O jogo da amarelinha
Julio Cortázar (Civilização Brasileira, 1999)
Ler é muito mais bacana quando se pode conversar sobre o livro em "uso" com alguém que esteja na mesma toada, ou que tenha recém-lido a mesma obra. Falar sobre o enredo, os personagens, a maneira como o autor tratou as situações, discutir a trama e as soluções narrativas é quase tão prazeroso quanto acompanhar a história em si. Algumas vezes eu tive esse privilégio - li Precisamos falar sobre o Kevin pouco depois de uma amiga muito inteligente, com quem foi ótimo conversar, e um querido amigo me telefonava de Nova York para comentarmos as belas poesias de Macau.
O jogo da amarelinha pode ser lido de duas maneiras: na ordem seqüencial dos capítulos ou seguindo as instruções de Cortázar, que ao fim de cada episódio indica para onde o leitor deve seguir - começa no 73, volta para o 1 e o 2, pula para o 116, retorna para o 3 e assim por diante. Por motivos diferentes (ou por obras diferentes), nós dois éramos fãs de Cortázar. E resolvemos ler O jogo da amarelinha ao mesmo tempo, cada um numa ordem: ele na seqüencial, eu no pula-pula. Por várias razões, não consegui terminar a leitura; e depois do capítulo 68, nada mais teria graça. Não sei como descrevê-lo; é um primor da invenção de palavras, de significado, de genialidade. Virou minha obsessão, quis ler o original em espanhol para ver se as palavras eram as mesmas do português. Eram.
Ele seguiu até o último capítulo e, quando insisti, me contou o fim da história. Ele comprou uma velha edição de O jogo da amarelinha em espanhol, Rayuela, e me deu o livro para que eu arrancasse a página do capítulo 68 e mandasse emoldurar, como eu queria. Nunca tive coragem de arrancar a página do livro. E ele perdeu a chance de viver o capítulo 68, na prática, com a única pessoa que entenderia.
domingo, 18 de maio de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
olá, estou para ler 'o jogo da amarelinha' e queria te perguntar qual o tradutor do teu livro ?
Oi, Nanda. Minha edição é a da Civilização Brasileira (1994), traduzida por Fernando de Castro Ferro. Não sei se há outras. Um abraço
Postar um comentário