Quando Nietzsche chorou
Irving D. Yalom (Ediouro, 2004)
Dois amigos de quem eu gosto muito, e cujo gosto literário eu respeito, falaram com entusiasmo deste livro desde o seu lançamento. De tão apaixonado, um deles até me mandou o livro de presente. Mas depois de duas tentativas que não foram para a frente, só fui ler o texto três anos depois. Não posso dizer que não gostei. Mas também não posso dizer que gostei. É melhor do que eu imaginava - o preconceito dos mais vendidos invariavelmente me leva a duvidar da qualidade literária ou pré-classificar alguns títulos como auto-ajuda - e, como mínima conseqüência benéfica, fez com que eu finalmente começasse a ler a biografia de Freud.
O problema é que quem já traz alguns anos de terapia na vida não se deixa impressionar de maneira tão fácil pelo tratamento imaginário que Josef Breuer, mentor de Freud e pioneiro da psicanálise, propõe, no livro, ao filósofo Friedrich Nietzsche. Nem pelo modo como o tratamento se inverte e, em lugar de Nietzsche, Breuer é que acaba sendo analisado. Nesse ponto, não há como evitar a lembrança da auto-ajuda: o Breuer humilde e estupetafo, quase atônito, disposto a reconquistar seu casamento depois de uma paixonite por Anna O., poderia estar em qualquer fábula que tivesse como moral o lema "a felicidade está onde você a põe".
De qualquer modo, a história serviu para aumentar minha curiosidade sobre as origens da psicanálise. Todos os personagens - Breuer, Nietzsche, Freud, Lou Salomé, Anna O. - existiram de verdade. Mas nem todos se cruzaram como propõe o livro; não se tem notícia de que Breuer tenha alguma vez conhecido Nietzsche. Esse, aliás, é um fato que deveria ter sido esclarecido logo no começo do livro, e não no final. Acho lícito que o autor abra o jogo de cara, para seus leitores, sobre onde começa a realidade e termina a ficção.
domingo, 21 de outubro de 2007
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