus escritos. Médico ou monstro? E Hiroshima, onde fica?
segunda-feira, 16 de junho de 2008
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Um comentário:
"Médico ou mostro?" - adorei! =) Assim que terminei Hiroshima, meu encanto/espanto maior nem foi com a história, mas com jeito que Hersey escreveu. Se eu tivesse que escrever sobre esse assunto, teria muita dificuldade para não tornar a matéria mais dramática do que os fatos já são. Ele deixou simplesmente o fato falar por si. Bem, sobre o plágio, meu, isso pesou. Principalmente no meu lado “estudante de jornalismo”. Eu fiquei p-u-t-a na hora.
Mas foi divertido comentar sobre os livros e ir procurar em que página Anne comentou sobre o plágio =). Precisamos ler/descobrir mais livros em comum. Beijos!
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