Tomás Eloy Martínez (Companhia das Letras, 2004)
Quem só conhece a Buenos Aires da Recoleta, da Calle Florida e da Casa Rosada vai se espantar com a cidade brilhantemente descrita por Tomas Eloy Martinez neste romance. O Palácio de Águas da avenida Córdoba, o largo Del Resero, o Parque Chas, nenhum desses lugares faz parte do circuito turístico portenho - mas, em comum, guardam o motivo que leva o cantor do título, Julio Martel, a se apresentar em cada um deles. Velho, doente e inválido, Martel já não canta mais em público. E, para desespero de Bruno Cadogan, o americano que viaja a Buenos Aires apenas para encontrá-lo, também não dá mostras de querer qualquer contato com estranhos. Suas apresentações são todas sigilosas, para público nenhum; Martel canta apenas para si mesmo no que parece uma tentativa de homenagem ou expiação.
O livro acompanha as tentativas que Bruno Cadogan faz para encontrar o cantor de tango numa Buenos Aires corroída pelo desastre financeiro e a falta de perspectiva. Embora as resenhas, na época de lançamento do livro, concordassem em salientar esse ponto, a cidade à beira da falência que Tomás Eloy Martínez encontrou depois de anos morando fora do país, eu não acho que isso tenha maior importância na história. Bom é saber dos lugares, e do que aconteceu em cada um deles, para seguir no labirinto sentimental e geográfico que move as escolhas de Martel.
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