domingo, 31 de maio de 2009

O pequeno dicionário da moda

O pequeno dicionário da moda
Christian Dior (Martins Editora, 2009)

Minha cabeça de editora questiona três coisas depois de ter lido este livro. 1) Por que os verbetes estão com o nome em inglês, seguidos da tradução em português? É péssimo para consultar - e trata-se, afinal, de um dicionário. (Ok, existe um sumário, nas últimas páginas, com os termos em português, em ordem alfabética.) 2) Por que imprimir péssimas fotografias preto-e-branco, ainda mais num papel que não ajuda nada a melhorar a qualidade das imagens? 3) Por que, nas legendas, fazer referência aos vermelhos, verdes e amarelos das roupas, se tudo aparece num cinza feio e sem vida? Que ficassem apenas as ilustrações, e sem referência às cores inexistentes.

Tem outra coisa que me incomoda: propaganda enganosa. A quarta capa do livro diz com todas as letras que ele ensina a, entre outras coisas, "amarrar uma echarpe" - assunto que me interessa muito. Pois li de A a Z e não existe informação alguma sobre como dar um mero nó nesse lenço comprido. O dicionário de Christian Dior deve ter tido sua utilidade nos anos 50, quando foi lançado. Lido hoje, não traz nenhuma informação inédita para quem está acostumado aos ensinamentos de Trinny e Susannah ou já absorveu os ótimos conselhos de Nina Garcia. Todos os autores, na verdade, falam sobre a mesma coisa; a mais importante prega que elegância e simplicidade andam juntas. Pena que a editora de O pequeno dicionário da moda não o tenha lançado com fotos mais bacanas e coloridas. Seria uma maneira de preservar, belamente, as referências escritas por um dos maiores estilistas que o século 20 conheceu.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Paris out of hand

Paris out of hand
Karen Elizabeth Gordon (Chronicle Books, 1996)

Comprei este livro numa loja americana que eu adoro, a Anthropologie, e que prima pelo bom gosto das coisas que vende: roupas, acessórios, objetos de decoração, utilidades domésticas e títulos belos e/ou divertidos que dificilmente teriam tanta visibilidade em livrarias comuns. Comprei porque adorei o projeto gráfico e as ilustrações - logo na página 3 há um ex-libris que mostra uma cabeça e, no lugar do cérebro, o mapa dos arrondissements de Paris.

De guia, mesmo, o livro não tem nada. Ou melhor: tem a forma, com divisão de capítulos em Hotéis, Vida Noturna, Restaurantes e Cafés, Atrações, Compras etc. O problema - ou melhor, a grande diversão - é que tudo é inventado. Nenhum hotel, bar, loja ou cinema descritos no guia existe de verdade. Como o Patte a la main, um restaurante para cachorros, e o Parc Chauve-Souris, um parque que só abre à noite e abriga principalmente morcegos. Eu adoraria ver a Eglise des marionettes, onde as marionetes vão para rezar, ou comprar algo na Folio a deux, que só vende coisas em dupla: duas cópias de um livro, obras bilíngues. Imagino que bonitinho: (...) Folio a deux does specialize in books that take on new meanings when read together, one of the endangered if not lost arts of love.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O menino maluquinho

O menino maluquinho
Ziraldo (Melhoramentos, 2008)

Este é o livro que eu dou de presente sempre que algum amigo/amiga conta que vai ser pai/mãe. Sei que o bebê ainda não nascido vai demorar alguns anos pra poder curtir a história do menino maluquinho, mas não resisto ao me lembrar que essa é a infância que eu desejo pra toda criança: com macaquinhos no sótão, fogo no rabo, vento nos pés e o olho maior que a barriga. E o final, assim como o final de Flicts, também do Ziraldo, continua me causando um arrepio de contentamento.

O caso é que tem sido cada vez mais difícil continuar gostando do Ziraldo. Depois do episódio no check-in do Rio de Janeiro, hoje foi a vez de eu ficar com birra dele ao ver o documentário Ninguém sabe o duro que dei, sobre Wilson Simonal. Bom filme, que não transforma o personagem em santo porque foi injustiçado no tempo da ditadura. E injustiçado por uma campanha que, se não começou ali, encontrou uma receptividade imensa no Pasquim de Jaguar e Ziraldo. No filme, Jaguar trata o caso quase como deboche. E Ziraldo até parece que tenta, mas não consegue, justificar o linchamento a que foi submetido o cantor em sua revista - por causa de boatos, não comprovados, de que Simonal seria informante do Dops.

Se não me engano, tanto Ziraldo quanto Jaguar receberam boladas indenizatórias por terem sido perseguidos durante a ditadura. Eu fico pensando se não teria sido o caso de Simonal processar os próceres do Pasquim pelo mesmo motivo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Guia gastronômico de Paris

Guia gastronômico de Paris
Patricia Wells (Ediouro, 1997)

Paris, outra vez, porque eu não vejo a hora de entrar naquele avião e passar uma semana comendo e bebendo sem culpa: pain au chocolat, baguete com camembert, cozinha de bistrô, vinho tinto, vinho tinto, vinho tinto. Não sei até que ponto as indicações deste guia de Patricia Wells (nem só da Provence vive minha autora culinária preferida) continuam válidas, porque o livro já tem mais de dez anos. De qualquer maneira, servem como uma excelente introdução ao tema "comida em Paris" - assim como Elisa Donel, Patricia fala dos queijos, pães, docinhos e restaurantes da cidade com muito conhecimento de causa.

Dureza é não saber onde guardar tanta informação, porque a memória é que não aguenta. Muito menos a mala e a bolsa que eu vou ter que carregar durante a viagem. Hoje um amigo meu aconselhou: "leve talheres para os piqueniques nos parques. E compre copos lá pra tomar vinho de um jeito decente no hotel." Não é má ideia. Isso eu consigo me lembrar. E como escolher entre tantas lojas de queijos, charcuterie, patisseries, boulangeries, onde comprar os ingredientes para o piquenique? Acho que vou ter de dar um jeito de contrabandear a Patricia na mala.

sábado, 23 de maio de 2009

O passaporte do gourmet

O passaporte do gourmet
Elisa Donel (Ediouro, 1999)

Daqui a algumas semanas, se tudo der certo - toc toc toc! - vou xeretar o acervo dos buquinistas na margem do Sena e conferir as prateleiras da livraria Shakespeare and Company, em Paris. E, como faz séculos que estive na França pela última vez e minhas aulas do idioma são uma doce lembrança de um passado distante, comecei a me preparar para a viagem tirando da estante este livro que fala sobre o modo francês de comer.

É praticamente um "tudo o que você precisa saber antes de comer ou beber qualquer coisa na França". Fala da diferença entre restaurantes, bistrôs, cafés, brasseries. Dá o endereço de bons salões de chá em Paris. Traz listas de queijos, manteigas e outros produtos com denominação de origem controlada. Diz como carnes, aves e peixes podem ser preparados (braisé, poelé, sauté, frit, a l'étoufée...). E ainda dá uma aula de história culinária ao traçar o perfil dos chefs que contribuíram para colocar a cozinha francesa entre as maiores do mundo.

Ou seja: funciona maravilhosamente para abrir o apetite antes da viagem e ajuda a nos livrar de grandes roubadas, como a que vivi quando estive em Paris em 1995. Cansada do voo desde Viena, com fome, sozinha e sem falar nem je t'aime, me vi diante de um cardápio em que podia escolher, como plat du jour, entre filé com fritas e andouillete. Mandei ver na andouillete, mesmo sem ter a menor ideia do que fosse. E, quando aquele prato chegou, uma salsichona de aspecto esquisito e cheiro pestilento, dei uma garfada para nunca mais querer chegar perto de andouillete na vida. Só quando voltei ao Brasil foi que descobri do que se tratava: um embutido feito com o estômago, o intestino, o sangue e outros miúdos do porco. Com a Elisa Donel, não corro mais esse risco.

Almanaque das festas instantâneas

Almanaque das festas instantâneas
Chris Campos (Memória Visual, 2009)

Se eu morasse num lugar maior (adoro meu apartamento, mas ele é minúsculo!), onde houvesse espaço para receber diversos amigos, começaria já a colocar em prática as ideias deste livro. Promoveria um "almoço temático de filme". Ou um "jantar dançante". Se eu morasse num lugar maior E tivesse 15 quilos a menos, reuniria as amigas para um chá da tarde "Alice no país das maravilhas", cheio de bolos confeitados, tortas doces e salgadas, sanduichinhos, pãezinhos e biscoitinhos.

Porque Chris Campos deu um jeito de fazer com que as 25 festas temáticas boladas e sugeridas por ela neste livro pareçam fáceis e, principalmente, divertidíssimas. Além delas, há dicas sobre quem convidar, o que fazer e não fazer na hora da reunião, ideias para o figurino e importantes informações logísticas - sim, porque festa de sucesso requer planejamento. Livro também. E dá pena ver que passaram errinhos que poderiam ter sido evitados com uma revisão (para alguns problemas de pontuação) e uma edição (para evitar que termos como "suculento" fossem usados em excesso e da maneira errada) mais atentas.

domingo, 17 de maio de 2009

The Provence cookbook

The Provence cookbook
Patricia Wells (HarperCollins, 2004)

Acordei com vontade de fazer um bolo de peras. Tenho uma receita ancestral da minha avó, usada originalmente para fazer bolo (ou torta, como ela chamava) de bananas, e que vai muito bem com outras frutas - pêssego, principalmente. (Eu poderia comer pêssegos ao longo de todo o ano.) Mas o que estou com vontade de comer é bolo de peras, então fui à estante atrás de uma de minhas autoras de cozinha preferidas: Patricia Wells.

Esse The Provence cookbook é lindo desde a capa, que reproduz um campo de lavanda (outro bolo que preciso aprender a fazer: de lavanda, para aproveitar um potinho que comprei no Dean & Deluca), até o projeto gráfico simples e elegante. Eu sei que peras não estão entre os ingredientes provençais mais típicos, mas imaginei que Patricia Wells não iria me desapontar. E eu tinha razão: um bolo úmido e macio, feito com as frutas que ela cultiva em seu pomar, marca presença entre receitas de pão de polenta com alecrim, galette de abobrinha, linguine com açafrão e daubes (cozidos) de carne com vinho tinto. Agora, só me resta conferir se tenho à mão todos os ingredientes para o bolo.

Bíblia

Bíblia Sagrada
(Editora Vida, 2003)

Eu adoro as listas Top 10 do site do Guardian. Agora à noite, sem sono, resolvi xeretar no acervo de quase 300 listas sobre literatura já feitas pelo jornal. E uma delas - Top 10 books in which things end badly - feita pelo escritor Richard Gwyn, começa pela Bíblia, um livro que sempre rondou nossa vida (ou pelo menos a de quem, como eu, cresceu como católico) como exemplo edificante, moralista, os bons vão para o céu e os maus vão para o inferno, faça o bem e receberás o paraíso.

Gwyn fala especificamente do Novo Testamento - como é que pode terminar bem uma história em que o filho acaba sendo crucificado pela vontade do próprio pai? -, mas quando eu vi a lista me vieram primeiro à cabeça algumas histórias do Velho Testamento. Abraão, por exemplo, que é obrigado por seu deus a sacrificar o próprio filho (tá, ele não sacrifica, mas só porque um anjo o redime na última hora). Jó, que sofre um infortúnio atrás do outro. E Moisés, pra mim a pior delas, porque mostra a crueldade com que pode ser recompensada a fé. O cidadão é separado da família ainda bebê, rompe com a família de criação para libertar os escravos judeus do Egito, lidera o povo pelo deserto durante sei lá quantas décadas e quando, finalmente, consegue ver a terra prometida do alto de um morro, seu deus o avisa de que ele vai morrer antes de colocar os pés lá. É o supra-sumo da sacanagem. Concordo com a lista do Guardian: nada pode terminar pior.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Quase noite

Quase noite
Alice Sebold (Agir, 2008)

A primeira frase, bem interessante: "When all is said and done, killing my mother came easily". E por isso comprei este livro numa edição hardcover americana, por apenas 10 reais, do meu livreiro preferido. Mas, à medida em que a leitura avançava, vi que se tratava de um caso idêntico ao de O que eu amava. Em nenhum momento rolou muito entusiasmo. Não senti aquela necessidade urgente de virar as páginas pra saber o que aconteceria em seguida.

E olha que, nas primeiras 100 páginas - foi até onde eu li - Helen, a assassina, telefona para o ex-marido e confessa seu crime, vai até a casa da melhor amiga e transa com o filho dela, revolve a mente em dezenas de lembranças que tentam mostrar a indiferença, pra não dizer frieza, que a mãe lhe dedicou a vida inteira. O problema é que a narrativa, até bem-escrita, não desperta o menor sentimento. Não dá pra ter raiva da mãe, nem de Helen, nem sentir compaixão pela filha atormentada. Muito, mas muito diferente de um excelente livro sobre disfunções familiares, Precisamos falar sobre o Kevin.

Consta que The lovely bones, o primeiro livro de Alice Sebold, é melhor. E que Clair, a mãe assassinada de Quase noite, é muito parecida com a própria mãe da escritora, descrita em Lucky, seu volume de memórias. Mas, eu, por enquanto, não sinto a menor curiosidade por eles.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

100 experiências gastronômicas para se ter antes de morrer

100 experiências gastronômicas para se ter antes de morrer
Stephen Downes (Prumo, 2008)

E como, apenas pela falta dela, eu estou obcecada por comida, vamos a este outro livro inspirador, que eu li em inglês quando um amigo, editor, recebeu a obra para avaliação (e não se interessou em publicá-la, daí ela ter ido parar na editora Prumo, creio eu). Embora essa onda de fazer 10, 100 ou 1000 coisas antes de morrer já tenha enchido além da conta (e olha que até a semana passada eu estava trabalhando numa versão dessas), achei a ideia interessante - no mínimo, pra eu ler sobre ingredientes e receitas de que nunca tinha ouvido falar.

Primeira constatação: eu comi bem pouco do que está na lista. Ela reúne não apenas comidas, mas às vezes receitas de um lugar específico, outras apenas uma indicação de bar ou restaurante. Às minhas experiências, pois: steak tartare, Museo del Jamón (Madri), pato de Pequim, "proper mayonnaise" (a que a minha mãe fazia), "proper beurre blanc" (que eu fazia), macarrão feito em casa (da minha vó Tosca), ervilhas frescas, coq au vin, berinjela à milanesa, gratin dauphinois, manga madura e charcuterie (embutidos). Doze itens.

Aí entra a segunda parte: coisas que eu não comeria jamais. Como andouillette. Downes recomenda o restaurante Chartier, em Paris, mas nem lá nem em qualquer outro lugar eu comeria andouillette outra vez (sim, já tive esse desprazer). Pombo (parente próximo, acredito, do rato e do esquilo). Ensopado de morcego. Parrilla argentina (também já experimentei, e fui "premiada" logo com o timo. Urgh). Tripa. Ovo de mil (ou cem) anos (outro dia abriram um desses na redação e a gente quase morreu sufocado). Fugu (peixe) cru - ele tem veneno no fígado e em outros órgãos, e pode matar o pobre coitado que o experimentar.

Por fim, vem a parte dos sonhos: o que eu espero comer algum dia, embora nem saiba onde fica a maioria desses lugares. Cassoulet de Castelnaudary. Foie gras em Bordeaux. O café da manhã do hotel Saigon Morin. Sanduíche de peixe em um barco pesqueiro no Bósforo. Quiabo feito na wok. Salada morna de rúcula e bacon. Linguiças frescas. Um tomate cultivado em casa. Uma ostra do Pacífico recém-aberta. Sashimi fresquíssimo. Queijos não-pasteurizados na França.

Olha só: ganhei na conta do que eu já comi. Mas ainda falta comer muito, e muito que nem entrou no livro de Downes. Frango de Bresse. Tacacá. Uma legítima cuca do Sul. Sorvete ou bolo de lavanda. Clafoutis de figo. E o falafel da dona Malka.

O livro de cozinha de Alice B. Toklas

O livro de cozinha de Alice B. Toklas
Companhia das Letras (1996)

Panorama da minha geladeira: um pedaço de manteiga, um litro de leite, um vidro de azeitonas pretas pela metade, duas garrafas de água mineral, geléia de figo, metade de um pacote de pão integral e dois ovos que não sei desde quando estão lá. (E uma garrafa de tequila ao lado do providencial margarita mix da José Cuervo, mas isso não conta.) Não tive tempo, e muito menos vontade, de ir ao supermercado. Sinto que eu poderia viver de leite com corn flakes até o ânimo voltar. E então me lembrei desse livro, quase uma autobiografia culinária da época em que Gertrude Stein e Alice B. Toklas viveram juntas, na França, de 1908 a 1946.

Com duas guerras mundiais nas costas, as duas passaram por vários períodos de racionamento. Durante a Ocupação, conta Toklas, a cota de carne semanal por pessoa era de 125 g. Elas se viravam com os produtos de sua horta e com os peixes dos rios próximos - até que os alemães proibiram a pesca. A certa altura, começaram a faltar leite, manteiga e ovos. De repente, alguém descobriu como pegar lagostins. E foi assim, de improviso em improviso, que as duas não só sobreviviam como ainda conseguiam receber os amigos. Nina Horta, em seu excelente Não é sopa, conta que mesmo depois da Segunda Guerra a dupla viveu dias de vacas magras. Convidaram o jovem estilista Pierre Balmain para jantar e ele deu por falta de um quadro de Cézanne na casa das duas. "Estamos jantando o Cézanne", disse Gertrude Stein, sem se abalar.

Queria eu ter a imaginação de Alice B. Toklas pra preparar alguma coisa com os parcos ingredientes da minha geladeira. Sei lá, umedecer as fatias de pão com o leite, espalhar por cima a geléia de figo, bater os ovos com um pouco de açúcar, derramar por cima e levar ao forno. Não deve ser de todo ruim. Mas aí eu fico sem ter o que comer no café, amanhã.

domingo, 10 de maio de 2009

Árvores ornamentais na cidade de São Paulo

Árvores ornamentais na cidade de São Paulo
Jean Irwin Smith (Terceiro Nome, 2000)

Sou tão boa em botânica quanto em física quântica. Sei distinguir uma rosa de uma margarida, e olhe lá. Quando, em 2001, eu, B. e G. passamos um fim de semana em Ubatuba para, na volta, vermos a Festa do Divino em São Luís do Paraitinga, eu me apaixonei por uma árvore cheia de flores rosadas que aparecia ao longo de toda a estrada. "Ipês", B. explicou - ele tem o dedo verde, como Tistu, e sua casa é cheia de plantas exuberantes, uma árvore deliciosa no quintal e canteiros de ervas que me deixam com uma certa inveja branca.

Anos depois daquela viagem, descobri este livro belíssimo, em edição bilíngue, com aquarelas da autora - e que encontrei, hoje, esquecido na estante, durante a arrumação. Descobri também seu livro-irmão, Que árvore é aquela?, da mesma Jean Irwin Smith, que acabei dando de presente para um então amigo próximo. Mas meu querido ipê-rosa (gosto demais, também, do branco e do amarelo), assim como a quaresmeira e a pata-de-vaca, que hoje identifico com o maior prazer em minhas andanças pela cidade, estão no volume que comprei para mim. Seria tão bom se minha memória ajudasse a registrar também a aroeira, a cássia-grande, o jacarandá...

Viajando pela Europa e pelo mundo

Viajando pela Europa e pelo mundo
José Cretella Jr. (Círculo do Livro, 1988)

Em setembro de 1988, quando comprei este livro (não achei a capa original para colocar aqui), eu nunca tinha nem andado de avião. Acho que só tinha saído do estado de São Paulo uma vez, para ir a Curitiba (as viagens que fiz pequenininha, com meus pais, não contam; eu era um bebê). E nunca, nunca poderia sonhar que um dia iria eu mesma escrever sobre turismo. Mas, de algum modo, "a mosca azul da viagem", como diz o professor José Cretella Jr. no começo de seu livro, já havia me picado. Eu guardava matérias sobre cidades interessantes, colecionava folhetos, lia o que pudesse sobre o assunto.

E, por isso, até hoje tenho um carinho enorme por esse livro, que me fez sonhar e me ajudou a planejar minha primeira viagem à Europa, em 1991. Ele só não foi comigo na mala porque eu já carregava um Frommer's gigantesco e perfeito pro espírito mochileiro: Europa a US$ 50 por dia. E também porque não é exatamente um guia, mas um apanhado de informações sobre lugares turísticos vistos pela perspectiva do autor. Hoje, percebo com facilidade alguns defeitos: a tradução de nomes próprios, diretrizes um pouco confusas, a narrativa um tanto empolada.

Mesmo assim, ainda sigo algumas dicas de José Cretella Jr. A de não aceitar encomendas em viagens, por exemplo. A de me informar ao máximo sobre o lugar que vou visitar (ele conta a história impagável de um turista que esperou Florença pela excursão inteira sem se ligar que, em italiano, o nome da cidade é Firenze). A de não visitar, em um dia, mais de um museu ou igreja. E a de fazer, de cada viagem, a minha viagem. Termino com a frase com que ele inicia o primeiro capítulo do livro: "Se me fosse possível desenhar um ex-libris, para pregá-lo nos livros da minha biblioteca, imaginaria um brejeiro diabinho, com o tridente, no qual estariam inscritas as palavras: amar, ler e viajar." Eu também.

Eu e meu guarda-chuva

Eu e meu guarda-chuva
Hugo Possolo e Branco Mello (Globo, 2001)

No final da tarde, cansada de tanto pensar em trabalho e de encher um arquivo excel com pequenos "xis" (sim, também preciso usar excel às vezes), resolvi me enfiar numa missão suicida: arrumar a estante da sala, que havia virado um depósito de poeira e livros sem qualquer ordem desde que eu troquei o gigantesco aparelho de som que estava ali por uma caixinha pra ouvir música no iPod. Estou cansada, pingando de suor e com dor nas costas de tanto abaixar e levantar, mas pelo menos as três prateleiras do meio estão mais bonitinhas (e consegui trazer todos os livros de cozinha para a sala).

Foi nessa tentativa de arrumação que encontrei Eu e meu guarda-chuva, um livrinho infantil que eu adoro, e que nem sei se é mais legal de ler ou de ouvir - ele vem com um CD cheio de músicas sensacionais; minha preferida, de longe, é Museu ideológico. Pela capa aventureira (surfe num guarda-chuva, à noite?) e pelo título das músicas (outra que não me canso de escutar é Hércules e seu amigo Asterix), dá pra sacar que, de convencional, o livro não tem nada. Feliz combinação das ideias do ator e palhaço Hugo Possolo e do titã Branco Mello com as ilustrações de Rico Lins, ele conta a história de Eugênio, um garoto amarradão no guarda-chuva herdado do avô. Juntos, eles saem pela cidade para tentar descobrir o paradeiro de Jonas, o abajur, que um dia sumiu.

sábado, 9 de maio de 2009

Relíquias sagradas

Relíquias sagradas
Fred Vargas (Companhia das Letras, 2009)

Nem quando estou com excesso de trabalho consigo deixar os livros de lado - mas, no ritmo em que as coisas andam, só dá pra me dedicar a uma certa leitura fast food, que distraia e não me obrigue a pensar muito, como esse novo romance policial da francesa Fred Vargas. E foi graças ao excesso de trabalho que consegui terminá-lo, essa semana, durante os vôos de ida e volta a Belo Horizonte para uma reunião na bela Praça da Liberdade.

Precisei de pelo menos 100 páginas para me envolver direito com a história. Talvez isso não acontecesse se eu já tivesse lido os outros livros de Vargas que têm como principal personagem o delegado Adamsberg, da Brigada Criminal de Paris, e sua equipe de tenentes, brigadeiros e comandantes tão diversa quanto divertida. Em Relíquias sagradas, a autora mistura o "fantasma" de uma freira, uma enfermeira assassina, dois grandalhões mortos, o coração de um cervo, um tira novato de cabelo mechado, uma briga ocorrida há mais de 30 anos, violações de túmulos e uma antiga fórmula medieval - se é que eu não me esqueci de alguma coisa. E dá um jeito de juntar tudo, no final. Se ficou um senão, foi a história do gato. Mas meu irmão me garante que os animais são capazes de coisas aparentemente impossíveis...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A cada um o seu

A cada um o seu
Leonardo Sciascia (Alfaguara, 2007)

Por causa do trabalho, não tenho me dedicado como eu gostaria à leitura - e tudo indica que não vou me dedicar tão cedo, o que promete um grande hiato no blog. (Pelo menos, na última semana, chegou meu At large and at small, da Anne Fadiman, e eu espero, com sorte e algum grau menor de dispersão, poder ler os ensaios aos pouquinhos.) Então, nos últimos dias, aproveitei para reler esse A cada um o seu, que havia lido no lançamento e que, como quase sempre, havia sumido da minha memória.

Nesse caso isso é mais espantoso porque trata-se de um enredo com ameaça de morte, assassinato, suspeitas. Um professor que decide investigar o caso. E a solução - sem que eu me lembrasse de nada até quase os últimos capítulos. É um bom livro, agradável e engenhoso. Mas deixa a gente com uma sensação estranha no final.