quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Budapeste

Chico Buarque (Companhia das Letras, 2003)

Li Budapeste durante um vôo de Montevidéu a São Paulo, com escala em Buenos Aires, numa solitária e gripada noite de domingo. Por gostar tanto do Chico cantor-compositor, nunca tive coragem de ler um de seus livros anteriores - as referências não eram nada animadoras. Mas nessa noite fria, em junho de 2004, eu tinha um motivo pra encarar o mais recente rebento buarquiano: Chico participaria da Flip, em julho, ao lado do meu ídolo Paul Auster. Nada mais justo que ler o livro para acompanhar a conversa dos dois (Noite do Oráculo, o sensacional livro de Auster lançado na mesma época, fica para outro post).

E eu me surpreendi. Budapeste é bom. Tem alguns senões - fiquei muito incomodada com a estrutura repetitiva, Hungria-Kriska-Rio-Vanda-Hungria-Kriska, etc -, mas superou em muito a minha expectativa, a idéia de que ia encontrar um livro hermético e tentativamente poético. Ao contrário, é leve e muito divertido. Dá até pra imaginar um sorrisinho de Chico Buarque elaborando as frases frente ao computador, divertindo-se na arte de escrever. Além dele, outro artista merece crédito: Raul Loureiro, autor da deliciosa capa (um trecho do livro na frente, o mesmo trecho em "linguagem de espelho" no verso) e do primoroso projeto gráfico.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vou estrear o espaço para comentários no meu livro favorito. A palavra certa para Budapeste seria "gostoso". Um livro gostoso de ler. Francisco BH transportou todo o lirismo dos versos usado nas músicas para sua prosa. E, como um pintor, ele pinta as cenas do cotidiano do Rio e de Budapeste com tintas bem selecionadas... Ah, chega! Eu adoro o livro =). Vc já tentou pensar que a idéia do espelho na capa é mesma do enredo do livro? Assim como Budapeste tem seu lado dourado e cinza, como é retratado na capa, as idas e vindas "Hungria-Kriska-Rio-Vanda-Hungria-Kriska" podem, na minha interpretação, serem vistas como a imagem e seus reflexos do espelho, não? Pense!

Isabel Pinheiro disse...

Pode, sim, boa sacada. Você é muito mais profunda do que eu! Creio que não gostei de Budapeste tanto quanto você a ponto de tornar o livro "analisável". Mas a repetição só me incomodou, não chego a dizer que é um defeito. Aliás, reconheço repetições em outros livros de que gosto, também (veja o Mongólia e o Nove Noites, num post anterior, sem falar na trama austeriana onipresente). Bjs!