Nina Horta (Companhia das Letras, 1995)
O que não é sopa é o preço de livros no Brasil - principalmente os de culinária. E esse nem tem fotos maravilhosas (não tem foto nenhuma), não foi impresso em papel cuchê, não tem capa dura nem formato especial. Mesmo assim, se eu pudesse recomendar a alguém gastar seu rico dinheirinho (quase R$ 60) na aquisição de um único livro de culinária, esse é o que eu indicaria (minha edição, de 1995, ainda traz o preço marcado a lápis na primeira página: R$ 27. Alguém aí calcula pra ver se a inflação faz sentido?).
É preciso esclarecer: esse não é um livro apenas de receitas. Elas aparecem quase como coadjuvantes para as inspiradas crônicas de Nina Horta sobre comida. Nina ainda escreve toda quinta-feira na Folha de S. Paulo, mas tem mais graça ler tudo junto, vários textos agrupados em capítulos temáticos. São sacadíssimas suas considerações sobre comida perversa e comida de alma. Dá vontade de entrar no primeiro avião quando ela conta de jantares em Nova York e em Londres. E de ter um sítio em Parati, de ter tido aulas com Martha Kardos, de ter conhecido a empregada do "vós qué, vós faz". Só não concordo com Nina em duas coisas: eu adoro abobrinha e, na contramão de todo leitor culinário que conheço, acho Elizabeth David uma chata. Mesmo assim, sempre que posso releio alguns textos de Não é sopa - e aproveito para adaptar a divertida citação que ela faz sobre minha adorada abobrinha ao detestado pepino.
Um comentário:
Confesso que não sou muito adepta à cozinha. Cozinhar, para mim, era igual a lavar a louça. Mas meu relacionamento com a cozinha está mudando com a leitura do livro da Nina (até caderno de receitas já fiz). Meu trecho favorito, até agora, é quando ela diz que gostaria de ter qualquer coisa da Elizabeth David. E ela conseguiu! O guia Relais et Châteux. Mas depois ela confessa: "quase uma vergonha de ter em mãos coisas tão íntimas, que ela jamais quis que fossem minhas." Tô começando a gostar do assunto. E, realmente, cozinhar não é sopa. =)
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