terça-feira, 31 de março de 2009

Mulherzinhas

Mulherzinhas
Louisa May Alcott (Ediouro, 1995)

Minha mãe tinha uma amiga que morava numa casa esquisita, no Alto de Pinheiros, e eu só gostava de ir até lá porque um dos quartos - o que dava para a rua - tinha uma espécie de biblioteca, uma estante enorme e cheia de livros, vários deles infantis (nessa época eu devia ter uns 12, 13 anos). Tenho quase certeza de que foi lá que li Flicts pela primeira vez. Foi lá, e disso me lembro bem, que li O menino do dedo verde. E Mulherzinhas, que na minha memória aparece num volume de capa dura branca, muito melhor que as capas de hoje, como essa, da Ediouro.

Um pouco antes, um pouco depois, vi na "Sessão da Tarde" a versão de Mulherzinhas com Elizabeth Taylor como Amy. Nem assim os personagens, principalmente as quatro irmãs March, deixaram de ter as feições criadas pela minha imaginação. Eu adorava Jo e Meg, torci para Jo ficar com Laurie e, relendo o livro vários anos depois, fiquei um pouco decepcionada com um certo moralismo conformista. Mas não teria dúvida em encarar a história ainda uma outra vez.

Update em 3/4: O comentário da Eliana, aí embaixo, me fez lembrar de uma coisa. Eu estava numa feirinha ao ar livre de livros usados em Cuba, em 2006, tentando pescar alguma coisa escrita em inglês (não sei ler em espanhol). E encontrei um livro que nem sabia existir: Little men, também da Louisa May Alcott, que seria uma continuação de Mulherzinhas (Little women, no original). Será o mesmo livro que a Eliana leu?

segunda-feira, 30 de março de 2009

Anne of Green Gables

Anne of Green Gables
L. M. Montgomery (Harper USA, 2005)

Encontrei no blog do Kovacs um link para os guias literários Sparknotes, que não conhecia - e adorei, embora eu tenha raiva de quem usa esses artifícios disponíveis na web pra fazer o trabalho da escola sem precisar ler o livro. Como eu já passei da fase dos trabalhos escolares há muito tempo, foi bacana encontrar um site que discorra sobre diversas obras com listas de personagens, citações e, oba, até um quiz por livro (acertei 21 das 25 perguntas sobre Charlie and the chocolate factory).

Ao percorrer a lista do Sparknotes, encontrei Anne of Green Gables, um livrinho bonitinho e bem parecido com vários outros livrinhos "de menina" que eu já li: Pollyanna, um pouco do The secret garden. Anne é uma órfã adotada por um casal de irmãos idosos da pequena Avonlea, no Canadá. Dos desastres domésticos às gafes cometidas em sociedade, a menina arruma confusão por onde passa - mas conquista todo mundo com graça e ingenuidade. Previsível, um tanto moralista e, como vi no site da Livraria Cultura, bastante usado no ensino do inglês.

sábado, 28 de março de 2009

Histórias de cronópios e de famas

Histórias de cronópios e de famas
Julio Cortázar (Civilização Brasileira, 1998)

Esta é a segunda vez que escrevo um segundo post sobre o mesmo livro desde que comecei o blog. A primeira - O livro no Brasil - foi distração. Agora, é intencional. O caso é que, depois das minhas melhores amigas insistirem muito, criei um (micro)perfil no Facebook. Ainda estou apanhando, não sei muito bem o que estou fazendo lá, mas, em todo caso, resolvi me inscrever em algumas comunidades sobre livros. Dei uma olhada em mais de 500 delas e, embora "Jonathan Safran Foer is extremely premium" e "I wish I could get amnesia so I could re-experience Harry Potter anew" tenham me tentado, acabei entrando apenas em duas discussões genéricas e numa outra sobre O morro dos ventos uivantes.

Eu teria entrado também numa comunidade sobre os cronópios de Cortázar, não fosse ela em espanhol. (Não adianta forçar: não leio, não entendo e não falo espanhol; prefiro nem tentar o portunhol.) E sempre que eu penso em Cortázar eu penso em Histórias de cronópios e de famas, e sempre que penso no livro penso em A foto saiu fora de foco, uma historinha simpática e tristinha que poderia ter sido feita pra mim, tamanha a fidelidade com que me descreve. No dia em que eu finalmente criar coragem de escrever sobre a depressão e a ansiedade, já sei o que usar como epígrafe.

A viagem do elefante

A viagem do elefante
José Saramago (Companhia das Letras, 2008)

Nunca imaginei que pudesse me divertir tanto com um livro de Saramago - preconceito, admito, porque depois de O evangelho segundo Jesus Cristo eu não tive coragem de ler mais nada dele. Adorei O evangelho..., mas a ideia de que todo o Saramago teria parágrafos enormes e pontuação não-convencional me desanimou. Pois, pra minha sorte, descobri em A viagem do elefante um escritor que eu não imaginava existir: irônico e, às vezes, até engraçado. (Thanks, Ana!)

Pouco dá vontade de escrever sobre a viagem do elefante Salomão e do cornaca Subhro desde Belém até Viena - melhor mesmo é ler para saber o motivo que levou Dom João III, rei de Portugal, a despachar o bicho ao primo Maximiliano, de Áustria; o trajeto do elefante primeiro até Valladolid, na Espanha; uma quase guerra provocada pelos soldados que escoltavam Salomão; a despedida dos portugueses; o milagre em Pádua e o impagável trecho em que um padre resolve "benzer" o animal. E não foi só a história que agradou. Gosto muito quando o narrador põe-se a comentar fatos sabendo de antemão o que vai acontecer na trama; gosto desse papel de cronista que, ao falar de uma viagem feita no século 16, usa exemplos atuais para comentar a jornada.

Anotei diversas passagens do livro. Uma das que mais me agradam e que deveriam ter servido de lição, tivesse eu lido antes:

"Não que fosse essa a intenção nossa, mas, já sabemos que, nestas coisas da escrita, não é raro que uma palavra puxe por outra só pelo bem que soam juntas, assim muitas vezes se sacrificando o respeito à leviandade, a ética à estética, se cabem num discurso como este tão solenes conceitos, e ainda por cima sem proveito para ninguém. Por essas e por outras é que, quase sem darmos por isso, vamos arranjando tantos inimigos na vida."

domingo, 22 de março de 2009

O assassinato de Roger Ackroyd

O assassinato de Roger Ackroyd
Agatha Christie (Globo, 1997)

Até onde eu me lembro, foi esse meu primeiro Agatha Christie - numa edição pequenininha, do falecido Círculo do Livro, que rodava perdida lá em casa. Eu não devia ter mais do que 12 anos; sei disso porque ainda tenho, caindo aos pedaços, alguns volumes de uma coleção da Nova Fronteira com data de 1983, comprados durante as férias de verão numa livraria do Guarujá.

Acho que eu não podia ter começado Agatha Christie por livro melhor. O assassinato de Roger Ackroyd tem um final surpreendente, comparável apenas a Cai o pano, O caso dos dez negrinhos e poucos outros. E não surpreende só pela identidade do assassino, mas pelo jeito como o crime foi pensado. A memória tem dessas coisas engraçadas: de ... Roger Ackroyd ficaram também a lembrança da primeira imagem de Hercule Poirot (que, por muito tempo, foi pra mim o "Pôirô") e a descoberta da palavra "ditafone" - uma que, certamente, nunca mais ouvi em minha vida.

Rotten reviews and rejections

Rotten reviews and rejections
Bill Henderson e André Bernard (Pushcart Press, 1998)

Tenho ouvido falar muito em A arte de recusar um original, lançado recentemente pela Rocco. Ainda não tive tempo nem de dar uma folheada na livraria, mas sei que o autor, Camilien Roy, criou 99 cartas fictícias de rejeição a um original - parece que tem até uma página toda em branco, já que não seria necessário dizer nada a respeito do texto descartado.

É uma boa ideia. Mas divertido, mesmo, é esse Rotten reviews and rejections, uma compilação de críticas e cartas de rejeição verdadeiras recebidas por livros e/ou autores hoje famosíssimos. Melhor: algumas vezes, quem detona também é conhecido - Emile Zola, sobre As flores do mal, de Baudelaire, escreveu que "daqui a cem anos, a história da literatura francesa só vai falar desse livro como uma curiosidade" (as traduções, pobrinhas, são minhas mesmo).

Outros exemplos:
"É impossível vender histórias sobre animais nos Estados Unidos" (A revolução dos bichos, George Orwell);
"Parece que a garota não tem nenhuma percepção ou sentimento especial que poderiam elevar o livro além do nível de 'curiosidade'" (O diário de Anne Frank, Anne Frank);
"Sobre esse livro, dá pra dizer - com confiança suficiente - que não é escrita. É pesquisa" (A sangue frio, Truman Capote, crítica no The New Republic).

A toca da coruja

A toca da coruja
Walmir Ayala (Livros Irradiantes)

Eu nem mesmo tenho certeza se é esse o livro. Mas, quando vi a capa (e foi preciso uma peregrinação pelo Google, numa série de combinações de pesquisas, para encontrar a imagem no Flickr do ilustrador, Gian Calvi), senti uma alegria de túnel do tempo semelhante à que tive quando achei Lili do Rio Roncador numa estante da finada Ática, hoje Fnac. Vou até arriscar e comprar o livro num sebo da Estante Virtual.

Dá um pouco de medo. E se não for a mesma obra que eu ganhei aos 8 anos, quando uma tia foi me visitar depois de eu ter passado por uma cirurgia na garganta, no nariz e no ouvido? E se dentro dele eu não encontrar os versinhos de cumprimento oi boi catibini boi salamenti toni que é difini foi? E se não for nessa história que o tio de algum personagem se tranca num quarto escuro e enlouquece ao ficar ouvindo apenas os ruídos de seu corpo?

É claro que eu posso estar misturando histórias diferentes - um velhote que se tranca no quarto e enlouquece porque ouve apenas os ruídos do próprio corpo não parece um personagem adequado a um livro infantil. Mas eu tenho certeza de que ele existiu, tenho certeza de que um sapo ou algo do gênero usava o oi boi pra cumprimentar alguém e, principalmente, tenho certeza de que foi escrito por Walmir Ayala. Olhando a bibliografia do escritor, A toca da coruja parece o livro mais adequado a esse monte de bizarrices.

Se não for o mesmo livro, porém, não tenho o que fazer a não ser dar por encerrada essa busca de décadas. Mas ainda tenho outros tesouros infantis pra tentar encontrar. Um deles misturava texto e história em quadrinhos; tinha um menino, um submarino que navegava pelos subterrâneos de São Paulo e depois emergia próximo do Minhocão. Eu me lembro das ilustrações e me lembro do clima, um tanto melancólico. Mais, não sei. Nem mesmo o nome do autor.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Anarquistas, graças a Deus

Anarquistas, graças a Deus
Zélia Gattai (Companhia das Letras, 2009)

E aqui cabe a confissão: eu nunca gostei de Jorge Amado. Meu avô adorava, tinha uma boa coleção do baiano na estante. Li uns e outros, e até hoje não consegui me desfazer da ideia de que JA escreveu apenas dois livros: a linha Capitães da Areia/Mar Morto e a linha Gabriela/Dona Flor/Tieta. É claro que isso pode ser uma grande bobagem, mas foi o que senti. (Talvez eu ainda possa ler Tenda dos Milagres pra ver se mudo de opinião.)

Por isso, tive a maior surpresa ao ler Anarquistas, graças a Deus - e só li por insistência das minhas tias, acho que numas férias no Guarujá, diante da garantia delas de que o texto de Zélia Gattai não tinha nada a ver com o do marido. É verdade. Anarquistas... é o primeiro de uma série de livros com as memórias de Zélia. Mais centrado em seus pais, Ernesto e Angelina, conta a história de uma família de italianos que veio para o Brasil e viveu intensamente na São Paulo das primeiras décadas do século 20. Depois virou minissérie da Globo, mas essa eu não assisti.

terça-feira, 17 de março de 2009

O livro das ilusões

O livro das ilusões
Paul Auster (Companhia das Letras, 2002)

Faz muito tempo que estou ensaiando para escrever sobre O livro das ilusões, talvez meu Paul Auster preferido. Começa pelo título, que é lindo. Tem a epígrafe, de Chateaubriand: Man has not one and the same life. He has many lives, placed end to end, and that is the cause of his misery. E o enredo envolvente sobre o encontro de um professor com um velho comediante que o mundo acreditava estar morto, e a história do artista, e os filmes que ele deixou prontos e ninguém nunca viu, e o envolvimento do professor com a filha postiça do artista, e o destino da obra desconhecida.

Eu demorei alguns anos e vários livros para descobrir que meu interesse e quase devoção por Paul Auster devia-se ao principal elemento em sua obra: o acaso. O imponderável. A vida como ela é, e não como a gente gostaria que fosse. Houve um tempo - durante, talvez, uns vinte anos? - em que eu torcia pela esperançosa troca de papéis: a vida, essa sim, seria passível de condução; a literatura é que deveria funcionar ao acaso, segundo o ânimo e o humor do escritor. Que nada. Paul Auster usa o acaso da vida a seu favor, em livros que tratam do acaso da vida de um jeito às vezes terno, às vezes cruel, quase sempre denso. Do jeito que a vida é.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Marca d'água

Marca d'água
Joseph Brodsky (CosacNaify, 2006)

"Sempre concordei com a ideia de que Deus é tempo, ou pelo menos de que Seu espírito é. Talvez essa ideia seja até mesmo da minha própria lavra, mas agora não me lembro. De qualquer modo, sempre pensei que se o Espírito de Deus se movia sobre a face da água, a água tinha de refleti-lo. Daí meu sentimento pela água, por suas dobras, rugas, ondulações, e - como sou um homem do Norte - por seu cinza. Simplesmente penso que a água é a imagem do tempo, e a cada véspera de Ano Novo, de modo um tanto pagão, tento ficar perto da água, preferivelmente à beira de um mar ou de um oceano, para olhar o surgimento, a partir dela, de uma nova ajuda, um novo punhado de tempo. Não procuro uma jovem nua cavalgando uma concha; procuro uma nuvem ou a crista de uma onda quebrando na margem à meia-noite. Isso, para mim, é o tempo que sai da água, e fico olhando o desenho semelhante a renda que ela depõe na margem, não com conhecimento de um cigano, mas com ternura e com gratidão.

Esse é o modo, e em meu caso o porquê, como eu ponho meus olhos nesta cidade. Não há nada de freudiano nessa fantasia, ou de especificamente cordado, embora se pudesse estabelecer alguma conexão evolucionista - quando não simplesmente atávica - ou autobiográfica entre o desenho que uma onda deixa na areia e seu exame por um descendente de ictiossauro, e ele próprio um monstro. A renda vertical das fachadas venezianas é o melhor verso que o tempo-aliás-água deixou em terra ferma em qualquer lugar. Além disso, há sem dúvida uma correspondência, se não uma dependência total, entre a natureza retangular desses expositores da renda - ou seja, os prédios locais - e a anarquia da água que refuta a noção de forma. É como se o espaço, aqui mais do que em qualquer outro lugar, cônscio de sua inferioridade em relação ao tempo, lhe respondesse com a única propriedade que este não possui: a beleza. E é por isso que a água pega essa resposta e a torce, espanca e rasga, mas em última instância a leva intacta para o Adriático."

domingo, 15 de março de 2009

I Ching

I Ching
(Pensamento, 1996)

Eu não sei muito bem por que é que eu e a Karla nos afastamos. Fomos melhores amigas da infância ao começo da juventude, até que vieram trabalho, namoros, mudanças e, de repente, aos 20 e tantos anos, eu não convivia mais com ela. Uma pena. Tenho boas lembranças da Karla. Na casa dela eu tomei suco de maracujá pela primeira vez; lá também aprendi a receita do melhor bolo de chocolate que já fiz até hoje. Saíamos pra dançar, ir a festas, comprar roupas. Ela cantava Kate Bush e me contava de seus "sonhos dourados". Encaramos juntas a primeira prova pra tirar habilitação e, quando eu não passei, ela me levava pra cima e pra baixo no Voyage branco de sua família.

Quando tinha qualquer dúvida, principalmente a respeito dos garotos, a Karla desenterrava um velho livro do I Ching e tentava interpretar suas respostas a partir do que mostravam umas varetas e moedinhas. Eu nunca entendi muito bem - e nunca acreditei naquilo. As mensagens eram filosóficas, cabeça e poéticas, falavam de garças, lagos, luz e fogo, e a interpretação dependia do grau de conhecimento (e isenção) de cada um. De vez em quando a Karla jogava o I Ching pra mim e, mesmo sem acreditar, confesso que nos momentos de maior desespero eu torcia pra, no fundo, cair com uma leitura fácil e de bons presságios.

Desde que a minha amiga sumiu no mundo, eu me tornei muito mais cética e desconfiada. Há anos deixei de ler horóscopo, ainda que por diversão. Não acredito em destino. Sou mais Freud do que Jung. E, ainda assim, agora há pouco eu levei um susto porque me vi pensando, curiosa, no que será que as moedinhas da Karla diriam pra mim nessa estranha noite de sábado.

domingo, 8 de março de 2009

A promessa do livreiro

A promessa do livreiro
John Dunning (Companhia das Letras, 2005)

Tinha um tronco de árvore no meio do caminho, meu pensamento vagava alegremente, não prestei atenção na calçada, tropecei e caí. E então descobri que nada como um tombo que avaria seu joelho e te obriga a passar o dia na cama, com a perna estendida, pra terminar rápido de ler um livro que caminhava a uma média de três páginas por dia - não por desinteresse, mas por falta de tempo e excesso de sono.

Foi a Cláudia, no comentário sobre a biografia de Richard Burton, quem me falou desse livro, o terceiro de uma série protagonizada por Cliff Janeway, um ex-detetive transformado em livreiro. A certa altura de 1987, parece que tudo acontece ao mesmo tempo na vida de Janeway: ele ganha uma bolada em dinheiro, reencontra um escritor pedante e um juiz boa praça, fica interessado em uma jovem advogada, compra uma edição rara de Burton, recebe a visita de uma velha senhora e conhece um casal pobre e simpático. Daí pra frente, alguém morre de morte morrida, outro alguém morre de morte matada, Janeway viaja a Baltimore, bate de frente com uma turma de bandidos valentões, segue para Charleston e por fim descobre uma parte desconhecida da vida de Burton.

Não falta ação. Não faltam personagens interessantes. O trecho em que John Dunning recria uma parte da viagem de Richard Burton pelo sul dos Estados Unidos é bacana. Mas faltou amarrar tudo de um jeito mais convincente, resolver os conflitos de uma maneira mais plausível. Tudo bem, é ficção. Mas Dunning vai muito bem até certo trecho e, então, derrapa. Mesmo assim - e isso não é pouca coisa -, fiquei com vontade de ler os outros Cliff Janeway. Quem sabe algum deles me deixe mais satisfeita.

domingo, 1 de março de 2009

O livro do riso e do esquecimento

O livro do riso e do esquecimento
Milan Kundera (Companhia das Letras, 2008)

Essa semana eu precisei procurar os arquivos de um trabalho antigo que talvez pudessem me ajudar num trabalho atual. Descobri que os backups estavam guardados em cinco caixas cheias de disquetes (sim, aproveitei e passei tudo para CDs). Não encontrei o material que precisava. Em compensação, achei diversos arquivos com poesias, anotações esparsas, trechos de livros, letras de música. Um deles, batizado de "kundera", trazia apenas isso:

Todo homem possui duas biografias eróticas. Em geral só se fala da primeira, que se compõe de uma lista de casos e de encontros amorosos.
A mais interessante é sem dúvida alguma a outra biografia: o bando de mulheres que queríamos ter e que nos escaparam, a história dolorosa das possibilidades irrealizadas.
Mas existe ainda uma terceira, uma misteriosa e inquietante categoria de mulheres. Elas nos agradam, nós lhes agradamos, mas ao mesmo tempo compreendemos logo que não podíamos tê-las porque, na nossa relação com elas, nos encontrávamos do outro lado da fronteira.


Na hora eu desconfiei que fosse um trecho de O livro do riso e do esquecimento - obra que tem aparecido aqui e ali com frequencia, ultimamente; Sérgio Rodrigues mesmo falou dela outro dia. Mas minha "intuição" tinha motivo claro: de Kundera, creio ter lido apenas esse e A insustentável leveza do ser. O problema, como sempre, é a falta de memória. Eu não me lembro de nada de O livro do riso e do esquecimento. Personagens, trama, narrativa, nada. Só não caiu no limbo total da minha cabeça, como o próprio nome sugere, porque guardei esse ótimo trecho num disquete antigo.

A cozinheira e o guloso

A cozinheira e o guloso
Mazzô França Pinto e Thomaz Souto Corrêa (Bei, 2008)

De vez em quando, menos do que eu gostaria, preciso ler alguns livros por motivos profissionais. Este foi um deles - mas eu o teria lido com prazer de qualquer forma. Já conhecia o "texto gastronômico" de Thomaz Souto Corrêa por uma participação dele no Histórias e receitas do José Hugo Celidônio, outro que merece um post aqui no blog. Thomaz não escreve receitas comme il faut; apenas vai contando como misturou isso e aquilo, e aquele outro ingrediente que estava à mão, para fazer um arroz de porco, uma salada de feijão.

Mas não é dele a incumbência de passar ingredientes e modo de preparo neste livro, que tem o apropriado subtítulo de "Conversas de comer e receitas de fazer". As receitas, a cargo de Mazzô França Pinto, podem mesmo ser feitas - não têm pulos do gato nem escondem etapas do preparo, como em tantos outros livros que já vi por aí. Thomaz apresenta cada capítulo com recordações de aventuras gastronômicas em Roma, numa fazenda do interior paulista, na casa de amigos. E conta como surgiu a impagável confraria Porco e Vírgula, onde é conhecido como Porco-Mor.