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Peter Gay (Companhia das Letras, 1989)
É preciso fôlego e um considerável investimento de tempo para percorrer as 700 páginas da biografia de Freud, mais de 100 delas só de notas e referências bibliográficas. Compensa: Peter Gay faz um apanhado completo não só da vida como da obra do criador da psicanálise. O começo difícil, a influência de Breuer, os amigos, os desafetos, as proposições que se mostraram equivocadas, os acertos, as expectativas em relação à psicanálise - tudo aparece sem concessões ou reverência e convida o leitor a percorrer os caminhos que levaram Freud à criação de sua teoria revolucionária. "A psicanálise", escreve Peter Gay, "dera o terceiro golpe histórico na megalomania da humanidade. Copérnico havia estabelecido que a Terra não é o centro do Universo, Darwin fizera a humanidade ingressar no reino animal e agora ele, Freud, estava ensinando ao mundo que o ego, em larga medida, é servo das forças inconscientes e incontroláveis da mente."
Em relação à vida de Freud, Gay fez um trabalho exemplar - ele retoma até os pensamentos e lembranças do garoto Sigmund para justificar seu futuro processo criativo. Só senti falta de mais análise das obras. Por me sentir incapaz de ler o que Freud escreveu, gostaria que alguém as traduzisse pra mim como resumos de vestibular (e Gay faria isso brilhantemente). Para mim está muito claro que o pensamento freudiano é essencial para a reflexão sobre quem se é, por que se é, como se é - e sobre as atitudes que tomamos a partir disso, e sobre os traumas que ganhamos, e as neuroses que adquirimos. O bom é que geralmente tem cura, mesmo que pra isso seja preciso enfrentar um longo e muitas vezes doloroso processo terapêutico.
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