Vintage Sacks
Oliver Sacks (Vintage Books, 2004)
Um pot-pourri de Oliver Sacks só não é melhor porque me faz pensar no quanto eu ainda quero ler desse homem e aí baixa a depressão de saber que não, eu não vou conseguir ler tudo o que ainda quero ler na vida. Para ficar só nele: Alucinações musicais, O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, Tio Tungstênio - e talvez A ilha dos daltônicos e Vendo vozes, porque há intrigantes capítulos de ambos nessa pequena coletânea de textos extraída de diversos livros do médico.
Eis aqui o triste relato da doença de Rose R., que "acordou" de uma encefalite letárgica depois de 43 anos (de Tempo de Despertar). A história do dr. Bennett, um cirurgião do Canadá que convive com a Síndrome de Tourette e, mesmo assim, segue operando sem problemas (de Um antropólogo em Marte). A conclusão de que as visões e alucinações de uma freira do século 12 não passavam de sintomas de enxaqueca (de Enxaqueca). E, bem bacanas, as experiências científicas que o pequeno Oliver Sacks fazia em família, e que depois o levaram à neurologia (de Tio Tungstênio).
Do capítulo sobre o dr. Bennett: Any disease introduces a doubleness into life - an "it", with its own needs, demands, limitations.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
London Pocket Companion
London Pocket Companion
Jo Swinnerton (Pavilion, 2008)
Sugestões de hotéis, endereços de restaurantes, horários de museus e outras atrações da capital britânica - bem, esse guia não tem nada disso. Nem mesmo fala onde mora a rainha, ou como fazer para ver a troca da guarda. Mas junta um monte de informações, a maioria irrelevante e divertida, para os viajantes que prestam atenção em detalhes da cidade, e não apenas em seus principais pontos turísticos.
Um exemplo: o guia lista pubs peculiares - o The Mayflower, na Rotherhithe Street, é o único pub, na Inglaterra, que pode vender selos britânicos e americanos; o The Old Red Lion, em Holborn, já abrigou o corpo decapitado de Oliver Cromwell. Fala também de lugares "mal-assombrados", dos animais mais estranhos do zoológico, da origem do termo "cockney" e traz outras informações inúteis para o turista comum, mas valiosas para quem conhece ou quer conhecer melhor a trajetória da cidade, seus habitantes históricos e pontos famosos.
Jo Swinnerton (Pavilion, 2008)
Sugestões de hotéis, endereços de restaurantes, horários de museus e outras atrações da capital britânica - bem, esse guia não tem nada disso. Nem mesmo fala onde mora a rainha, ou como fazer para ver a troca da guarda. Mas junta um monte de informações, a maioria irrelevante e divertida, para os viajantes que prestam atenção em detalhes da cidade, e não apenas em seus principais pontos turísticos.
Um exemplo: o guia lista pubs peculiares - o The Mayflower, na Rotherhithe Street, é o único pub, na Inglaterra, que pode vender selos britânicos e americanos; o The Old Red Lion, em Holborn, já abrigou o corpo decapitado de Oliver Cromwell. Fala também de lugares "mal-assombrados", dos animais mais estranhos do zoológico, da origem do termo "cockney" e traz outras informações inúteis para o turista comum, mas valiosas para quem conhece ou quer conhecer melhor a trajetória da cidade, seus habitantes históricos e pontos famosos.
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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
How to boil water
How to boil water
Food Network (2006)
É muito, muito raro, mas às vezes acontece de eu chegar em casa querendo um golinho de bebida alcóolica - para, por exemplo, espairecer de um dia em que os aborrecimentos profissionais vêm de implicações pessoais, e não do trabalho em si. Hoje foi um desses dias. Eu não queria abrir uma garrafa de vinho só para mim (não bebo tanto assim), então comecei a vasculhar a estante de livros de cozinha para ver se achava um drinque fácil com rum ou com tequila, limão siciliano ou mexerica, que era o que se apresentava no momento. (Tivesse eu hortelã, ia direto ao mojito.)
Descobri que não tenho nenhum livro sobre bebidas - apenas um mais ou menos sobre vinhos, mas eu já desisti há muito de tentar virar enóloga. Em compensação, encontrei esse manual pra principiantes escrito pelo time da Food Network, minha estação de TV preferida na breve época em que morei nos Estados Unidos. (Sei que tenho escrito muito sobre livros de culinária, mas é porque estou num mood mestre-cuca; já separei várias receitas pra testar durante o carnaval.) How to boil water não ensina, evidentemente, a ferver água. Mas parte dos básicos para, com uma linguagem superdidática e muitas imagens bacanas, ensinar qualquer um a preparar um café da manhã caprichado (com ovos, panqueca, bolinhos), encarar o desafio de assar um frango, cozinhar cuscuz e macarrão, fazer biscoitos e brownie de chocolate. Qualquer pessoa pode aprender a cozinhar, como diz Jamie Oliver em seu Ministry of Food.
Quanto ao meu drinque, abri a garrafa de tequila e apelei para um margarita mix que mantenho na geladeira. Gracias, Jose Cuervo.
Food Network (2006)
É muito, muito raro, mas às vezes acontece de eu chegar em casa querendo um golinho de bebida alcóolica - para, por exemplo, espairecer de um dia em que os aborrecimentos profissionais vêm de implicações pessoais, e não do trabalho em si. Hoje foi um desses dias. Eu não queria abrir uma garrafa de vinho só para mim (não bebo tanto assim), então comecei a vasculhar a estante de livros de cozinha para ver se achava um drinque fácil com rum ou com tequila, limão siciliano ou mexerica, que era o que se apresentava no momento. (Tivesse eu hortelã, ia direto ao mojito.)
Descobri que não tenho nenhum livro sobre bebidas - apenas um mais ou menos sobre vinhos, mas eu já desisti há muito de tentar virar enóloga. Em compensação, encontrei esse manual pra principiantes escrito pelo time da Food Network, minha estação de TV preferida na breve época em que morei nos Estados Unidos. (Sei que tenho escrito muito sobre livros de culinária, mas é porque estou num mood mestre-cuca; já separei várias receitas pra testar durante o carnaval.) How to boil water não ensina, evidentemente, a ferver água. Mas parte dos básicos para, com uma linguagem superdidática e muitas imagens bacanas, ensinar qualquer um a preparar um café da manhã caprichado (com ovos, panqueca, bolinhos), encarar o desafio de assar um frango, cozinhar cuscuz e macarrão, fazer biscoitos e brownie de chocolate. Qualquer pessoa pode aprender a cozinhar, como diz Jamie Oliver em seu Ministry of Food.
Quanto ao meu drinque, abri a garrafa de tequila e apelei para um margarita mix que mantenho na geladeira. Gracias, Jose Cuervo.
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Segredos de chefs
Segredos de chefs
Francine Maroukian (Publifolha, 2006)
Tem livro de cozinha que eu compro por impulso. Porque estava baratinho, porque o projeto gráfico é bacana, porque acho que o tema vai me interessar um dia. Esse eu tinha visto no original e fiquei curiosa. Quando saiu em português, li por cima e deixei de lado porque as dicas - os tais segredos de chefs que promete o título - me pareceram muito banais ou, pior, muito específicas, naquela linha de como decorar com chocolate usando uma pistola elétrica de tinta.
Mas às vezes é preciso que o livro (ou eu) "amadureça", que chegue enfim o tempo da leitura. Foi o caso. Tirando o capítulo das sobremesas - que realmente ensina, entre outras coisas, a decorar com chocolate usando uma pistola elétrica de tinta -, várias outras dicas, mesmo as banais, me deram ideias ou ensinaram alguma coisa que eu não sabia. Adoro "como se aventurar no mundo secreto das anchovas" (porque parece isso mesmo; quem gosta de anchovas, como eu, sente-se parte de uma confraria clandestina) e "como descascar gengibre usando uma colher de chá". Os chefs que participam do livro são ilustres desconhecidos pra nós (com exceção dos três ou quatro brasileiros que entraram na edição nacional), mas não tem importância. Tenho certeza de que, daqui pra frente, cada leitura de Segredos de chefs vai ser produtiva.
Francine Maroukian (Publifolha, 2006)
Tem livro de cozinha que eu compro por impulso. Porque estava baratinho, porque o projeto gráfico é bacana, porque acho que o tema vai me interessar um dia. Esse eu tinha visto no original e fiquei curiosa. Quando saiu em português, li por cima e deixei de lado porque as dicas - os tais segredos de chefs que promete o título - me pareceram muito banais ou, pior, muito específicas, naquela linha de como decorar com chocolate usando uma pistola elétrica de tinta.
Mas às vezes é preciso que o livro (ou eu) "amadureça", que chegue enfim o tempo da leitura. Foi o caso. Tirando o capítulo das sobremesas - que realmente ensina, entre outras coisas, a decorar com chocolate usando uma pistola elétrica de tinta -, várias outras dicas, mesmo as banais, me deram ideias ou ensinaram alguma coisa que eu não sabia. Adoro "como se aventurar no mundo secreto das anchovas" (porque parece isso mesmo; quem gosta de anchovas, como eu, sente-se parte de uma confraria clandestina) e "como descascar gengibre usando uma colher de chá". Os chefs que participam do livro são ilustres desconhecidos pra nós (com exceção dos três ou quatro brasileiros que entraram na edição nacional), mas não tem importância. Tenho certeza de que, daqui pra frente, cada leitura de Segredos de chefs vai ser produtiva.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
What língua is esta?
What língua is esta?
Sérgio Rodrigues (Ediouro, 2005)
Já faz tempo que muita gente trata o professor Pasquale como a grande autoridade em Língua Portuguesa no país. Eu sempre preferi Sérgio Rodrigues. Não que os dois se pareçam - Pasquale é o professorzão que usa fatos do cotidiano para falar de regras e gramática e Sérgio Rodrigues escreve sobre o idioma de um jeito muito mais sutil e instigante. Prova disso é sua coluna na Revista da Semana: traz sempre uma palavra que esteve circulando pelos noticiários recentes e trata dela em termos etimológicos, práticos, culturais.
Reunidas nesse livro estão várias crônicas publicadas no Jornal do Brasil e no finado e saudoso site nominimo.com. Tratam de clichês, termos que usamos de maneira errada, adaptações esdrúxulas que fazemos do inglês, onomatopéias e o que mais render assunto para discutir a Língua Portuguesa de um jeito inteligente. Faz a gente pensar mais antes de falar e de escrever. Um senão: as crônicas poderiam vir seguidas de sua data de publicação original, pois muitas vezes Sérgio usa referências que hoje já não fazem sentido; num dos textos, levei um bom tempinho até entender quem eram Gisele (Bündchen) e Leonardo (DiCaprio).
Sérgio Rodrigues (Ediouro, 2005)
Já faz tempo que muita gente trata o professor Pasquale como a grande autoridade em Língua Portuguesa no país. Eu sempre preferi Sérgio Rodrigues. Não que os dois se pareçam - Pasquale é o professorzão que usa fatos do cotidiano para falar de regras e gramática e Sérgio Rodrigues escreve sobre o idioma de um jeito muito mais sutil e instigante. Prova disso é sua coluna na Revista da Semana: traz sempre uma palavra que esteve circulando pelos noticiários recentes e trata dela em termos etimológicos, práticos, culturais.
Reunidas nesse livro estão várias crônicas publicadas no Jornal do Brasil e no finado e saudoso site nominimo.com. Tratam de clichês, termos que usamos de maneira errada, adaptações esdrúxulas que fazemos do inglês, onomatopéias e o que mais render assunto para discutir a Língua Portuguesa de um jeito inteligente. Faz a gente pensar mais antes de falar e de escrever. Um senão: as crônicas poderiam vir seguidas de sua data de publicação original, pois muitas vezes Sérgio usa referências que hoje já não fazem sentido; num dos textos, levei um bom tempinho até entender quem eram Gisele (Bündchen) e Leonardo (DiCaprio).
sábado, 14 de fevereiro de 2009
The little black book of tea
The little black book of tea
Mike Heneberry (Peter Pauper Press, 2006)
Há algum tempo, fui obrigada a trocar o café pelo chá - o preto tem tanta cafeína quanto, mas com um pouquinho de leite faz menos mal ao meu combalido estômago e, devo dizer, adoro a bebida. Chá com leite, sim, como fazem na Inglaterra com assam, english breakfast e outros tipos que eu estou aprendendo a conhecer (graças a esse livrinho de Mike Heneberry, à Twinnings e ao free shop).
Descobri que existem os puros, como assam, ceylon e darjeeling, e os blends, como english breakfast, earl grey e chai, misto de chá preto com especiarias que experimentei uma vez nos Estados Unidos e tomei tanto, mas tanto, que o estômago gritou outra vez. Hortelã, laranja, erva-cidreira e quetais não contam - são infusões, ou tisanas, pois o nome chá só deveria ser usado para as bebidas produzidas a partir da Camellia sinensis. Pior, dão origem a combinações estapafúrdias vendidas em saquinhos: a Twinnings tem baunilha com coco, a Dr. Oetker produz menta com chocolate, a Leão faz morango com baunilha. Blergh.
Não gosto de chá verde. O chá branco eu nunca provei - trata-se, segundo Mike Heneberry, de uma variação do chá verde, o que torna errada a informação que eu dei em outro post: existem quatro tipos fundamentais de chá, e não três, todos produzidos a partir da Camellia sinensis. E como é que uma só planta dá origem a tanta variedade de chá? Pelo lugar e altitude em que ela é cultivada, em primeiro lugar, e pelo método de fermentação das folhas. Além de todos esses básicos, Heneberry compila uma série de receitas de bebidas e comidinhas em seu livro. Ótimas para um dia feio e chuvoso, como hoje.
Mike Heneberry (Peter Pauper Press, 2006)
Há algum tempo, fui obrigada a trocar o café pelo chá - o preto tem tanta cafeína quanto, mas com um pouquinho de leite faz menos mal ao meu combalido estômago e, devo dizer, adoro a bebida. Chá com leite, sim, como fazem na Inglaterra com assam, english breakfast e outros tipos que eu estou aprendendo a conhecer (graças a esse livrinho de Mike Heneberry, à Twinnings e ao free shop).
Descobri que existem os puros, como assam, ceylon e darjeeling, e os blends, como english breakfast, earl grey e chai, misto de chá preto com especiarias que experimentei uma vez nos Estados Unidos e tomei tanto, mas tanto, que o estômago gritou outra vez. Hortelã, laranja, erva-cidreira e quetais não contam - são infusões, ou tisanas, pois o nome chá só deveria ser usado para as bebidas produzidas a partir da Camellia sinensis. Pior, dão origem a combinações estapafúrdias vendidas em saquinhos: a Twinnings tem baunilha com coco, a Dr. Oetker produz menta com chocolate, a Leão faz morango com baunilha. Blergh.
Não gosto de chá verde. O chá branco eu nunca provei - trata-se, segundo Mike Heneberry, de uma variação do chá verde, o que torna errada a informação que eu dei em outro post: existem quatro tipos fundamentais de chá, e não três, todos produzidos a partir da Camellia sinensis. E como é que uma só planta dá origem a tanta variedade de chá? Pelo lugar e altitude em que ela é cultivada, em primeiro lugar, e pelo método de fermentação das folhas. Além de todos esses básicos, Heneberry compila uma série de receitas de bebidas e comidinhas em seu livro. Ótimas para um dia feio e chuvoso, como hoje.
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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Do amor e outros demônios
Do amor e outros demônios
Gabriel García Márquez (Record, 1996)
Fazia muito tempo que eu não via um morto. E eu nunca tinha visto uma morta tão jovem e tão bonita como a que vi agora à noite, uma Aurora que parecia estar dormindo com o vestido azul que era o seu preferido, o sapato mais confortável e um raminho de rosas brancas nas mãos. Eu a vi pela primeira vez algumas semanas atrás, andando pela rua com o pai - um querido e eventual companheiro de trabalho, um homem generoso e gentil, competente e criativo.
Naquele dia, não reparei no quanto ela era bonita. Dezesseis, dezessete anos, alta e magra como o pai. Agora à noite, vendo a mãe mexer em seus cabelos, traçar com os dedos o contorno dos brincos na orelha da filha, pensei nesse livro de García Márquez, inspirado pela descoberta, muitos anos antes de ser escrito, da ossada de uma jovem com cabelos que passavam dos 20 metros de comprimento. Quase nada lembro da história, mas a imagem dos cabelos compridos ficou comigo durante o tempo todo que passei no necrotério. Belos como os da garota que estava ali, de vestido azul, sapatos confortáveis e um raminho de rosas brancas nas mãos.
Gabriel García Márquez (Record, 1996)
Fazia muito tempo que eu não via um morto. E eu nunca tinha visto uma morta tão jovem e tão bonita como a que vi agora à noite, uma Aurora que parecia estar dormindo com o vestido azul que era o seu preferido, o sapato mais confortável e um raminho de rosas brancas nas mãos. Eu a vi pela primeira vez algumas semanas atrás, andando pela rua com o pai - um querido e eventual companheiro de trabalho, um homem generoso e gentil, competente e criativo.
Naquele dia, não reparei no quanto ela era bonita. Dezesseis, dezessete anos, alta e magra como o pai. Agora à noite, vendo a mãe mexer em seus cabelos, traçar com os dedos o contorno dos brincos na orelha da filha, pensei nesse livro de García Márquez, inspirado pela descoberta, muitos anos antes de ser escrito, da ossada de uma jovem com cabelos que passavam dos 20 metros de comprimento. Quase nada lembro da história, mas a imagem dos cabelos compridos ficou comigo durante o tempo todo que passei no necrotério. Belos como os da garota que estava ali, de vestido azul, sapatos confortáveis e um raminho de rosas brancas nas mãos.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
The meaning of sunglasses
The meaning of sunglasses
Hadley Freeman (Viking UK, 2008)
Eis um livro muito divertido para quem lê bem em inglês, acha graça no humor britânico e conhece minimamente as pessoas (estilistas, modelos, ícones) e os termos (boot cut, ankle boot, g-string) do chamado mundo fashion. Mesmo para quem se deixou levar pelo subtítulo, A guide to (almost) all things fashionable, e percebeu que, de guia, esse pequeno volume não tem nada.
Organizados em ordem alfabética, os verbetes tratam, na maioria das vezes, da opinião quase sempre ácida da autora sobre, por exemplo, babados ("from French ingénue to Bozo the clown"), casacos de pele ("bad, and definitely a little bit nazi"), manicure e pedicure ("and the ever-raising bar of personal upkeep"), desfiles de moda ("Darwin in motion"). No meio de tudo isso, entre uma risadinha irônica e uma sobrancelha levantada pela dúvida, dá pra encontrar tiradas valiosas - como as que eu traduzo livremente a seguir.
"Cantemos a uma só voz, meninas: uma bolsa nunca nos deixa gordas."
"Ao contrário do que sua mãe sempre disse, o nível de vulgaridade numa roupa não tem nada a ver com a barra curta, o salto alto ou a saia apertada: tem a ver com a obviedade da mensagem."
"O motivo das mulheres amarem bolsas é o mesmo de amarem sapatos: eles não fazem ninguém ficar mais gorda, você não precisa tirar a roupa para experimentá-los, tamanho não faz diferença (ou pelo menos não tem relação nenhuma com sua barriga) e eles nem sempre ficam melhores na Kate Moss do que em você - o que é tudo praticamente a mesma coisa, dita de quatro maneiras diferentes."
"Eis o que uma bota deve fazer: mantê-la aquecida, cair bem, facilitar a locomoção e ser confortável. Eis o que uma ankle boot faz: absolutamente nada disso."
"Exceto por shorts, algumas minissaias e uma jaqueta informal, denim devia ser usado somente em jeans."
Hadley Freeman (Viking UK, 2008)
Eis um livro muito divertido para quem lê bem em inglês, acha graça no humor britânico e conhece minimamente as pessoas (estilistas, modelos, ícones) e os termos (boot cut, ankle boot, g-string) do chamado mundo fashion. Mesmo para quem se deixou levar pelo subtítulo, A guide to (almost) all things fashionable, e percebeu que, de guia, esse pequeno volume não tem nada.
Organizados em ordem alfabética, os verbetes tratam, na maioria das vezes, da opinião quase sempre ácida da autora sobre, por exemplo, babados ("from French ingénue to Bozo the clown"), casacos de pele ("bad, and definitely a little bit nazi"), manicure e pedicure ("and the ever-raising bar of personal upkeep"), desfiles de moda ("Darwin in motion"). No meio de tudo isso, entre uma risadinha irônica e uma sobrancelha levantada pela dúvida, dá pra encontrar tiradas valiosas - como as que eu traduzo livremente a seguir.
"Cantemos a uma só voz, meninas: uma bolsa nunca nos deixa gordas."
"Ao contrário do que sua mãe sempre disse, o nível de vulgaridade numa roupa não tem nada a ver com a barra curta, o salto alto ou a saia apertada: tem a ver com a obviedade da mensagem."
"O motivo das mulheres amarem bolsas é o mesmo de amarem sapatos: eles não fazem ninguém ficar mais gorda, você não precisa tirar a roupa para experimentá-los, tamanho não faz diferença (ou pelo menos não tem relação nenhuma com sua barriga) e eles nem sempre ficam melhores na Kate Moss do que em você - o que é tudo praticamente a mesma coisa, dita de quatro maneiras diferentes."
"Eis o que uma bota deve fazer: mantê-la aquecida, cair bem, facilitar a locomoção e ser confortável. Eis o que uma ankle boot faz: absolutamente nada disso."
"Exceto por shorts, algumas minissaias e uma jaqueta informal, denim devia ser usado somente em jeans."
O que Einstein disse a seu cozinheiro
O que Einstein disse a seu cozinheiro
Robert L. Wolke (Jorge Zahar, 2003)
Quem gosta de cozinhar muitas vezes acaba se interessando por algumas coisas bizarras. Os usos e o modo de fazer manteiga clarificada, por exemplo, que aprendi em livros de cozinha indiana. A diferença entre os tipos de chá, preto, verde e oolong - tem quem olhe com desconfiança ao saber que eles vêm todos da mesma planta; o que muda é a maneira de fermentação. Quando usar fermento em pó, quando usar bicarbonato de sódio (essa eu acho que minha avó sabia. Eu não).
Em forma de perguntas e respostas, Robert L. Wolke trata de curiosidades como essas e de vários outros assuntos mais sérios: qual é o problema de usar metais no forno de micro-ondas? A panela de pressão é mesmo segura? Existe diferença entre usar sal marinho e sal comum? Verdade que, muitas vezes, as explicações são bem científicas, o que faz a gente ficar com raiva de ter pulado aquelas aulas de física e química no colégio. Mesmo assim, Wolke faz de tudo pros leitores entenderem. E, de quebra, ainda dá uma receitinha aqui, outra ali, pra mostrar, na prática, o que acabou de ensinar.
Robert L. Wolke (Jorge Zahar, 2003)
Quem gosta de cozinhar muitas vezes acaba se interessando por algumas coisas bizarras. Os usos e o modo de fazer manteiga clarificada, por exemplo, que aprendi em livros de cozinha indiana. A diferença entre os tipos de chá, preto, verde e oolong - tem quem olhe com desconfiança ao saber que eles vêm todos da mesma planta; o que muda é a maneira de fermentação. Quando usar fermento em pó, quando usar bicarbonato de sódio (essa eu acho que minha avó sabia. Eu não).
Em forma de perguntas e respostas, Robert L. Wolke trata de curiosidades como essas e de vários outros assuntos mais sérios: qual é o problema de usar metais no forno de micro-ondas? A panela de pressão é mesmo segura? Existe diferença entre usar sal marinho e sal comum? Verdade que, muitas vezes, as explicações são bem científicas, o que faz a gente ficar com raiva de ter pulado aquelas aulas de física e química no colégio. Mesmo assim, Wolke faz de tudo pros leitores entenderem. E, de quebra, ainda dá uma receitinha aqui, outra ali, pra mostrar, na prática, o que acabou de ensinar.
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Uma estadia no inferno
Uma estadia no inferno
Arthur Rimbaud (Martin Claret, 2002)
Não me conformo de encontrar apenas esta edição de Uma estadia no inferno, com tradução do Ivo Barroso, à venda no site da Livraria Cultura. Não foi o livro que eu li - eu jamais teria lido qualquer coisa editada pela Martin Claret. Pode parecer preconceito, e talvez seja mesmo, no mínimo pelas capas horrorosas que essa editora tem coragem de pôr no mercado. Depois, pela péssima qualidade dos livros, que inclui acabamento, papel e traduções geralmente mal-feitas, quando não postas sob suspeita de plágio.
Não é o caso, pelo menos isso, dessa tradução de Barroso, que li emprestada numa edição de 1983 da Civilização Brasileira - como não conheço o livro da Martin Claret, não posso nem atestar se mantiveram a qualidade do trabalho. E eu gostei tanto que copiei, pra minha leitura particular, vários trechos escritos por meu francês atormentado preferido. Rimbaud faz parte daquele tipo de artista, seja escritor, poeta, ator, músico, que precisava mesmo ter morrido cedo; ou, no caso dele, se "aposentado" precocemente. Fica o mito e a dúvida a respeito do que teria sido sua obra caso ele tivesse produzido mais.
De Delírios - II - Alquimia do verbo:
"Vim a ser uma ópera fantástica: percebi que todos os seres têm o fatalismo da felicidade: a ação não é vida, mas uma forma de estragar a força, um enervamento. A moral é a fraqueza do cérebro.
A cada ser, muitas outras vidas me pareciam devidas. Este senhor ignora o que faz: é um anjo. Esta família é uma ninhada de cães. Em presença de alguns homens, conversei em voz alta com algum outro momento de suas vidas. - Foi assim que amei um porco."
Arthur Rimbaud (Martin Claret, 2002)
Não me conformo de encontrar apenas esta edição de Uma estadia no inferno, com tradução do Ivo Barroso, à venda no site da Livraria Cultura. Não foi o livro que eu li - eu jamais teria lido qualquer coisa editada pela Martin Claret. Pode parecer preconceito, e talvez seja mesmo, no mínimo pelas capas horrorosas que essa editora tem coragem de pôr no mercado. Depois, pela péssima qualidade dos livros, que inclui acabamento, papel e traduções geralmente mal-feitas, quando não postas sob suspeita de plágio.
Não é o caso, pelo menos isso, dessa tradução de Barroso, que li emprestada numa edição de 1983 da Civilização Brasileira - como não conheço o livro da Martin Claret, não posso nem atestar se mantiveram a qualidade do trabalho. E eu gostei tanto que copiei, pra minha leitura particular, vários trechos escritos por meu francês atormentado preferido. Rimbaud faz parte daquele tipo de artista, seja escritor, poeta, ator, músico, que precisava mesmo ter morrido cedo; ou, no caso dele, se "aposentado" precocemente. Fica o mito e a dúvida a respeito do que teria sido sua obra caso ele tivesse produzido mais.
De Delírios - II - Alquimia do verbo:
"Vim a ser uma ópera fantástica: percebi que todos os seres têm o fatalismo da felicidade: a ação não é vida, mas uma forma de estragar a força, um enervamento. A moral é a fraqueza do cérebro.
A cada ser, muitas outras vidas me pareciam devidas. Este senhor ignora o que faz: é um anjo. Esta família é uma ninhada de cães. Em presença de alguns homens, conversei em voz alta com algum outro momento de suas vidas. - Foi assim que amei um porco."
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