Pequeno guia histórico das livrarias brasileiras
Ubiratan Machado (Ateliê Editorial, 2009)
Meus olhos brilharam quando vi esse volume na roda da Cultura: mais um para a minha coleção de "livros sobre livros". Edição bonita, capricho gráfico e um tema muito interessante, pequenas histórias de livrarias brasileiras desde o século 17 até as superlojas de hoje. Eu fico tentando me lembrar qual foi a primeira livraria que frequentei, e não consigo pensar em outra a não ser a Siciliano (aliás, as duas) do shopping Iguatemi. Lembro de entrar lá e sentir o cheiro dos livros nas estantes, lembro de procurar por algo específico - acho que Minha vida de menina foi um deles -, de ficar olhando as prateleiras em busca de nem sei quê. No Guarujá também tinha uma lojinha onde eu comprava basicamente Agatha Christie durante as férias.
Mas o que dizer de um livro que faz jus ao ditado "por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento"? A começar pelos erros de revisão - não sei nem como a editora teve coragem de publicar, no expediente do livro, a existência de um revisor. Dói ler coisas como "Durante muitos anos, Gazeau, trabalhou com uma conterrânea..." (p. 99) e "Localizada na rua da praia (...), num pequeno prédio de duas portas e uma janela, o negócio rendia tão pouco..." (p. 85). Eu até faria um esforço enorme para relevar (e teria que ser muito grande mesmo), não fosse o pior aspecto do livro: imprecisão nas informações.
Ela aparece de duas maneiras. A primeira, mais óbvia, está na incongruência entre o texto e algumas etiquetas que ilustram cada capítulo. A livraria Italiana (p. 101), inaugurada em 1894, em São Paulo, recebeu a etiqueta de uma certa Livraria Annunziato, que só surgiria em 1917 - e que não tinha nada a ver com a primeira. O texto sobre a livraria Teixeira (p. 73), também em São Paulo, afirma que a loja foi inaugurada na rua de São Bento, 52, e que mais tarde passaria pelos números 65 e 26 da mesma rua. Mas a etiqueta que ilustra a página mostra claramente o endereço: Rua de São Bento, 54. Mais um exemplo: o capítulo sobre a livraria de Evaristo da Veiga (p. 33), no Rio de Janeiro, traz o ano de 1823 no título. E o próprio texto, logo abaixo, encarrega-se de desmentir a afirmação: "O ano era o de 1823. Quatro anos mais tarde, ao se casar, Evaristo estabeleceu-se por conta própria, na rua dos Pescadores, 49" - que é o endereço da etiqueta.
Distração? Uma vez, vá lá. Duas, ainda passa. Mas isso acontece com frequencia ao longo do livro todo. Igualzinho à outra imprecisão nas informações, essa ainda mais vergonhosa, pois não se presta a desculpas como falta de atenção, revisão ou checagem. Onde é que já se viu um livro que se propõe "histórico" tentar adivinhar o que aconteceu? É o caso do texto sobre o Correio Paulistano (p. 61): "Tanto asim que, na mesma década, surgiram duas novas livrarias, a do Correio Paulistano (provavelmente anexa à tipografia)...". E no capítulo sobre a Universal (p. 51), de São Luís: "Desconheço referências de época, mas é mais do que certo que boa parte da vida literária daqueles "atenienses" se desenrolasse em uma ou duas das quatro livrarias da cidade." Sobre a Genoud (p. 77), de Campinas: "Como a Garraux, em São Paulo, que talvez tenha lhe servido de modelo, a loja vendia de tudo." E na Catilina (p. 39), de Salvador: "É bem provável que o jovem Castro Alves tenha sido frequentador da livraria, reunindo-se ali com os amigos."
Provavelmente? Mais do que certo? Talvez tenha servido de modelo? E, pior, é bem provável que Castro Alves tenha estado na livraria? Espero sinceramente que tais absurdos não se repitam na obra que o autor diz estar escrevendo, uma história das livrarias no Rio de Janeiro. E olha que lá tem assunto: só a Laemmert e a Garnier mereciam, cada uma, um volume próprio.
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