sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Pollyanna

Pollyanna
Eleanor H. Porter (Scipione, 2008)

Foi o assunto de ontem na pizzaria. "Você também leu?" "Mas era aquela capa com o rosto de uma garota sardenta?" "E alguém se lembra de Pollyanna Moça?" Sim, sim e sim, respondi. Ganhei Pollyanna da minha avó, com a garota sardenta na capa, quando tinha uns 6 ou 7 anos - se bobear, ainda tenho esse exemplar perdido por aí, com o papel jornal se esfarelando.

"Ser Pollyanna" virou sinônimo de um otimismo exacerbado e ingênuo, mas eu duvido que alguém que tenha lido o livro na infãncia não tenha tentado se dedicar, também, ao jogo do contente. Era bobo demais, mas dava a ilusão de que tudo tinha um lado bom: da vizinha rabugenta ao acidente que deixa as pernas quebradas. Mesmo assim, entre os dois volumes eu prefiro Pollyana Moça - nele, a menina cresceu, a vida começa a cobrar seu preço e ela percebe, enfim, que o jogo nem sempre é solução. Além disso, tem romance e a expectativa de um grande mistério. Acho que vou ler outra vez.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Hélio Pellegrino

Hélio Pellegrino
Paulo Roberto Pires (Relume Dumará, 1998)

Foi paixão à primeira lida, e olha que o livro começa com o enterro de Hélio Pellegrino. Eu me emocionei com a cena. Fiquei triste por não ter conhecido HP. Eu me inquietei por não ser nascida em 1968 e ter perdido seu combate à ditadura (foi a ele que Zuenir Ventura dedicou seu 1968 - O ano que não terminou). E não é à toa que o subtítulo dessa minibiografia, editada na ótima coleção Perfis do Rio (que fim levou? Faz tempo que não vejo nada novo), seja "A paixão indignada" - Hélio Pellegrino era movido a paixão e a despertava em quem quer que estivesse por perto, para o bem ou para o mal.

De seus escritos, li pouco. Tenho um ou dois livros, que pego de vez em quando para folhear, sem nunca me ater completamente a eles talvez por medo do que possa encontrar. Creio que sua fala tenha sido mais proveitosa, como mostra a resposta que Hélio Pellegrino deu a Clarice Lispector numa entrevista para a revista Manchete, e que Paulo Roberto Pires transcreveu. É linda:

"Hélio, diga-me agora, qual é a coisa mais importante do mundo?"
"A coisa mais importante do mundo é a possibilidade de ser-com-o-outro, na calma, cálida e intensa mutalidade do amor. O Outro é o que importa, antes e acima de tudo. Por mediação dele, na medida em que o recebo em sua graça, conquisto para mim a graça de existir. É esta a fonte da verdadeira generosidade e do entusiasmo - Deus comigo. O amor genuíno ao Outro me leva à intuição do todo e me compele à luta pela justiça e pela transformação do mundo."

Hélio Pellegrino rules.

sábado, 23 de agosto de 2008

A sangue frio

A sangue frio
Truman Capote (Companhia das Letras, 2003)

Poderia ser o anti-romance policial: desde o começo já se sabe quem são os assassinos. Mas é um dos melhores exemplos do chamado jornalismo literário, reportagens profundas muito bem contadas em textos primorosos de caras como Truman Capote e Gay Talese. Com jeitão de romance desapaixonado, A sangue frio narra a matança da família Clutter no Kansas de 1959. Os assassinos, Dick e Perry, estão presos, e aos poucos abrem ao escritor não só suas histórias pessoais mas a maneira como encontraram e mataram suas vítimas. É de arrepiar: você acha que está lendo uma trama inventada e tudo aquilo aconteceu de verdade.

Anos antes de ler A sangue frio eu já nutria simpatia por Capote por ele ter participado do engraçadíssimo filme Assassinato por morte no papel de um ricaço que reúne, em sua mansão, os maiores detetives da história - uma paródia de Columbo, Poirot, Miss Marple e outros (ok, o blog é sobre livros, mas não dá pra deixar de mencionar a sensacional dupla formada, no filme, por Alec Guiness e Nancy Walker, o mordomo cego e a cozinheira surda-muda). Além disso, Capote escreveu Bonequinha de Luxo, que deu origem a outro filme ótimo, um dos meus preferidos. A sangue frio talvez seja sua obra-prima, embora um tanto controversa; há quem diga que o autor se apaixonou por Perry, ou que pagou os advogados de apelação da dupla criminosa para ganhar tempo e terminar seu livro. Um excelente filme de 2005, com Philip Seymour Hoffman no papel principal, conta como Capote fez sua reportagem. Cada um que tire suas próprias conclusões.

O evangelho segundo Jesus Cristo

O evangelho segundo Jesus Cristo
José Saramago (Companhia das Letras, 2005)

Meu irmão foi embora para os Estados Unidos e levou com ele (ou deixou em lugar desconhecido) meu antigo exemplar do ...evangelho, todo escrito e riscado com caneta marca-texto. Que droga. Eu gostaria muito de saber, hoje, o que posso ter anotado num livro que li aos 20 e poucos anos, quando a culpa católica e cristã que orientou minha vida ainda martelava forte em minha cabeça.

Foi o único Saramago que li - tenho até A caverna autografado, mas Saramago mete medo pelo estilo, tenho medo de me sentir muito burra por não entender ou achar chato. Mas do ...evangelho eu gostei, gostei muito. Uma das partes assinaladas de que eu mais me lembro é o diálogo entre Jesus e o Diabo num barco, em meio a um nevoeiro. Aquela história de "mas o seu Deus só pode existir se existir também o mal" me causa arrepios até hoje.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Cem dias entre céu e mar

Cem dias entre céu e mar
Amyr Klink (Companhia das Letras, 2005)

Devorei esse livro aos 16 anos, como mostram as inúmeras anotações na minha agenda da época (sim, eu guardo cartas, cartões, diários e agendas da adolescência. São meu único tesouro). E me apaixonei por Amyr Klink. Não acreditei quando, ainda em 1986, ele foi fazer uma palestra para a turma de magistério do colégio onde eu estudava e um amigo meu (o querido, queridíssimo Bal) conseguiu que a diretora nos deixasse participar do encontro. A fã encontra o ídolo - e aos 16 anos, uau.

Simpatizo com Amyr Klink até hoje, mas nunca mais li os seus livros. Tenho a impressão, saída principalmente de uma frase copiada na agenda, de que embora ele seja um cara low profile, acaba sendo vendido pelas editoras como um produto edificante - tô tentando achar um eufemismo pra não dizer que os livros dele viraram meio auto-ajuda. É um pouco irritante desconfiar que suas louváveis jornadas e aventuras tenham se tornado apenas pano de fundo para os batidos siga-o-seu-sonho, você-também-pode-conseguir, depois-das-adversidades-vêm-as-bonanças. Mas pode ser só impressão.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O clube dos suicidas

O clube dos suicidas
Robert Louis Stevenson (Rocco, 1986)

Se tinha uma coisa que Robert Louis Stevenson sabia fazer era prender a atenção dos leitores - que o digam clássicos como O médico e o monstro e A ilha do tesouro. Não é o caso desse O clube dos suicidas, porém. Chatinho, chatinho, e completamente sem graça, mesmo com um tema ótimo: homens que querem morrer, mas não têm coragem de se matar, criam um clubinho em que todos se sabem destinados à morte; só não sabem como, quando nem por obra de quem vão passar desta para a melhor.

Já vi referências desse livro como um precursor do gênero policial e etcs do gênero. Não sei se porque o suicídio é um tema que me interessa demais ou se na época da leitura eu estava mais chata do que o costume, mas achei que Stevenson desperdiçou uma ótima oportunidade de criar algo realmente impactante. Bem, não dá pra reclamar muito, porque o tempo mostra que ele melhorou: O clube dos suicidas é anterior a O médico e o monstro, esse retrato em forma de fantasia que revela tão bem o ser humano.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Por acaso

Por acaso
Ali Smith (Companhia das Letras, 2006)

Li esse livro na edição britânica que aparece aí do lado. E não consigo me lembrar de NADA dele. Bem, quase nada: sei que trata de uma família de férias numa casa alugada, que durante a temporada aparece uma garota cheia de mistérios e que cada capítulo é narrado por um personagem (mentira, isso eu também não sabia; vi num resuminho do livro ao procurar a capa que saiu na Inglaterra).

Como diz Pierre Bayard em Como falar dos livros que não lemos, um livro esquecido é um livro não-lido. Acredito. Não consigo saber se eu gostei da história, não me lembro de nenhum acontecimento especial na trama, não sei que sensações ela causou em mim. Pior, muito pior: não deve fazer dois anos da leitura. Será que minha memória anda bem mais deteriorada do que eu acredito ou o livro é tão desinteressante que não consegui reter nadinha dele?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sem cachimbo nem boné

Sem cachimbo nem boné
Isa Silveira Leal (Brasiliense, 1983)

A série de lembranças da infância continua com essa história de detetives protagonizada por cinco garotas - "nada além de 18 anos" - que fazem com a avó um cruzeiro à Bahia. Durante a viagem, um valioso anel some da bagagem de uma passageira, e a turminha não sossega enquanto não descobre o que aconteceu. (Eu nunca vou me esquecer de um dos suspeitos, um sujeito chamado Heitor de Oliveira. No prédio em que eu morava havia um vizinho que, na minha imaginação, era a descrição perfeita do Heitor de Oliveira.)

Sem cachimbo nem boné, que eu li talvez aos 10, 11 anos, foi o livro que me fez ter vontade de conhecer Salvador. Não de navio, que nunca quis fazer um cruzeiro. Mas de ver o Bonfim, principalmente, e de cantar as músicas de Caymmi num passeio por Itapuã. Ah, sim: a história também é bacana. Para uma cabecinha romântica e curiosa, Isa Silveira Leal era a mistura perfeita de mistério e romance - algum dia escrevo sobre outro livro da autora com os mesmos ingredientes: Elas liam romances policiais.

domingo, 17 de agosto de 2008

Nigella Express

Nigella Express
Nigella Lawson (Ediouro, 2008)

Muita gente chama a Nigella de Nojentella só porque, em seu programa de TV, ela enfia o dedo na panela e lambe o molho prazerosamente, ou porque confessa que come com voracidade o que sobrou da massa de bolo. E quem é que nunca fez isso? Tá certo que congelar os restos de vinho dos copos dos convidados pra cozinhar depois, como ela também faz... bem, é muito nojento mesmo. Mas a gente não precisa chegar a esse ponto.

Seu primeiro livro editado em português é o mais recente a ter saído na Inglaterra e nos Estados Unidos. Só receitas rápidas, para serem preparadas em até meia hora. Numa delas, descobri que dá pra congelar banana, sim, desde que ela esteja bem madura e seja usada, ainda congelada, pra fazer vitaminas que ficam com cara de sorvete. Agora resta lançarem os outros livros dela aqui - How to eat é muito bom.

O mistério do escudo de ouro

O mistério do escudo de ouro
Odette de Barros Mott (Atual, 1989)
Das escritoras que marcaram a minha infância - Lúcia Machado de Almeida, Lucília Junqueira de Almeida Prado, Isa Silveira Leal -, Odette de Barros Mott foi talvez a que mais incomodou, porque seus livros tratavam de um jeito bem realista de problemas que nem sempre uma garota de 8 ou 9 anos quer saber que existem: crimes, pobreza, tráfico de drogas, meninos de rua.

O mistério do escudo de ouro (que aqui aparece com a capa original, lançada pela saudosíssima coleção Jovens do Mundo Todo, da Brasiliense) era exceção: uma história de detetives que começa com um elevador parado e vai dar em uma família de holandeses no Brasil e ao escudo do título. De Odette de Barros Mott eu guardo, há quase trinta anos, uma carta curtinha escrita em papel fininho e letra feia, em que ela aconselha a jovem leitora a escrever sem se preocupar com o fim da história. Acho que nunca entendi direito o recado dela. Nem quando, muitos anos depois, uma parte do legado da própria Odette seria responsável pelo final de uma história tão marcante em minha vida.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Manual dos Jogos Olímpicos

Manual dos Jogos Olímpicos
Editora Nova Cultural, 1988

Eu já devo ter dito em algum post que um dos meus divertimentos é tentar comprar novamente os livros que fizeram parte da minha infância - quando eu tinha uns 17 ou 18 anos, doei minha biblioteca infantil para o colégio onde eu havia estudado. Minha prioridade sempre foi recuperar a série da Inspetora. Depois, os manuais Disney que tanto me divertiram, e que eu e meu irmão herdamos de um primo na década de 70: do Tio Patinhas, sobre dinheiro, do Peninha, sobre jornalismo ("Dr. Livingstone, eu presumo?"), do Professor Pardal, sobre invenções, da Maga e Min, sobre bruxarias e afins... Até hoje, não entro em sebo sem procurar por eles - adoraria encontrar o da Vovó Donalda, sobre cozinha, e de onde tirei a receita da torta de maçã que faço até hoje.

Esse Manual dos Jogos Olímpicos, que não sei por que tem o atrapalhado Pateta como protagonista, me apresentou ao Barão de Coubertin, aos jogos da Grécia Antiga, aos feitos esportivos do Brasil na história das Olimpíadas. Foi adquirido há uns dois anos num sebo, em edição da Nova Cultural - os livros originais saíram pela Editora Abril. E o mais legal foi descobrir, entre suas páginas, uma pequena folha com anotações musicais do, sei lá, antigo dono: na época em que ainda havia cassetes, ele (parece letra de menino) fez uma relação do que gravou, ou pretendia gravar, no lado A e no lado B de uma fita. Great balls of fire, Johnny B. Goode, Mona Lisa, You drive me crazy... Eu AMO esses registros misteriosos esquecidos dentro de um livro. Meu maior troféu, até hoje, é o minúsculo leque de plástico pintadinho que veio junto com o Rayuela que eu ganhei de presente. Rende uma história.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O que eu amava

O que eu amava
Siri Hustvedt (Companhia das Letras, 2004)

Cheguei à página 254 deste livro quase por acaso, porque por pouco não larguei a leitura no começo. Embora eu tenha ficado curiosa pela história, achei o texto meio chato. Muita descrição de obras de arte que fazem a gente prestar uma atenção danada pra tentar visualizar tudo aquilo, uma estrutura um pouco repetitiva, um narrador monocórdio. Aí fiz uma coisa que não deveria fazer, e eu sei que não deveria fazer: dei uma folheadinha pra frente, pra ver se havia alguma perspectiva de mudança - um novo capítulo próximo de onde eu estava, sei lá.

Pois dei de cara com a segunda parte do livro e, logo na primeira frase, um personagem morreu. Não tive alternativa a não ser continuar a leitura pra saber como, por que justo essa morte? Passei o funeral, passei o luto, li mais um pouco e agora estou lá, na página 254. Faltam outras 250 para o livro terminar. E não sei o que fazer. Continuo, mesmo um tanto a contragosto? Largo, e fico sem saber como a história acaba? Largo apenas por um tempo, e tento voltar em outra hora?

domingo, 10 de agosto de 2008

Assim morreram os ricos e famosos

Assim morreram os ricos e famosos
Michael Largo (Larousse, 2008)

Michael Largo tem obsessão pela morte. Em seguida a Final exits, e aproveitando boa parte do material desse primeiro livro, ele lançou um outro volume dedicado, dessa vez, a contar como morreram várias pessoas conhecidas. A capa e o projeto gráfico seguem a mesma linha do livro anterior, inclusive com notas e citações entre os verbetes - recurso que, às vezes, deixa a leitura um pouco confusa. Por incrível que pareça num livro organizado em ordem alfabética de sobrenomes, faz falta um índice onomástico, já que muita personalidade entra em notas temáticas e, dessa forma, Janis Joplin aparece no verbete de Jim Morrison.

O bacana é que, mais do que apenas desfiar um monte de causas mortis, Michael Largo também dá uma palhinha da vida de figuras tão interessantes quanto Nikola Tesla (coração), Anne Sexton (asfixia por gás carbônico), Rod Serling (Alzheimer), Geronimo (pneumonia). O que só faz aumentar minha certeza de que eu poderia, se quisesse, passar o resto da vida lendo apenas biografias.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Final exits

Final exits
Michael Largo (Harper USA, 2006)

Acho que a vontade de todo mundo é a de morrer dormindo, na paz do sono, de preferência em meio a um sonho bom. Mas nem sempre é assim que acontece, como mostra Michael Largo numa enciclopédia que reúne centenas de causas mortis organizadas em ordem alfabética. Como ele mesmo explica no prefácio: em 1700, as certidões de óbito registravam menos de 100 causas para a morte. Hoje, há mais de 3 mil, a se contar as estatísticas americanas.

Final exits é muito mais curioso do que mórbido. Em "furniture", por exemplo, conta a história de um turista de Taiwan que morreu atingido por uma cadeira, jogada do 34º andar de um hotel em Nova York. Em "fashion", lembra a morte trágica da dançarina Isadora Duncan, asfixiada pela própria echarpe durante um passeio de carro. Apesar de uma ou outra foto realmente desconcertantes, a maioria das ilustrações do livro passa longe do macabro - para falar de envenenamento por tinta há uma foto de Goldfinger em que o James Bond Sean Connery passa as mãos pelo corpo todo pintado de Shirley Eaton. Curiosidade: para evitar que a atriz morresse durante as gravações, um pequeno pedaço de sua barriga foi deixado sem tinta. Só assim sua pele conseguiu respirar.

domingo, 3 de agosto de 2008

Mau humor

Mau humor
Ruy Castro (Companhia das Letras, 2002)

Comprei esse livro no início dos anos 1990, com outra capa e outro nome - O melhor do mau humor. Minha intenção era dá-lo de presente ao meu então namorado, um sujeito deliciosamente mal humorado (pelo menos para mim; as pessoas que conviviam conosco não pareciam ter essa visão tão poética da ranzinzice alheia). Não lembro qual foi o motivo, mas acabei não dando o livro coisa nenhuma. Arranquei a página onde havia escrito uma dedicatória inspirada e fiquei com ele para mim.

Trata-se de uma compilação de citações venenosas disparadas por gente do calibre de Oscar Wilde, Woody Allen, Paulo Francis e aquela série de figuras das antigas de quem o Ruy Castro vive falando, eu não conheço e acho que estou perdendo muito por isso: Ambrose Bierce, W.C. Fields, a turma da Round Table do Algonquin de Nova York. Pois de todas as frases, a única que ficou na minha cabeça é do próprio Ruy Castro, e rendeu uma excelente epígrafe: "Ao cético que existe em você - e que você insiste em enjaular naquela esperança de que talvez o ser humano saiba o que faz. Pois, olhe, pode acreditar numa coisa: ele não sabe."

84, Charing Cross Road

84, Charing Cross Road
Helene Hanff (Penguin, 1990)

Esse livro está meio escondido, num cantinho da minha estante. Eu não o li, e acho que nunca vou ler. Dentro dele há uma carta que eu li apenas uma vez, e que não pretendo ler de novo. Não sei bem por que manter esses vestígios do passado, esses registros de tortura. Talvez porque façam parte da minha história, e isso baste.

Quando estive em Londres, muitos anos antes de ganhar esse livro e receber essa carta, eu já conhecia a história real da amizade epistolar entre uma escritora americana e um livreiro inglês que nunca se conheceram pessoalmente. Subi e desci a Charing Cross várias vezes, sonhando inconsciente com um encontro literário arrebatador. Quando ele veio, durou pouco. E acabou de vez com a vontade que eu tinha de ler esse livro.

Notícias do Planalto

Notícias do Planalto
Mario Sergio Conti (Companhia das Letras, 1999)

Para a minha geração, a queda de Fernando Collor representou mais do que o momento político mais importante do país: ver o ex-presidente descer de vez a rampa que tanto lhe serviu como palco marqueteiro equivaleu a um final feliz que foi negado à geração dos meus pais na luta contra a ditadura. E tão bom quanto vê-lo deixar Brasília ao lado de sua Barbie cor-de-rosa foi acompanhar os escândalos que precederam sua renúncia.

Mario Sergio Conti contou a ascenção e queda de Fernando Collor de uma maneira original: perfilando os principais veículos de comunicação que ajudaram não só a eleger, mas também a derrubar o ex-presidente. Veja, IstoÉ, Folha, Estadão, Globo, JB, todos tiveram sua parte. MSC não julga essa ou aquela atitude de cada empresa, mas expõe os fatos de maneira objetiva. Nem a Veja, onde o autor trabalhou como diretor, escapa de ter alguns podres revelados. Ótimo relato não só de uma vitoriosa campanha eleitoral e dos principais momentos de um governo corrupto como da imprensa que contribuiu para desmascará-lo.