terça-feira, 9 de setembro de 2008

Rolling Stone

Rolling Stone - As melhores entrevistas da revista Rolling Stone
Jann S. Wenner e Joe Levy (Larousse do Brasil, 2008)

Se eu fosse tradutora e me deparasse com um trecho que, traduzido, daria em "Em Bonequinha de Luxo, era isso o que Holly Golightly costumava fazer, todas as vezes que ela fazia o que costumava chamar de 'os significados vermelhos'. Ela costumava ir visitar o iaque no zoológico.", eu certamente saberia que alguma coisa estava errada. Não vou nem entrar no mérito da péssima construção das frases. Mas que raios quer dizer "significados vermelhos"? Como eu saberia tratar-se de uma frase de Truman Capote, iria pesquisar em seu livro, Bonequinha de luxo. E veria que mean red não quer dizer, nem aqui nem na China, "significados vermelhos". Mean red é um estado de espírito, como a personagem mesmo explica. Mean red é estar na pior.

Ok, admito a fase de extremo mau humor com erros de tradução e revisão. Mas como é que alguém deixa escapar uma bobagem desse tamanho? O tradutor não viu que a frase não faz o menor sentido? O editor? O revisor? E piora. Na mesma entrevista de Truman Capote para Andy Warhol, o tradutor indica que os dois estão "No bar Carlyle do Hotel", assim mesmo. Qualquer pessoa minimamente informada sobre a Nova York da época - sobre Nova York, de maneira geral - saberia que os dois estavam no bar do hotel Carlyle. E não, "ordinarily" não significa "ordinariamente", e sim "normalmente, costumeiramente, em geral".

As entrevistas da revista americana Rolling Stone com gente como Jim Morrison, John Lennon, Joni Mitchell, Capote, Coppola, Eric Clapton, Mick Jagger, Bill Clinton e o Dalai Lama, entre outros, são um tesouro. Que foi tratado como lixo nessa edição brasileira da Larousse. Eu já tinha desconfiado das entrevistas de Jim Morrison e John Lennon, duas figuras tão ricas e que aparecem tão sem graça no livro, como se todas as suas respostas tivessem sido dadas no mesmo tom, monocórdias, sem ênfase em nada. Quando cheguei no Capote, quase enfartei. É mesmo pedir muito que um livro seja tratado com o respeito que merece?

2 comentários:

Anônimo disse...

Isabel,

Daqui a pouco você já pode escrever um livro sobre erros em outros livros...
Nós precisamos de mais leitores críticos, continue postando!

Isabel Pinheiro disse...

Seoman, o pior é que isso me deixa triste pra caramba... Eu sei (e você deve saber também, já que está no ramo) que errinhos passam, sim. Paciência. Mas editar alguma coisa deliberadamente mal feita, como aparenta ser esse livro da Larousse, caramba, dói. Eu avancei na leitura e encontrei coisas muito piores, parece que colocaram o texto original no tradutor da Babylon e publicaram assim mesmo.
Por mim, os erros deviam se restringir às histórias folclóricas, como aquela célebre do Machado de Assis em (acho que) Crisálidas, quando o tipógrafo trocou, no prefácio, o E por um A na palavra "cegara". Aí sim é divertido, mas imagina o pobre Machado, na época... Um abraço