Precisamos falar sobre o Kevin
Lionel Shriver (Intrínseca, 2007)
Na Folha de S. Paulo de domingo, o psicanalista Renato Mezan escreveu um artigo sobre o assassinato da menina Isabella - em São Paulo, não se fala em outra coisa. E uma das frases me chamou a atenção porque resume bem a sensação que eu tive durante toda a leitura de Precisamos falar sobre o Kevin, um livro excelente que, depois do começo meio arrastado, prende a atenção até a última página: "... casos como o de Isabella, como o de mães que tentam matar seus bebês indesejados, provocam uma repulsa mais profunda porque põem em jogo a crença na naturalidade dos sentimentos familiares."
Pois é a tal "naturalidade dos sentimentos familiares" que Eva Khatchadourian questiona o tempo todo durante sua narrativa, que começa algum tempo depois que o filho, Kevin, de 16 anos, promove uma matança generalizada à moda de Columbine. Nas cartas que Eva escreve para o marido, Franklin, ela relembra os momentos do encontro dos dois, o pequeno apartamento em Nova York, o nascimento de Kevin, a mudança para uma casa horrível no subúrbio, o conseqüente afastamento - tudo para tentar entender o que aconteceu, e justificar seus sentimentos, e perdoar Franklin pela condescendência, e passar a limpo uma existência, a de Kevin, desconhecida por seus próprios pais. Começar o livro sabendo da tragédia que é seu ponto culminante não atrapalha em nada. Quanto mais Eva escreve, mais queremos saber das circunstâncias que levaram a ela. E, no final, fechamos o volume com aquela rara sensação de inveja, a sensação de "como eu queria ter escrito isso".
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