segunda-feira, 28 de junho de 2010

I love your style

I love your style
Amanda Brooks (itbooks/HarperCollins, 2009)

Pelo preço dos livros no Brasil, esta edição americana, impressa num papel bacana e cheia de boas fotos, nem está tão cara: R$ 48,58, um equivalente razoável aos US$ 19,99 originais (sem contar os impostos que se pagam por absolutamente qualquer coisa comprada nos Estados Unidos, e que variam de acordo com o estado; são 7% em Miami). Mas vale, mesmo, por ter sido um dos melhores livros sobre estilo que li nos últimos tempos: é, certamente, um título que eu recomendaria a quem está começando a se interessar pelo assunto, ao lado de The little black book of style, The one hundred e Esquadrão da Moda.

Amanda Brooks, a autora, é uma consultora de moda bem-nascida e de extremo bom gosto que não tem pudor em escrever sobre suas preferências, ainda que polêmicas ("Acho ok usar casacos de pele, mas não estou aqui para sugerir que você deva fazê-lo"), nem de incrementar o livro com várias fotos suas, mesmo que em momentos de vergonha fashion - a galeria da página 24 me fez dar boas risadas ao me lembrar de alguns desastres saídos do meu próprio armário no passado. Mas o melhor de tudo é que, como todo bom livro do gênero, ela não dita regras, e sim afirma, o tempo todo, que cada mulher tem um estilo particular e que o importante, mesmo, é descobri-lo para que seja cada vez mais valorizado.

Ainda assim, Amanda Brooks dá umas diretrizes para quem é perdido no assunto ou para quem quer relembrar alguns conceitos. Começa por dividir o livro em capítulos sobre os estilos clássico, bohemian, minimal, high fashion, street e eclético - acho que sou uma mistura do eclético com o clássico, embora aqui e ali use umas flores exageradas na lapela e capriche nos sapatos diferentes; são marcas do meu estilo. No fim, fala sobre diversos jeitos de comprar: roupas básicas, em brechós, em lojas de design e redes de marcas mais populares. Tudo isso ilustrado por centenas de fotos, preto-e-branco e coloridas, em que aparecem, além dela própria, gente como Jacqueline Kennedy, Sofia Coppola, Bianca Jagger, Chloë Sevigny, Catherine Deneuve, Audrey Hepburn, Agyness Deyn, Kate Moss, Angelina Jolie e tantas outras. Não porque elas são lindas ou magérrimas ou ricas, mas porque têm estilo, porque sabem se vestir de acordo com a própria personalidade. Tem mais: ao final de cada capítulo há uma série de indicações inspiradoras de livros e filmes.

Quando comecei a ler o livro e vi a quantidade de fotos da autora, achei que ia encontrar mais um daqueles volumes feitos só para afagar o ego de quem escreve - e, por consequência, achei que ia detestar a leitura. Ao contrário, adorei: é preciso uma autoestima enorme, o que é bem diferente de um ego inflado, para colocar-se no lugar de outras mulheres e admitir que isso pode ficar bem em você, mas não fica em mim. É o que faz Amanda Brooks, para sorte de quem sabe que vestir-se de acordo só faz aumentar o prazer da gente ser a gente mesma.

domingo, 20 de junho de 2010

Solar

Solar
Ian McEwan (Jonathan Cape, 2010)

Tenho muita raiva de mim mesma quando começo a ler qualquer coisa sobre alguma obra que está na minha fila de leituras. Eu já sabia que compraria o novo McEwan, qualquer que fosse o assunto - por que, então, conferir o que foi escrito sobre ele no lançamento britânico, no lançamento americano? Pior: até consegui passar batido sobre as críticas, mas não resisti a uma sinopse. E, por causa dela, coloquei o peso de Solar num acontecimento que até tem importância para a trama, mas que não é, nem de longe (como eu imaginava), o fio condutor da história. Paciência, azar. Quem sabe agora eu aprendo.

Comecei a ler Solar num fim de semana de trabalho em São Roque, continuei em Miami e terminei aqui em São Paulo, em meio a uma agenda de compromissos muito apertada e ao tratamento para uma infecção no dente que me faz sentir muita dor e tomar tanto analgésico que faria inveja ao Doutor House. Escrevo tudo isso pra tentar entender por que eu não me apaixonei pelo livro - desde Reparação, eu meio que me sinto obrigada a me apaixonar por qualquer McEwan -, embora reconheça nele a prosa sensacional do escritor e tenha dado muita risada em alguns momentos de ironia inteligente e intensa.

O livro vale principalmente por Michael Beard, o personagem principal, um sujeito detestável que vive das honras amealhadas por um prêmio Nobel de Física, conquistado algumas décadas atrás. No ano 2000, Beard está às voltas com o fim de seu quinto casamento, um emprego conveniente e inócuo e a ameaça do aquecimento global. Mas falar mais é fazer como a sinopse que eu li, e tirar a graça da história.

Anthropologie

Anthropologie
Washington DC/Miami, Estados Unidos

A Anthropologie está longe de ser uma livraria: é, isso sim, uma deliciosa e feminina loja de roupas bacanas, acessórios mais bacanas ainda, bolsas, sapatos, coisinhas delicadas para a casa, bobeiras interessantes em geral e... livros, numa seleção caprichada difícil de encontrar até em grandes redes americanas. Já faz tempo que, quando vou aos Estados Unidos e sei que há uma Anthropologie por perto, reservo um pouco da minha cota de leitura para as obras que vou encontrar lá.

Quando estive na loja de Miami, em maio, havia uma coleção de clássicos da literatura - Emma, Alice, O morro dos ventos uivantes, A odisseia - lindamente encadernada em tecido. Diversos livros sobre decoração e jardinagem. Uma seção de obras culinárias que só deixei passar por medo da mala ficar muito pesada. Guias da Taschen. O Questionário Proust da Vanity Fair. Títulos infantis "interativos": para colorir, descobrir, pensar. Alguns livros sobre estilo que não resisti em comprar. Isso fora os cadernos, bloquinhos, cartões e papeis de carta, tudo tão convidativo que dá vontade de sair escrevendo à mão ali mesmo...

Beauty in bloom

Beauty in bloom
Natalie Bloom (Allen & Unwin, 2008)

Este livro é como aquelas propagandas de perfume importado exibidas nos canais da TV a cabo: lindas e sem importância nenhuma. Mas tenho um fraco por livros lindos, ainda mais quando tratam de pequenos prazeres, como sapatos, maquiagem, elegância, gente bonita. Pena que a relevância, aqui, seja realmente zero, principalmente pra quem, como eu, está tarimbada na leitura de obras mais consistentes a respeito de estilo.

A autora australiana, eu só soube durante a leitura, é dona de uma marca de cosméticos batizada com seu sobrenome - daí o trocadilho no título. Ou seja: tinha tudo pra dar dicas bacanas de cuidados com a pele, o corpo, já que é disso que se trata. Mas, embora ela não fique o tempo todo fazendo propaganda de sua empresa, o que já é boa coisa, pouco se aproveita de seus textos óbvios e cheios de clichês, na linha "beleza é indefinível, nada que se possa comprar", "viva rodeada de tudo o que você ama" ou "atitude positiva é sua luz interior; deixe que ela brilhe". Acho que só gostei de saber como são feitas flores de origami e de aprender um pouco sobre as diferentes texturas de maquiagem (matte, sheer, shimmer, satin, gloss). Ok, é fútil, mas eu já sabia desde o começo que era uma leitura fútil. E, pelo menos, o livro é bonito.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Jamie's America

Jamie's America
Jamie Oliver (Penguin/Michael Joseph, 2009)

Adoraria ser daquelas pessoas que perdem o apetite diante de qualquer contratempo - briga com o namorado, com o chefe, baixo-astral. Comigo, acontece o contrário: comer é, sim, muito bom, e nessas horas ainda serve como consolo, compensação. Aumento de peso, colesterol mais alto? Nem lembro que isso existe. Claro, depois há um preço a pagar. Mas quando o ânimo desaba e a tristeza se instala, quase nada ajuda tanto quanto uma boa comida de alma.

Às vezes eu nem parto pra cozinha, como seria natural, e me contento lendo livros de receitas. Esse Jamie Oliver, que acabou de sair em português, foi uma de minhas últimas aquisições. Nele, o chef-escritor percorre seis regiões/cidades americanas - Nova York, Louisiana, Arizona, Los Angeles, Georgia e Wildwest - para ver como as pessoas comem e dar suas versões de pratos clássicos, como a salada Waldorf, criada no hotel Waldorf-Astoria, em Nova York (ele usa iogurte em lugar da maionese).

Suas aventuras pela Louisiana incluem até uma receita de torresmo, os pork cracklings, além de jambalaya e gumbo, clássicos da cozinha cajun. No Arizona, o clima tem um pezinho no México, com chillis e sopa de tortilla, e na cozinha dos índios Navajo. Fiquei com vontade de preparar as panquecas de maçã que ele fez para os cowboys com quem viajou pelo Wyoming (um daqueles estados americanos que nunca vêm à cabeça quando a gente tem insônia e tenta se lembrar de cada um dos 50, até o sono chegar) e as costelinhas de porco da Georgia.

Como todo livro de Jamie Oliver, o projeto gráfico é uma atração em si: cheio de colagens, imagens das pessoas locais, um monte de fotos do próprio chef e de cada um dos pratos. Minha preferida? O frango assado, "sentado" sobre uma garrafa de cerveja Budweiser. Divertido - e apetitoso.

Sobrescritos

Sobrescritos
Sérgio Rodrigues (Arquipélago, 2010)

Eu já conhecia a maioria dos Sobrescritos de Sérgio Rodrigues porque sou leitora fanática de seu blog sobre literatura, o Todoprosa, e foi lá que ele começou a publicar essas histórias curtas que falam de "escritores, excretores e outros insensatos", como diz o subtítulo do livro. E gostei ainda mais de ler os textos no papel.

Começa com meu preferido, "A blogueira e o estruturalista", emenda com outro que adoro, "Uma ilha, um livro", e segue até chegar a personagens como os escritores Jerominho, Lúcio Nareba (um blogueiro imbecil, protagonista de dois contos), João Pontes (fascinado por uma mulher gorda), Demóstenes Bastião (escritor em preto-e-branco, que depois aparece em uma carta ao bisneto) - muitos deles representantes dessa nossa época literária em que escrever bem nem sempre é o mais importante. Poderia ser triste. Mas, nas palavras de Sérgio Rodrigues, fica tudo muito divertido.

sábado, 5 de junho de 2010

Lit Wit

Lit Wit
Richard Lederer

Isto não é um livro, mas fala deles e de escritores, então merece estar aqui - até porque, adorei. Trata-se de um jogo, uma trivia literária, com 100 fichas divididas em quatro temas: textos, autores, títulos e gêneros. Em cada uma, perguntas variadas em diversos graus de dificuldade. Fã de jogos intelectuais que sou, me diverti pra caramba tentando adivinhar, ou me lembrar, das respostas. Mas memória não é, definitivamente, o meu forte...

Eis uma pequena amostra do que pode ser encontrado no joguinho, que traz as fichas organizadas numa simpática caixinha (comprei na Books & Books, que, além de livros, tem boas surpresas, como esta):

* Use the following anedocte to identify the author: "As a young cadet, this American writer was expelled from West Point for reporting to a march wearing nothing but white gloves."

* Why did George Orwell choose Nineteen Eighty-Four as the title and year of his novel?

* Identify the titles and name the author of the literary work, quoted below, that end well: "That might be the subject of a new story - but our present story is ended."

The Bookstore in the Grove

The Bookstore in the Grove
Miami, Estados Unidos

Fica pertinho do CocoWalk, um shopping meio sem graça no agradável bairro de Coconut Grove e, pelo menos enquanto eu estive lá, o maior movimento era de pais com crianças pequenas, atraídos pela boa parte infantil da loja. Os vendedores também parecem super solícitos: eu presenciei a paciência de uma delas com um casal que queria encontrar um presente pro sobrinho, na linha Crepúsculo, mas não aceitava nenhuma sugestão da moça. No fim, acabaram levando alguma coisa na linha vampiresca.

O bacana é que, assim como a Books & Books, esta loja também se orgulha de ser independente - ou seja, vende livros de editoras pequenas, muitas delas locais, ao lado de best-sellers. Vale gastar um tempo nas prateleiras de livros de receitas e de arte. Nos fundos, fica o café. E pena que eu já tinha almoçado quando visitei a livraria, porque o cheiro do brownie de chocolate era matador.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Doutor Pasavento

Doutor Pasavento
Enrique Vila-Matas (CosacNaify, 2010)

Só existe um homem no mundo, e ele não faz mais parte da minha vida, capaz de entender a idolatria que mantenho por Enrique Vila-Matas. Era meu duplo. Não sinto exatamente saudade - encontrar o duplo pode trazer muita alegria e muito infortúnio, como disse hoje uma amiga -, mas de vez em quando o vazio se manifesta de maneira mais forte por eu saber que não existe mais ninguém com quem conversar sobre, por exemplo, Doutor Pasavento; não, pelo menos, do jeito como eu conversava com ele.

"Possibilidades" era nossa palavra favorita - assim mesmo, no plural. E, neste livro, Vila-Matas trata de uma possibilidade que me é particularmente sedutora: a de desaparecer. Que não é morrer, mas desaparecer apenas, sumir no mundo, fugir da própria insignificância para saber se alguém dá pela falta da gente. Agatha Christie fez isso, como lembra o Doutor Pasavento no livro. (Sim, deram pela falta dela.)

Como todos os meus Vila-Matas, este também está todo marcado, com períodos inteiros sublinhados a lápis, anotações nas margens - será que, daqui a um tempo, vou me lembrar o que quis dizer com cada comentário? Acredito que sim. Diz a crítica que Vila-Matas é um "escritor de escritores" e, embora eu esteja longe de praticar o ofício, o tema é importantíssimo para mim. Falar da escrita, pensar sobre a escrita, tentar viver a escrita. Desaparecer para escrever e escrever para desaparecer.

Books & Books

Miami, Estados Unidos

Estive recentemente em Miami, por motivos profissionais, e o que eu mais queria era dar de cara com uma Borders ou uma Barnes & Noble. Mas calhou de eu encontrar primeiro, na Lincoln Road, em Miami Beach, uma filial da Books & Books, a rede independente de livrarias da cidade (a matriz fica em Coral Gables, onde acabei indo num outro dia).

Adorei. Logo na entrada da loja da Lincoln Road há um café, que serve um ótimo chá de framboesa gelado (fazia um calor senegalês) e um bom sanduíche de berinjela com queijo de cabra. Alimentado o corpo, alimenta-se, então, o espírito. São várias salas forradas de estantes e divididas em temas que não fogem ao que se encontra nas grandes redes, mas com uma diferença fundamental: além do catálogo das principais editoras americanas, e algumas europeias, a Books & Books vende muitos títulos, digamos, não tão comerciais. Diversas empresas pequenas, que provavalmente não encontrariam espaço nobre em outras livrarias, têm seus volumes bem expostos, o que é ótimo principalmente para quem, como eu, procurava livros de um assunto específico. Encontrei vários, muitos de séries que não conhecia.

Lá dentro, o silêncio é a trilha sonora: quem se senta nos bancos disponíveis em cada sala, para folhear o que for com sossego, exibe um respeito quase que de biblioteca. Uma pergunta aqui, outra ali, logo atendidas pelos funcionários. E a sensação de que livros, assim como santos, também merecem seus templos.