Livraria Argumento
Rio de Janeiro, RJ
Ir ao Rio de Janeiro sem passar pela Argumento do Leblon (a foto, que eu tirei do site, mostra a fachada de Copacabana) não tem a menor graça - pelo menos para mim. Rata que sou de livraria, geralmente conheço bem os lançamentos da semana; vá lá, os do mês. Mesmo assim, sempre encontro alguma novidade nessa loja carioca. Quando ali estive pela última vez, no final de 2004, levei, entre outros, um infanto-juvenil que contava a história de Dom Pedro I e um volume pequenininho, todo ilustrado e muito bonito, sobre Darwin, nenhum dos quais eu havia visto em São Paulo.
Fora os títulos que falam do Rio de Janeiro, ou dos ícones da cidade. Acho que na Argumento consigo encontrar, a qualquer hora, o livro de receitas do Celeiro, um restaurante quase vizinho à livraria - e que, mesmo depois de reeditado, não fica tão à mostra nem nas grandes livrarias de São Paulo, como a Cultura. E ainda tem o Café Severino, nos fundos da loja, que não prima(va) pelo atendimento simpático nem pelo sabor do pão de queijo (hoje acho que mudou tudo, tem até saladas e pratos rápidos), mas mesmo assim é um lugar bacana pra marcar de encontrar algum amigo carioca e tomar um suco enquanto os assuntos são colocados em dia.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
Dantes
Dantes
Rio de Janeiro, RJ
Pena. Escondido por trás de uma portinha, o sebo da Dias Ferreira, mesmo pequeno, convidava a horas de investigação em busca de edições antigas e outras difíceis de serem encontradas por aí. Confesso que só superei o medo da escada - daquelas com rodízios, que se apóiam nas paredes, e que me obrigaram a me agarrar às estantes, com medo de cair - quando vi que, nas prateleiras mais altas, estava a coleção do Lima Barreto. Foi ali que achei, para dar de presente a um amigo muito querido, O cemitério dos vivos, em que Lima Barreto conta sobre o tempo que passou internado num hospício. Do mesmo autor, comprei ainda dois volumes de sua correspondência. Uma edição antiga das crônicas do Machado de Assis. Um livro de Guimarães Passos, um sujeito que, por certo tempo, fez parte de uma pesquisa literária que eu empreendi com esse mesmo amigo.
Eu voltaria à Dantes tantas vezes quanto voltasse ao Rio de Janeiro.
Eu tenho medo de altura - e isso não quer dizer apenas que eu nunca subi ao alto da Torre Eiffel, ao Pão de Açúcar ou ao Empire State. Tenho vertigem em elevador panorâmico. Não gosto de subir em cadeira para trocar lâmpadas. Pois, com tudo isso, passei momentos muito felizes em cima de uma escada meio suspeita para xeretar as prateleiras mais altas do finado sebo Dantes, que ficava na rua Dias Ferreira, no Leblon. A loja, vejo hoje no site, não existe mais: deu lugar a uma editora que já lançou, entre outros, títulos de João do Rio, Ana Miranda e o Seis problemas para dom Isidro Parodi, escrito sob pseudônimo pela dupla Borges & Bioy Casares.
Pena. Escondido por trás de uma portinha, o sebo da Dias Ferreira, mesmo pequeno, convidava a horas de investigação em busca de edições antigas e outras difíceis de serem encontradas por aí. Confesso que só superei o medo da escada - daquelas com rodízios, que se apóiam nas paredes, e que me obrigaram a me agarrar às estantes, com medo de cair - quando vi que, nas prateleiras mais altas, estava a coleção do Lima Barreto. Foi ali que achei, para dar de presente a um amigo muito querido, O cemitério dos vivos, em que Lima Barreto conta sobre o tempo que passou internado num hospício. Do mesmo autor, comprei ainda dois volumes de sua correspondência. Uma edição antiga das crônicas do Machado de Assis. Um livro de Guimarães Passos, um sujeito que, por certo tempo, fez parte de uma pesquisa literária que eu empreendi com esse mesmo amigo.
Eu voltaria à Dantes tantas vezes quanto voltasse ao Rio de Janeiro.
sábado, 27 de junho de 2009
Strand
Strand
Como eu morei na cidade, e costumo visitá-la sempre que posso, não é raro que amigos peçam dicas de passeios quando vão a Nova York. Para os de espírito artístico eu indico o MoMA, museu de arte moderna que passou por uma reforma há alguns anos e está melhor do que nunca, seis andares que valem um dia inteiro lá dentro. Quem está a fim de comer bem e barato recebe o endereço do Gray's Papaya da rua 72, onde dois hot-dogs deliciosos custam menos que uma nota de 5 dólares. Mas o que eu mais gosto de fazer é falar das livrarias da cidade. Qualquer Borders ou Barnes & Noble já vale a visita, tamanha a quantidade de títulos em exposição. Pois eles são fichinha perto do acervo da Strand, um sebo genial que se gaba de ter 18 milhas - quase 29 quilômetros - de livros.
Felizmente, na última vez em que estive na Strand, em 2008, o aspecto poeirento e um tanto caótico da loja havia melhorado muito. Mas ainda é difícil encontrar, lá, qualquer coisa que já não esteja antes na sua cabeça. Eu fui querendo uma biografia do Kennedy - encontrei uma estante inteira, do chão ao teto, com biografias do Kennedy. E pra saber qual deles valia a pena? Saí de mãos vazias. Então o bom é fazer uma listinha, ou preparar-se para ficar horas vasculhando as estantes de temas específicos. Certa vez encontrei, baratíssimos, diversos livros antigos sobre enfeites de Natal (eu estava num pique decorativo). E foi lá que comprei meu It must have been something I ate, na época recém-lançado, a continuação de O homem que comeu de tudo.
E vale, principalmente, percorrer a Borders e a Barnes & Noble em busca de lançamentos, anotar o que for interessante e depois procurar os títulos na Strand. No térreo, uma parte desse sebo não-convencional reúne diversas novidades, algumas com pequenos defeitos - páginas mal-refiladas, uma mancha de tinta na capa, a lombada que saiu um pouco torta -, outras saídas do departamento de divulgação das editoras, a preços mais baixos que nas livrarias convencionais. Com a informatização do catálogo, também ficou mais fácil encontrar o que se procura, desde que você tenha paciência para aguardar na fila de gente que se forma querendo informações.
Nova York, Estados Unidos
Como eu morei na cidade, e costumo visitá-la sempre que posso, não é raro que amigos peçam dicas de passeios quando vão a Nova York. Para os de espírito artístico eu indico o MoMA, museu de arte moderna que passou por uma reforma há alguns anos e está melhor do que nunca, seis andares que valem um dia inteiro lá dentro. Quem está a fim de comer bem e barato recebe o endereço do Gray's Papaya da rua 72, onde dois hot-dogs deliciosos custam menos que uma nota de 5 dólares. Mas o que eu mais gosto de fazer é falar das livrarias da cidade. Qualquer Borders ou Barnes & Noble já vale a visita, tamanha a quantidade de títulos em exposição. Pois eles são fichinha perto do acervo da Strand, um sebo genial que se gaba de ter 18 milhas - quase 29 quilômetros - de livros.
Felizmente, na última vez em que estive na Strand, em 2008, o aspecto poeirento e um tanto caótico da loja havia melhorado muito. Mas ainda é difícil encontrar, lá, qualquer coisa que já não esteja antes na sua cabeça. Eu fui querendo uma biografia do Kennedy - encontrei uma estante inteira, do chão ao teto, com biografias do Kennedy. E pra saber qual deles valia a pena? Saí de mãos vazias. Então o bom é fazer uma listinha, ou preparar-se para ficar horas vasculhando as estantes de temas específicos. Certa vez encontrei, baratíssimos, diversos livros antigos sobre enfeites de Natal (eu estava num pique decorativo). E foi lá que comprei meu It must have been something I ate, na época recém-lançado, a continuação de O homem que comeu de tudo.
E vale, principalmente, percorrer a Borders e a Barnes & Noble em busca de lançamentos, anotar o que for interessante e depois procurar os títulos na Strand. No térreo, uma parte desse sebo não-convencional reúne diversas novidades, algumas com pequenos defeitos - páginas mal-refiladas, uma mancha de tinta na capa, a lombada que saiu um pouco torta -, outras saídas do departamento de divulgação das editoras, a preços mais baixos que nas livrarias convencionais. Com a informatização do catálogo, também ficou mais fácil encontrar o que se procura, desde que você tenha paciência para aguardar na fila de gente que se forma querendo informações.
Thirteen reasons why
Thirteen reasons why
Jay Asher (Penguin USA, 2007)
Seria muito fácil, ao terminar a leitura deste livro, desprezá-lo apenas porque ele traz uma moral - e ela, desde o começo, é clara e meio batida: veja o que pode acontecer quando você não liga para o sentimento dos outros e não trata bem seu semelhante. Principalmente quando seu semelhante é uma colegial problemática que não consegue lidar com a espiral de rumores que envolve sua vida desde o primeiro ano, e o primeiro beijo, numa nova escola.
Hannah, a colegial problemática, cometeu suicídio quinze dias antes da história começar. E ela começa quando Clay Jensen, um de seus colegas, recebe em casa um pacote sem remetente contendo catorze fitas cassete, com os lados numerados de 1 a 13. Clay leva um choque quando ouve a voz de Hannah sair das fitas - e fica mais apreensivo quando descobre que a garota gravou aquilo tudo como uma justificativa, seu desabafo sobre os treze motivos que a levaram ao suicídio, imputados a diversas pessoas da escola.
Clay não entende o motivo de estar nas fitas; ele gostava de Hannah Baker e havia ficado com ela recentemente em uma festa. Mas depois a garota passou a evitá-lo. E tudo o que ele quer é descobrir em que medida poderia ter responsabilidade em sua morte. Segue-se uma longa noite em claro, em que os podres de vários colegas vão aparecendo e se encaixando na vida tortuosa de Hannah, desencadeando o sentimento de desistência que acaba por lhe tirar a vida. Uma das virtudes do autor, Jay Asher, foi escrever sua história quase como um livro de mistério; é impossível conter a ansiedade para saber o que vai acontecer no próximo capítulo, o que a garota vai contar na próxima fita. Outra, tratar de um assunto pesado numa linguagem acessível e coloquial, misturando a voz de Hannah nas fitas e a reação de Clay em seus pensamentos.
Quando minha amiga Ana C. me falou deste livro, sabendo de meu interesse pelo tema do suicídio, eu nunca imaginei que pudesse ser uma obra escrita para adolescentes. Levei um susto quando vi que foi recomendada, entre outros, pela Association of Booksellers for Children e pela Young Adult Library Services Association. Chegou à lista dos mais vendidos no The New York Times. E fico feliz em imaginar que o livro possa não só ter servido como incentivo de leitura para os jovens, mas também que sua moral - aquela que faz a gente, por preconceito, desprezar livros com mensagens edificantes - possa ter contribuído para que um ou outro pense melhor em como agir nessa terrível época que é a adolescência.
Jay Asher (Penguin USA, 2007)
Seria muito fácil, ao terminar a leitura deste livro, desprezá-lo apenas porque ele traz uma moral - e ela, desde o começo, é clara e meio batida: veja o que pode acontecer quando você não liga para o sentimento dos outros e não trata bem seu semelhante. Principalmente quando seu semelhante é uma colegial problemática que não consegue lidar com a espiral de rumores que envolve sua vida desde o primeiro ano, e o primeiro beijo, numa nova escola.
Hannah, a colegial problemática, cometeu suicídio quinze dias antes da história começar. E ela começa quando Clay Jensen, um de seus colegas, recebe em casa um pacote sem remetente contendo catorze fitas cassete, com os lados numerados de 1 a 13. Clay leva um choque quando ouve a voz de Hannah sair das fitas - e fica mais apreensivo quando descobre que a garota gravou aquilo tudo como uma justificativa, seu desabafo sobre os treze motivos que a levaram ao suicídio, imputados a diversas pessoas da escola.
Clay não entende o motivo de estar nas fitas; ele gostava de Hannah Baker e havia ficado com ela recentemente em uma festa. Mas depois a garota passou a evitá-lo. E tudo o que ele quer é descobrir em que medida poderia ter responsabilidade em sua morte. Segue-se uma longa noite em claro, em que os podres de vários colegas vão aparecendo e se encaixando na vida tortuosa de Hannah, desencadeando o sentimento de desistência que acaba por lhe tirar a vida. Uma das virtudes do autor, Jay Asher, foi escrever sua história quase como um livro de mistério; é impossível conter a ansiedade para saber o que vai acontecer no próximo capítulo, o que a garota vai contar na próxima fita. Outra, tratar de um assunto pesado numa linguagem acessível e coloquial, misturando a voz de Hannah nas fitas e a reação de Clay em seus pensamentos.
Quando minha amiga Ana C. me falou deste livro, sabendo de meu interesse pelo tema do suicídio, eu nunca imaginei que pudesse ser uma obra escrita para adolescentes. Levei um susto quando vi que foi recomendada, entre outros, pela Association of Booksellers for Children e pela Young Adult Library Services Association. Chegou à lista dos mais vendidos no The New York Times. E fico feliz em imaginar que o livro possa não só ter servido como incentivo de leitura para os jovens, mas também que sua moral - aquela que faz a gente, por preconceito, desprezar livros com mensagens edificantes - possa ter contribuído para que um ou outro pense melhor em como agir nessa terrível época que é a adolescência.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Livraria da Vila
Livraria da Vila
São Paulo, SP
Hoje, depois do almoço, tomei um café na Livraria da Vila. O tempo era curto, por isso passei direto pelas estantes, sem olhar ao menos as novidades. Porque, ali, é assim: se eu parar pra ver alguma coisa, não há chance de sair tão cedo. Principalmente nas mesas com lançamentos, logo na entrada da loja. É impressionante como, na Livraria da Vila, essas mesas parecem reunir tudo o que eu tenho vontade de ler. É como se alguém soubesse do meu gosto literário e colocasse tudo ali, junto, pra eu cair na tentação de estourar o cartão de crédito em livros, mais uma vez. Em minha visita anterior, saí com o novo Vila-Matas, que ainda não li, e os dois Fred Vargas que devorei na viagem a Paris.
No andar de baixo - que leva ao agradável café, com algumas mesas de madeira ao ar livre, outras sob as árvores - fica uma das melhores seções de livros infantis e infanto-juvenis que eu já vi. Preciso ir um dia, com calma, pra ficar apenas ali, em busca de alguns títulos da minha infância; quem sabe foram relançados? Quem sabe encontro por ali, perdidos, A toca da coruja e outros volumes dos quais guardo apenas uma lembrança embaçada?
Há outros dois endereços da Livraria da Vila em São Paulo - e, já faz alguns anos, ela tem sido a livraria oficial da Flip, em Parati. A loja da alameda Lorena, nos Jardins, não me encantou tanto; pareceu um grande caixotão, muito mais impessoal que a da Fradique. Na loja do shopping Cidade Jardim estive apenas uma vez, por acaso, no dia da inauguração. Achei que prometia. Espaçosa, com muitos livros de arte e uma boa revistaria, parecia convidar a uma visita mais extensa.
São Paulo, SP
Hoje, depois do almoço, tomei um café na Livraria da Vila. O tempo era curto, por isso passei direto pelas estantes, sem olhar ao menos as novidades. Porque, ali, é assim: se eu parar pra ver alguma coisa, não há chance de sair tão cedo. Principalmente nas mesas com lançamentos, logo na entrada da loja. É impressionante como, na Livraria da Vila, essas mesas parecem reunir tudo o que eu tenho vontade de ler. É como se alguém soubesse do meu gosto literário e colocasse tudo ali, junto, pra eu cair na tentação de estourar o cartão de crédito em livros, mais uma vez. Em minha visita anterior, saí com o novo Vila-Matas, que ainda não li, e os dois Fred Vargas que devorei na viagem a Paris.
No andar de baixo - que leva ao agradável café, com algumas mesas de madeira ao ar livre, outras sob as árvores - fica uma das melhores seções de livros infantis e infanto-juvenis que eu já vi. Preciso ir um dia, com calma, pra ficar apenas ali, em busca de alguns títulos da minha infância; quem sabe foram relançados? Quem sabe encontro por ali, perdidos, A toca da coruja e outros volumes dos quais guardo apenas uma lembrança embaçada?
Há outros dois endereços da Livraria da Vila em São Paulo - e, já faz alguns anos, ela tem sido a livraria oficial da Flip, em Parati. A loja da alameda Lorena, nos Jardins, não me encantou tanto; pareceu um grande caixotão, muito mais impessoal que a da Fradique. Na loja do shopping Cidade Jardim estive apenas uma vez, por acaso, no dia da inauguração. Achei que prometia. Espaçosa, com muitos livros de arte e uma boa revistaria, parecia convidar a uma visita mais extensa.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Olsson's Books and Records
Olsson's Books and Records
A Olsson's vendia lançamentos, como qualquer outra loja, mas o grande barato de passar uma manhã inteira ali era vasculhar as mesas com livros em promoção e conferir, um por um, os títulos das estantes de culinária, obras de referência, literatura policial, guias de viagem. Encontrei, na seção de descontos, bons livros com preços especialíssimos. Coisas que podem parecer bestas, como uma reedição do dicionário do Samuel Johnson, mas que só poderiam ter sido compradas num lugar com o clima meio conspirador da Olsson's; um lugar que fazia ter vontade de levar adiante projetos, sentar e finalmente escrever.
Washington DC, Estados Unidos
Que tristeza procurar o site da Olsson's e ver que a loja fechou em setembro de 2008. Passei, ali, diversos bons momentos, e fiz ótimas compras nos invernos de 2007 e 2008. Maldita crise. A Olsson's era o tipo de livraria aconchegante e receptiva como já não se vê muito por aí - não foi à toa que pediu falência, com tanta Borders e Barnes & Noble espalhadas por Washington. Eu não tenho nada contra grandes redes, desde que sejam boas, e gosto tanto da Borders quanto da B&N, temas de futuros posts. Mas bem que, num mundo mais Pollyanna, grandes e pequenas livrarias poderiam ter, cada uma, seu lugar garantido.
A Olsson's vendia lançamentos, como qualquer outra loja, mas o grande barato de passar uma manhã inteira ali era vasculhar as mesas com livros em promoção e conferir, um por um, os títulos das estantes de culinária, obras de referência, literatura policial, guias de viagem. Encontrei, na seção de descontos, bons livros com preços especialíssimos. Coisas que podem parecer bestas, como uma reedição do dicionário do Samuel Johnson, mas que só poderiam ter sido compradas num lugar com o clima meio conspirador da Olsson's; um lugar que fazia ter vontade de levar adiante projetos, sentar e finalmente escrever.
Shakespeare and Company
Shakespeare and Company
Fiquei me perguntando como achar alguma coisa em meio àquele acervo tão grande e, aparentemente, tão fragmentado. Uma olhada breve pelas estantes revelou prateleiras dedicadas à filosofia, ao teatro, à literatura estrangeira - de língua não-francesa, já que é o inglês o idioma oficial. No térreo, uma bancada reúne livros novos; edições novas, não necessariamente lançamentos. Aproveitei para comprar The corrections, do Jonathan Franzen, mais um para minha sempre crescente lista de livros a serem lidos.
Na saída, uma última olhada para a fachada da loja revela a placa com o rosto de Shakespeare e uma frase que eu não tinha lido antes, tamanha a ansiedade para entrar. Ela resume bem o espírito da livraria - e, de verdade, do que eu considero essencial para a vida. While thy booke doth live / And we have wits to read / And praise to give / Thou art alive still.
Paris, França
Já fazia um tempo que eu tinha a ideia de inaugurar, aqui, uma série de posts sobre livrarias. E acabei me convencendo depois de visitar a Shakespeare and Company, em Paris, um dos lugares mais sui generis em que já estive. Misto de sebo, ponto de encontro e uma espécie de biblioteca - os livros do primeiro andar não estão à venda, mas podem ser consultados à vontade numa sala comunitária, com poltronas e sofás -, a loja aberta por George Whitman em 1951 virou atração turística da cidade. Você dá de cara com ela, na margem esquerda do Sena, na altura da Notre-Dame, e se espanta com a quantidade de gente com câmera em punho, tirando fotos da fachada, do antiquário anexo, das bancas com ofertas expostas no recuo da calçada.
Entrei na loja como quem entra em um pedaço de história literária. Primeira impressão: o cheiro. Livro velho e gente suja. Imagino o que aquilo não deve ser no inverno, época em que Jeremy Mercer morou na livraria. Sim, porque uma das características da Shakespeare and Company é abrigar estudantes e escritores-to-be em camas espalhadas pelos andares da loja. Não consegui ver nenhuma, tamanho o trânsito de gente e a estreiteza dos corredores, forrados de estantes com livros do chão ao teto, alguns caindo pra fora, outros empilhados no piso. Mas vi o cubículo de madeira com uma velha máquina de escrever e uma luz fraca sobre ela, onde os sem-computador ainda devem batucar romances. Vi a placa que recebe quem chega ao primeiro andar, e que diz Be not inhospitable to strangers / lest they be angels in disguise. Vi as cadeiras de tecido vermelho sob a escada toda torta, à disposição para quem quiser passar ali algumas horas de leitura grátis.
Entrei na loja como quem entra em um pedaço de história literária. Primeira impressão: o cheiro. Livro velho e gente suja. Imagino o que aquilo não deve ser no inverno, época em que Jeremy Mercer morou na livraria. Sim, porque uma das características da Shakespeare and Company é abrigar estudantes e escritores-to-be em camas espalhadas pelos andares da loja. Não consegui ver nenhuma, tamanho o trânsito de gente e a estreiteza dos corredores, forrados de estantes com livros do chão ao teto, alguns caindo pra fora, outros empilhados no piso. Mas vi o cubículo de madeira com uma velha máquina de escrever e uma luz fraca sobre ela, onde os sem-computador ainda devem batucar romances. Vi a placa que recebe quem chega ao primeiro andar, e que diz Be not inhospitable to strangers / lest they be angels in disguise. Vi as cadeiras de tecido vermelho sob a escada toda torta, à disposição para quem quiser passar ali algumas horas de leitura grátis.
Fiquei me perguntando como achar alguma coisa em meio àquele acervo tão grande e, aparentemente, tão fragmentado. Uma olhada breve pelas estantes revelou prateleiras dedicadas à filosofia, ao teatro, à literatura estrangeira - de língua não-francesa, já que é o inglês o idioma oficial. No térreo, uma bancada reúne livros novos; edições novas, não necessariamente lançamentos. Aproveitei para comprar The corrections, do Jonathan Franzen, mais um para minha sempre crescente lista de livros a serem lidos.
Na saída, uma última olhada para a fachada da loja revela a placa com o rosto de Shakespeare e uma frase que eu não tinha lido antes, tamanha a ansiedade para entrar. Ela resume bem o espírito da livraria - e, de verdade, do que eu considero essencial para a vida. While thy booke doth live / And we have wits to read / And praise to give / Thou art alive still.
domingo, 21 de junho de 2009
Kelly
Kelly
Paul Duncan e Glenn Hopp (Taschen, 2007)
A loja da Taschen na rue de Buci, em Paris, tinha diversas mesas com promoções inacreditáveis. Pena que, por falta de espaço e de suficientes traduções para o inglês, não dava para trazer tudo o que eu gostaria. Por 2,49 euros havia vários títulos trilíngues (inglês, francês e alemão) dessa coleção "Movie icons", livros com breve introduções histórico-cinematográficas do ator/atriz em questão e quase 200 páginas de uma cinebiografia fotográfica. Eu quase trouxe também a do Marlon Brando, mas no final me decidi por Grace Kelly porque nunca é demais ter um livro de fotos de uma das mais lindas e estilosas atrizes que o cinema já viu - quem sabe ela serve de inspiração?
Descobri que a carreira de Grace Kelly no cinema durou apenas cinco anos e onze filmes. Deu vontade de ver Mogambo e de rever Janela indiscreta, Disque M para matar, Ladrão de casaca. Alta sociedade eu revejo sempre, adoro o filme e a trilha sonora - e gosto, por mais que ela tivesse um fiapo de voz, da gravação de True love que ela divide com Bing Crosby. É difícil saber em que filme de Hitchcock Grace Kelly está mais bonita e bem-vestida: Ladrão de casaca ou Janela indiscreta? (Disque M para matar não entra no páreo porque não tinha Edith Head como figurinista.) É, diante de tanta foto bacana, não tem como não pensar: eu devia ter trazido também o livrinho com o Marlon Brando.
Paul Duncan e Glenn Hopp (Taschen, 2007)
A loja da Taschen na rue de Buci, em Paris, tinha diversas mesas com promoções inacreditáveis. Pena que, por falta de espaço e de suficientes traduções para o inglês, não dava para trazer tudo o que eu gostaria. Por 2,49 euros havia vários títulos trilíngues (inglês, francês e alemão) dessa coleção "Movie icons", livros com breve introduções histórico-cinematográficas do ator/atriz em questão e quase 200 páginas de uma cinebiografia fotográfica. Eu quase trouxe também a do Marlon Brando, mas no final me decidi por Grace Kelly porque nunca é demais ter um livro de fotos de uma das mais lindas e estilosas atrizes que o cinema já viu - quem sabe ela serve de inspiração?
Descobri que a carreira de Grace Kelly no cinema durou apenas cinco anos e onze filmes. Deu vontade de ver Mogambo e de rever Janela indiscreta, Disque M para matar, Ladrão de casaca. Alta sociedade eu revejo sempre, adoro o filme e a trilha sonora - e gosto, por mais que ela tivesse um fiapo de voz, da gravação de True love que ela divide com Bing Crosby. É difícil saber em que filme de Hitchcock Grace Kelly está mais bonita e bem-vestida: Ladrão de casaca ou Janela indiscreta? (Disque M para matar não entra no páreo porque não tinha Edith Head como figurinista.) É, diante de tanta foto bacana, não tem como não pensar: eu devia ter trazido também o livrinho com o Marlon Brando.
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O homem dos círculos azuis e O homem do avesso
O homem dos círculos azuis e O homem do avesso
Fred Vargas (Companhia das Letras, 2006 e 2004)
Voltei de Paris apaixonada por Jean-Baptiste Adamsberg, delegado do V arrondissement, nascido na região dos Pireneus, baixote, feioso, intuitivo, devagar. E muito esperto, como mostra O homem dos círculos azuis, o primeiro de uma série de livros policiais a ter Adamsberg como protagonista. Durante a viagem, deu tempo de ler esse e O homem do avesso, título que vem na sequência - e que, não entendi muito bem o motivo, a Companhia das Letras publicou fora da ordem de lançamento original.
Mas se Adamsberg continua apaixonante de um livro para outro, tanto pela maneira como resolve seus casos como pela relação vaivém, apaixonada e impossível, com Camille Forestier, Fred Vargas carece de um pouco mais de originalidade. Quem lê O homem dos círculos azuis e O homem do avesso na sequência vê que a autora usou a mesmíssima fórmula para criar seus assassinos. Não é difícil, portanto, descobrir a identidade do criminoso de O homem do avesso.
Pensando bem, o mesmo recurso - mais não digo para não estragar o prazer da leitura inédita - foi usado também em Relíquias sagradas, o penúltimo livro da série até agora. O diacho é essa publicação não-sequencial, que deixa evidentes os vácuos na história de Adamsberg e Camille; ainda assim, o relacionamento dos dois é pano de fundo mais que suficiente para manter o interesse entre uma trama e outra. Até onde eu sei, Fuja logo e demore para voltar, o único outro livro do delegado publicado no Brasil, e que eu ainda não li, é o quarto título a tê-lo como protagonista. Há um quinto, seguido de Relíquias sagradas, e um sexto livro editado apenas em francês.
Fred Vargas (Companhia das Letras, 2006 e 2004)
Voltei de Paris apaixonada por Jean-Baptiste Adamsberg, delegado do V arrondissement, nascido na região dos Pireneus, baixote, feioso, intuitivo, devagar. E muito esperto, como mostra O homem dos círculos azuis, o primeiro de uma série de livros policiais a ter Adamsberg como protagonista. Durante a viagem, deu tempo de ler esse e O homem do avesso, título que vem na sequência - e que, não entendi muito bem o motivo, a Companhia das Letras publicou fora da ordem de lançamento original.
Mas se Adamsberg continua apaixonante de um livro para outro, tanto pela maneira como resolve seus casos como pela relação vaivém, apaixonada e impossível, com Camille Forestier, Fred Vargas carece de um pouco mais de originalidade. Quem lê O homem dos círculos azuis e O homem do avesso na sequência vê que a autora usou a mesmíssima fórmula para criar seus assassinos. Não é difícil, portanto, descobrir a identidade do criminoso de O homem do avesso.
Pensando bem, o mesmo recurso - mais não digo para não estragar o prazer da leitura inédita - foi usado também em Relíquias sagradas, o penúltimo livro da série até agora. O diacho é essa publicação não-sequencial, que deixa evidentes os vácuos na história de Adamsberg e Camille; ainda assim, o relacionamento dos dois é pano de fundo mais que suficiente para manter o interesse entre uma trama e outra. Até onde eu sei, Fuja logo e demore para voltar, o único outro livro do delegado publicado no Brasil, e que eu ainda não li, é o quarto título a tê-lo como protagonista. Há um quinto, seguido de Relíquias sagradas, e um sexto livro editado apenas em francês.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Um livro por dia
Um livro por dia
Jeremy Mercer (Casa da Palavra, 2007)
Acho que não li direito as resenhas quando este livro foi lançado, porque a ideia que eu fazia dele era totalmente diferente - achei que se tratasse, mesmo, de uma espécie de diário com todos os títulos que o autor leu, um por dia, durante os quatro meses em que viveu na livraria Shakespeare and Company, em Paris. (Se tem um lugar que eu faço questão de visitar em minha viagem, nos próximos dias, é esse. Quem sabe ainda dá tempo de ler a obra de Sylvia Beach, contando a origem da livraria, antes de partir.)
Fundada por George Whitman em 1951 e batizada em homenagem à Shakespeare and Company original, de Sylvia Beach, essa livraria na margem esquerda do Sena, em frente à Catedral de Notre-Dame, já faz parte do circuito turístico de Paris. É famosa não só por vender milhares de livros em inglês como também, e principalmente, por oferecer hospedagem grátis a estudantes, aspirantes a escritor, jovens poetas e qualquer outro ser intrépido que não tenha dinheiro para viver em Paris e tope morar entre os livros com a condição de arrumar sua cama toda manhã e dedicar algumas horas por dia ao trabalho na loja. Foi o que fez Jeremy Mercer, em 1999, quando saiu do Canadá ameaçado de morte. Por quatro meses, conviveu com gente como Luke, Simon, Kurt, Elina, artistas cada um a seu modo, e virou grande amigo de George.
Não foi uma vida fácil, como atesta Mercer: o único banheiro era nojento e não havia lugar para tomar banho. Os moradores da livraria, geralmente sem um tostão no bolso, contentavam-se com as refeições do restaurante estudantil ou os sanduíches de um bar próximo. Diversão era dividir uma garrafa de vinho sob uma ponte no Sena enquanto cada um contava uma história. Para Mercer, foi um período de aprendizado, o turning point de que sua vida precisava. Ele finalmente virou escritor. E eu estou louca de vontade de ver onde tudo isso aconteceu.
Jeremy Mercer (Casa da Palavra, 2007)
Acho que não li direito as resenhas quando este livro foi lançado, porque a ideia que eu fazia dele era totalmente diferente - achei que se tratasse, mesmo, de uma espécie de diário com todos os títulos que o autor leu, um por dia, durante os quatro meses em que viveu na livraria Shakespeare and Company, em Paris. (Se tem um lugar que eu faço questão de visitar em minha viagem, nos próximos dias, é esse. Quem sabe ainda dá tempo de ler a obra de Sylvia Beach, contando a origem da livraria, antes de partir.)
Fundada por George Whitman em 1951 e batizada em homenagem à Shakespeare and Company original, de Sylvia Beach, essa livraria na margem esquerda do Sena, em frente à Catedral de Notre-Dame, já faz parte do circuito turístico de Paris. É famosa não só por vender milhares de livros em inglês como também, e principalmente, por oferecer hospedagem grátis a estudantes, aspirantes a escritor, jovens poetas e qualquer outro ser intrépido que não tenha dinheiro para viver em Paris e tope morar entre os livros com a condição de arrumar sua cama toda manhã e dedicar algumas horas por dia ao trabalho na loja. Foi o que fez Jeremy Mercer, em 1999, quando saiu do Canadá ameaçado de morte. Por quatro meses, conviveu com gente como Luke, Simon, Kurt, Elina, artistas cada um a seu modo, e virou grande amigo de George.
Não foi uma vida fácil, como atesta Mercer: o único banheiro era nojento e não havia lugar para tomar banho. Os moradores da livraria, geralmente sem um tostão no bolso, contentavam-se com as refeições do restaurante estudantil ou os sanduíches de um bar próximo. Diversão era dividir uma garrafa de vinho sob uma ponte no Sena enquanto cada um contava uma história. Para Mercer, foi um período de aprendizado, o turning point de que sua vida precisava. Ele finalmente virou escritor. E eu estou louca de vontade de ver onde tudo isso aconteceu.
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