sexta-feira, 16 de novembro de 2007

O tempo e o vento

O tempo e o vento
Erico Verissimo (Companhia das Letras, 2004)

Não existe um volume único de O tempo e o vento: a obra toda é composta por sete livros, O continente partes 1 e 2, O retrato partes 1 e 2, O arquipélago partes 1, 2 e 3 - o que torna inviável publicá-la numa só edição. Mas acredito que não foi só a extensão da saga que levou Erico Verissimo, um dos escritores brasileiros de que mais gosto, a dividi-la parcimoniosamente. Cada livro funciona muito bem separado do outro, embora o prazer de ler tudo na seqüência seja muito maior do que conhecer cada história aos pouquinhos.

A saga começa em O continente, livro que deu origem aos dois personagens mais famosos da trama: Ana Terra e o Capitão Rodrigo Cambará. Há quem só os conheça com a cara de Glória Pires e Tarcísio Meira, por causa da minissérie da TV; há quem só os conheça pelos episódios isolados em que aparecem, tirados do contexto da epopéia e editados para leitura obrigatória em algumas escolas. São, sim, figuras marcantes, cujo espectro perpassa os sete volumes - a força de Ana Terra e o charme de Rodrigo Cambará ajudam a explicar atitudes e a personalidade de vários outros personagens. Mas seria injusto resumir O tempo e o vento apenas à existência dos dois.

Meu personagem preferido, por exemplo, é outro Rodrigo Cambará: o médico, e não o capitão, bisneto do Rodrigo original (uma árvore genealógica cai bem para quem se dispõe a ler a saga dos Terra Cambará). Embora ele apareça nas três partes do romance, é nos dois volumes de O retrato que aprendemos a amar - ou odiar - essa figura polêmica. Encantador, dissimulado, oportunista, vaidoso, cruel, mentiroso. Apaixonante. Eu me apaixonei de verdade por ele, torci por ele, sofri com ele; e nem quero saber que cara ele tinha na minissérie. É esse Rodrigo Cambará, tão humanamente imperfeito, a verdadeira força motriz de O tempo e o vento.

Na terceira parte do livro, O arquipélago, a ação e emoção que tomam conta de O continente e O retrato dão lugar principalmente às reflexões de Floriano, um dos filhos de Rodrigo, e à situação política da qual o médico foi ativo participante. Quem se interessar pela política gaúcha e brasileira de meados do século 20 encontra no romance um ótimo complemento para as aulas de história. Não foi o meu caso. Curti como poucas vezes, isso sim, uma obra que não deve nada à melhor literatura do mundo, e que dá a Erico Verissimo o direito de ser chamado de Escritor com letra maiúscula.

Atualização: E para quem chegou até esse post porque digitou "árvore genealógica de O tempo e o vento" no Google, sinto muito. Vai ter que procurar em outro blog, abrir o bolso e comprar os Cadernos de Literatura sobre o Erico Verissimo ou, muito melhor, largar a preguiça de lado e partir para a leitura dessa obra-prima.

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