domingo, 19 de abril de 2009

Pequeno guia histórico das livrarias brasileiras

Pequeno guia histórico das livrarias brasileiras
Ubiratan Machado (Ateliê Editorial, 2009)

Meus olhos brilharam quando vi esse volume na roda da Cultura: mais um para a minha coleção de "livros sobre livros". Edição bonita, capricho gráfico e um tema muito interessante, pequenas histórias de livrarias brasileiras desde o século 17 até as superlojas de hoje. Eu fico tentando me lembrar qual foi a primeira livraria que frequentei, e não consigo pensar em outra a não ser a Siciliano (aliás, as duas) do shopping Iguatemi. Lembro de entrar lá e sentir o cheiro dos livros nas estantes, lembro de procurar por algo específico - acho que Minha vida de menina foi um deles -, de ficar olhando as prateleiras em busca de nem sei quê. No Guarujá também tinha uma lojinha onde eu comprava basicamente Agatha Christie durante as férias.

Mas o que dizer de um livro que faz jus ao ditado "por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento"? A começar pelos erros de revisão - não sei nem como a editora teve coragem de publicar, no expediente do livro, a existência de um revisor. Dói ler coisas como "Durante muitos anos, Gazeau, trabalhou com uma conterrânea..." (p. 99) e "Localizada na rua da praia (...), num pequeno prédio de duas portas e uma janela, o negócio rendia tão pouco..." (p. 85). Eu até faria um esforço enorme para relevar (e teria que ser muito grande mesmo), não fosse o pior aspecto do livro: imprecisão nas informações.

Ela aparece de duas maneiras. A primeira, mais óbvia, está na incongruência entre o texto e algumas etiquetas que ilustram cada capítulo. A livraria Italiana (p. 101), inaugurada em 1894, em São Paulo, recebeu a etiqueta de uma certa Livraria Annunziato, que só surgiria em 1917 - e que não tinha nada a ver com a primeira. O texto sobre a livraria Teixeira (p. 73), também em São Paulo, afirma que a loja foi inaugurada na rua de São Bento, 52, e que mais tarde passaria pelos números 65 e 26 da mesma rua. Mas a etiqueta que ilustra a página mostra claramente o endereço: Rua de São Bento, 54. Mais um exemplo: o capítulo sobre a livraria de Evaristo da Veiga (p. 33), no Rio de Janeiro, traz o ano de 1823 no título. E o próprio texto, logo abaixo, encarrega-se de desmentir a afirmação: "O ano era o de 1823. Quatro anos mais tarde, ao se casar, Evaristo estabeleceu-se por conta própria, na rua dos Pescadores, 49" - que é o endereço da etiqueta.

Distração? Uma vez, vá lá. Duas, ainda passa. Mas isso acontece com frequencia ao longo do livro todo. Igualzinho à outra imprecisão nas informações, essa ainda mais vergonhosa, pois não se presta a desculpas como falta de atenção, revisão ou checagem. Onde é que já se viu um livro que se propõe "histórico" tentar adivinhar o que aconteceu? É o caso do texto sobre o Correio Paulistano (p. 61): "Tanto asim que, na mesma década, surgiram duas novas livrarias, a do Correio Paulistano (provavelmente anexa à tipografia)...". E no capítulo sobre a Universal (p. 51), de São Luís: "Desconheço referências de época, mas é mais do que certo que boa parte da vida literária daqueles "atenienses" se desenrolasse em uma ou duas das quatro livrarias da cidade." Sobre a Genoud (p. 77), de Campinas: "Como a Garraux, em São Paulo, que talvez tenha lhe servido de modelo, a loja vendia de tudo." E na Catilina (p. 39), de Salvador: "É bem provável que o jovem Castro Alves tenha sido frequentador da livraria, reunindo-se ali com os amigos."

Provavelmente? Mais do que certo? Talvez tenha servido de modelo? E, pior, é bem provável que Castro Alves tenha estado na livraria? Espero sinceramente que tais absurdos não se repitam na obra que o autor diz estar escrevendo, uma história das livrarias no Rio de Janeiro. E olha que lá tem assunto: só a Laemmert e a Garnier mereciam, cada uma, um volume próprio.

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