A noite do dia de festa
(tradução: Ivo Barroso)
É doce e clara a noite e não há vento.
E quieta sobre os tetos e entre os hortos
Repousa a lua, ao longe revelando
Serenas as montanhas. Minha amada,
Os sendeiros se calam, nos balcões
Tremula rara a lâmpada noturna:
Tu dormes: este céu, que tão benigno
É na aparência, a bendizer me ponho.
E a antiga natureza onipotente
Que à desdita me fez. Nego-te mesmo
Toda esperança, disse-me a esperança:
Se não de pranto, os olhos teus rebrilhem.
Tal dia foi solene: e dos folguedos
Bem logo me afastei: talvez te lembres
Em sonhos hoje a quantos aprouveste.
Quanto te aprouve a ti: mas eu, que nada espero,
Ao teu pensar recorro. E entanto imploro
Viver o que me resta, aqui por terra
Me arrojo, e grito, e tremo. Horrendos dias
Deste verão tão verde! Ai, pela estrada
Não longe escuto o solitário canto
Do artesão, que retorna em tarda noite
Depois da orgia ao seu modesto asilo:
E duramente o coração me punge
Ao pensar que no mundo tudo passa
Sem deixar quase rastro. Eis fugidio
Vai-se o dia festivo e lhe sucede
Outro dia vulgar, e assim o tempo
Desfaz a humana lida. Onde os clamores
Dos povos mais antigos? Onde a fama
De nossos ancestrais, e o grande império
Da Roma antiga, e esse fragor das armas
Que dela se espalhou por terra e oceano?
Tudo é paz e silêncio, já no mundo
Tudo é mudez, de tal não se cogita
Em minha tenra idade, quando ansiava
Avidamente o meu festivo dia,
Ou depois ao passar, dolente e vigil,
Premia o leito; e na calada noite
Pelos sendeiros um cantar se ouvia
Que na distância ia morrendo aos poucos.
Já no meu peito o coração pungia.
À Lua
(tradução: Ivo Barroso)
Ó graciosa lua, bem me lembro,
Que, faz um ano, sobre esta colina
A conterplar-te em minha angústia eu vinha:
E pairavas então sobre a floresta
Tal como agora, a iluminá-la toda.
Mas enevoado e trêmulo do pranto
Que me ofuscava a vista, ante meus olhos
Teu vulto aparecia, que afanosa
Foi minha dileta lua. E assim me agrada
Toda a lembrança e enumerar a idade
Da minha dor. Oh! como grato sói-nos
No tempo juvenil, quando a esperança
Ainda é longa e breve é a memória,
A remembrança das passadas coisas,
Ainda que tristes, num afã que dura!
Canto notturno di un pastore errante dell'Asia (1829-1830)
Che fai tu, luna, in ciel? dimmi, che fai,
Silenziosa luna?
Sorgi la sera, e vai,
Contemplando i deserti; indi ti posi.
Ancor non sei tu paga
Di riandare i sempiterni calli?
Ancor non prendi a schivo, ancor sei vaga
Di mirar queste valli?
Somiglia alla tua vita
La vita del pastore.
Move la greggia oltre pel campo, e vede
Greggi, fontane ed erbe;
Poi stanco si riposa in su la sera:
Altro mai non ispera.
Dimmi, o luna: a che vale
Al pastor la sua vita,
La vostra vita a voi? dimmi: ove tende
Questo vagar mio breve,
Il tuo corso immortale?
sábado, 22 de setembro de 2007
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