A invenção de Morel
Adolfo Bioy Casares (Cosac Naify, 2006)
A comparação pode até parecer injusta, mas eu não me conformo que não se fale tanto de Bioy Casares como se fala de Borges. Argentinos, contemporâneos, amigos - mas Bioy Casares, pra mim, foi muito melhor e mais interessante do que o colega (ok, admito abertamente: acho Borges um chato). Seria injusto classificar A invenção de Morel apenas como ficção científica, embora seja, e das boas (ninguém me tira da cabeça que os criadores de Lost beberam na fonte de BC). Mas junto vêm o thriller, a investigação, o romance, o drama humano.
O livro é narrado por um fugitivo da Justiça, que não se sabe que crime cometeu, e que escreve um diário durante sua estadia na ilha onde vai parar depois de escapar da prisão. A ilha, dizem, foi abandonada por causa de uma estranha doença que corrói as pessoas. Mas não é o que parece acontecer, pois logo o narrador percebe que há mais gente ali além dele - principalmente uma jovem, Faustine, por quem ele se apaixona e que não se dá conta de sua presença na ilha. Livro bom é o que dá aflição, e dá aflição ver como o narrador inutilmente quer se fazer notar, e como ele persegue Faustine e os outros habitantes até descobrir que eles não existem: a invenção de Morel é uma máquina que retém as feições e vozes das pessoas, mas que com o tempo contamina os retratados até a morte. O final é esperado, mas não poderia ser diferente: só mostra o domínio de Bioy Casares numa narrativa que o amigo Borges (chatinho, mas respeitado) chamou de "perfeita".
sábado, 27 de outubro de 2007
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2 comentários:
Contos de Amor foi o que li do Bioy Casares. E saí muito bem impressionado.
Ah, então, leia "A invenção de Morel". Vc ficará impressionadíssimo! É incrível como ele consegue de forma reduzida, profunda e completa contar uma história. Em suma, dizer muito em poucas palavras. Gostei muito desse livro, especialmente, a partezinha que ele descreve o que é uma conversa.
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