Manual de estilo
Ana Cury (CosacNaify, 2005)
Comecei a escrever esse blog por sugestão da muito querida Mari, que estava organizando um site cultural e me pediu sugestões literárias. Gostei da ideia porque livros talvez sejam meu assunto preferido, mas também porque eu sou muito, muito chata, e achei que num blog poderia reclamar dos defeitos que encontro tantas vezes nos livros que compro; acho que os dois piores casos estão aqui e aqui.
Eu trabalho em uma das maiores empresas de comunicação do país. Sou responsável pela edição de publicações que, quando saem com erros, podem causar muita dor de cabeça aos leitores. Minha equipe funciona em estado constante de alerta, nosso empenho na checagem das informações é super rigoroso e, mesmo assim, é inevitável: erros acontecem. Um nome digitado com a grafia errada. Um telefone que mudou. O prazo apertado que não permitiu uma revisão mais profunda. Uma droga. "Errar é humano" é muito fácil de dizer para os outros, mas difícil de assimilar quando você sabe que vai amargar a sensação de que talvez pudesse ter evitado o erro.
Tudo isso para dizer que, mesmo conhecendo de perto a probabilidade de erros, acho inconcebível que eles apareçam numa publicação como esse Manual de estilo, lançado por uma editora que respeito, e que li hoje de uma sentada, na Fnac Pinheiros. O primeiro desaforo: o livro estava shrinkado, envolto em plástico transparente. Eu não tive dúvida em arrancá-lo. Como é que poderia comprar um livro de R$ 60 sem saber do que se trata? Tirado o shrink, aparece o erro de conceito: de manual, ele não tem nada. É um trabalho bonito, fotos de belas modelos vestindo belas roupas, com páginas recortadas para que a parte de cima de uma produção possa ser vista com a parte de baixo de outra - assim os looks se multiplicam. O caso é que, para ser manual, teria que vir com dicas, regrinhas, princípios. Não vem; no máximo, compila meia dúzia de conceitos batidos sobre moda (que, ahá, não é a mesma coisa que estilo). Trata-se, na verdade, de um grande editorial, e datado; mas você só vai descobrir que a autora fala de tendências para 2005 se tiver curiosidade de ler a ficha catalográfica, como eu tive.
Por fim, o que me deixa com mais raiva. A cada duas páginas há um textinho de, no máximo, duas frases curtas. E, nelas, erros como "a bermuda é um acaso à parte", "tons pásteis", "tricô e um colar vai bem". Não dá pra dizer que foi erro de digitação. Nem que houve revisão. E, certamente, dada a qualidade da produção fotográfica, dinheiro não faltou para isso.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
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4 comentários:
Caramba, Isabel. "Tons pastéis" já seria errado (como você sabe, é "tons pastel", assim como "camisas cinza" e "calças laranja"). Mas tons PÁSTEIS já deixou de ser erro para ser sofisticação pura -só a Cosac pra inventar o adjetivo "pástil" (eles bem que podiam explicar o que é, though (=). E esse tipo de desleixo também me irrita bastante.
Beijos!
Meu preferido ainda é "a bermuda é um acaso à parte". Amei!
Muito bem, isabel, assim é que se faz. Sua crítica é super correta (com hífen? hífen ainda tem acento? oh, céus...), mas eu me sinto um tantinho culpada pq publiquei agora um livrinho e saiu com erros, apesar de eu ter revisado umas três vezes, mas estava cansada e deixei passar o que não podia, chato isso.
Enfim, procuro não encanar porque o que não tem remédio etc., mas vc tem razão.
beijos,
clara lopez
Oba, Clara, que livrinho é? Parabéns! Eu acho que a revisão não pode ser feita apenas pelo próprio autor - a gente está muito por dentro de tudo, deixa de ver coisas óbvias que poderiam ser mudadas. É fundamental que um outro ser humano leia pra pegar o que a gente não enxerga mais. Mas eu sei que nem sempre é possível... Bjs, Isabel
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