segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Uma estadia no inferno

Uma estadia no inferno
Arthur Rimbaud (Martin Claret, 2002)

Não me conformo de encontrar apenas esta edição de Uma estadia no inferno, com tradução do Ivo Barroso, à venda no site da Livraria Cultura. Não foi o livro que eu li - eu jamais teria lido qualquer coisa editada pela Martin Claret. Pode parecer preconceito, e talvez seja mesmo, no mínimo pelas capas horrorosas que essa editora tem coragem de pôr no mercado. Depois, pela péssima qualidade dos livros, que inclui acabamento, papel e traduções geralmente mal-feitas, quando não postas sob suspeita de plágio.

Não é o caso, pelo menos isso, dessa tradução de Barroso, que li emprestada numa edição de 1983 da Civilização Brasileira - como não conheço o livro da Martin Claret, não posso nem atestar se mantiveram a qualidade do trabalho. E eu gostei tanto que copiei, pra minha leitura particular, vários trechos escritos por meu francês atormentado preferido. Rimbaud faz parte daquele tipo de artista, seja escritor, poeta, ator, músico, que precisava mesmo ter morrido cedo; ou, no caso dele, se "aposentado" precocemente. Fica o mito e a dúvida a respeito do que teria sido sua obra caso ele tivesse produzido mais.

De Delírios - II - Alquimia do verbo:

"Vim a ser uma ópera fantástica: percebi que todos os seres têm o fatalismo da felicidade: a ação não é vida, mas uma forma de estragar a força, um enervamento. A moral é a fraqueza do cérebro.

A cada ser, muitas outras vidas me pareciam devidas. Este senhor ignora o que faz: é um anjo. Esta família é uma ninhada de cães. Em presença de alguns homens, conversei em voz alta com algum outro momento de suas vidas. - Foi assim que amei um porco."

8 comentários:

Rogério/Ruy disse...

Eba, você voltou! (=

Tenho essa edição da Civilização Brasileira, mas acho -posso estar enganado- que essa versão de 1983 é do Lêdo Ivo, e não do Ivo Barroso. O Barroso traduziu as obras completas do Rimbaud (que incluem, naturalmente, "Une Saison en Enfer") em dois volumes bilíngues que saíram bem depois, pela Topbooks (também tenho). Depois tento descobrir onde guardei essa edição mais antiga.

E Martin Claret = NOJO PROFUNDO. Na boa, apenas ver as capas deles já me dá ânsia. Beijo!

Rogério/Ruy disse...

Veja só este linque:

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=108751&sid=0221282041129839607375232&k5=323AD722&uid=

Aí está a tradução do Lêdo Ivo no site da Cultura. Acho que a edição que eu tenho é da Francisco Alves, mas saiu primeiro pela Civilização Brasileira mesmo (ela é citada na bibliografia do Lêdo no site da Academia Brasileira de Letras).

Beijo!

Isabel Pinheiro disse...

Voltei. :-)

Acho que você está confundindo os Ivos. Nas minhas anotações eu marquei "Arthur Rimbaud, Uma estadia no inferno. Tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983."

Chequei agora no site da Cultura: há uma tradução do Lêdo Ivo publicada pela Barleu Edições (que não conheço), "Uma temporada no inferno e Iluminações", mas os livros da Topbooks são do Ivo Barroso. E no Estante Virtual aparece essa da Civilização Brasileira como sendo mesmo do Barroso também (http://www.estantevirtual.com.br/mod_perl/info.cgi?livro=17423202).

Curiosidade: acabei de encontrar no Google um "Dicionário de tradutores literários no Brasil": http://www.dicionariodetradutores.ufsc.br/pt/IvoBarroso.htm. Você conhecia? Bjs

Isabel Pinheiro disse...

Aliás, eu também estou começando a confundir os Ivos. Sim, o da Topbooks é o Barroso, como você havia dito.

Rogério/Ruy disse...

Sim, um de nós pode estar confundindo os Ivos. (= Mas vou fazer um recorte-e-cole aqui da bibliografia do Lêdo no site da ABL:

RIMBAUD, Jean-Arthur. Uma Temporada no Inferno (Une Saison en enfer) e Iluminações (Illuminations) (tradução, introdução e notas). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2004.

É por isso que quero achar minha edição antiga do Lêdo -pra conferir como é a tradução desse trecho que você postou (o estilo, de fato, parece mais do Barroso).

Beijo!

P.S.: Não conhecia o dicionário. Thanks for sharing.

Isabel Pinheiro disse...

Os dois traduziram e os dois editaram pela Civilização Brasileira. :-) (Talvez a gente tenha descoberto agora que os dois são a mesma pessoa!) Como eu li emprestado, não me lembro nem da capa. Só sei que era uma edição bilíngue.

E eu não entendo como é que a Martin Claret lançou uma tradução que não está em domínio público. Será que pagaram o Barroso? Aliás, uma das minhas dúvidas literário/existenciais é essa: por que raios a Martin Claret não investe uma graninha pra pelo menos lançar capas decentes? Eles já não gastam nenhum tostão em direitos autorais, porque é tudo domínio público...

Rogério/Ruy disse...

Ah, duvido que tenham pago.

Rogério/Ruy disse...

Achei minha edição antiga do Lêdo Ivo! Você tinha razão: o trecho postado é o da tradução do Ivo Barroso. Mas é um pouco demais os dois Ivos, além de serem xarás, terem traduzido a mesma coisa e lançado pela mesma editora. (= Beijos.