Em quase toda a minha vida profissional eu não fiz outra coisa senão tomar decisões. E mesmo assim sinto uma dificuldade enorme em fazer escolhas fora do trabalho. É como se eu não acreditasse que posso mesmo ser boa nisso. Então nessas horas de angústia - como a de hoje, como a que já vem vindo há semanas - eu recorro a Cecilia Meireles. O poema não me ajuda a escolher. Mas mostra que não estou sozinha nisso.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Ou isto ou aquilo
Em quase toda a minha vida profissional eu não fiz outra coisa senão tomar decisões. E mesmo assim sinto uma dificuldade enorme em fazer escolhas fora do trabalho. É como se eu não acreditasse que posso mesmo ser boa nisso. Então nessas horas de angústia - como a de hoje, como a que já vem vindo há semanas - eu recorro a Cecilia Meireles. O poema não me ajuda a escolher. Mas mostra que não estou sozinha nisso.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
O mistério dos sete relógios
Agatha Christie (Nova Fronteira, 2002)
Ontem eu percebi que tenho três relógios parados em casa (todos em torno das 11 horas. Bizarro). E aí me lembrei desse livro, um dos que mais gosto de Agatha Christie, e que começa não com três, mas com sete relógios enfileirados na cena de um crime - havia ainda um oitavo, que foi jogado com força para fora da janela. Por quê?
Engraçado, em nenhum dos meus Agatha Christie preferidos o mistério é solucionado por Hercule Poirot ou Miss Marple. São sempre detetives, digamos, improvisados. Está certo que, nesse caso, o trio formado por Bundle, Bill e Jimmy ganha uma mãozinha do "impassível" superintendente Battle, da Scotland Yard, um personagem bacana que aparece em poucas histórias de Christie. Junto, o trio vai passar um fim de semana numa mansão aristocrática, invade um lugar suspeito num bairro londrino mais suspeito ainda e se vê envolvido não só em assassinatos, mas no roubo de importantes documentos. E ainda tem uma pitada de romance pra incrementar a história.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
A elegância do ouriço
Muriel Barbery (Companhia das Letras, 2008)
Foi o querido doutor Reinaldo que me indicou esse livro, tão doce e tão surpreendente. Acho que ele põe fé na minha recuperação, já que os temas tratados estão longe de ser fáceis, ainda que trabalhados com leveza e uma certa poesia. É daquele tipo de leitura que dá vontade de voltar para a primeira página assim que a história acaba. E eu chorei no final - fazia muito tempo que eu não chorava por causa de um livro.
A elegância do ouriço - o título estranho se justifica de um jeito bem pertinente - é formado pelas narrativas paralelas da concièrge de um edifício em Paris e de uma garota de 12 anos que mora no mesmo prédio. Renée, a concièrge, esconde sua personalidade forte e seu gosto pela cultura porque não considera que essas sejam características apropriadas para alguém em sua posição. A garota, que só tem o nome revelado na parte final do livro, acredita que a vida não tem o menor sentido e por isso decide se matar em seu aniversário de 13 anos. Daí, a certa altura, a vida das duas se entrelaça.
domingo, 21 de setembro de 2008
The one hundred
Informações, e não regras, mudaram a maneira com que eu me visto. Se eu sei que listras horizontais engordam, procuro evitá-las. Se eu sei que gola alta não favorece o meu colo, uso decotes em V. Tudo é válido para que eu me sinta bem dentro da roupa que estou usando no lugar em que trabalho, num bar ou restaurante, na festa de família. Nina Garcia colabora para isso ao elencar as 100 peças que, em sua opinião, vão se manter sempre em alta, não importa o modismo atual: o pretinho básico, um casaco caramelo, jaqueta jeans, meias pretas opacas... Qualquer uma delas, porém, deve ser usada de acordo com o seu tipo físico, seu estilo de vida, sua personalidade. Eu, por exemplo, ficaria ridícula numa saia de oncinha. Mas encher o braço de pulseiras diferentes, coloridas e barulhentas até que não é má idéia...
sábado, 20 de setembro de 2008
Recordações de um agente secreto
Nosso herói infanto-juvenil - João o quê? - mora na pequena Brusque e começa a perceber que tem alguma coisa estranha na cidade quando dá um esbarrão num tipo mal-encarado; um burro-estúpido. Uns dias depois, mistério: desaparecem os selos olho-de-boi de um filatelista conhecido. João (mas João o quê?) começa a se interessar pelo assunto, dá uma de detetive, descobre os bandidos. Mesmo sem o livro aqui ao meu lado, começo a me lembrar de vários detalhes interessantes da história: um brinco de flor, um par de abotoaduras, a brincadeira de contar os carros pela janela, o outro-eu, as exposições "científicas" que o pai freqüentava com os filhos. Uau. A cuca de maçã do Santa Luzia é minha versão pessoal das madeleines de Proust.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Xul Solar
Álvaro Abós (Editorial Sudamericana, 2004)
Conheci e me apaixonei pela obra de Xul Solar em dezembro de 2004, numa viagem a Buenos Aires. Foi também quando comprei esse livro, ainda que eu não fale nem portunhol e não tenha muita paciência para tentar entender o espanhol. Demorou, mas fui lendo aos poucos, confesso que pulando algumas partes que eu não compreendia, pelo menos pra me inteirar do básico sobre a vida do artista, um sujeito muito interessante que eu nunca tinha visto sequer citado em nenhum texto ou reportagem sobre a pintura latino-americana.
Mas Xul foi mais do que apenas pintor. Inventou idiomas como o neocriollo, criou um jogo esquisitíssimo (e muito bonito) parecido com o xadrez, foi amigo de Borges, contribuiu para a revista Martín Fierro... Entre os anos 20 e 50, só faltou virar a Buenos Aires cultural de cabeça pra baixo. Mais tarde, creio que em 2005, quando a Pinacoteca do Estado organizou uma excelente mostra das obras de Xul Solar, fui ver a exposição com o livro em punho. E descobri vários erros chatinhos, como nomes de obras incorretos. Infelizmente, o volume continua sendo a única referência que já encontrei, até hoje, sobre a vida e o fascinante trabalho desse argentino inspirador.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Um presente para Cláudia
Carlos Heitor Cony (Ediouro)
Verônica é uma garota que sai do Rio de Janeiro e vai para uma cidadezinha no interior de São Paulo para tentar resolver uma velha história de família. Chega e hospeda-se na casa de Cláudia, filha de uma antiga amiga de sua mãe, e logo se vê envolvida por segredos e mentiras, admiração e inveja. A moça causa um rebuliço nos costumes provincianos: muda a vida de um bêbado local, desafia o manda-chuva da cidade e apaixona-se por Eduardo, o namorado da menina mais rica do pedaço. Eu sonhava com o caso de amor de Verônica e Eduardo. Imaginava tramas paralelas, encompridava a história para deixar tudo mais emocionante, revivia mil vezes na minha cabeça a cena do baile em que os dois dançam de rosto colado. Eram minhas historinhas. Que não sei bem quando começaram, terminaram quando eu já era adulta e que, principalmente, foram fundamentais para eu manter o prazer da leitura e exercitar a imaginação.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Rolling Stone
Ok, admito a fase de extremo mau humor com erros de tradução e revisão. Mas como é que alguém deixa escapar uma bobagem desse tamanho? O tradutor não viu que a frase não faz o menor sentido? O editor? O revisor? E piora. Na mesma entrevista de Truman Capote para Andy Warhol, o tradutor indica que os dois estão "No bar Carlyle do Hotel", assim mesmo. Qualquer pessoa minimamente informada sobre a Nova York da época - sobre Nova York, de maneira geral - saberia que os dois estavam no bar do hotel Carlyle. E não, "ordinarily" não significa "ordinariamente", e sim "normalmente, costumeiramente, em geral".
As entrevistas da revista americana Rolling Stone com gente como Jim Morrison, John Lennon, Joni Mitchell, Capote, Coppola, Eric Clapton, Mick Jagger, Bill Clinton e o Dalai Lama, entre outros, são um tesouro. Que foi tratado como lixo nessa edição brasileira da Larousse. Eu já tinha desconfiado das entrevistas de Jim Morrison e John Lennon, duas figuras tão ricas e que aparecem tão sem graça no livro, como se todas as suas respostas tivessem sido dadas no mesmo tom, monocórdias, sem ênfase em nada. Quando cheguei no Capote, quase enfartei. É mesmo pedir muito que um livro seja tratado com o respeito que merece?
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
O santo sujo
Humberto Werneck (Cosac Naify, 2008)
Ao ler a biografia de Jayme Ovalle, eu não me apaixonei perdidamente pelo personagem, como aconteceu com Hélio Pellegrino. Mas gostei do cara. Não, acho que gostei principalmente da época em que ele viveu, e de seu convívio com figuras que ainda conheço pouco, como Manuel Bandeira (que entrou para a minha lista de prioridades) e Augusto Frederico Schmidt. Talvez eu tenha ficado um pouco frustrada porque o lado místico de Ovalle, tão citado por Bandeira e outros amigos, aparece pouco; gostaria de saber, por exemplo, de que questões tão existenciais ele teria tratado em discussões diretas com Deus, como contaram seus contemporâneos.
Mas a biografia é exemplar, muitíssimo bem escrita e pesquisada (provavelmente as discussões com Deus não tiveram testemunha, daí a presença irrelevante no enredo), cheia de fotos interessantes e histórias divertidas. Só para conhecer a gnomonia inventada por Jayme Ovalle, a leitura já é válida - eu sou definitivamente kerniana, com um pé entre os onésimos. Também gostei de ler sobre uma Londres e uma Nova York utópicas, pra não falar do Rio de Janeiro entre os anos 10 e 50, e de imaginar como teria sido bom viver em qualquer uma delas numa época que aparentava ser tão fértil de cultura, artes, literatura.
Por fim, eu e minha chatice: como é que um livro tão caprichado, com um projeto gráfico tão bacana, capa dura, chique, elegante, deixa passar tanto erro de revisão? A esmo: "O pintor se divertia com as peças que pregava no avoado viajante. Um dia, ao recebê-lo na estação, surrupiou-lhe a maleta onde levava sua provisão de uísque. Já no hotel, dando pela falta da preciosa bagagem, Ovalle, desesperado, ligou para Di Cavalcanti: 'Me roubarão uma valise com uns uísques, e você sabe, eu agora só bebo uísque, sou um inglês, francês só quer saber de vinho, como é que eu vou fazer?'" E o pior é que tem mais.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
A vida secreta dos grandes autores
Robert Schnakenberg (Ediouro, 2008)
A idéia é muito boa - contar podres e curiosidades de escritores famosos em forma de almanaque, e com o traço divertido de Alan Sieber. Teria dado um bom livro, não fossem três problemas que, de tão básicos, dão vontade da gente escrever para a editora e pedir o dinheiro de volta, como fazemos quando a geladeira vem quebrada ou o microondas não funciona: tradução, edição e revisão. Eu trabalho com livros e revistas. Sei que é difícil, quase impossível, publicar alguma coisa sem que passe ao menos um errinho. Mas errar ao mesmo tempo em três coisas tão primárias é abusar da boa-vontade do leitor. Apenas um exemplo de cada:
Tradução - Quem tem transtorno obsessivo-compulsivo sofre de DOC? Para o tradutor, é dessa doença que padece Dickens. E não de TOC, como estamos acostumados a ler nas notícias sobre o Roberto Carlos.
Edição - Se a obra de Tolkien é tratada no livro como O senhor dos anéis, em claro e bom português, por que dizer que as principais obras do sujeito foram The fellowship of the ring, The two towers e The return of the king?
Revisão - "Em termos de volume, as contribuições de Salinger aos cânones literários foram magros." Concordância, alguém? As contribuições foram magros?
Shakespeare morava em Stratford-upon-Avon ou em Stratsford-upon-Avon? O nome do poeta era Percy Bysshe Sheley ou Percy Bysshe Shelley? E por que, em nome de todos os deuses dos sinais gráficos, colocar aspas em palavras e expressões como carona, bombas (fracassos) e neurose generalizada? O livro poderia ser bom, sim. Eu não sabia que Virginia Woolf escrevia em pé nem que Charles Dickens proibiu, em testamento, que se erguessem quaisquer estátuas em sua homenagem. Mas, sinceramente, gostaria de receber meu dinheiro de volta.
O manto de Penélope
João Pinto Furtado (Companhia das Letras, 2002)
Esse livro foi publicado um pouco antes de eu fazer uma viagem pelas cidades históricas de Minas Gerais, e foi isso o que me motivou a comprá-lo. Se não me engano, trata-se da tese de doutorado de João Pinto Furtado - e, como muita tese que eu já li, ainda que revista e ampliada, não é exatamente um primor da escrita. Mas o que falta em literatura sobra em informação, e só isso já justifica a leitura.
O bacana do livro é questionar alguns fatos e até a própria origem da Inconfidência Mineira, e colocá-los em xeque diante do que se costuma aprender no colégio. A começar pela imagem de Tiradentes, segundo o autor claramente baseada, já durante a República, na figura de Jesus Cristo. E a idéia de que os inconfidentes foram abolicionistas - teriam sido mesmo? Ao final da leitura, comecei a pensar sobre o movimento por um outro viés; não tive dúvida de que a História se apropriou dele e criou um mito apenas por conveniência.