Leite derramado
Chico Buarque (Companhia das Letras, 2009)
Enrique Vila-Matas, no sensacional Bartleby e companhia, criou um personagem chamado Paranóico Perez: "Paranóico Perez nunca conseguiu escrever um livro, porque sempre que tinha alguma ideia para um e se dispunha a fazê-lo, Saramago o escrevia antes dele." Pois foi um pouco assim que eu me senti ao começar o novo Chico Buarque. Não, é claro, que eu tenha o talento que Chico já havia demonstrado em Budapeste, nem tenho imaginação suficiente para criar uma história tão divertida quanto Leite derramado. Mas o ponto de partida - uma pessoa falando para ninguém, numa cama de hospital - é igualzinho ao começo da única coisa que eu escrevi, até hoje, que julgo ter um pingo de qualidade. A semelhança para por aí. E tomara que eu não me transforme num outro Paranóico Perez e consiga terminar minha história.
Aos 100 anos de idade, Eulálio D'Assumpção imagina contar a trajetória de sua vida a uma das enfermeiras que o atende no hospital. Descendente de figurões cariocas com trânsito livre na corte imperial e nos salões da República, Eulálio é o último na cadeia de um velho ditado que cita: "avô rico, pai nobre, neto pobre". Em meio a delírios e confusões mentais, suas lembranças vão dando conta da morte do pai, do casamento com Matilde, do nascimento da filha, da decadência moral e financeira. Leitura agradável, divertida e rápida: o projeto gráfico do livro promove o milagre da multiplicação das páginas do que seria, na verdade, uma novela, e não um romance. Gostei bem mais que de Budapeste. E, ainda assim, não me sinto tentada a ler Estorvo ou Benjamim.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Estorvo é um estorvo! Só não é pior que o filme do Ruy Guerra. Nunca mais me animei a ler nenhum livro dele...
Pois é, desses primeiros nem o filme eu tive vontade de ver. Como não tenho vontade de ver o "Budapeste", que ainda será lançado. Abraço
TERMINEI! Não dá para competir com Budeste. Gosto muito, muito, muito das descrições e da poesia do texto de Budapeste. Leite Derramado para mim é um mix e memórias póstumas de brás cubas com dom casmurro. Tô achando o Chico um Machado moderno.
Mas não dá pra comparar com Budapeste. São tão diferentes!
Ah, não mesmo. É só questão de gosto. Ah, o meu é o de capa branca, lalalalalá.
O meu também. Mas no site da Cultura, que foi de onde eu roubei a capa, só tinha a laranja...
Postar um comentário