terça-feira, 16 de outubro de 2007

Feliz ano novo

Feliz ano novo
Rubem Fonseca (Companhia das Letras, 1989)

De maneira geral, não me interesso muito por contos - mas abro uma exceção sempre que se trata de Rubem Fonseca, que considero muito melhor contista do que romancista (exceções: adoro Vastas emoções e pensamentos imperfeitos - só o nome já é lindo - e gosto muito de Bufo & Spallanzani). Feliz ano novo, lançado em 1975, é talvez seu maior clássico. Nele surgiram contos como o que dá título ao livro, um banho de crueza e violência ("brutalista", na definição de Alfredo Bosi para a obra de Fonseca), e o perturbador Passeio Noturno, mostra do que a neurose urbana pode fazer com qualquer cidadão.

Meus preferidos, entretanto, são outros dois: Corações solitários (tema para um outro post) e o genial Nau Catrineta, que vem como quem não quer nada e vai enredando o leitor numa trama macabra digna de Allan Poe. O conto começa num amanhecer, no dia em que José completa 21 anos. E desde o princípio é sombrio, enevoado, talvez pela descrição da mansão em que o garoto mora com as tias, talvez pelo medo de Ermê, a convidada do jantar de aniversário, e que teria na data participação maior do que podia imaginar. É conto pra reler sempre, prestando atenção nos detalhes: o frasco de cristal negro, os versos de Almeida Garret, a definição dos primogênitos da família, feita por tia Helena. Macabro, sim, talvez assustador - mérito de Rubem Fonseca, que em poucas páginas consegue deixar seu leitor incomodado e nada indiferente ao que acabou de ler.

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