segunda-feira, 20 de julho de 2009

Taschen

Taschen
Paris, França

Eu já tinha lido sobre uma loja da Taschen em Paris, mas foi por acaso que a encontrei, na rue de Buci, em Saint-Germain-des-Prés (mais ou menos por acaso, na verdade: fui parar na rue de Buci por causa do quarteirão preferido da Danuza Leão em Paris). Quando vi o letreiro, não sabia se ria ou se chorava - rir pela alegria de poder ver livros belíssimos e diferentes, chorar pela tentação de deixar ali muitos euros.

Mas dei a sorte de pegar uma senhora promoção - o azar foi não ter espaço, na mala, para trazer muita coisa. As duas grandes bancadas, no centro da loja, estavam cheias de livros sobre arte, decoração, cinema, ioga, meditação e viagens, por preços inacreditáveis. Paguei 2,49 euros por um volume lindinho sobre a Grace Kelly e 0,99 no The book of fruits, que reproduz belas ilustrações pintadas em 1812 (e que não é O livro das frutas, da Jane Grigson).

Nas estantes coladas às paredes ficavam as novidades e os livros fora da promoção. Eu me apaixonei por um gigantesco guia de Nova York que tem uma ilustração da Audrey Hepburn em Bonequinha de luxo na capa. Queria trazer um livro que reúne anúncios de moda num período de 100 anos. E daria tudo pra ganhar na loteria e poder pagar o preço altíssimo do catatau de quase 600 páginas com a obra de Frank Lloyd Wright - e era apenas o primeiro volume de uma trilogia dedicada ao arquiteto.

Mas esse é o problema de toda livraria, certo? A gente sempre quer mais do que pode comprar.

Roberto Carlos em detalhes

Roberto Carlos em detalhes
Paulo César Araújo (Planeta, 2006

Faz tempo que estou para escrever sobre esta biografia que o Rei, a meu ver injustamente, mandou recolher das livrarias. Paulo César Araújo fez um trabalho de fã, mas com uma vantagem enorme sobre grande parte dos trabalhos de fãs que já vi publicados por aí: pesquisou de verdade, entrevistou um monte de gente, documentou direitinho, escreveu bem e ainda deixou de lado certos detalhes bizarros - que amigos meus contaram ao participar da produção de um show de RC - sobre a fase pós-morte de Maria Rita e pré-tratamento contra o TOC. Ou seja, respeitou o cara.

E eu nunca tinha lido nada tão completo sobre Roberto Carlos desde a infância, em Cachoeiro do Itapemirim, desde o começo ainda criança, no rádio. Na época do lançamento do livro, chegou-se a dizer que o Rei não gostou de ver revelados os detalhes do acidente de trem que lhe arrancou um pedaço da perna (depois, houve quem dissesse que ele nem tinha lido a biografia). Mas isso, sim, é público e notório; até algumas de suas canções são alusivas ao episódio. O livro conta, também, a história de alguns casinhos (com Maysa, com Sônia Braga) que nunca tinham sido muito falados, e que, em lugar de comprometer sua imagem, só ajudam a humanizar o ídolo.

Tive a sorte de comprar o livro nos primeiros dias do lançamento. Se não tivesse, provavelmente faria o que centenas de pessoas devem estar fazendo hoje: com uma simples pesquisa no Google, é possível descobrir dezenas de sites com o conteúdo integral do livro, para download.

A year in high heels

A year in high heels
Camilla Morton (Harper USA, 2008)

Livro bem bobinho, para equilibrar o mês difícil e o volume denso (The corrections) que estou lendo. Eu já tinha ouvido falar da obra anterior de Camilla Morton - How to walk in high heels -, que imaginei ser mais um título interessante para quando eu quisesse incrementar minha estante excêntrica sobre estilo. Portanto, quando ganhei de aniversário um Jamie Oliver repetido, resolvi tentar a troca. Como só encontrei esse A year in high heels, arrisquei.

E ainda bem que não gastei meu rico dinheirinho no livro. Mas é que a capa está cheia de desenhos de sapatos, e um aviso diz que o prefácio é do Manolo Blahnik... Eu devia ter desconfiado pelo subtítulo: The girl's guide to everything from Jane Austen to the A-list - na pressa, não reparei que estava escrito "A-list" (achei que fosse "A-dress") e não me liguei que já passei da idade de ler qualquer "girl's guide". Em doze capítulos que correspondem aos meses do ano, Camilla Morton faz uma mistureba. Tem sugestões de livros (Perfume, Rebecca, O grande Gatsby, A revolução dos bichos...), a "cartinha" de alguns famosos sobre seus lugares preferidos no mundo (Gisele Bündchen em Los Angeles, Giorgio Armani em St. Tropez, Christian Louboutin no Egito...), a musa do mês (Ella Fitzgerald, Coco Chanel, Cleópatra, Marilyn Monroe...) e efemérides, várias efemérides, que servem de pretexto para que ela ensine a organizar uma festa, escolher um vestido de casamento, gravar um podcast.

Ótima pedida para aspirantes a Bridget Jones e Carrie Bradshaw. Não é o meu caso.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Livraria e sebo Piazza

Livraria e sebo Piazza
São Paulo, SP

Já escrevi algumas vezes, aqui, sobre meu livreiro preferido. E se nunca mencionei seu nome foi talvez por um medo irracional e infantil de que me "roubassem" o Piazza - como se ele só pertencesse a mim. Mas aí veio a revista Piauí e escancarou o que eu na verdade sempre soube: o Piazza era o livreiro preferido, infalível, de metade das redações de São Paulo. Até hoje, ele só não conseguiu encontrar um livro que eu pedi (Os autonautas da cosmopista - thanks SK -, do Cortázar), e mesmo assim porque talvez eu não tenha insistido muito.

O Piazza tinha uma livraria que eu nunca cheguei a frequentar. Comprava quando ele ia à redação com um carrinho cheio de livros, o preço marcado a lápis na primeira página, a forma de pagamento sempre negociável com descontos ou cheques pré-datados. Dele eu comprei uma série enorme de Calvino e Rubem Fonseca, uma história da literatura erótica sobre a qual ainda preciso escrever, As mais belas histórias da Antiguidade Clássica e tantos outros volumes que não cabem num post. Há alguns anos, fechou a loja, virou rato de sebo por profissão e começou a ensinar o ofício ao filho. Agora o Piazza vai se aposentar. Vou sentir falta de sua presença imponente, o sotaque italianado, o jeito de me chamar pelo sobrenome verdadeiro nesses quase 20 anos em que ele sempre se lembrou do meu gosto literário e sempre soube indicar boas leituras. Sorte que existe a internet, e o Estante Virtual, onde seu sebo está hoje hospedado.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Quando florescem os ipês

Quando florescem os ipês
Ganymédes José (Brasiliense, 1976)

Hoje eu estava indo para o trabalho e, de repente, me dei conta - como todo ano, aliás - que não aproveitei direito a temporada dos ipês. Não fui a nenhum parque para vê-los com calma, não passei por nenhuma estrada margeada pelas árvores. E várias já começam a perder as flores. Daqui a pouco, só no ano que vem. Então me veio à cabeça este livro infanto-juvenil, parte de uma coleção que, assim como a Vagalume, marcou meu início no mundo das letras: a Jovens do Mundo Todo.

Por algum motivo misterioso, eu penso em quaresmeiras, e não em ipês, quando me lembro deste livro. Vai ver é pelo roxo da capa. Vai ver é porque quaresmeiras, de certa forma, estão associadas à morte do meu pai. Na verdade, minha memória guarda pouca coisa da história. Sei que é triste, que há pobreza, que há morte no final. Sei, também, que trata do momento em que crianças deixam de ser crianças, em que jovens olham pela primeira vez, de frente, para as dificuldades de crescer. Está esquecido, mas foi um livro marcante. E muito, muito diferente das historinhas divertidas e descompromissadas que Ganymédes José escreveu e assinou com seu sobrenome, Santos de Oliveira - a série da Inspetora era a minha favorita. Leitura escapista, diante da realidade triste de Quando florescem os ipês.

Eles foram para Petrópolis

Eles foram para Petrópolis
Ivan Lessa e Mario Sergio Conti (Companhia das Letras, 2009)

Eu tinha um objetivo ao começar a ler este livro: encontrar o trecho em que Ivan Lessa ou Mario Sergio Conti, não sei qual deles, lembra ao outro de uma fita cassete com catorze gravações de I'm thru with love, que o acompanhara numa viagem de carro. Li essa história quando os dois eram titulares da coluna Correspondência, no Uol, em 2000/2001 - o livro nada mais é do que uma reunião dos emails trocados entre eles naquela época, tanto os que foram publicados na coluna quanto os particulares, em que ambos discutem assuntos familiares e reclamam que o pagamento ainda não caiu.

Sinceramente, não sei como o livro pode interessar a quem não é jornalista, não conhece um dos dois missivistas ou não quer descobrir o trecho sobre as gravações de I'm thru with love, música que eu adoro e que passei a colecionar. Eu gostei, achei divertido, leitura leve e esquecível com opiniões que se pretendiam polêmicas (pra dar audiência) a respeito de cinema, música e literatura, algumas invenções, alguns bastidores da morte da mãe de Lessa, Elsie, e da produção de uma reportagem de Mario Sergio Conti sobre uma turnê de João Gilberto na Europa.

Só não está lá a história de I'm thru with love. E acho difícil ter lido sobre isso em algum outro lugar, porque desde então fiquei obcecada em conseguir, também eu, catorze gravações da música. Como nunca li as colunas de Ivan Lessa na BBC e MSC começou a escrever no saudoso nominimo.com bem depois de minha obsessão já estar em andamento, só pode ter sido na Correspondência. Queria saber qual dos dois gravou a fita e deu de presente para o outro. Queria saber que gravações ela continha.

Porque eu, este ano, finalmente consegui completar minha coleção - graças, principalmente, a R., pra quem mandei um email raivoso, mas de quem não consigo sentir raiva. Ultrapassei Ivan Lessa e Mario Sergio Conti em três gravações. Tenho Bing Crosby, Delicatessen, Keith Jarret, Little' Jimmy Scott, Marilyn Monroe, Mark Murphy, Nat King Cole, Chuck Berry, Barney Kessel, Chet Baker, Dinah Washington, Ella Fitzgerald, Jack Lemmon, Matt Dennis, Goldie Hawn e Woody Allen. Como várias dessas versões são mais recentes que a Correspondência, porém, ainda sinto que eles tinham algumas gravações que eu não tenho.

domingo, 5 de julho de 2009

Fuja logo e demore para voltar

Fuja logo e demore para voltar
Fred Vargas (Companhia das Letras, 2004)

Não, Jean-Baptiste, não faça isso. Que coisa feia. Só dá pra perdoar - ou melhor, não dá pra perdoar, mas dá pra entender - porque sua cabeça estava longe, envolvida com o semeador. E não um semeador qualquer, um que sai por aí plantando hortas, pomares, jardins. Um semeador da peste. Doença, mesmo. A única diferença é que essa mata por estrangulamento, e não através de pulgas infectadas. Deixa os corpos pretejados por carvão de macieira. E não parece escolher suas vítimas ao acaso.

Dos quatro livros de Fred Vargas que li, esse foi o que mais gostei - embora a melhor explicação para a relação de Jean-Baptiste Adamsberg e Camille Forestier esteja em O homem do avesso; a metáfora do rio é realmente bacana. Mas Camille e Adamsberg são só um pano de fundo para as histórias de crimes que o delegado resolve depois de muito ouvir, intuir e caminhar. Mesmo assim, também como em Relíquias macabras, é preciso abstrair um pouco a crença na hora em que os crimes são explicados. Tudo bem, é ficção, e pelo menos dessa vez a autora usou de um jeito menos óbvio a fórmula que criou para esconder a identidade do assassino.

Eu me viciei em Adamsberg. Acho que o jeito é procurar pelos dois livros que faltam, em inglês, numa Amazon qualquer.