Edward Rice (Companhia das Letras, 1991)
Depois do Batman, Richard Burton é meu super-herói preferido - com a diferença de que RB não tinha nada de super e viveu de verdade, uma vida de aventuras às vezes tão surreais que em obras de ficção pareceriam exagero. Mas o cara era gente que faz e, entre outras coisas, organizou uma expedição para descobrir a nascente do Nilo, foi cônsul da Inglaterra no Brasil (dava expediente em Santos e viajou interior adentro, até Diamantina), aprendeu mais de vinte idiomas e dialetos, trabalhou como agente secreto na Ásia, África e Oriente Médio, traduziu o Kama Sutra e As mil e uma noites, fez a peregrinação a Meca mesmo sem ser muçulmano e a lista de seus feitos é tão extensa e intensa que um mero post não consegue resumir; Edward Rice precisou de quase 700 páginas.
E deu conta direitinho da tarefa. A gente sabe que uma biografia é boa quando dá vontade de ter participado da vida do biografado - por bem ou por mal, para admirá-lo ou odiá-lo mais de perto. Ou quando a gente sofre junto com o personagem, com a malária de Burton e o dardo que cortou sua face de lado a lado. E também quando dá vontade de largar tudo e ir atrás dos escritos do sujeito, das milhares de anotações que ele fez pelos lugares por onde passou, dos diários que preencheu, dos documentos que acumulou. Mas isso vai ser pra sempre impossível. Assim que Burton morreu, em 1890, aos 69 anos, sua mulher, uma doida-vaca-fanática católica, mandou queimar tudo o que ele deixou. Temia arruinar a reputação do marido. Arruinou foi a dela, e privou o mundo de aproveitar mais da vida fantástica que esse cara levou.
3 comentários:
Isabel, o John Dunning tem uma história policial boa, com o seu segundo super-herói preferido como mote. O livro, publicado pela Companhia das Letras, se chama A promessa do livreiro. Você conhece? O detetive particular Cliff Janeway, um sujeito que largou a polícia para ser livreiro, se vê envolvido numa trama sobre livros perdidos/encontrados do Richard Burton.
Um abraço,
Cláudia
Cláudia, não conheço e adorei a informação! Vou procurar o livro agora mesmo. Obrigada! Bjs, Isabel
Homens assim são cada vez mais raros. Na época da Internet, parece que ficamos sufocados com muita informação e pouca formação.
Fugindo um pouco do tema, imaginem o que teria escrito Tólstoi com um poderoso editor de textos!
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