domingo, 28 de dezembro de 2008

O Natal no Sabadoyle

O Natal no Sabadoyle
organização de Olímpio José Garcia Matos (Massao Ohno, 1994)

O Natal era bom quando eu era criança e minha avó materna se vestia de Papai Noel, e havia sempre uma discussão familiar sobre o que seria servido na ceia do dia 24, e no almoço do dia 25 estávamos todos lá, de volta à casa da vó, pra curtir os presentes do dia anterior e almoçarmos espremidos em volta da mesa da sala. Depois que minha avó morreu - e isso já faz muito tempo -, descobri que na verdade o Natal é uma festa muito deprimente quando não se têm mais tradições ou uma pessoa que simbolize a união. Foi só de uns tempos pra cá que eu consegui assumir: detesto essas festas de fim de ano que só servem pra gente reforçar o auto-engano. E, recentemente, duas das melhores noites de Natal da minha vida foram passadas dentro de um avião, com destino aos Estados Unidos, nocauteada por alguns comprimidos tarja-preta.

Mas não é por isso que eu sou insensível às coisas belas que o Natal já produziu - boa parte do repertório de Bing Crosby, A felicidade não se compra e esse livro, O Natal no Sabadoyle, uma edição comemorativa das atas de Natal escritas pelos freqüentadores do Sabadoyle. Começou em 1972, com Carlos Drummond de Andrade (eu quase coloquei uma foto do poeta no lugar dessa do Plínio Doyle, mas achei melhor homenagear o dono da casa), e seguiu até pelo menos 1994, quando o livro foi editado, com textos e poemas também de Pedro Nava, Alphonsus de Guimaraens Filho, Homero Homem, Homero Senna. Revendo agora meu volume, encontrado num sebo em condições quase excelentes, percebo que o livro trata mais da amizade, do Sabadolyle e das letras do que da festa em si. Como disse Drummond em seus versos finais de Natal na biblioteca de Plínio Doyle:

"(...) Mas tenho que concluir a versalhada
antes que soe a hora da consoada,
pois é Natal, ou quase, nestas salas
em que os livros, amados, formam alas,
agradecendo, num carinho mudo,
o que por eles faz o Plínio: tudo
que se chame cuidado, zelo, amor
de desvelado colecionador,
e os convivas, em roda, tecem loas,
por todas essas coisas muito boas,
ao amigo leal, firme, sem balda,
junto à doce presença de Esmeralda."

3 comentários:

Rogério/Ruy disse...

Eu adoro "A Felicidade Não Se Compra". E uma porção de outros filmes do Frank Capra.

Por falar em Bing Crosby, eis aqui uma animaçãozinha de "White Christmas" (não com ele, mas com os Drifters). Quem sabe entre na sua lista de coisas natalinas-porém-legais. (= Beijo!

http://www.youtube.com/watch?v=Ooc5eJc5SHA

Ozenilda Amorim disse...

Concordo quando você diz que quando não há uma pessoa que simbolize a união, essa festa se esvazia. E isso é muito pessoal e profundo, muitas vezes você está rodeado de pessoas queridas que lhe alegraram a vida inteira, mas esse lugar especial e vago não se preenche. É uma pena, pois também perdi o gosto por essas festas. Hoje acho tudo muito superficial, banal e comercial.

Tieia disse...

concordo com qualquer comentário sobre natal comercial mas há muito resolvi intervir e, mesmo trabalhoso, faço a "Vó" e reúno tantos quanto posso da minha familia em torno de uma comemoração onde a alegria é o prato principal. Tem dado certo. Pelo menos não me pego reclamando da data que oficialmente existe.