Uma vida
Plínio Doyle (Casa da Palavra, 1999)
Assim como Ex-Libris, tema do primeiro post do blog, este é o tipo do livro que a gente termina de ler e fica com gosto de quero mais - muito mais. Plínio Doyle, o "José Mindlin carioca", escreve sem nenhuma pretensão para falar de sua vida em meio aos livros: o começo na advocacia, a formação de sua biblioteca (hoje pertencente à Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio), as reuniões de sábado à tarde em sua casa, inauguradas por Carlos Drummond de Andrade em 1964 e mais tarde batizadas de Sabadoyle. É impossível ler o livro sem ficar com vontade de ter participado de pelo menos uma delas, só pra ouvir a conversa de gente como Drummond, Pedro Nava, Paulo Rónai, Antônio Houaiss, Raul Bopp, Afonso Arinos e tantos outros.
Mas não é a vida de Plínio Doyle (1906-2000) a melhor parte do livro. É a maneira apaixonada e, várias vezes, muito divertida, como ele conta histórias a respeito de sua biblioteca. Uma delas: na edição das Poesias Completas de Machado de Assis pela H. Garnier, em 1901, o escritor adverte que suprimira da obra um prefácio anterior. "Não deixo esse prefácio, porque a afeição do meu defunto amigo a tal extremo lhe cegara o juízo que não viria a ponto reproduzir aqui aquela saudação inicial." Pobre Machado; como conta Doyle, "aquele cegara ali em cima teve uma letra trocada pelo tipógrafo: o e por um a". A biblioteca da Casa de Rui Barbosa tem 3 exemplares do livro: um com o erro original, um outro corrigido à mão e uma edição correta.
Doyle transcreve, ainda, dedicatórias e trechos das atas das reuniões semanais em sua casa - o que nos leva a um outro livro, igualmente delicioso, que pode ser lido em complemento a esse: O Sabadoyle, de Homero Senna (Casa da Palavra, 2000). Pena que Plínio Doyle não tenha escrito mais. E pena que o volume O natal no Sabadoyle, editado em 1994 pela Massao Ohno, não esteja mais em catálogo. Bem poderia alguém se animar a reeditá-lo, e a editar também uma coleção de todas as atas do Sabadoyle.
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