Paris não tem fim
Enrique Vila-Matas (Cosac Naify, 2007)
Em julho de 2005, eu já havia lido dois Vila-Matas (Bartleby e companhia e A viagem vertical) quando assisti a uma palestra dele - ou melhor, um bate-papo com o jornalista Cassiano Elek Machado - na Livraria Cultura do shopping Vila-Lobos. Depois de ouvi-lo com o maior prazer e de ver os desenhos divertidos que ele fez em meus livros na hora dos autógrafos, saí de lá com uma certeza absoluta: eu queria um Vila-Matas de estimação. Imagine a alegria de poder conversar a qualquer hora com alguém que compartilhasse, e até incentivasse, os jogos sem compromisso com a realidade, as ilações mais absurdas, e falar de escritores, e falar de escrita, e inventar personagens, e viver o amor maior pelo livro.
Pois a vontade de ter um Vila-Matas de estimação voltou ainda mais forte depois de ler Paris não tem fim, as "memórias" do escritor durante os dois anos que passou em Paris, em início de carreira, numa água-furtada alugada de Marguerite Duras. "Memórias", entre aspas, porque como quase sempre, em Vila-Matas, não dá pra saber muito bem onde termina a realidade e começa a ficção - em Bartleby e companhia, meu livro preferido de VM, pelo menos meia dúzia dos escritores citados saíram da cabeça do autor. O mais bacana, em Paris não tem fim, é que nem dá vontade de descobrir o que aconteceu de verdade e o que foi imaginado. Não faz a menor diferença saber se a carta que ele escreveu pedindo dinheiro ao pai, e a impagável resposta do velho, existiram mesmo. Nem comprovar a existência da brilhante conferência sobre a ironia que serve de mote para o livro. Ainda assim, não é todo mundo que gosta de Vila-Matas. Já li em algum lugar (e concordo inteiramente, ainda que não me encaixe na categoria) que Vila-Matas é um escritor de escritores. E talvez só consiga gostar dele quem tiver desprendimento suficiente para acompanhar suas viagens literárias.
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2 comentários:
Pois eu gosto muito.
Noga, não vejo a hora dos próximos livros do Vila-Matas serem lançados aqui. Já foi duro esperar mais de dois anos por Paris não tem fim...
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