domingo, 30 de agosto de 2009

Assassinos sem rosto

Assassinos sem rosto
Henning Mankell (Companhia das Letras, 2001)

Fazia tempo que não acontecia de eu pegar um livro e ler tudo em dois dias, como foi com Assassinos sem rosto. Mas confesso que houve um motivo para isso: comprei o livro para dar de presente e resolvi, primeiro, conferir a história - meu presenteado, afinal, é fã de romances policiais, e, como eu nunca tinha lido Mankell antes, fui ver se a história era bacana. Gostei. Não tanto quanto de Fred Vargas, que eu diria ser um Mankell aprimorado, mas gostei.

Este é o romance que apresenta o inspetor Kurt Wallander, o Jean-Baptiste Adamsberg de Henning Mankell. Assim como o colega fictício francês, o sueco Wallander vive sozinho, tem problemas com as mulheres e lidera uma equipe formada por tipos bem diferentes de policiais. Mas Adamsberg é um personagem muito mais carismático e bem-construído: a gente torce por ele. Talvez lendo outros livros de Wallander eu passe a torcer por ele também, mas nessa sua estreia só o que eu conseguia pensar era em, por exemplo, "por que ele não foi conversar com as filhas do casal assassinado?" Ou na superficialidade com que aparecem figuras que deveriam ter alguma importância na vida do detetive - a filha de Wallander, Linda, é um ser meio evanescente, assim como a Camille de Adamsberg, mas muito menos interessante; e não dá pra ter qualquer simpatia por seu velho pai, cada vez mais senil, ou pelo melhor amigo que ficou no passado.

E aí tem uma outra coisa que me incomoda muito em alguns policiais, até mesmo em Fred Vargas: a solução fácil. Podem falar o que quiser de Agatha Christie, subliteratura e sei lá o quê, mas pelo menos seus finais eram quase sempre surpreendentes. Pelo menos neste livro, Henning Mankell ficou devendo um desfecho mais emocionante.

sábado, 29 de agosto de 2009

Café com Letras

Café com Letras
Belo Horizonte, MG

Quando fui a Belo Horizonte pela primeira vez, a trabalho, vários anos atrás, fiquei hospedada num flat da rua Antônio de Albuquerque, na Savassi. Voltei cedo de uma reunião e resolvi andar pelo bairro. Foi quando eu encontrei, na mesma rua do hotel, esse misto de café e livraria, então muito mais livraria do que café.

Há uns dias, voltei a BH e fui outra vez ao Café com Letras, dessa vez muito mais restaurante que café ou livraria. Continua bacana - em duas ou três mesas dá pra almoçar ao lado das estantes cheias de livros, como se fosse numa biblioteca. Os títulos, reduzidos devido ao espaço, me pareceram bacanas. Tinha até uma prateleira só com volumes da Taschen, vários daquela série sobre artistas de cinema (eu tenho o da Grace Kelly). Fiquei tentada a comprar o da Marilyn Monroe, mas com a diferença de preço entre os 2,49 euros que eu paguei em Paris e os mais de 40 reais cobrados na loja mineira, desisti rapidinho. Ok, eu sei que, se eu voltasse a Paris para comprar mais dessa série na loja da Taschen, ia gastar muito mais do que 40 reais, mas tem também o propósito que eu fiz de tentar não comprar mais livros até o fim do ano, pra ver se eu dou conta de ler o que se acumula aqui em casa. Estou conseguindo. Hoje é meu 70º dia de abstinência.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quadrinhos Celton

Quadrinhos Celton
Lacarmélio (edição do autor, 2009)

Eu não sou muito chegada em quadrinhos - teve uma época em que eu gostava muito do Batman, mas acho que aqui no blog abri apenas uma exceção, para as tirinhas do Calvin. Só que foi impossível resistir à obra de Lacarmélio, um sujeito que percorre as ruas de Belo Horizonte vestido num reluzente terno amarelo e carregando um imenso estandarte que apregoa sua obra. "Estou vendendo revistas em quadrinhos que eu mesmo fiz", diz a placa. No anúncio, custa R$ 3; Lacarmélio vende por R$ 2.

Na última sexta-feira, cruzei com Lacarmélio subindo e descendo a rua Sergipe, na Savassi, enquanto vendia a edição número 22 dos quadrinhos de Celton, o personagem que criou. Título: O combate da sogra com o capeta (infelizmente, estou sem scanner e não achei a imagem para colocar aqui; é o desenho de uma mulher armada com uma vassoura brigando com o demônio e seu tridente). Logo na primeira página está o crédito: "História, esboços, desenhos, arte-final, pesquisas, computação gráfica, diagramação final, vendas nas ruas e erros que são muitos: Lacarmélio A. Araújo".

A trama é fraquinha. Mesmo assim, fiquei curiosa pra ver outras de suas edições, como a que trata da construção de BH e as histórias baseadas em lendas urbanas da cidade. Porque ver Lacarmélio em ação, ler as "cartas dos leitores" que ele edita nas revistinhas e saber - a se acreditar no expediente da publicação - que o cara faz tudo sozinho, com dinheiro do próprio bolso, foi muito importante pra mim num momento em que eu não estava acreditando em quase mais nada.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A montanha encantada e A mina de ouro

A montanha encantada e A mina de ouro
Maria José Dupré (Ática, 2002)

Minha sobrinha nem completou 1 ano e já descobriu como os livros podem ser divertidos. Semana passada, na casa da minha mãe, ela se apoiou em pé, na primeira prateleira da estante, e começou a jogar, um por um, os livros no chão. Eu deixei - sobrinhas fofas podem fazer quase qualquer coisa -, ainda que aquela fosse parte da minha biblioteca, que mantenho na casa da minha mãe por falta de espaço no meu microapartamento.

Quando Martina jogou A montanha encantada no chão, minha cabeça voltou sei lá quantos anos no tempo. Na hora eu me lembrei de uma cena do livro: as crianças - que entraram na montanha e encontraram uma cidade de anões - vestidas para o casamento de um príncipe e de uma princesa. Uma das meninas usava um vestido cor do arco-íris. Outra, um vestido de céu estrelado. Aí Martina pegou A mina de ouro, também de Maria José Dupré e da mesma coleção (que eu pensava ser, mas não é, a Vagalume), e minha cabeça viajou de novo: a cena em que, perdidas dentro da mina, as crianças sonham com suas comidas preferidas.

Eu adorava esses livros de aventura, sonhava com elas. Criava na imaginação situações difíceis, como as de Maria José Dupré (que, pensando hoje, são bem parecidas e meio repetitivas), para inventar soluções e cenas como as que ficaram pra sempre na minha memória. E agora torço para que Martina cresça logo e eu possa tentar brincar da mesma maneira com ela. Torço para que ela descubra que os livros não são divertidos apenas quando caem no chão.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Novel destinations

Novel destinations
Shannon McKenna Schmidt e Joni Rendon (National Geographic, 2009)

No dia em que eu tiver dinheiro suficiente e uma companhia que curta esse tipo de coisa, quero viajar pelos Estados Unidos só para ver as casas projetadas por Frank Lloyd Wright. Acho bacana inventar viagens temáticas. Se tiverem um pé na literatura, tanto melhor. É o que faz esse Novel destinations, um guia turístico que indica a casa e os museus dedicados a alguns autores (Shakespeare, Agatha Christie, Margareth Mitchell), relaciona os cemitérios onde vários estão enterrados (Père-Lachaise, Westminster Abbey, Panthéon), fala de walking tours (a Londres de Oscar Wilde, a Paris de Hemingway, a São Petesburgo de Dostoievski) e sugere roteiros para acompanhar os passos de tantos outros (Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Edith Wharton).

Cheguei à conclusão de que o que eu mais conheço são bares e restaurantes onde alguns escritores deixaram sua marca. Estive no El Floridita e na Bodeguita del Medio, em Havana (ambos ligados a Hemingway), almocei no La Coupole e no Café de Flore, em Paris (frequentados por gente como Sartre e Camus), e acho que comi a pior lasanha da minha vida no Museum Tavern, em Londres (onde esteve Sir Arthur Conan Doyle). Depois de ler Novel destinations, fiquei com vontade de seguir os passos de Kafka em Praga. Os de Louisa May Alcott em Concord, Massachussetts. Conhecer o castelo do Drácula, na Romênia, ver a casa da mulher que inspirou a Dulcineia do Dom Quixote, visitar o Château de Monte Cristo, na França...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Livraria Siciliano

Livraria Siciliano
São Paulo, SP

Nem sei se a loja ainda existe. Nos anos 70 e 80 havia duas, no shopping Iguatemi, e eu me lembro até do cheiro delas. Minha preferida era a do piso de cima, onde os livros infantis e infanto-juvenis pareciam mais à mostra. Acho que minha edição de Pollyana, que ganhei de presente da avó paterna, foi comprada lá. Lembro da frustração que eu sentia quando perguntava de alguma coisa para os vendedores e eles não tinham ideia do que eu estava falando. E, estranhamente, se não tinha na Siciliano, não tinha em outro lugar - não era hábito da minha mãe frequentar a Cultura e eu sinceramente não me lembro de outras livrarias na minha infância e adolescência.

Hoje, eu só compro na Siciliano e na Saraiva em caso de necessidade urgente e extrema. Não gosto de seu jeito impessoal, do amontoado de coisas à venda, da ostentação de autoajuda, da falta de conhecimento melhor da maioria dos vendedores. Prefiro comprar livros em lugares onde eu sei que eles são bem-tratados, como na Cultura e na Livraria da Vila. A Siciliano dos anos 70 e 80 ficou para trás. Ganhou a memória, que guarda também o shopping antigo e frequentável, hoje irreconhecível para quem, como eu, comeu na lanchonete Jules & Jim e comprou discos na Hi-Fi.