quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sir Richard Francis Burton

Sir Richard Francis Burton
Edward Rice (Companhia das Letras, 1991)

Depois do Batman, Richard Burton é meu super-herói preferido - com a diferença de que RB não tinha nada de super e viveu de verdade, uma vida de aventuras às vezes tão surreais que em obras de ficção pareceriam exagero. Mas o cara era gente que faz e, entre outras coisas, organizou uma expedição para descobrir a nascente do Nilo, foi cônsul da Inglaterra no Brasil (dava expediente em Santos e viajou interior adentro, até Diamantina), aprendeu mais de vinte idiomas e dialetos, trabalhou como agente secreto na Ásia, África e Oriente Médio, traduziu o Kama Sutra e As mil e uma noites, fez a peregrinação a Meca mesmo sem ser muçulmano e a lista de seus feitos é tão extensa e intensa que um mero post não consegue resumir; Edward Rice precisou de quase 700 páginas.

E deu conta direitinho da tarefa. A gente sabe que uma biografia é boa quando dá vontade de ter participado da vida do biografado - por bem ou por mal, para admirá-lo ou odiá-lo mais de perto. Ou quando a gente sofre junto com o personagem, com a malária de Burton e o dardo que cortou sua face de lado a lado. E também quando dá vontade de largar tudo e ir atrás dos escritos do sujeito, das milhares de anotações que ele fez pelos lugares por onde passou, dos diários que preencheu, dos documentos que acumulou. Mas isso vai ser pra sempre impossível. Assim que Burton morreu, em 1890, aos 69 anos, sua mulher, uma doida-vaca-fanática católica, mandou queimar tudo o que ele deixou. Temia arruinar a reputação do marido. Arruinou foi a dela, e privou o mundo de aproveitar mais da vida fantástica que esse cara levou.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

In defense of food

In defense of food
Michael Pollan (The Penguin Press, 2008)
(Foto e link vão em português, mas eu li a edição americana do livro.)

Detesto quando isso acontece, mas às vezes é inevitável. Comecei a ler esse livro, um capítulo por dia, tentando prestar a maior atenção, interessada no assunto. Mas a leitura não pegou. Não que seja ruim; acho apenas que a época não está favorável. Muita coisa na cabeça, sono interrompido por sonhos bizarros, no dia seguinte eu não me lembrava mais do que tinha lido na noite anterior.

Michael Pollan começa falando do que chama de "nutricionismo", uma preocupação exagerada em relação não à comida de todo dia, mas aos nutrientes que ela contém - tudo muito conveniente para a indústria alimentícia, que "enriquece" seus produtos com vitaminas isso e aquilo, fósforo, cálcio, ferro, zinco, e assim faz com que o consumidor mané compre mais biscoitos e iogurtes modificados na crença de que são saudáveis. É uma teoria muito interessante, mas que ocupa as duas primeiras partes do livro e que, como eu disse acima, não me pegou.

Então eu me concedi a licença de pular direto para a terceira parte, em que Pollan sugere algumas regras para a boa alimentação, resumidas em três frases: "Eat food. Not too much. Mostly plants." É o melhor do livro, e na verdade não fala nada que leitores atentos de autores como Jamie Oliver, Patricia Wells e Alice Waters já não saibam. Como, por exemplo, a importância de consumir produtos sazonais e não processados, muito mais ricos em nutrientes - quem precisa de vitaminas e sais minerais adicionados artificialmente? O prazer de alimentar-se com calma, e de fazer refeições completas, e de usar a mesa de jantar. O truque de evitar os corredores centrais dos supermercados, cheios de enlatados, engarrafados e outros ados. E, duas das minhas preferidas, "não coma nada que sua bisavó não pudesse reconhecer como comida" e "você também é o que a sua comida come". Faz pensar.

domingo, 23 de novembro de 2008

America's queen

America's queen
Sarah Bradford (Penguin USA, 2001)

Pra variar, a capa do livro que eu tenho é bem mais bonita, como já aconteceu aqui e aqui. Mostra Jacqueline Kennedy Onassis mais de perto, o queixo apoiado na mão, uma mulher mais parecida com a gente, e não com uma atriz de cinema, como aí ao lado. Jackie foi, é verdade, uma estrela, mas uma estrela do mundo real, com defeitos e sofrimentos que todos temos. Mesmo estrábica e baixinha, transformou-se num ícone fashion. Foi amada por seus "súditos" americanos durante e depois da presidência de John Kennedy. E começou a trabalhar (numa editora de Nova York) justamente quando não precisava, depois de ficar viúva do milionário grego Aristóteles Onassis.

Já faz tempo que li essa biografia - a data no começo do livro indica "30/11/01, pré-férias", uns dez dias que eu passei à beira de uma piscina, em Ilhabela -, e sempre que a vejo na estante tenho vontade de ler outra vez. Sei bem pouco sobre a família Kennedy, gostaria de saber mais. America's queen ajudou: mostrou que mesmo tendo crescido num ambiente milionário (graças ao padrasto rico) e se casado num clã poderoso, mesmo sendo plena de cultura e bom gosto, Jackie era uma mulher normal, que sofreu com traições e solidão, com a inveja da irmã, com a fama, com a morte estúpida de pessoas que ela amava. Agora eu torço para encontrar outra biografia, tão boa quanto, de John Kennedy e sua família.

sábado, 22 de novembro de 2008

Fup

Fup
Jim Dodge (José Olympio, 2006)

Li Fup há quase vinte anos e dele só mantive uma impressão: a sensação, crescente com o passar do tempo, de que o livro não merecia o status cool/cult que lhe dedicavam várias pessoas na época - e com o qual eu certamente concordei por um tempo, influenciada pelo homem que me apresentou à obra. Mas depois, quando alguém falava de Fup, eu pensava "é só um beat com trinta anos de atraso".

Na noite passada, o homem que me apresentou à obra me abraçou e me contou a história de novo, porque eu pouco me lembrava dela. Falou sobre vovô Jake e o uísque que ele fabricava, a obsessão de Miúdo por construir cercas e matar um porco, o encontro com Fup, a pata gorda que era o bicho de estimação de avô e neto. Eu pedi, e ele contou também o fim da história; acho que não entendi. E apesar de saber como é bacana ainda manter um vínculo forte com esse homem depois de quase vinte anos, eu continuei com a sensação de que Fup realmente não é pra mim.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

The new Food Lover's Companion

The new Food Lover's Companion
Sharon Tyler Herbst e Ron Herbst (Barron's, 2007)

Sou chegada num dicionário. E num livro de cozinha, mesmo que estrangeiro (de preferência em inglês; até consigo intuir o francês e o italiano, mas melhor não arriscar). Logo, gosto bastante de dicionários de cozinha. Esse Food lover's companion - que tenho com outra capa, bem mais interessante que a da foto - é uma delícia não só para consultar em caso de dúvidas quanto a nomes de ingredientes, técnicas e vinhos mas também para ler... como literatura mesmo. Sim, existe louco pra tudo.

Já disse que livros de culinária são, para mim, um respeitável gênero literário. Escrever receitas não é tão fácil quanto parece. Nem definir, em termos compreensíveis e elucidativos, milhares (são mais de 6700 verbetes) de temperos, tipos de queijo, técnicas de cozimento, ingredientes em espanhol, italiano, japonês, francês, bebidas e produtos variadíssimos, de algas a tomates. É evidente que minha intenção não é decorar o dicionário, nem posar de bacana quando alguém fala em pirogi, molho rémoulade ou eggnog. Mas lendo uma entrada aqui, outra ali, acabo aprendendo várias coisas. Assim eu já sei que, quando voltar à França, vou comer um clafoutis de pêssego. E que quando estiver no México, bastará uma enchilada para matar minha fome.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Toujours Provence

Toujours Provence
Peter Mayle (Vintage Books, 1992)

Os livros de Peter Mayle - eu comecei com Hotel Pastis - fazem parte do gênero ai-que-inveja-absurda-da-vida-desse-cara. Numa versão "crônicas", é mais ou menos como o Minhas receitas da Provence, de Patricia Wells. Sei não, esse povo parece ter o sério e prazeroso distúrbio de esfregar na cara da gente como a vida pode ser boa e feliz e divertida, principalmente quando se tem uma conta corrente abastada e uma casa na Provence. Ai que inveja absurda da vida desse cara!

Bem, eu sou partidária ferrenha da literatura como incentivadora (ou promotora) de sonhos, então adoro ler o Peter Mayle e a Patricia Wells, e imaginar como seria a minha vida entre os mercados de frutas e legumes frescos da aldeia, os problemas com encanadores, os turistas enxeridos, os jantares informais com os vizinhos, cheios de comidinhas gostosas e vinhos idem. É bacana pensar que um dia eu também posso circular, ainda que a passeio, por lugares chamados Cavaillon, Buoux, Ménerbes, Gordes. E, enquanto não acontece, sonhar com isso nos livros.

domingo, 16 de novembro de 2008

Amor sem pudor

Amor sem pudor
Jonathan Franzen

Abro aqui uma exceção para escrever não sobre um livro, mas sobre um texto que acabei de ler online no caderno MAIS!, da Folha de S. Paulo. Acredito que a exceção se justifique: é raro eu ter vontade de ler alguma coisa no MAIS!, detesto textos longos na tela do computador e esse mesmo assim me agarrou desde o começo. Acima de tudo, é claro, o tema e a escrita me tocaram de uma maneira especial.

Admito que só comecei a ler porque confundi o Franzen, que não conhecia, com outro Jonathan, o Safran Foer. E continuei porque me vi em algumas situações que ele descreve logo de início, sobre os hábitos no celular - fiquei até com vergonha quando ele fala da perua na fila do supermercado porque às vezes eu sou assim, e o pior é que também morro de raiva de quem faz isso. Mas o ponto alto do texto, acredito, está na parte que começa com a correspondência entre o pai e a mãe, e que fala das manifestações de amor de um jeito tão sincero e direto. Se os romances de Jonathan Franzen forem tão bons quanto esse texto, já vi que vou juntar mais volumes à pilha de livros que se acumula ao lado de minha cama.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O pequeno príncipe

O pequeno príncipe
Antoine de Saint-Exupéry (Agir, 2006)

Leio no jornal que um poeta argentino, autorizado pelos herdeiros de Saint-Exupéry, vai lançar em breve a continuação de O pequeno príncipe. Meu cinismo abre os olhos: penso em caça-níqueis, numa auto-ajuda-autoral que faz apenas encher o cofrinho dos envolvidos. O que ainda há para dizer sobre o personagem? Que bichos e figuras ele ainda tem que encontrar para destilar frases que grudam como superbonder? Alguém pode explicar por que esse livro faz tanto sucesso?

Aos 10 anos de idade, vá lá. Mas nem as misses agüentam mais esse moleque, trocado solenemente pelo Paulo Coelho. Pensar em O pequeno príncipe me deixa melancólica, triste, incomodada com algum provável trauma de infância que nem uma década de terapia conseguiu solucionar. Na verdade, acho que é pior do que isso: fico deprimida. Deprimida com a figurinha do garoto estampada em cartões, canecas e camisetas, deprimida com gente que fala "você é responsável por aquilo que cativa", com os baobás assassinos, com o elefante dentro da cobra. Deprimida ou porque ainda tem muita gente que se apega a essa bobagem ou porque eu devo ser uma burra insensível que não entendeu absolutamente nada.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

The Nero Wolfe cookbook

The Nero Wolfe cookbook
Rex Stout and the editors of Viking Press (Cumberland House Publishing, 1996)

Nero Wolfe, o gordo, preguiçoso e metódico detetive criado por Rex Stout, não abre mão de dois grandes prazeres: cultivar orquídeas e discutir o cardápio do dia com Fritz Brenner, seu cozinheiro suíço. Não há história em que ele apareça sem a descrição de pelo menos uma receita ou refeição. Wolfe só aparece na cozinha para discutir com Fritz o preparo de um ou outro prato. Mas, às vezes, em mais de 30 romances e 40 contos, também foi obrigado a cozinhar. E a comer fora, de preferência no restaurante de seu amigo Marko Vukcic. Ou, horror dos horrores, a deixar que algum desconhecido cozinhasse para ele.

Todos os pratos citados nas histórias de Nero Wolfe foram compilados nesse belo volume, que tem fotos de Nova York entre os anos 30 e 50 e trechos dos livros em que cada receita aparece. Os capítulos estão divididos por temas comuns às histórias de Rex Stout: café da manhã, almoço e jantar, comida para os dias frios, comida para os dias quentes... E mais receitas de Fritz Brenner, refeições preparadas por terceiros, criações do restaurante Rusterman's e o grande jantar servido no encontro do Les Quinze Maîtres, descrito em Cozinheiros demais. Mesmo quem nunca leu Wolfe acaba curtindo o livro, se gosta de cozinhar; e quem não cozinha acaba gostando também, se for fã de Stout e do gordo detetive.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Os doze trabalhos de Hércules

Os doze trabalhos de Hércules
Monteiro Lobato (Brasiliense, 1995)

Mais do que um post, esse é, na verdade, um réquiem. Foi no sábado que aconteceu: minha mãe telefonou e contou que a coleção do Monteiro Lobato que eu conheço desde criancinha, a coleção verde de capa dura com meu querido Reinações de Narizinho, estava toda infestada de bichos. Há tempos eu ensaiava para levar tudo a um restaurador; os livros tinham mais de 50 anos, havia capas caindo, folhas amareladas, costuras se desfazendo em pó. Mas não me mexi. E então autorizei minha mãe a jogar tudo fora, vai que os bichinhos se espalham pelo resto da estante que eu ainda conservo na casa dela porque na minha não há mais espaço - "vai que", não; os volumes vermelhos de O mundo da criança também foram atingidos e conseqüentemente dispensados.

É claro que fiquei triste. Sei que isso aconteceu pela minha preguiça e pelo medo de gastar uma grana enorme com a restauração dos livros. Mas não me desesperei. Como eu disse à minha mãe, a coleção infantil do Monteiro Lobato se mantém vivíssima na minha cabeça e no meu coração - e espero que viva para sempre. A marquesa de três estrelinhas, os bolinhos da tia Nastácia, o palmito com mel, a canastrinha, os vestidos de gorgorão da Dona Benta, "tô vendo uma poeirinha lááááá longe...", os meninos lagarteando ao sol, brincar de não pensar, a viagem ao país da gramática, o circo da aritmética... A lista vai longe.

Escolhi Os doze trabalhos de Hércules para ilustrar esse post porque sempre foi um dos meus preferidos. Com ele, e com O minotauro, aprendi a gostar de mitologia, conheci os deuses gregos, Péricles, Aspasia e companhia, me apaixonei pela história da ninfa Eco e soube que "o figo é uma flor que se abre pra dentro". Um dia hei de encontrar a coleção de capa verde num sebo. E, quando isso acontecer, não vou esperar pra ir ao restaurador.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Papiers à la mode

Papiers à la mode
Isabelle de Borchgrave e Rita Brown (CosacNaify, 2008)

Eu preciso arrumar um tempo para ver a exposição Papiers à la mode, em cartaz no museu da Faap. Já tinha me animado ao ler uma matéria no jornal sobre o trabalho de Isabelle de Borchgrave; depois desse livro, então, o programa tornou-se urgente. É como se eu precisasse ver de perto todas as roupas da mostra para ter certeza de que são mesmo feitas de papel.

Porque é isso que Isabelle faz: reproduz, com apenas dois tipos de papel e em tamanho natural, roupas criadas desde os anos 1500 até os dias atuais. Há uma ou outra peça masculina - como uma casaca de 1760, arrematada com um foulard -, mas a maioria são vestidos arrebatadores. Rendas, bordados, babados, plissados, seda, veludo, voile, algodão, tudo é recriado com tamanha minúcia e precisão que, bem, parece de mentira. Faap, aqui vou eu.

Livro das perguntas

Livro das perguntas
Pablo Neruda (CosacNaify, 2008)

"Pablo Neruda era muito feio. Tinha um nariz que se destacava bastante da cara, e por isso não tinha amigos. Para não se entediar, deu para escrever poemas, e escreveu tantos que encheu todos os papéis que tinha em sua casa." Assim começa a impagável definição de Miguel Ángel Mouriño, 9 anos, para o autor desse livro - são dele, e de outros garotos, as minibiografias dos artistas envolvidos no projeto. No posfácio, Herrín Hidalgo conta de uma edição chilena do Livro das perguntas com respostas de crianças para as indagações do poeta. Imagino que delícia deva ser.

Não dei muita bola quando o livro foi lançado, há alguns meses, pois conheço pouco tanto de Neruda quanto do tradutor, Ferreira Gullar. Foi uma bela surpresa. À poesia dos dois juntou-se o talento ilustrador de Isidro Ferrer, autor de divertidas colagens, várias com o rosto - e o narigão - de Neruda. O título das perguntas/poemas é apenas um numeral. Como a XXXVIII, que diz:

Não crês que a morte vive
dentro do sol de uma cereja?

Também não pode matar-te
um beijo da primavera?

Crês que o luto faz avançar
a bandeira de teu destino?

Vês na caveira tua estirpe
condenada a virar osso?

domingo, 9 de novembro de 2008

Panati's extraordinary origins of everyday things

Panati's extraordinary origins of everyday things
Charles Panati (Harper USA, 1989)

Não tenho quase nada contra as livrarias brasileiras. Mas poucos lugares me deixam mais feliz do que uma livraria grandona americana, seja a Strand, a Barnes & Noble, a Borders - ou mesmo uma pequena loja com cara de filme antigo, como a Olsson's, em Washington DC. Meu grande prazer é me enfiar entre as estantes e passar uma tarde inteira, se necessário, vendo livro por livro de assuntos como culinária, moda, viagens, referência. Às vezes é tanta possibilidade que a escolha se torna impossível: diante de uma estante até o teto com biografias de John Kennedy na Strand, em janeiro, acabei saindo de mãos vazias.

Foi numa dessas incursões que encontrei esse Panati's extraordinay origins of everyday things. Inútil? Talvez. Quem é que precisa saber como surgiram os Kleenex e os esmaltes de unha? As Barbies e os abridores de lata? Mas uma boa parte de mim adora cultura inútil, e teima em acreditar que, um dia, essas informações encontrem, afinal, utilidade no que eu escrevo. E o Panati's não se limita a estabelecer a origem de objetos como papel higiênico, máquina de costura e talheres. Trata também de costumes natalinos e casamenteiros, fábulas infantis, superstições e maneiras à mesa. Outro dia mesmo eu impressionei dois interlocutores contando a história do trenchcoat. E nem foi no Panati's que aprendi!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O livro das frutas

O livro das frutas
Jane Grigson (Companhia das Letras, 1999)

Certa vez um homem me disse que nunca se interessou por pêssegos porque não poderia jamais comer uma fruta que fosse tão perfumada. Havia um prato de pêssegos à nossa frente, e eu peguei um deles para cheirar bem fundo, sentindo o prazer daquele perfume, enquanto pensava "perdoai, ó pai, ele não sabe o que diz". Prefiro acreditar que foi uma tentativa desastrada de fazer um comentário pseudo-profundo e engraçadinho; eu tinha que relevar, pois gostava muito da companhia desse homem.

Acabei de devorar o quarto pêssego de hoje, macio e docinho, e me lembrei desse livro de Jane Grigson, uma enciclopédia sobre frutas e algumas receitas onde elas se saem melhor. Os capítulos estão em ordem alfabética, do queridíssimo abacaxi às uvas que eu ainda não aprendi a valorizar, e no fim há apêndices sobre compotas, biscoitos e pães, cremes e preparações variadas. Volto sempre a O livro das frutas - meus dois senões são a indefinição entre o nome em português ou em inglês de algumas berries (mirtilo, cranberry, framboesa, loganberry) e a inclusão de frutas que não conhecemos, como sorva, cornisolo e ruibarbo (que nem queremos conhecer; eu, pelo menos, comi e achei que tem gosto de grama). Em compensação, tem graviola, feijoa, sapoti. Pra ficar melhor, só faltavam umas fotos.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Os homens que não amavam as mulheres

Os homens que não amavam as mulheres
Stieg Larsson (Companhia das Letras, 2008)

Adoro histórias de mistério. Adoro Agatha Christie. Adoro Harry Potter. E quando esse livro ganhou matérias nos jornais com gente dizendo que era uma ótima novidade entre as histórias de mistério, "tão fácil quanto Agatha Christie", "um fenômeno como Harry Potter", e quando eu vi que a última capa trazia elogios do Garcia-Roza e do Calligaris, não resisti. Mas devia ter desconfiado: o filme do primeiro volume já foi finalizado e estréia ano que vem na Suécia. Além disso, a Companhia das Letras providenciou uma vistosa cinta dizendo que o livro vendeu não sei quantos milhões de exemplares na Suécia e sei lá mais onde; até aí, o Paulo Coelho e o Sidney Sheldon também vendem.

Talvez o livro fosse melhor se a) o falecido autor tivesse jogado fora umas 200 das 500 páginas que escreveu; b) se dedicasse apenas ao mistério em si, e não ao sub-enredo que fica pairando por ali e que se resolve no final de uma maneira incompreensível e inútil; c) o desfecho do mistério provocasse um mínimo de surpresa e "oh!" na gente. Li em alguma resenha que os personagens são bem construídos. Não concordo. Sobre as conquistas amorosas do mocinho, Mikael Blomkvist, não dá pra entender se têm importância ou não. A mocinha, Lisbeth Salander, é o clichê supremo do desajustado, cheia de tatuagens e piercings, roupa preta, casaco de couro e comportamento anti-social. Numa cena sem qualquer importância para a trama, ela é estuprada de maneira violenta. Lá pra frente, fica ridiculamente inverossímil quando se descobre apaixonada. Mas o pior de tudo são as grandes descobertas e deduções de Blomkvist e Salander, concebidas de um jeito tão forçado, mas tão forçado, que chegam a ofender qualquer leitor de Agatha Christie. E de Harry Potter.

Classic make-up & beauty

Classic make-up & beauty
Mary Quant (Dorling Kindersley, 2007)

Já fazia algum tempo que eu não chorava tanto quanto na noite passada. O choro de tristeza é pior do que o choro de raiva, o da dor física e, claro, o da alegria e o da emoção. Parece que deixa marcas mais fundas, abre rugas que teimam em não fechar nem com cremes moderníssimos, transforma lágrimas e secreções num só jorro salgado que ao mesmo tempo alivia e causa repulsa.

Portanto hoje, quando acordei, o espelho denunciou as marcas do choro e da noite mal dormida. E eu só consegui adquirir segurança suficiente pra levantar a cabeça e sair para o trabalho depois de meia hora usando os truques desse livro para desinchar os olhos e dar ao rosto uma aparência menos abatida. Classic make-up & beauty ensina, com centenas de fotos e passo-a-passos instrutivos, como reconhecer seu tipo de pele, passar blush, pintar direito os olhos para valorizá-los e aumentá-los - foi a minha salvação matinal. Então eu descobri que maquiagem, além de muito importante para o meu bem-estar, pode ser de ajuda fundamental nos dias em que a tristeza parece estampada na cara.