MongóliaBernardo Carvalho (Companhia das Letras, 2003)
Nove NoitesBernardo Carvalho (Companhia das Letras, 2002)
Decidi escrever sobre
Mongólia e
Nove Noites ao mesmo tempo não só porque são livros do mesmo autor e porque gostei muito de ambos, mas porque, no fundo, os dois são o mesmo livro. Ok: a história de um se passa entre os índios da Amazônia; a do outro, na aridez da Mongólia. Ambos, porém, tratam do mesmo tema: alguém desaparece, há vestígios do sumido, outro alguém segue os passos do desaparecido, desvenda os caminhos que ele percorreu e, no fim, um segredo é revelado ao leitor.
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Tendo lido esses e mais dois livros de Bernardo Carvalho (
Onze, bem fraquinho, e o interessante
As iniciais), acredito poder afirmar que trata-se de um dos melhores escritores em atividade no Brasil. Gosto do domínio que ele tem sobre a palavra nos romances que escreveu (em compensação, sua veia cronística é muito chata). E acho uma pena que seus dois melhores livros sejam, na verdade, um só. Creio que gostei de
Mongólia porque foi o primeiro que li, porque trata de uma cultura e uma realidade tão diferentes e porque, afinal, a história faz a gente querer saber como tudo vai terminar. Bernardo Carvalho escreveu com propriedade: viajou pelo país e pôde ver os edifícios opressivos, os templos e os incríveis grupos nômades que circulam pelo território com suas casas portáteis. Mas, no embate entre os dois livros-irmãos, o mais velho sai ganhando. A estrutura e o desfecho de
Nove Noites não surpreendem quem já tenha lido
Mongólia, mas as cartas do protagonista, seu dilema pessoal, o cotidiano e os rituais indígenas são capazes de envolver o leitor numa prosa irresistível como só um bom escritor consegue produzir.
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