sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A viagem vertical

A viagem vertical
Enrique Vila-Matas (Cosac Naify, 2004)

Eu já disse que gostaria de ter um Vila-Matas de estimação - adoraria conversar com o autor de um personagem que não come peixe porque, em outra vida, acreditou ter pertencido à civilização de Atlântida. Por causa desse livro, eu gostaria também de conhecer a Ilha da Madeira. É lá que o protagonista, Federico Mayol, vai parar depois de uma série de acontecimentos que começam em sua casa, em Barcelona. O primeiro deles: a mulher o expulsa de casa. Não agüenta mais o marido.

Mayol descobre, então, que sua vida não é nada do que imaginava. E aí começa sua viagem, tanto física quanto interior. Primeiro ele vai parar no Porto, em Portugal. Depois, em Lisboa. Por fim, em Funchal, na Ilha da Madeira. Tudo isso em meio a reflexões sensacionais, compiladas em capítulos com títulos tão bons como "O futuro das lembranças" e "Quando o acaso descansa". Meu exemplar, como sempre, está todo anotado. E um parágrafo, em particular, faz ainda mais sentido hoje, mais de três anos depois da leitura do livro, numa época em que cada anotação refletia um pouco do momento vivido. Que bom: elas continuam válidas até agora.

"Ao entrar no ônibus que o conduziria ao avião - que me leva para além de não sei o quê, pensou Mayol bastante nervoso, para não dizer um tanto fora de si -, sentiu voltando com força à sua consciência a trágica idéia desse ato sempre mutável que é o de lembrar, as transformações que sofrem as lembranças quando revividas, a dificuldade de dominar com plenitude total a memória do que foram nossos dias e, enfim, o desastre cotidiano de ver como se dissolve - nossa memória não é mais do que o conjunto de estilhaços de uma barca quebrada - a unidade de nosso mundo e do que se viveu."

Um comentário:

Anônimo disse...

isabel, vc é sempre muito inspiradora, achei muito interessante o livro, as reflexões, e quero conhecer o autor.
beijo,
clara lopez