Invisible
Paul Auster (Henry Holt, 2009)
James Wood, o crítico da revista New Yorker, desceu a lenha não só neste livro, mas em quase toda a obra de Paul Auster, dizendo que ele é um tipo peculiar de escritor pós-moderno. Bem, meu conhecimento literário não deve atingir nem 1% do conhecimento de James Wood - afinal, ele é crítico da New Yorker e eu não sou. Escrevo apenas sobre o que gostei ou não de ler, e quase nunca existe uma teoria, muito menos acadêmica, por trás dos meus gostos. Eu nunca havia pensado em Paul Auster como escritor pós-moderno. Eu nem sei o que é um escritor pós-moderno.
E gostei, muito, de Invisible, recém-lançado nos Estados Unidos. Como quase sempre, em Paul Auster, gostei menos pela história e muito mais pela narrativa, pela maneira como ele escreve - o segundo capítulo do livro de Adam Walker, um dos personagens-narradores, é um exemplo de como tratar um tema dificílimo com rara delicadeza e elegância (até o James Wood admitiu isso: "quite touching"). Mas admito que os leitores habituais de Auster vão reconhecer, em Invisible, diversos artifícios usados em livros anteriores, como o duplo e o livro-dentro-do-livro (dois temas que me atraem demais), e que tantos outros podem ficar irritados com as ambiguidades e incertezas da trama.
Na primavera de 1967, em Nova York, o jovem estudante Adam Walker conhece o professor francês Rudolf Born e sua namorada, Margot, numa festa. Born quer fundar, com Walker, uma revista literária. Margot quer levá-lo para a cama. Aí acontece uma briga. E um crime. E, de repente, a coisa toda muda de figura - porque nem tudo, nos romances de Paul Auster, é o que parece ser.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Coelho corre
Coelho corre
John Updike (Companhia das Letras, 1992)
Foi minha estreia no Kindle - porque eu queria começar Updike pelo primeiro volume da série Coelho, porque a edição em português está esgotada e porque, quando posso, prefiro ler no original, em inglês. Gostei muito, muitíssimo - e, mais de uma semana depois de terminada a leitura, ainda me pego pensando em várias cenas da história, na maneira elegante como John Updike escreveu esse livro, no meu sentimento, às vezes contraditório, em relação aos personagens.
Eu gosto de Harry "Rabbit" Angstrom? Sem dúvida, e, com o tempo, pretendo continuar a seguir suas andanças pelos três outros livros da série. Torci por ele o tempo todo, senti dó de sua ingenuidade alegre e fiquei com muita, muita raiva no momento em que sua infantilidade atingiu um grau que eu não imaginava poder alcançar. Depois de apenas dois daiquiris, Harry foi imaturo, cruel, egoísta. Senti vergonha por ele - e não é disso que são feitos os grandes personagens?
Também gosto muito de Jack Eccles, de suas conversas com Rabbit, sua dedicação ao trabalho na igreja (embora um pouco intrusiva demais para o meu gosto, mas sabe-se lá como eram as coisas em fins dos anos 50 numa cidadezinha dos Estados Unidos; sabe-se lá como são, hoje, em outras cidadezinhas provincianas espalhadas pelo mundo). Foram as mulheres, em Coelho corre, que me deixaram com os dois pés atrás. Não dá pra respeitar Janice, muito menos sua mãe. Mrs. Angstrom tem mais pulso. Ruth talvez seja quem eu entenda melhor, pelo medo de se dedicar a um relacionamento de verdade, pela tentativa de mostrar independência para, no fim das contas, se deixar submeter. E Lucy Eccles, a única mulher da história que eu gostaria, mesmo, de conhecer mais nos três livros restantes sobre Rabbit.
O início da trama, em resumo: Harry Angstrom um dia volta para casa e encontra o cenário desolador de sempre - mulher bêbada vendo TV, o apartamento desarrumado pela bagunça do filho pequeno, o cansaço depois de um dia num trabalho desanimador. Ele sai para buscar o carro, estacionado em frente à casa da sogra. E, num estalo, decide passar a noite dirigindo rumo ao Sul.
John Updike (Companhia das Letras, 1992)
Foi minha estreia no Kindle - porque eu queria começar Updike pelo primeiro volume da série Coelho, porque a edição em português está esgotada e porque, quando posso, prefiro ler no original, em inglês. Gostei muito, muitíssimo - e, mais de uma semana depois de terminada a leitura, ainda me pego pensando em várias cenas da história, na maneira elegante como John Updike escreveu esse livro, no meu sentimento, às vezes contraditório, em relação aos personagens.
Eu gosto de Harry "Rabbit" Angstrom? Sem dúvida, e, com o tempo, pretendo continuar a seguir suas andanças pelos três outros livros da série. Torci por ele o tempo todo, senti dó de sua ingenuidade alegre e fiquei com muita, muita raiva no momento em que sua infantilidade atingiu um grau que eu não imaginava poder alcançar. Depois de apenas dois daiquiris, Harry foi imaturo, cruel, egoísta. Senti vergonha por ele - e não é disso que são feitos os grandes personagens?
Também gosto muito de Jack Eccles, de suas conversas com Rabbit, sua dedicação ao trabalho na igreja (embora um pouco intrusiva demais para o meu gosto, mas sabe-se lá como eram as coisas em fins dos anos 50 numa cidadezinha dos Estados Unidos; sabe-se lá como são, hoje, em outras cidadezinhas provincianas espalhadas pelo mundo). Foram as mulheres, em Coelho corre, que me deixaram com os dois pés atrás. Não dá pra respeitar Janice, muito menos sua mãe. Mrs. Angstrom tem mais pulso. Ruth talvez seja quem eu entenda melhor, pelo medo de se dedicar a um relacionamento de verdade, pela tentativa de mostrar independência para, no fim das contas, se deixar submeter. E Lucy Eccles, a única mulher da história que eu gostaria, mesmo, de conhecer mais nos três livros restantes sobre Rabbit.
O início da trama, em resumo: Harry Angstrom um dia volta para casa e encontra o cenário desolador de sempre - mulher bêbada vendo TV, o apartamento desarrumado pela bagunça do filho pequeno, o cansaço depois de um dia num trabalho desanimador. Ele sai para buscar o carro, estacionado em frente à casa da sogra. E, num estalo, decide passar a noite dirigindo rumo ao Sul.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Poemas, sonetos e baladas
Poemas, sonetos e baladas
Apesar disso, o verso final - e talvez o mais banalizado do soneto - não me sai da cabeça desde que me despedi, há pouco (e pela milionésima vez nas mesmas circunstâncias) de um homem que não sei quando vou voltar a ver. Porque ele mora em outro país, porque levamos vidas muito diferentes, porque só funcionamos assim, de vez em quando. Nos vemos pouco e sempre por períodos de tempo muito curtos, e alguns anos precisaram se passar pra eu entender que isso não tem importância, que o amor é maior do que a angústia de não saber quando nos veremos de novo, que o amor é maior do que as diferenças entre nossas vidas, que o amor se transforma para continuar sendo amor, e que é infinito enquanto dura.
Vinicius de Moraes (Companhia das Letras, 2008)
Nunca fui muito fã do "Soneto de fidelidade". Em minha pós-adolescência ("pré-juventude"? Como se chama a época que vai dos 18 aos 20 anos?), no final da década de 80, declamar os versos de Vinicius virou meio que lugar-comum, e eu acho que o poema se banalizou - quase como usar as frases do Pequeno príncipe em cartões de amor com dobraduras, se é que me faço entender.
Apesar disso, o verso final - e talvez o mais banalizado do soneto - não me sai da cabeça desde que me despedi, há pouco (e pela milionésima vez nas mesmas circunstâncias) de um homem que não sei quando vou voltar a ver. Porque ele mora em outro país, porque levamos vidas muito diferentes, porque só funcionamos assim, de vez em quando. Nos vemos pouco e sempre por períodos de tempo muito curtos, e alguns anos precisaram se passar pra eu entender que isso não tem importância, que o amor é maior do que a angústia de não saber quando nos veremos de novo, que o amor é maior do que as diferenças entre nossas vidas, que o amor se transforma para continuar sendo amor, e que é infinito enquanto dura.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Kindle
Kindle
Pra completar, a média de preços dos livros para Kindle, vendidos apenas pela Amazon.com, é muito menor que a dos livros em papel, tanto faz se comprados aqui, por livrarias importadoras, ou pela própria Amazon, e infinitamente mais baixo que as versões em português, quando são editadas no Brasil. Um exemplo disso é Invisible, o último Paul Auster, que custa R$ 54,74 na Livraria Cultura, com entrega em até seis semanas. Comprei o mesmo livro por US$ 9,99 e, 1 minuto depois - sim, 1 minuto depois - ele já estava no meu Kindle. Outra vantagem: encontrar títulos originais em inglês que já estão fora de catálogo no Brasil - foi o caso de Rabbit, Run (Coelho corre), de John Updike, o primeiro livro que li no aparelhinho.
Ler no Kindle não é desconfortável: a tela tem um tamanho adequado, não reflete muita luz e, ao contrário do computador, se parece, mesmo, com papel - além disso, ele é muito leve e fácil de manusear. Nem aquela sensação de saber o quanto já se leu ou o quanto ainda falta para o fim do livro ele deixou de fora: uma barra, no pé da tela, mostra a porcentagem do que já foi lido até então. Quando o modo wireless está desligado, a bateria dura uma eternidade - mesmo que você deixe o troço ligado o dia inteiro, no modo de espera (e tanto as fotos de escritores quanto as ilustrações que servem como protetor de tela são maravilhosas). Até agora, descobri apenas dois "defeitos": 1) a impossibilidade de folhear as páginas para trás, para encontrar de novo um trecho recém-lido, mas sobre o qual ficou alguma dúvida (nesse caso, é preciso usar a tecla "back page" até chegar ao lugar em questão, e depois voltar tudo com o botão "next page"; 2) no livro de Paul Auster, algumas palavras estão com, digamos, "erro de digitação": aparecem com letras separadas, como em "plea su re", ou "pur pose" (são exemplos inventados; até fiz algumas anotações sobre isso, mas estou com preguiça de procurar agora).
Resolver o primeiro problema é fácil: preciso terminar de ler o User's guide que vem com o Kindle pra saber como usar o marcador de páginas (por enquanto, uso apenas a função que me permite retomar a leitura do último ponto onde parei antes de desligar o aparelho). O segundo, espero, resulta da pressa de lançar uma versão eletrônica do livro ao mesmo tempo em que ele foi editado em papel; um erro que poderia acontecer em qualquer veículo de leitura.
Então eu resolvi me dar de presente um Kindle, o leitor eletrônico da Amazon. Já faz umas duas semanas que ele chegou e eu ainda não me canso de usar, exibir, mostrar pra todo mundo as funções maravilhosas do aparelho, contar quais foram os livros que comprei - e já li dois deles! (Sim, é meio bizarro, mas parece que eu consigo ler mais rápido no Kindle.)
Entre outras coisas, o bichinho aí em cima permite que eu faça uma busca de palavras ou expressões no texto que estou lendo - uma bênção quando se trata de obras de referência -, que eu mova o cursor sobre uma palavra para saber o significado dela no New Oxford American Dictionary (que já vem com o aparelho), que eu "sublinhe" determinados trechos do livro, que eu faça as anotações que quiser num pequeno teclado (elas aparecem automaticamente num arquivo chamado "My clippings") e que eu aumente ou diminua o tamanho da letra da forma mais confortável. Tem mais: se eu tivesse preguiça de ler e quisesse ouvir o texto, daria pra ligar o áudio e, de quebra, escolher se eu quero a leitura em uma voz feminina ou masculina.
Pra completar, a média de preços dos livros para Kindle, vendidos apenas pela Amazon.com, é muito menor que a dos livros em papel, tanto faz se comprados aqui, por livrarias importadoras, ou pela própria Amazon, e infinitamente mais baixo que as versões em português, quando são editadas no Brasil. Um exemplo disso é Invisible, o último Paul Auster, que custa R$ 54,74 na Livraria Cultura, com entrega em até seis semanas. Comprei o mesmo livro por US$ 9,99 e, 1 minuto depois - sim, 1 minuto depois - ele já estava no meu Kindle. Outra vantagem: encontrar títulos originais em inglês que já estão fora de catálogo no Brasil - foi o caso de Rabbit, Run (Coelho corre), de John Updike, o primeiro livro que li no aparelhinho.
Ler no Kindle não é desconfortável: a tela tem um tamanho adequado, não reflete muita luz e, ao contrário do computador, se parece, mesmo, com papel - além disso, ele é muito leve e fácil de manusear. Nem aquela sensação de saber o quanto já se leu ou o quanto ainda falta para o fim do livro ele deixou de fora: uma barra, no pé da tela, mostra a porcentagem do que já foi lido até então. Quando o modo wireless está desligado, a bateria dura uma eternidade - mesmo que você deixe o troço ligado o dia inteiro, no modo de espera (e tanto as fotos de escritores quanto as ilustrações que servem como protetor de tela são maravilhosas). Até agora, descobri apenas dois "defeitos": 1) a impossibilidade de folhear as páginas para trás, para encontrar de novo um trecho recém-lido, mas sobre o qual ficou alguma dúvida (nesse caso, é preciso usar a tecla "back page" até chegar ao lugar em questão, e depois voltar tudo com o botão "next page"; 2) no livro de Paul Auster, algumas palavras estão com, digamos, "erro de digitação": aparecem com letras separadas, como em "plea su re", ou "pur pose" (são exemplos inventados; até fiz algumas anotações sobre isso, mas estou com preguiça de procurar agora).
Resolver o primeiro problema é fácil: preciso terminar de ler o User's guide que vem com o Kindle pra saber como usar o marcador de páginas (por enquanto, uso apenas a função que me permite retomar a leitura do último ponto onde parei antes de desligar o aparelho). O segundo, espero, resulta da pressa de lançar uma versão eletrônica do livro ao mesmo tempo em que ele foi editado em papel; um erro que poderia acontecer em qualquer veículo de leitura.
sábado, 14 de novembro de 2009
Recettes insolites
Recettes insolites
O primeiro capítulo trata de "café, chá, chocolate e álcool" em pratos como filé de saint-pierre com chá verde, frango com chocolate, geleia de vinho. Depois, vêm as especiarias e temperos (quero fazer a salada de queijo de cabra com mel), legumes e frutas (sopa de beterraba com laranja e nozes), ervas e flores (conserva de dália, blinis de algas, sopa de urtiga). O mais bacana é que nada disso é bizarro, a não ser na aparência - tudo tem jeito de dar certo e ficar muito, muito saboroso, porque a combinação de ingredientes tem equilíbrio e faz sentido. E as ilustrações, coloridas e delicadas, ajudam a dar vontade de ir correndo pra cozinha.
(Hachette, 2002)
Meu querido amigo B., antigo companheiro de sábados culinários temáticos, me deu este livro de presente quando eu resolvi que ia aprender francês. Não passei do primeiro semestre de estudos e mal-e-mal ainda sei conjugar o verbo être, mas por um desses mistérios da vida eu tenho uma certa facilidade para ler receitas em francês (principalmente com a ajuda do Dicionário tradutor de gastronomia em 6 línguas). Pelo menos é o que acontece com essas Recettes insolites, que são insolites porque usam combinações bem curiosas de ingredientes em receitas salgadas e doces.
O primeiro capítulo trata de "café, chá, chocolate e álcool" em pratos como filé de saint-pierre com chá verde, frango com chocolate, geleia de vinho. Depois, vêm as especiarias e temperos (quero fazer a salada de queijo de cabra com mel), legumes e frutas (sopa de beterraba com laranja e nozes), ervas e flores (conserva de dália, blinis de algas, sopa de urtiga). O mais bacana é que nada disso é bizarro, a não ser na aparência - tudo tem jeito de dar certo e ficar muito, muito saboroso, porque a combinação de ingredientes tem equilíbrio e faz sentido. E as ilustrações, coloridas e delicadas, ajudam a dar vontade de ir correndo pra cozinha.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Confidencial
Confidencial - Segredos de Moda, Estilo e Bem-Viver
Costanza Pascolato (Jaboticaba, 2009)
Já fazia tempo que eu estava de olho neste livro - mas, ao mesmo tempo, eu tinha feito o propósito de tentar não comprar nada até o fim do ano, pra ver se dava conta de ler pelo menos alguns dos títulos empilhados em minha casa. Acho que bati meu recorde: fiquei 139 dias sem gastar dinheiro com livros pra mim (comprei alguns pra dar de presente, li uns quatro ou cinco dos antigos). Mas entrei em férias na semana passada e esse foi o melhor pretexto que encontrei para ir à Livraria Cultura e sair de lá com a Costanza debaixo do braço.
Só que eu achei - talvez tenha lido em algum lugar, quando o volume foi lançado, ou foi só wishful thinking - que a porção autobiográfica da obra seria maior que a parte de, vá lá, e com as devidas aspas, "autoajuda fashion". Ok, estou exagerando: não se trata de um manual de estilo como, por exemplo, o ótimo The little black book of stile (autoajuda fashion de primeira). E, que pena, tampouco fala da vida de Costanza como eu gostaria de saber, como biografia, mesmo.
Eu queria ler mais sobre a vida de Costanza Pascolato porque essa mulher é, para mim, o maior exemplo brasileiro de elegância e postura - fora que usa um perfume delicioso, que não diz a ninguém qual é (eu, pelo menos, nunca soube que tenha dito). Mas se faltam detalhes sobre sua trajetória (ela diz, en passant, que nasceu na Itália, veio pro Brasil ainda criança, trabalhou como editora de moda na Abril, hoje cuida da tecelagem da família, viaja muito a trabalho, nada do que eu já não soubesse), ela capricha em alguns conselhos para o, como diz, bem-viver. Alimentar-se corretamente, fazer exercícios (o dela é o pilates), fotografar-se em vários ângulos para descobrir que tipo de roupa fica melhor em seu corpo, manter uma disciplina ferrenha para conseguir o que deseja. Também lista modelos clássicos (a camisa branca, o terno bem-cortado, as pérolas, coisas que o também ótimo The one hundred explora melhor), fala da importância da maquiagem, de espiritualidade e do que talvez seja seu principal "segredo": tratar bem as pessoas, não importa quem sejam elas.
Dá pra ler em dois dias, uma leitura leve, que pode ser enquadrada na categoria "autoajuda" deste blog: livros que, com informações úteis e conselhos factíveis, ajudam a gente a se sentir melhor na própria pele.
Costanza Pascolato (Jaboticaba, 2009)
Já fazia tempo que eu estava de olho neste livro - mas, ao mesmo tempo, eu tinha feito o propósito de tentar não comprar nada até o fim do ano, pra ver se dava conta de ler pelo menos alguns dos títulos empilhados em minha casa. Acho que bati meu recorde: fiquei 139 dias sem gastar dinheiro com livros pra mim (comprei alguns pra dar de presente, li uns quatro ou cinco dos antigos). Mas entrei em férias na semana passada e esse foi o melhor pretexto que encontrei para ir à Livraria Cultura e sair de lá com a Costanza debaixo do braço.
Só que eu achei - talvez tenha lido em algum lugar, quando o volume foi lançado, ou foi só wishful thinking - que a porção autobiográfica da obra seria maior que a parte de, vá lá, e com as devidas aspas, "autoajuda fashion". Ok, estou exagerando: não se trata de um manual de estilo como, por exemplo, o ótimo The little black book of stile (autoajuda fashion de primeira). E, que pena, tampouco fala da vida de Costanza como eu gostaria de saber, como biografia, mesmo.
Eu queria ler mais sobre a vida de Costanza Pascolato porque essa mulher é, para mim, o maior exemplo brasileiro de elegância e postura - fora que usa um perfume delicioso, que não diz a ninguém qual é (eu, pelo menos, nunca soube que tenha dito). Mas se faltam detalhes sobre sua trajetória (ela diz, en passant, que nasceu na Itália, veio pro Brasil ainda criança, trabalhou como editora de moda na Abril, hoje cuida da tecelagem da família, viaja muito a trabalho, nada do que eu já não soubesse), ela capricha em alguns conselhos para o, como diz, bem-viver. Alimentar-se corretamente, fazer exercícios (o dela é o pilates), fotografar-se em vários ângulos para descobrir que tipo de roupa fica melhor em seu corpo, manter uma disciplina ferrenha para conseguir o que deseja. Também lista modelos clássicos (a camisa branca, o terno bem-cortado, as pérolas, coisas que o também ótimo The one hundred explora melhor), fala da importância da maquiagem, de espiritualidade e do que talvez seja seu principal "segredo": tratar bem as pessoas, não importa quem sejam elas.
Dá pra ler em dois dias, uma leitura leve, que pode ser enquadrada na categoria "autoajuda" deste blog: livros que, com informações úteis e conselhos factíveis, ajudam a gente a se sentir melhor na própria pele.
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Enchantment - The life of Audrey Hepburn
Enchantment - The life of Audrey Hepburn
Donald Spoto (Harmony Books/Random House, 2006)
Nem sei quando foi que eu comecei a amar Audrey Hepburn - sei que Bonequinha de luxo efetivamente mudou a minha vida e que, se eu pudesse escolher, teria exatamente o shape e os Givenchy de Holly Golightly. Já adulta, fui vendo um filme de Audrey atrás do outro: Cinderela em Paris, Sabrina, o ótimo Um clarão nas trevas, Paris quando alucina, My fair lady, Como roubar 1 milhão de dólares, Charada, A princesa e o plebeu.
Sabendo da minha admiração pela atriz, minha cunhada me deu esta biografia de presente, há uns dois anos. Mas só agora consegui pegar pra ler direito: gostei de muitas coisas e não gostei de várias outras. Foi bacana, por exemplo, conhecer detalhes do começo da vida de Audrey Hepburn - saber que ela passou a Segunda Guerra, ainda criança, fingindo ser holandesa, e não britânica, pra não correr o risco de ser pega pelos alemães; saber que ela testemunhou o fuzilamento do tio e de dois primos, também durante a guerra; saber que ela carregou pelo resto da vida o trauma de ter sido abandonada pelo pai. E são bacanas as histórias dos bastidores de diversos filmes da jovem atriz: o caso dela com William Holden e o mau-humor de Humphrey Bogart em Sabrina, a traição do estúdio ao dublá-la sem aviso prévio em My fair lady, o estrelismo de Fred Astaire em Cinderela em Paris, a recusa de Gary Grant em trabalhar com Audrey até Charada.
O lado ruim do livro resume-se - e isso não é pouco - à idolatria de Donald Spoto em relação a seu personagem. O autor trata Audrey Hepburn como uma mulher sem defeitos: amada por todos, estudiosa, simples, modesta em relação ao próprio talento, devotada aos maridos, à mãe, ao pai e aos filhos, elegante sem ser fashion victim, ciosa da própria privacidade, generosa, dedicada a causas nobres. Mas santos não existem, certo? Eu acho impossível que Audrey Hepburn - que qualquer ser humano - não tenha dado uma escorregadinha sequer. Ainda assim, até para falar de pelo menos duas vezes em que ela traiu seu primeiro marido, Mel Ferrer (com o roteirista Robert Anderson e com o ator Albert Finney), Spoto escreve como se ela fosse apenas a vítima de um casamento infeliz, e logo muda de assunto para não ter que entrar no mérito da coisa. Quem sabe, um dia, eu encontre uma biografia mais pé no chão sobre ela.
Donald Spoto (Harmony Books/Random House, 2006)
Nem sei quando foi que eu comecei a amar Audrey Hepburn - sei que Bonequinha de luxo efetivamente mudou a minha vida e que, se eu pudesse escolher, teria exatamente o shape e os Givenchy de Holly Golightly. Já adulta, fui vendo um filme de Audrey atrás do outro: Cinderela em Paris, Sabrina, o ótimo Um clarão nas trevas, Paris quando alucina, My fair lady, Como roubar 1 milhão de dólares, Charada, A princesa e o plebeu.
Sabendo da minha admiração pela atriz, minha cunhada me deu esta biografia de presente, há uns dois anos. Mas só agora consegui pegar pra ler direito: gostei de muitas coisas e não gostei de várias outras. Foi bacana, por exemplo, conhecer detalhes do começo da vida de Audrey Hepburn - saber que ela passou a Segunda Guerra, ainda criança, fingindo ser holandesa, e não britânica, pra não correr o risco de ser pega pelos alemães; saber que ela testemunhou o fuzilamento do tio e de dois primos, também durante a guerra; saber que ela carregou pelo resto da vida o trauma de ter sido abandonada pelo pai. E são bacanas as histórias dos bastidores de diversos filmes da jovem atriz: o caso dela com William Holden e o mau-humor de Humphrey Bogart em Sabrina, a traição do estúdio ao dublá-la sem aviso prévio em My fair lady, o estrelismo de Fred Astaire em Cinderela em Paris, a recusa de Gary Grant em trabalhar com Audrey até Charada.
O lado ruim do livro resume-se - e isso não é pouco - à idolatria de Donald Spoto em relação a seu personagem. O autor trata Audrey Hepburn como uma mulher sem defeitos: amada por todos, estudiosa, simples, modesta em relação ao próprio talento, devotada aos maridos, à mãe, ao pai e aos filhos, elegante sem ser fashion victim, ciosa da própria privacidade, generosa, dedicada a causas nobres. Mas santos não existem, certo? Eu acho impossível que Audrey Hepburn - que qualquer ser humano - não tenha dado uma escorregadinha sequer. Ainda assim, até para falar de pelo menos duas vezes em que ela traiu seu primeiro marido, Mel Ferrer (com o roteirista Robert Anderson e com o ator Albert Finney), Spoto escreve como se ela fosse apenas a vítima de um casamento infeliz, e logo muda de assunto para não ter que entrar no mérito da coisa. Quem sabe, um dia, eu encontre uma biografia mais pé no chão sobre ela.
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Eloise
Eloise
Kay Thompson (Cia. das Letrinhas, 2002)
Li hoje, no Daily Beast, uma matéria sobre Hilary Knight, o ilustrador de Eloise - e descobri, com a maior surpresa, que a Kay Thompson que escreveu a história é a mesma Kay Thompson que viveu o papel da editora de moda em um dos meus filmes preferidos com Audrey Hepburn, Cinderela em Paris (sincronicidade, diria o Jung: estou, nos últimos dias, lendo uma biografia de AH). Eu nunca teria imaginado. E se, como diz Anne Fadiman em At large and at small, a vida dos autores pode servir para aumentar nossa compreensão da obra, agora eu gosto ainda mais de Eloise.
Não que a menina seja uma criança adorável, no sentido Pollyanna-boazinha da coisa. Eloise é espoleta e traquinas. Tem 6 anos e mora no hotel Plaza, em Nova York, com a babá, um cachorrinho e uma tartaruga chamada Skipperdee. Nenhum lugar, nem ninguém, são obstáculos para a garota fazer o que mais gosta: descobrir o mundo, ainda que apenas dentro do hotel. Ela vai a casamentos para os quais não foi convidada. Sobe e desce pelas escadas ou pelo elevador o dia inteiro. Bate altos papos com o garçom e outros funcionários do Plaza. E brinca de faz de conta, e irrita o professor de francês, e conta que sabe mascar chiclete e soletrar. Acho que Eloise é uma criança feliz.
Kay Thompson (Cia. das Letrinhas, 2002)
Li hoje, no Daily Beast, uma matéria sobre Hilary Knight, o ilustrador de Eloise - e descobri, com a maior surpresa, que a Kay Thompson que escreveu a história é a mesma Kay Thompson que viveu o papel da editora de moda em um dos meus filmes preferidos com Audrey Hepburn, Cinderela em Paris (sincronicidade, diria o Jung: estou, nos últimos dias, lendo uma biografia de AH). Eu nunca teria imaginado. E se, como diz Anne Fadiman em At large and at small, a vida dos autores pode servir para aumentar nossa compreensão da obra, agora eu gosto ainda mais de Eloise.
Não que a menina seja uma criança adorável, no sentido Pollyanna-boazinha da coisa. Eloise é espoleta e traquinas. Tem 6 anos e mora no hotel Plaza, em Nova York, com a babá, um cachorrinho e uma tartaruga chamada Skipperdee. Nenhum lugar, nem ninguém, são obstáculos para a garota fazer o que mais gosta: descobrir o mundo, ainda que apenas dentro do hotel. Ela vai a casamentos para os quais não foi convidada. Sobe e desce pelas escadas ou pelo elevador o dia inteiro. Bate altos papos com o garçom e outros funcionários do Plaza. E brinca de faz de conta, e irrita o professor de francês, e conta que sabe mascar chiclete e soletrar. Acho que Eloise é uma criança feliz.
The lost symbol
The lost symbol
Dan Brown (Doubleday, 2009)
A meu favor, conta o fato de eu nunca ter me considerado "intelectual" - porque dá uma certa vergonha gastar meu tempo lendo uma bobagem de Dan Brown quando eu poderia tirar o atraso de tanto livro bom que comprei e acabou guardado na estante sem sequer ter sido aberto. Bem, não sou perfeita. E sei que a) qualquer Dan Brown, por mais que tenha 500 páginas, pode ser lido em um fim de semana; b) não é preciso prestar atenção nas qualidades literárias do autor, já que elas não existem; c) por mais inverossímeis que sejam, suas tramas rocambolescas conseguem me deixar extremamente curiosa pra saber como é que tudo será resolvido no final.
(Meu único comentário sobre a escrita de Dan Brown - como disse, não existem qualidades literárias, e ninguém precisa ser crítico pra ver isso - diz respeito à maneira irritante como ele usa frases em itálico sem a menor coerência e muito menos parcimônia, como bem notou o blog de livros do Guardian. "The Cube. Katherine Solomon's lab." Que raios é isso? O pensamento do sujeito ou apenas uma forma de enfatizar o lugar aonde ele chegou? É irritante. E acontece o tempo inteiro.)
A essa altura - o livro será lançado no Brasil ainda este mês -, muita gente já deve saber do que trata a nova empreitada do professor Robert Langdon, de Anjos e demônios e O código Da Vinci: a busca frenética por um de seus grandes amigos, sequestrado por um maluco em Washington, e a tentativa de solucionar um antigo mistério ligado à Maçonaria. Como nas aventuras anteriores de Langdon, tudo acontece muito, muito rápido (dessa vez, em apenas uma noite). Como nas aventuras anteriores, não dá pra saber em quem confiar (seria a diretora da CIA mocinha ou bandida? E o administrador do Congresso? E o padre cego? E o próprio amigo sequestrado?). E, como nas aventuras anteriores, não faltam perigos e reviravoltas (mas quem, em sã consciência, pode acreditar que Dan Brown mataria seu principal e mais lucrativo personagem?).
Sei lá se é porque já estou familiarizada com a fórmula do escritor, ou porque conheço os principais monumentos de Washington D.C., ou porque é tudo mesmo muito óbvio - neste livro, consegui "descobrir" os dois principais mistérios da história bem antes da metade. Vantagem? Nenhuma. Apenas a constatação de que, por pior escrito que seja, O código Da Vinci ainda é mais divertido.
Dan Brown (Doubleday, 2009)
A meu favor, conta o fato de eu nunca ter me considerado "intelectual" - porque dá uma certa vergonha gastar meu tempo lendo uma bobagem de Dan Brown quando eu poderia tirar o atraso de tanto livro bom que comprei e acabou guardado na estante sem sequer ter sido aberto. Bem, não sou perfeita. E sei que a) qualquer Dan Brown, por mais que tenha 500 páginas, pode ser lido em um fim de semana; b) não é preciso prestar atenção nas qualidades literárias do autor, já que elas não existem; c) por mais inverossímeis que sejam, suas tramas rocambolescas conseguem me deixar extremamente curiosa pra saber como é que tudo será resolvido no final.
(Meu único comentário sobre a escrita de Dan Brown - como disse, não existem qualidades literárias, e ninguém precisa ser crítico pra ver isso - diz respeito à maneira irritante como ele usa frases em itálico sem a menor coerência e muito menos parcimônia, como bem notou o blog de livros do Guardian. "The Cube. Katherine Solomon's lab." Que raios é isso? O pensamento do sujeito ou apenas uma forma de enfatizar o lugar aonde ele chegou? É irritante. E acontece o tempo inteiro.)
A essa altura - o livro será lançado no Brasil ainda este mês -, muita gente já deve saber do que trata a nova empreitada do professor Robert Langdon, de Anjos e demônios e O código Da Vinci: a busca frenética por um de seus grandes amigos, sequestrado por um maluco em Washington, e a tentativa de solucionar um antigo mistério ligado à Maçonaria. Como nas aventuras anteriores de Langdon, tudo acontece muito, muito rápido (dessa vez, em apenas uma noite). Como nas aventuras anteriores, não dá pra saber em quem confiar (seria a diretora da CIA mocinha ou bandida? E o administrador do Congresso? E o padre cego? E o próprio amigo sequestrado?). E, como nas aventuras anteriores, não faltam perigos e reviravoltas (mas quem, em sã consciência, pode acreditar que Dan Brown mataria seu principal e mais lucrativo personagem?).
Sei lá se é porque já estou familiarizada com a fórmula do escritor, ou porque conheço os principais monumentos de Washington D.C., ou porque é tudo mesmo muito óbvio - neste livro, consegui "descobrir" os dois principais mistérios da história bem antes da metade. Vantagem? Nenhuma. Apenas a constatação de que, por pior escrito que seja, O código Da Vinci ainda é mais divertido.
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