Homero Senna (Casa da Palavra, 2000)
De vez em quando alguém aparece com a pergunta: "se você pudesse ter escolhido outro lugar e outra época para viver, qual seria?" Eu já respondi que seria o Rio dos anos 50, na transição para a bossa-nova. Ou a São Paulo do modernismo de 1922. A Paris de Picasso, de Hemingway e Fitzgerald. Na verdade, acho que nada seria melhor do que o aqui e o agora - só de contar com a internet e com um sistema de troca de mensagens que, durante a maior parte de minha vida, não passava de um imenso delírio futurista, já me dou por satisfeita com os anos 2000.
Mas dois momentos da nossa história literária me fazem ter vontade de, senão ter vivido a época, pelo menos poder voltar um pouquinho no tempo. Um é o Rio de Janeiro no final do século 19, como Brito Broca descreve muito bem em seu Vida Literária no Brasil - 1900. Outro é o mesmo Rio, só que o dos anos 60 e 70, quando o advogado e bibliófilo Plínio Doyle começou a receber amigos no sábado à tarde em torno de sua biblioteca. Sábado + Doyle = Sabadoyle. Uma confraria literária, nas palavras do autor Homero Senna, por onde passaram nomes como Carlos Drummond de Andrade (um dos fundadores do grupo), Pedro Nava, Raul Bopp, Afonso Arinos e Alphonsus de Guimaraens Filho, e que contou com visitantes ilustres como Di Cavalcanti e Lygia Fagundes Telles. As atas de cada encontro - porque até isso o clubinho tinha - chegaram a ser reunidas em dois livros: uma edição das atas-poema, feita pelos próprios confrades, e uma reunião das atas de Natal, lançadas pela Massao Ohno nos anos 90. Será que ninguém se interessa em editar tudo de novo?
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