terça-feira, 10 de junho de 2008

Flores raras e banalíssimas

Flores raras e banalíssimas
Carmen Lucia Oliveira (Rocco, 2004)

Eu sempre fico em dúvida: o lugar mais bonito do Rio de Janeiro é o Aterro do Flamengo ou a Lagoa Rodrigo de Freitas? A pendência para o Aterro ganhou força desde que li esse livro, que o subtítulo indica como sendo "A história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop" - não sei por que não está escrito "A história de amor de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop", pois é disso que trata. Feia, baixinha, determinada e ultra moderna para sua época, Lota vinha de uma tradicional família do Rio. Vivia em meio a intelectuais e artistas e, nos anos 40, seu sonho era criar uma organização que promovesse a cultura do Brasil. Em 1951, aos 40 anos, a poeta americana Elizabeth Bishop tomou um navio e foi parar no Rio de Janeiro. Bishop conhecia Mary Morse, a companheira de Lota. Mary apresentou Bishop a Lota - e repentinamente saiu de cena, porque a agitadora cultural e a poeta se apaixonaram na mesma hora.

Viviam entre o apartamento do Leme e uma casa de sonho construída em meio à mata de Petrópolis, numa relação de altos e baixos tumultuada pelo alcoolismo da americana e o trabalho da brasileira. E o Aterro do Flamengo? No começo dos anos 60, durante o governo de Carlos Lacerda, Lota foi encarregada de coordenar a criação de um parque no terreno à beira-mar do Flamengo. Moveu mundos, fundos e gente como Roberto Burle Marx e Sérgio Bernardes para, como disse, "transformar aquele terreno cheio de entulho num Central Park". Deu um trabalhão, causou um monte de brigas e certamente contribuiu para atrapalhar o casamento das duas. Mas sempre que saio do Santos Dumont, ao percorrer o Aterro e ver a Marina da Glória e o Pão de Açúcar logo ali em frente, não deixo de agradecer em pensamento à empreitada de dona Lota.

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