segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O santo sujo

O santo sujo
Humberto Werneck (Cosac Naify, 2008)

Ao ler a biografia de Jayme Ovalle, eu não me apaixonei perdidamente pelo personagem, como aconteceu com Hélio Pellegrino. Mas gostei do cara. Não, acho que gostei principalmente da época em que ele viveu, e de seu convívio com figuras que ainda conheço pouco, como Manuel Bandeira (que entrou para a minha lista de prioridades) e Augusto Frederico Schmidt. Talvez eu tenha ficado um pouco frustrada porque o lado místico de Ovalle, tão citado por Bandeira e outros amigos, aparece pouco; gostaria de saber, por exemplo, de que questões tão existenciais ele teria tratado em discussões diretas com Deus, como contaram seus contemporâneos.

Mas a biografia é exemplar, muitíssimo bem escrita e pesquisada (provavelmente as discussões com Deus não tiveram testemunha, daí a presença irrelevante no enredo), cheia de fotos interessantes e histórias divertidas. Só para conhecer a gnomonia inventada por Jayme Ovalle, a leitura já é válida - eu sou definitivamente kerniana, com um pé entre os onésimos. Também gostei de ler sobre uma Londres e uma Nova York utópicas, pra não falar do Rio de Janeiro entre os anos 10 e 50, e de imaginar como teria sido bom viver em qualquer uma delas numa época que aparentava ser tão fértil de cultura, artes, literatura.

Por fim, eu e minha chatice: como é que um livro tão caprichado, com um projeto gráfico tão bacana, capa dura, chique, elegante, deixa passar tanto erro de revisão? A esmo: "O pintor se divertia com as peças que pregava no avoado viajante. Um dia, ao recebê-lo na estação, surrupiou-lhe a maleta onde levava sua provisão de uísque. Já no hotel, dando pela falta da preciosa bagagem, Ovalle, desesperado, ligou para Di Cavalcanti: 'Me roubarão uma valise com uns uísques, e você sabe, eu agora só bebo uísque, sou um inglês, francês só quer saber de vinho, como é que eu vou fazer?'" E o pior é que tem mais.

Um comentário:

vera maria disse...

isabel, sempre conheci ovalle através de mario de andrade e bandeira, e assisti a várias entrevistas do werneck à época do lançamento do livro, mas faltou vc me dizer assim, de viva voz, que o livro vale a pena. vou comprar, claro.
um abraço,
clara lopez