segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O dicionário das palavras esquecidas

O dicionário das palavras esquecidas
Lutécio Jordão

Apenas duas pessoas, no mundo inteiro, sabem do meu envolvimento com os diários de Lutécio Jordão: a maneira como os cadernos chegaram até mim, o trabalho de recuperação que ando fazendo, as dificuldades de se estabelecer uma cronologia e a árvore genealógica do autor. Ele, um sujeito que no começo colaborou muitíssimo, mas que espero nunca mais ver na vida. Ela, uma amiga querida que incentiva e cobra o andamento do trabalho (calma, K., um dia sai).

Dizem que o Brasil não tem memória, e eu concordo em boa parte com isso. Em tempos de novo acordo ortográfico, a maioria só desce a lenha; ninguém para pra pensar que já houve mudanças anteriores e pra melhor, nem sacam que o idioma é assim mesmo, vivo, e ainda bem que o seja. O velho e ranzinza Castro Lopes esteve aí pra mostrar isso: nem seus neologismos inventados com base em nossas raízes gregas e latinas pegaram - com a honrosa exceção pra palavra "cardápio". Então eu me sinto orgulhosa por ter conseguido chegar às idéias de Lutécio Jordão e ao trabalho que ele tão diligentemente organizou. Só ele, mesmo, pra distinguir cofalugia de colufagia - e essas são apenas duas das palavras esquecidas que ele recuperou.

2 comentários:

Rogério/Ruy disse...

Bom, Isabel, nem todo mundo que reclama do novo acordo é contra reformas em si, né? É evidente que, se elas não existissem, estaríamos todos escrevendo como os trovadores do tempo de dom Dinis. O que eu e outros achamos é que a última reforma tem coisas francamente pífias. Exemplo: embora a maioria dos acentos diferenciais fosse mesmo dispensável, a eliminação do acento em "pára" gera ambiguidade, dependendo do contexto. OK, digamos que a intenção dos reformistas tenha sido dar de ombros pra eventuais ambiguidades. Se é assim, por que o acento em "pôr" foi preservado? Mais injustificável ainda -por que o circunflexo em "fôrma" voltou? Não faz nenhum sentido.

Quanto ao assunto do post, soa um pouco Enrique Vila-Matas, não? Boa sorte na empreitada. Um beijo.

Isabel Pinheiro disse...

Acho que fôrma é opcional, o que é ainda mais bizarro. Eu gosto, mas vou passar a escrever sem acento, paciência. Só pra ficar nos hífens, também acho que há falhas no acordo - mas, outra vez, o que se há de fazer? Já aprovaram e creio que seja difícil voltar. Acordei hoje muito conformista... :-)

Quanto ao projeto, that's it. Eu já falei, né, que queria ter um Vila-Matas de estimação... Na falta de um, vamos de Lutécio Jordão. Beijo