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Paul Auster (Penguin USA, 2004)
Na Flip de 2004, em Parati, eu perguntei a Paul Auster se ele costuma reler suas obras. Ele disse que não. Depois perguntei se ele tem intenção de escrever poesia outra vez. Ele disse que não. Pois minha teoria maldosa é a de que Auster, algum dia, releu seus poemas e, a partir daí, tomou duas decisões: nunca mais escrevê-los nem reler qualquer coisa de sua autoria.
Repito: maldade pura (embora as perguntas tenham mesmo acontecido). Mas a brincadeira vem fácil quando se compara a poesia do americano à maioria de seus romances e aos livros de não-ficção que ele escreveu. Além dos versos compostos por Paul Auster, Collected poems traz diversas traduções que ele fez de poemas em francês. São todos fracos; servem apenas como curiosidade, ainda que um ou outro me agrade pelo tema ou pela sonoridade.
Essa maneira bobinha e engraçadinha de falar de Paul Auster pela primeira vez aqui no blog denota, na verdade, um grande medo: escrever sobre sua obra em prosa e refletir sobre o que ela representa para mim. Paul Auster é um dos meus dois autores estrangeiros vivos preferidos (o outro é Ian McEwan). Acho que é um ótimo escritor - com direito a altos e baixos, como quase todos - e descobri-lo, com Leviatã, me fez pensar a respeito de temas literários que até então nunca tinham passado pela minha cabeça (e que me atormentam até hoje).
Talvez PA merecesse o primeiro post a respeito de um autor, e não de uma obra específica. Eu detesto sua badaladíssima Trilogia de Nova York. Adoro Leviatã. E Noite do oráculo. E O livro das ilusões (como não gostar de alguém que dá esse título a um livro?). Mas minha austermania não me impede de enxergar os defeitos óbvios em obras mais rasas, como Mr. Vertigo. Respiro fundo: quem sabe eu crie coragem para, um dia, escrever direitinho sobre os efeitos Auster em minha vida.